3
Yoongi tinha apenas dezenove anos quando o 4U debutou. Ele nunca se sentiu tão esperançoso, tão eufórico quanto naquele vinte sete de julho. Foi um ano sendo trainee da BK, lutando para se encaixar em cada padrão da indústria, até finalmente ter a sua chance. Ele se agarrou a ela com todas as suas forças, deu todo seu suor e lágrimas por aquele grupo. Foram muitas noites em claro, muitos "de novo!" ditos por Lee Bowook, foram momentos difíceis, mas a glória que veio depois fez tudo valer a pena.
A estreia foi um sucesso, nenhum grupo jamais conseguiu chegar nem perto do que eles alcançaram logo no primeiro mês. Foi um estouro, o single tocava em todas as rádios, o nome do quarteto estava na ponta da língua de mais da metade do país e, no ano seguinte, seus ouvintes expandiram-se para países além da Ásia. Yoongi mal podia acreditar no que seus olhos viam no primeiro show. Todo aquele brilho, aquelas luzes que mais pareciam estrelas cintilando apenas para eles, os gritos eufóricos, toda aquela multidão cantando junto. Foi mágico, foi incrível. Ali, ele percebeu que nasceu para pisar em um palco, e que queria contar toda sua história de vida através das suas composições algum dia.
A mídia amava dizer que eram astros, tão novos e tão talentosos e famosos. Contudo, em uma segunda-feira qualquer, a estrela Suga explodiu. Era apenas uma festa, ele estava apenas se divertindo como qualquer jovem ali, mas foi apenas o seu rosto que estampou a manchete do dia seguinte. Os comentários foram maldosos, Bowook cruel, os meninos ficaram preocupados, e Yoongi... Yoongi sentiu-se perdido. Jamais se esqueceu do tapa que levou naquele dia, fazendo-o recordar de um dia maldito, do sangue, do choro do seu pai, dos olhos frios da sua mãe. Seu rosto ardeu sim, mas o seu coração ficou em pedaços.
Ele nunca mais foi o mesmo depois disso.
Yoongi explodiu como em uma supernova, brilhou tanto, que no fim, não suportou o peso de ser estrela. Portanto, ele estava dando continuidade ao processo, apagando-se lentamente. Talvez um dia, ele simplesmente deixasse de existir. Ficando somente o nada, uma casca vazia de um homem. Era possível perder a alma estando vivo? Se sim, ele estava bem perto de perder a sua. Um buraco negro nasceu em seu peito com a explosão, e ele sentia-se tão escuro e oco quanto os descritos por astrologos. Nada que guardasse ali dentro supria seu vazio, ninguém conseguia tirá-lo daquele limbo infernal. Então, ele continuava sua vida vazia, afogando-se em copos e garrafas, perdendo-se em meio às luzes coloridas de uma balada e tornando-se sempre notícia.
No entanto, mesmo com toda a escuridão da sua alma, Yoongi tinha alguns pontos de paz na sua vida. Seu pai e sua madrasta, que visitava sempre que podia, sendo cercado por todo aquele amor fraternal que parecia infinito. E claro, existiam seus amigos. Aqueles três pareciam ser anjos na Terra, cada um com sua particularidade única de fazer Yoongi sorrir mesmo em dias mais nublados. Se o Paraíso realmente existisse, ele tinha certeza que Namjoon, Hoseok e Jungkook iriam para lá em um voo de primeira classe.
— Prontinho! — Hoseok exclamou, ao colocar a panela com a sopa no centro da mesa. Yoongi piscou os olhos repetidas vezes, forçando-se a voltar a realidade e abandonar seus pensamentos sugadores.
— Obrigado pela comida! — Jungkook e Namjoon disseram em conjunto ao se servirem e Yoongi pegou-se admirando-os por breves minutos com um sorriso discreto. Não sabia o que seria dele se não fosse aqueles três alegrando suas manhãs.
— Ya, coma antes que esfrie. — disse Hoseok com ternura, atraindo as orbes de Yoongi para si. Ele assentiu e se serviu da comida com aspecto delicioso, agradecendo logo em seguida por ela.
— Hyung — Jungkook o chamou depois de um tempo comendo em silêncio. Yoongi encarou-o sorrindo ao ver a boca suja de molho e as bochechas infladas pela comida que ainda mastigava. — Você esqueceu do meu sorvete?
Yoongi franziu o cenho ao engolir o alimento que mastigava.
— Como assim?
