iii. Princípio Fundamental da Dinâmica
O dia havia amanhecido com grandes expectativas para o garoto Wonho. Sendo que, o seu bom humor em relação ao segundo dia de competição estava unicamente relacionado ao plano maléfico que sua mente elaborou, como retribuição vingativa para a sua concorrente favorita.
Conhecendo muito bem a ordem das competições do Acampamento, o Wonho sabia que o segundo dia era típico da Competição de Remos.
Por essa razão, ele levantou bem cedo e aproveitou que todos estavam no refeitório tomando o café da manhã, incluindo os professores, só para invadir uma das salas onde haviam as ferramentas de manutenção.
Pegou um dos martelos pendurados na parede e correu até a parte onde os barcos estavam alojados, encontrou o barco com a cor da equipe de Aeun, cor vermelha, e sorriu travesso, pois isso iria garantir que a vantagem dela ficasse para trás.
E não foi preciso de muito para fazer um furo consideravelmente prejudicial no barco de sua concorrente. Bastou ele fazer isso embaixo de uma das tábuas para sentar e, depois, era quase como se não existisse dano algum.
Assim que colocou a ferramenta no lugar, após cometer o delito e completamente satisfeito com sua artimanha vigarista, ele marchou até o refeitório causando inveja no coringa pelo sorriso tão largo.
— Que sorrisinho é esse no rosto? Tá doido? — Jooheon questionou assim que o viu. — Estamos em último lugar! Por sua causa Wonho, custava fazer um nó qualquer naquela corda? Fomos a única equipe a entregar a corda completamente reta!! — O parceiro de equipe do Wonho bradava, como se estivesse muito ressentido. — Eu jurei que finalmente ia ganhar um ano de competição, justo o meu último ano! — lamentava. — Aishh... Me diz, do que adianta ser todo trabalhado nos músculos, mas perder pra uma cordinha?
— Você parece até a minha mãe brigando comigo desse jeito. Credo! — Wonho respondeu naturalmente, ele estava nitidamente estranho e calmo demais, no momento em que aproveitou para roubar o suquinho de caixinha que estava na bandeja do amigo, tomando de canudinho. — Sem contar que a competição não acabou... Agora eu estou é muito ansioso para a nossa vitória na prova de remo!
— Não me decepcione hoje, e coloque esses braços pra funcionar direito, "Mr Músculo" de Taubaté. — Jooheon dizia mandão, um pouco antes de perceber que o seu suquinho havia sido surrupiado. — Ei, só tinha um desses cara, me devolve!
— Que pena.
— Mas..., suquinho de morango é meu sabor favorito — o garoto disse com a carinha de cãozinho abandonado.
🌡☀️🌡
Em continuação, o café da manhã não demorou para acabar e, assim, novamente todos, alunos e professores, reuniram-se perto do lago para as instruções da atividade. De outra forma, Aeun mal podia conter sua ansiedade enquanto roía suas próprias unhas.
— Pare com isso! — Kihyun deu um tapa na mão da garota que, por sua vez, o encarou incrédula.
— Por que fez isso, seu idiota? — resmungou com raiva, massageando a mão.
— Sua mãe nunca disse que não se deve roer unha? ... É extremamente anti-higiênico, sem contar que fica horrível.
A garota não segurou uma careta de desgosto com o parceiro e estava pronta para rebater com alguma ofensa à altura. Ela só não fez o que queria porque, justo naquele instante, o seu antigo e traidor parceiro de equipe passou por eles como quem havia atingido o ápice da felicidade.
— Para quem perdeu ridiculamente ontem, ele não parece muito feliz? — Kihyun cochichou no ouvido de Aeun, cheio de maldade, como quem conta segredos. Ela concordou pensando, ligeiramente, sobre quais possíveis motivos Wonho teria para exibir tanta felicidade no rosto. Um rosto que, tinha de concordar, era absurdamente mais lindo quando sorria daquele jeito traíra.
