ii. Lei da Ação e Reação
Após o anúncio de todas as duplas formadas nas respectivas turmas, deu-se início ao primeiro jogo do Acampamento de Verão. Ainda naquele mesmo dia.
O primeiro jogo consistia, basicamente, em uma Competição de Nós.
Dessa maneira, a dupla que conseguisse fazer o nó mais firme na corda, em certo período de tempo determinado, ganharia essa primeira etapa.
Aeun, conhecendo bem o seu maior adversário, sabia muito bem que o Wonho era praticamente invencível nessa modalidade. Ele fazia os nós mais resistentes e hábeis do que qualquer outra pessoa daquele colégio.
Inclusive, até melhores do que ela própria.
Tanto que, em meio aos corredores do colégio, todos apelidaram o Wonho carinhosamente como "Mr. Músculo". Só daí já dá para tirar que os braços do garoto eram como duas barras de aço grossas, se as barras tivessem gominhos perfeitos estampados na barriga, mas o pior de tudo era a sua habilidade nas mãos para fazer os nós mais fortes do mundo.
Por essa razão, ela sabia que se não agisse rápido era certo de que ele ganharia a primeira prova sem muitas dificuldades.
Logo, para Aeun conseguir a sua desejada vitória, só lhe restava uma única opção:
Jogar muito sujo.
Sorte que Kihyun, a sua nova dupla, também não era o maior moralista do mundo. Na verdade, a ideia de trapacear tinha até surgido dele.
Sabendo que o primeiro jogo só iniciaria depois uma pequena pausa, para a organização dos materiais, a dupla mais desonesta da escola, composta por Aeun e Kihyun, tinha a ocasião exata para agir.
Certo, então eles só precisavam esperar um momento de distração dos professores, enquanto eles preparavam o pátio central para os jogos. Porque, bastava um pequeno instante de desatenção para que Aeun conseguisse o que queria.
— Kihyun, você precisa roubar uma corda.
— Roubar o quê? — Kihyun piscou os olhos freneticamente, sem acreditar na sugestão de sua comparsa de crime.
— Não seja tão exagerado KiKi. A ideia foi sua!! — ela franziu o rosto, abusando do apelido no qual bem sabia que o garoto se derretia ouvindo, gananciosa, enquanto fez questão de relembrá-lo de sua culpa no cartório. — E você só precisa pegar uma daquelas cordas ali — ela apontou —, sem que ninguém perceba.
— E por que eu faria isso? — Kihyun discordou da lógica, apoiando a maxilar no dorso de sua mão esquerda e, em seguida, estreitando os olhos desconfiado. — Você é muito espertinha Aeun, quer dizer, porque eu nitidamente fiquei com a pior parte do plano!
— É realmente uma pena... Eu nunca esperei que você fosse tão covarde assim. Poxa, quase acreditei que você fosse um "lindo homem de coragem" ...
Ouvindo as descaradas provocações de sua amiga manipuladora, Kihyun sorriu e soprou, em sequência, virando o rosto completamente para o lado oposto, como se estivesse aprontando alguma coisa em sua cabeça arteira.
Após isso, os seus cabelos de tom avermelhado vívido foram miraculosamente ajeitados, com a mesma mão na qual ele amarrou a sua pulseira vermelha da competição.
Aeun observou o ato charmoso do garoto, estando convencida de que a cor vermelha havia sido criada única e exclusivamente para compor as cores que preenchiam Kihyun. Inclusive, as suas bochechas atualmente rosadas deixavam aquela combinação ainda mais perfeita.
"Foco Aeun!!! Todo mundo sabe que Yoo Kihyun não passa de um galanteador barato..., — ela relembrou internamente e fechou os olhos para reconectar seus objetivos — não importa se ele tá sorrindo lindamente pra você agora. Ou, em como o cabelo vermelho dele combina perfeitamente com a minha blusa de acampamento da sorte. — Ela balançou a cabeça, negando qualquer imprevisto que pudesse atrapalhar os seus planos. — Porque o foco aqui é no idiota do Wonho, e em como eu vou fazê-lo se arrepender por ter me trocado no meio da competição mais importante pra mim!"
— Tudo bem, tudo bem. Isso não é nada, — ele começou a falar, convencido e erguendo o peito, ainda sendo capaz de observar um terço da confusão que preenchia a mente da garota — claro, eu sempre sou genial em tudo o que faço. Roubar uma cordinha não será nenhum problema.
Aeun sorriu travessa em confirmação, assim que recobrou seus objetivos básicos. Porque, ela sabia que por mais paquerador que Kihyun pudesse ser, bastava saber como provocá-lo com jeitinho, para que ele caísse feito um patinho bobo.
— Então eu te espero atrás do dormitório feminino... Você tem exatamente cinco minutos. — Ela não aguardou nenhuma resposta antes de sair, um pouco sem fôlego e aérea. Porque aquilo mais soava como uma ordem, e não como um pedido.
