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Fosfeno

— Você está mais colorida que um arco-íris — brincou ele, abraçando a moça por trás e beijando-lhe o pescoço descoberto.

— Vou me esforçar muito e considerar isso um elogio. — Ela riu. — Você está normal demais! Deveria ter deixado eu colocar glitter no seu rosto... ou tinta, pelo menos. — A moça acariciou uma das mãos que envolvia sua cintura.

Ele fechou os olhos por alguns segundos para apreciar o toque e disse:

— Não sei se sou do tipo que gosta de todo esse destaque, desculpa.

— Eu te perdoo. Dessa vez. — A jovem fazia círculos com o dedo na pele do companheiro.

Depois de horas incontáveis e infinitas (na verdade, só haviam se passado cinco minutos), a fila, finalmente, se moveu.

— Estamos andando! Andando, andando, certo, vamos entrar, estamos andando... — Ela só não pulou de empolgação porque estavam em público (não que tenha faltado vontade). Guardaria os pulos frenéticos para quando estivessem dentro do festival.

— Você vai amassar os ingressos — disse o rapaz, sorrindo e mal conseguindo esconder o quanto adorava cada parte daqueles pequenos surtos.

— É que... daqui a alguns minutos, vamos entrar num dos maiores festivais de eletrônica do mundo e... sério, por que você não está surtando? — O tom dela era frenético.

— Precisamos de alguém controlado na relação, certo?

— Alguém que, com certeza, não é você — falou a moça para, em seguida, virar de frente para o rapaz e segurá-lo pelo rosto, roubando-lhe um beijo rápido.

— Você vai me sujar de batom fluorescente — murmurou o acompanhante, puxando-a para mais perto pela cintura.

— Desculpa. — Ela sorriu. — É tão surreal estarmos aqui. Vamos fazer parte de alguma coisa, juntos, sabe? — A jovem aproximou o nariz do dele. — Mal vejo a hora de estar dançando no meio da multidão.

— Mal vejo a hora de te beijar quando tocar nossa música.

Ela sorriu, sentindo a respiração quente do rapaz no rosto. Céus, estava tão feliz que poderia morrer ali mesmo.

— Anda aí, ô! — manifestou-se uma voz impaciente logo atrás dos dois.

O casal riu baixinho e andou para frente, sem identificar o autor do protesto. Para dizer a verdade, nem tinham percebido que a fila tinha se movido.

Ela ainda estava em polvorosa e tentou contar até dez para se acalmar, mas só conseguiu chegar até o quatro. Ele a observava, tentando pegá-la pela alma com os olhos.

— Meus pés estão começando a doer um pouquinho — reclamou a jovem.

— Quer subir? — ofereceu o rapaz, virando de costas.

A resposta foi afirmativa. Sem cerimônias, a moça foi para trás dele, subiu em suas costas e enroscou as pernas na cintura do acompanhante, que instantaneamente segurou-as. Às vezes, era necessário tratá-la como...

— Uma criança completa — brincou o rapaz, apesar de gostar bastante da sensação de tê-la perto.

— Desculpa por isso. — Não era bem uma desculpa, afinal, e isso era notável. Mesmo assim, beijou o ombro dele com carinho e tentou amenizar. — Vamos comprar energético de blueberry quando entrarmos.

Ele sorriu antes de falar:

— Gosto desse de blueberry, é um sabor meio diferente. Não dá para saber se é doce ou azedo, porque é uma mistura — comentou. — Não parece comigo? Enlatado?

Ela gargalhou sonoramente enquanto a fila se movia mais um pouco e, consequentemente, os dois se moviam também (sem mais gritos impacientes dos outros).

— Olha só quanta poesia! Está no seu sangue.

— Aposto que você me injetou isso. Sua marca em mim é ver o mundo com outros olhos — falou o rapaz, com naturalidade.

A moça agradeceu ao Universo e a todos os deuses pelo fato de estar fora do campo de visão dele, que não conseguiu ver o quanto ela ficou afetada. Um sorriso surpreso brotou dos lábios femininos. Só o silêncio seria a resposta adequada naquele momento.

— Não ter essa parte de você seria o mesmo que perder uma parte de mim — continuou ele. — É necessário para a minha existência.

A jovem precisou de alguns segundos para processar. As últimas luzes do sol alcançaram as mãos dela, que sentia como se, literalmente, estivesse segurando o calor.

— É uma forma que inventei de estar sempre com você — sussurrou em resposta, finalmente, no ouvido do acompanhante.

Os minutos se arrastavam enquanto a fila andava a passos de tartaruga. O calor estava sumindo, assim como o sol. As nuvens laranja eram um contraste com o céu escurecido. Olhando para aquele cenário e com as palavras ditas há pouco ecoando na cabeça, ela se sentiu a pessoa mais sortuda do mundo.

Quando finalmente a entrada ficou mais próxima, a moça não conseguiu controlar a ansiedade. Saiu de cima das costas do rapaz, mas não encerrou o contato, enlaçando as mãos nas dele.

— Casa comigo — disse ele, subitamente.

Ela riu e balançou a cabeça. Já era o terceiro "pedido" naquela semana.

— Quantas vezes você quiser.

— Só uma vez é necessária para a vida toda.

Sinceramente, onde é que ela tinha colocado as respostas criativas para aquelas declarações? Não conseguia pensar em absolutamente nada para fazer que não fosse sorrir. O rapaz a encarou.

A tarde se esvaiu, dando lugar ao comecinho da noite. Ao mesmo tempo, o casal chegou ao início da fila.

— Ingressos. — O funcionário estendeu a mão e a moça passou as pequenas tiras de papel. O desconhecido autorizou a entrada com um aceno de cabeça.

Ela alisou a saia colorida uma última vez e encarou o tênis branco enquanto andavam para a entrada. O ar da longa noite já estava palpável, intrinsecamente conectado com a adrenalina surgindo no corpo dos dois. Os letreiros coloridos já estavam visíveis.

— Estamos prontos? — indagou a jovem.

— Sempre estamos prontos. — Ele parou para beijá-la na testa.

Ela esquadrinhou o rosto dele, desde os óculos até a boca rosa e convidativa. Definitivamente, poderia encará-lo para sempre.

— Bom saber. Temos uma madrugada toda pela frente, afinal.

— Temos várias madrugadas pela frente.

— Então é melhor não demorarmos.

A moça apertou a mão do companheiro antes de puxá-lo para dentro.

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