Mas aquele sorrisinho bonito foi muito necessário, porque foi somente aí que Aeun caiu na real, lembrando-se sobre o seu antigo par ser um excelente remador e, assim, logo adivinhou que só podia ser este o seu motivo de alegria. E também que, infelizmente para ela, agora era muito tarde para qualquer medida preventiva.
"Será que os bracinhos do Kihyun sabem remar tão bem quanto os músculos do Wonho?" — Aeun pensou, já começando a imaginar um monte de coisas ruins.
— Aish — murmurou segurando o braço de Kihyun, quando finalmente observou que Wonho estava distante o suficiente para não ouvir, num gesto urgente. — Você sabe que Wonho é muito bom nessa prova de remo, nós deveríamos ter feito alguma coisa, não?
— Relaxa pequenina, temos uma vantagem muito boa contra eles, vai dar tudo certo, parceira. Confia no pai. O deus grego Kihyunnie sabe o que faz! — falou com tranquilidade, dando batidinhas no próprio peito, quando também aproveitou para lançar uma piscadela para sua parceira.
Ainda não convencida pelo positivismo de seu par, Kihyun era muito galanteador para ser levado à sério, por isso a supersticiosa Aeun continuou a gastar seu excesso de ansiedade mexendo em sua pulseira trançada da sorte, enquanto ouvia as instruções dos professores.
— Toda equipe terá um barco correspondente por cor e turma, é obrigatório o uso de coletes salva vidas e, ao menor sinal de dificuldades, haverá professores indo ao auxílio de cada equipe. Então, assim que receberem os coletes, as equipes devem aguardar o tiro de largada ao lado do barco. Apenas um membro deve estar dentro do barco enquanto o outro deve impulsioná-lo para o lago, para só depois embarcar.
Wonho, que deveria estar prestando atenção nas instruções, mesmo que já soubesse delas, não conseguia tirar seu olhar insistente do mais novo casal de dorama do ano.
Sua mente borbulhava em volta de um ciúme cego acerca do contato físico entre os dois, contato esse que Aeun não usava com ele na mesma frequência que vinha usando, repetidas vezes, em Kihyun.
E para colegas de sala que antes mal se falavam, toda aquela intimidade só podia significar que eles estavam em uma relação muito mais intensa, para Wonho.
"Será que eles tão namorando?" — Wonho pensou, enquanto passou a mão sobre os seus cabelos loiros de pontas azuladas, sendo incapaz de conter um biquinho revoltado no rosto.
Ah se olhar matasse...
— Ei, cara, já que você é o que tem esses músculos todos aí, você dá o impulso — Jooheon despertou o parceiro dos pensamentos, raciocinando um monte de estratégias de equipe, mas Wonho apenas concordou de cara amarrada, por sua vez, com sua animação já totalmente desaparecida.
De outra forma, se existia uma coisa que Kihyun conseguia ser era diabolicamente perceptivo, então para ele foi fácil ver, desde cedo, que o Wonho estava bem irritado com a aproximação dele com sua dupla antiga.
Por isso, exatamente por isso, instigado pelo gostinho de ver o cara mais desejado por todas as garotas do colégio se corroendo de ciúmes, ele não hesitou em se oferecer para colocar o colete salva vidas em Aeun, cheio de segundas intenções.
— Valeu, você consegue empurrar o barco? — ela perguntou, quando tentou fechar a entrada do colete, mas até isso Kihyun estava determinado a fazer por ela.
— Como assim eu consigo? Está duvidando da minha força, pequenina? — respondeu, abusando de extrema lentidão desnecessária para fechar o botão de segurança do colete, e aproveitando a situação para esticar o rosto para ainda mais perto dela.
Mas Aeun só revirou os olhos, preferindo não responder, entrou no barco e aguardou o tiro de largada com ansiedade. Antes do sinal, ela franziu os olhos para o Wonho, quando finalmente notou que, ironicamente, era ele quem estava no barco ao lado.