— Quando você compra sorvete sempre traz dois... Ontem vi que trouxe só um. — ele fez um biquinho adorável, e o músico soltou um risinho divertido. Jungkook sempre será um bebezão, não importava a idade que tivesse.
— Ah... — Yoongi sorriu largamente ao revirar o arroz da sua tigela. — Sobre isso... Eu dei a alguém para agradecer...
— Humm, que sorriso é esse, hein? — Namjoon implicou, cutucando-o com o ombro. Yoongi negou, ainda rindo.
— E agradecer pelo que? — Hoseok perguntou de modo inquisitivo, tentando segurar o sorriso.
— Pela carona. — ele deu uma colherada na comida.
— E ela era bonita? — Jungkook perguntou, olhando-o de uma forma maliciosa.
Yoongi encarou-o e parou de mastigar por alguns instantes. Recordou-se dos olhos oceânicos, da boca vermelha, da covinha solitária e da voz doce. Jamais viu uma mulher tão estonteante, mesmo que fosse como um ouriço, jogando espinhos a cada fala. O músico voltou a mastigar e sorriu, desviando os olhos do rapaz de madeixas vermelhas.
— Muito. Nunca vi nada igual.
— Aigoo! Olhe só para você! — Jung exclamou, com uma emoção exagerada, fazendo Yoongi encará-lo com uma expressão confusa. — Finalmente encontrou sua outra metade?
— Que? — o músico praticamente gritou. — Claro que não!
Sentiu um cutucão na costela, e encarou Namjoon sorrindo largamente na sua direção. O que deu neles? Pareciam empenhados em bancar o cupido, e Yoongi quis enfiar os Jeotgarak que segurava dentro dos olhos maliciosos do rapaz de cabelo castanho à sua frente. Não estava nenhum pouco interessado em relacionamentos amorosos, ele fugia de moteis tarde da noite por um motivo.
— Nunca te vi sorrindo assim ao falar de alguém que dormiu com você. — ele apontou o dedo na cara de Yoongi, e o músico ergueu a mão como se fosse, de fato, perfurar os olhos dele. Contudo, Namjoon nem se abalou, pelo contrário. — Omo, vejam, ele está até vermelho!
— É verdade! — o rapaz de fios vermelhos concordou, aos risos. Yoongi encarou todos rirem dele com um olhar mortal, mas nenhum se intimidou. Eles o conheciam de verdade, sabiam que não faria mal a nem uma mosca.
— Eu não tô vermelho... — resmungou, ao revirar o arroz da tigela novamente. Contudo, as bochechas rosadas o denunciavam, e por isso seus amigos continuavam rindo. — E eu não dormi com ela! A gente só... se esbarrou por aí e... ela me ajudou.
— Nem dormiu com ela e sorri desse jeito? — Hoseok praticamente acusou, antes de soltar um risinho divertido. Yoongi se remexeu na cadeira, desconfortável. Mas que raios estava acontecendo com eles naquela manhã?
— Imagina se tivesse... — Namjoon cantarolou, fazendo Yoongi resmungar um palavrão.
Todos riram, menos o músico.
[...]
Lee Bowook passou pela porta da sala com o nariz empinado e sua pose arrogante, o terno claro era um contraste e tanto com a personalidade amarga que tinha fora das câmeras, Yoongi quis vomitar em seus sapatos lustrosos. Os outros meninos estavam de pé, em posições, como se fossem soldados esperando pelo general e curvaram a coluna em um ângulo de noventa graus perfeito, fazendo o rapaz jogado no sofá revirar os olhos e bufar ao ver a cena. Nunca mais se curvaria para aquele homem, não depois de ver com os próprios olhos que tipo de pessoa ele era. Então, não entendia todo aquele temor — pois respeito não era — que seus amigos nutriam por Lee Bowook.
Na verdade, ele entendia sim, e jamais cobraria para agirem diferente. Contudo, não iria seguir aquele teatro junto e muito menos aplaudir ao vê-los se humilhar aos pés daquele ser asqueroso.
— Bom dia, podem se sentar. — ele ordenou, e Yoongi sentiu uma vontade insana de puxar o tapete debaixo dos seus pés apenas para vê-lo cair. Quem ele pensava que era para dar ordens daquela forma? O contrato que tinham não lhe dava o direito disso, assim como não dava o direito dele erguer a mão para nenhum deles.
Yoongi observou os amigos obedecerem com expressões de cordeiros e suspirou. Engoliu a resposta afiada que lhe veio na ponta da língua apenas para alfinetar o homem, pois naquele dia, estranhamente, ele não tinha a intenção de gerar conflitos. Sentia-se cansado, física e mentalmente.