Wonho só desviou o olhar se sentindo meio constrangido, e se perguntando internamente se havia passado dos limites com a sua sabotagem descarada.
Só que, ninguém foi capaz de impedir o som do tiro. Logo, todas as duplas empurraram e embarcaram em seus barcos numa velocidade impressionante, todos movidos pela sede da vitória.
Fisicamente, para o barco, ou qualquer outro objeto, sofrer mudanças de velocidade, é necessário que as forças que atuam sobre ele não se anulem. Por esse motivo, o barco da equipe azul foi o primeiro a se destacar entre os concorrentes.
Pois, o Wonho estava tão vidrado na vitória que abusou de sua evidente força física, dando um impulso de causar inveja e, sucessivamente, ao entrar no barco ele remava como um lobo faminto.
Aeun, de outra forma e um pouquinho mais atrás no trajeto, completamente envolvida com a prova, já até havia estendido o remo para seu parceiro, ela remava também afoitamente como se sua vida dependesse disso.
Entretanto, próximo à metade do trajeto a menina competitiva percebeu que tinha algo errado, definitivamente. Tinha algo muito errado nessa história. Pois, ao olhar para seus pés notou uma quantidade de água que não deveria, de nenhuma forma, estar ali.
No trajeto eles estavam apenas atrás da dupla azul, por poucos centímetros, Kihyun até que sabia usar os bracinhos dele para remar muito bem, inclusive. Ela descobriu um talento escondido do Kihyun, só que, mais que isso, também foi ela quem descobriu um grave problema no barco.
— Kihyunnie... eu acho que nós temos um probleminha...
— Problema? Do que você tá falando, Aeun? — assim que olhou para onde a garota sugeria com a cabeça ele notou, sem demora, que seus pés estavam quase completamente encharcados pela água que entrava, sabe-se lá de onde, no barco vermelho.
Aeun arregalou os olhos ao ver a velocidade na qual a água subia, cada vez mais rápido com o passar do tempo, de forma que superava as remadas que eles davam. E começou a realmente se apavorar com a ideia de que o seu barco afundasse.
Seu desespero pelo azar daquilo estar acontecendo, justamente com ela, era tamanho que até a fazia esquecer de que estava com o colete.
"Qual será que foi o meu erro, dessa vez, Nossa Senhora das Competições? — Aeun pensava, raciocinando todo o seu passo-a-passo supersticioso e se perguntando se havia esquecido de algum ritual importante. — Será que foi por que eu trapaceei na outra prova? Que nada! Pelo que o Wonho fez comigo, eu ainda fiz foi pouco! — mas arrependida da trapaça anterior ela também não estava, por isso a única coisa que lhe restou foi suplicar mentalmente. — Me ajuda, só dessa vez, por favor!!"
— Olha! O barco da Aeun e do Kihyun está afundando! — Wonho, que ainda remava com sua força total, disfarçou seu sorriso maldoso assim que percebeu a respeito de que qualquer chance da dupla vermelha ganhar tinha afundado junto com o barquinho destruído deles.
Dessa forma, completamente tomado pelo gostinho saboroso de uma vitória desmerecida, Wonho saiu do seu barco a todo vapor para tocar o sino de chegada com o seu ego de vencedor nas alturas. Porém, quando se virou após os professores já declararem seu primeiro lugar, mesmo vencendo ele não conseguiu comemorar a vitória.
Ao seu lado, Jooheon fazia uma dancinha repleta de fofura e marra, ao mesmo tempo, em comemoração pela primeira conquista da dupla azul. Mas, de outra forma, tudo o que Wonho conseguia ver era a extravagante cena da equipe vermelha, no meio do lago, com seu barco quase todo debaixo d'água.
Aeun não sabia nadar, porém, o garoto de cabelo azul não fazia ideia disso. Pois, sendo uma equipe perfeita, eles nunca precisaram nem chegar perto da água. Entretanto, nem era isso que o fazia começar a se arrepender de trapacear na prova, e sim a cena ridícula — completamente exagerada em sua opinião — que a garota estava fazendo.
Já que, Aeun abraçava Kihyun quase o sufocando, totalmente colada como se fosse uma bolsa-coala e enquanto o Yoo gritava para ela se acalmar e lembrar do colete salva vidas, sem contar que a profundidade do lago, onde eles estavam, não deveria nem ultrapassar a altura do peito.
Só que, o que ninguém notava era que a garota não estava desesperada de verdade e sim aproveitando a situação para chamar a atenção de todos, principalmente sabendo que Wonho estava assistindo tudo, coisa que ela mal entendia a razão de estar fazendo.
Toda a cena não durou dez minutos, porque os professores logo se moveram para ajudar os dois, mas mesmo assim, para Wonho, mais parecia que tinham se passado horas naquela tortura dramática e insuportavelmente melosa. No instante em que, a sua mente se dividia ente o arrependimento, a preocupação e o ciúme.
Movido mais pelo arrependimento de ter trapaceado, o garoto de cabelos azuis saiu em disparada dando a volta no lago como um cachorrinho que tem o rabo entre as patas.
Não demorou para aproximar-se cautelosamente de uma Aeun que torcia o cabelo tirando o excesso de água; e também de um Kihyun que jogava o colete no banco com uma expressão emburrada de quem perdeu o jogo.
— Aeunnie... você está bem? — Wonho, embora fosse completamente sincero em sua pergunta, era extremamente destoante com a situação. Principalmente pelo fato de antes ele ter evitado chegar perto de Aeun a todo custo, então, logo, não estava muito nos seus planos sobre falar com ela tão de repente.
Sob outro ponto de vista, a garota, ao ouvir a voz do menino causador de tanta confusão, pareceu ter recuperado toda a sua ira em segundos, pois o olhou com os dois olhos faiscando. Bem diferente do jeito meloso que ela olhava para o "deus grego Kihyun".
— E você se importa comigo agora?
— É claro! Você é minha amiga — Aeun já estava possessa, mas ouvir a palavra "amiga" sair de sua boca com tanta facilidade foi o motivo de deixá-la, além de muito mais estressada, magoada. Tanto que, depois disso ela simplesmente perdeu o controle da mão direita, que não tardou em desferir um tapa, com toda a sua força, no ex-parceiro de time.
Wonho virou o rosto com o golpe, abalado por causa do susto pela ação.
— Que engraçado, onde estava toda essa sua consideração quando resolveu me trocar sem nem avisar? É assim que você trata os seus amigos? ... Pois saiba que, sendo meu inimigo, de agora em diante é assim que eu vou lhe tratar. — A garota esquentadinha ainda esbarrou em seu ombro ao sair, pisando duro, como se transbordasse em relâmpagos de fúria, em direção do dormitório feminino.
Ele, ainda sentindo a dor do tapa, mas muito mais abalado pelo comunicado, passou a mão na bochecha murmurando o quanto Aeun era forte e, embora a falta de tamanho, vendo-a se afastar sem lhe dar chance de explicar qualquer coisa.
A garota Aeun bateu forte a porta do dormitório, grunhindo de raiva como um cão irritado, depois chutou uma almofada que estava no chão antes de finalmente sentar em sua cama.
— Aquele ridículo! Como ele ousa vir me perguntar se estou bem? Eu deveria era ter chutado o saco dele.
A garota parou de resmungar, relembrando da cara dele de assustado depois de receber um tapa na cara, com satisfação, e abriu um sorriso presunçoso. Aeun ainda estava determinada a fazê-lo pagar por sua traição, por isso ela começou a bolar sua próxima trapaça. Uma vez que, a vitória de Wonho na prova de remos só foi mais um gás para o desenvolvimento de seu plano mais mirabolante e maquiavélico.
E dessa vez, ela estava disposta a jogar muito, mais muito, sujo.
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