— O senhor disse que tinha algo importante a dizer... — Namjoon incentivou, com seu tom de voz gentil que apenas ele tinha. Yoongi o admirava.
Lee sentou-se na poltrona à frente dele e lhe lançou um olhar de desprezo, como se ele fosse um animal asqueroso ou um monte de lixo. O músico sorriu, sarcástico. O sentimento era recíproco.
— Eu tenho uma tarefa para vocês. — o homem começou, recostando-se confortavelmente no estofado. — Todos vocês. — frizou, fazendo questão de encarar Yoongi com ainda mais intensidade.
— Me sinto comovido por pensar tanto em mim, sunbaenim.
— Não é como se me desse a escolha de não fazer. — movamente, Yoongi engoliu uma resposta afiada apenas por sentir-se sem energia para discutir com Lee Bowook e deixou-o que continuasse seu discurso idiota. — Quero que vão ao Borahae, aquele lugarzinho onde você ama deixar sua fortuna, Yoongi. Por uma semana, façam o que sabem fazer de melhor. Deem dinheiro a órfãos, sorriam e acenem.
Yoongi franziu o cenho. Onde aquele verme estava querendo chegar?
— Senhor... — foi Hoseok quem exclamou, receoso. — Não entendi o que pretende com isso.
— É simples, Jung. Esse imprestável — apontou para Yoongi com arrogância. — está destruindo a reputação da minha empresa há três anos, e precisamos fazer as pessoas esquecerem de uma vez por todas esse negócio de "bad boy da nação". — ele encarou Yoongi com um sorriso cínico, e cruzou os dedos no colo. O músico odiou-o um pouco mais. — Descobri o quanto tem depositado dinheiro naquele lugar, e usarei isso a nosso favor. Chamei alguns jornalistas fofoqueiros, um programa de variedades, vai ser divertido.
— Nem pensar. — Yoongi exclamou no mesmo instante, fazendo todos olharem na sua direção surpresos. — Não vou fazer isso.
Ele havia entendido onde Lee queria chegar. Usar as crianças do Borahae como sinônimo de bondade, pintar a imagem de Yoongi com uma tinta falsa de redenção. Ele não faria aquilo, não seria tão baixo assim. Seu estômago embrulhou, Bowook não era humano. Usar crianças órfãs para atrair a atenção da mídia? O músico levantou-se, pronto para finalizar aquela discussão antes que enforcasse aquele homem na sua frente.
— Ah, você vai sim. — ele ordenou, como se Yoongi fosse um dos seus capachos. O músico ignorou-o, e começou a caminhar para fora daquela sala — Eu já conversei com todos, até com o diretor daquela espelunca.
Yoongi interrompeu sua caminhada e virou-se para o homem com uma expressão surpresa.
— E ele concordou com essa merda?
— Não, a princípio. — lá estava aquele sorriso presunçoso que Yoongi tanto detestava, um sorriso de alguém que achava que tinha o mundo aos seus pés. — Mas depois que mostrei um envelope bem generoso, ele mudou de ideia. O que o dinheiro não faz com as pessoas, não é mesmo?
Yoongi sorriu sem humor. Agora fazia sentido, Kim Taehyung não era alguém que é facilmente influenciado pela lábia de homens engravatados. E não podia julgá-lo por ceder tão facilmente por dinheiro, pois sabia bem que se não fosse por Yoongi, o Borahae não estaria de pé. Taehyung sempre pensava unicamente nas crianças, e por mais imoral que aquilo fosse, era compreensível.
Yoongi mediu Bowook com o olhar e franziu o cenho. Ele havia dado dinheiro a Taehyung apenas para que aquele teatro funcionasse? O quão desesperado ele estava para mudar a imagem de Yoongi? Talvez sua empresa realmente estivesse sofrendo por causa do músico, e pensar nessa possibilidade fazia o rapaz sentir-se adorável. Se algum dia caísse de vez, se finalmente se perdesse em si mesmo, queria ter o prazer de arrastar Lee Bowook consigo.
— Que seja, Lee. — ele virou as costas, prestes a sair da sala, mas a voz do homem lhe parou.
— Estejam prontos amanhã às uma da tarde, um carro virá buscá-los. Todos.
Bowook saiu, deixando os rapazes em completo silêncio e estáticos na sala. Até que Yoongi suspirou pesadamente, cortando o silêncio ensurdecedor:
— Que porre.
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