— Claro, a danadinha tinha que me dar pressão antes de sair, tão típico! — reclamou indignado, cruzando os braços e raciocinando sobre como colocar em prática os seus planejamentos do mal.
Pouco tempo depois, Aeun teve a confirmação de que estava redondamente certa de suas convicções, porque Kihyun poderia ser bem eficiente quando instigado pelos meios corretos — ou não tão corretos assim, afinal de contas.
Pois, o que realmente motivava o garoto era aquela adrenalina que percorria em suas veias. Sabendo que estava trapaceando na cara dura, no meio dos jogos mais importantes do ano.
Dessa forma, não se passaram nem três minutos inteiros para que Kihyun imediatamente estivesse no local do encontro. Com o rosto ainda mais corado que o habitual e o coração pulsante. Um pouco atrás do dormitório feminino, um lugar onde eles tinham certeza de que não seriam descobertos.
— Você já pode assumir o inegável, pequenina Aeun... E dizer o quanto eu sou maravilhoso. Vai, eu dou esse crédito a você. — Kihyun disse ofegante, quase disparado, enquanto estendia a corda roubada que segurava em suas mãos, como se fosse um belo troféu. — Ainda me acha um covarde?
Olhando para ele, ela percebeu aquele mesmo sorriso, branco, alinhado e bonito, típico de um cara consciente de toda a sua beleza. E que também sabia exatamente sobre o efeito que provocava nas garotas.
— Não cante nenhuma vitória antes do tempo, KiKi. O nosso plano ainda não acabou. — Aeun estendeu as mãos para pegar a corda que Kihyun tinha, tentando passar indiferença no ato e fingindo não reparar no charme que parecia exalar naturalmente por todos os poros do garoto.
Mas, contradizendo a sua tentativa, por sua vez, ele levantou os braços só para que ela não pudesse alcançar a corda.
— Epa, epa, epa!... O que você acha que está fazendo garotinha? — ele dizia com os olhos apertados e um sorriso de canto, cheio de malícia. — Primeiro, eu quero as minhas devidas desculpas.
— Você sempre foi tão infantil assim? — Ela bradou e bateu os pés no chão com força, como uma criança birrenta faz quando não tem o seu pedido atendido assim que deseja.
— E você, sempre foi tão mal educada? — Kihyun, visivelmente, não estava disposto a ceder.
E Aeun compreendia que ele não iria deixá-la em paz de jeito nenhum, até que tivesse uma boa retaliação em troca e a garota finalmente lhe pedisse desculpas, por ter lançado ofensas até a sua — como ele mesmo diria — "lindíssima pessoa". Já que, ainda mais insistente que um Kihyun em seu estado habitual, só um Kihyun com o ego ferido.
Então, ela respirou profundamente, analisando as circunstâncias com cuidado e esquecendo de todo orgulho que pudesse surgir, decidindo racionalmente, por fim, o que tinha que fazer em prol de sua desejada vingança.
"Tudo bem Aeun, eles não dizem que os fins sempre justificam os meios?"
— Então tá, foi mal ter te chamado de covarde antes. — Depois de algum tempo de convencimento interno, ela disse um tanto aborrecida, e completamente forçada. Constatando que ele continuava com o mesmo rosto provocador, ela ainda completou. — Desculpa.
— E o quê? — ele provocou.
Yoo Kihyun jogava extremamente baixo com as suas expressões prepotentes, mas se fosse diferente então não seria tão legal. Afinal, onde Aeun encontraria um amante para o crime tão vigarista e perfeito?
— Desculpe essa mera mortal, óh deus grego, lindo e magnífico Kihyunnie.
— Ah sim, muito melhor. — Só depois de conseguir exatamente o que queria, depois de dar altas gargalhadas convencidas, então, ele finalmente decidiu parar de fazer drama. E entregou a corda para Aeun concluir a sua bandidagem.
O que aconteceu sem muito problema, já que Aeun estava realmente decidida a persistir em sua vingança sanguinária.
De maneira que Kihyun só precisou ficar parado, encostado na parede traseira de madeira escura, que forrava o dormitório feminino de uma ponta a outra. Admirando a sua doce dupla maquiavélica com os olhos semicerrados, e completamente surpreso por conhecer o lado mais trapaceiro e sujo de Aeun.
Porque ele sempre achou que Aeun fosse alguma espécie de menina politicamente correta, daquelas que não têm nenhum delito na ficha do colegial. O que não era uma mentira de fato, só que, não ter nenhum delito comprovado não significava que ela era certinha, de modo nenhum, e sim que era boa o suficiente para não ser descoberta.
E, mais uma vez, como o velho e bom Newton já adiantou: toda ação deve corresponder em uma reação de mesmo módulo e direção, mas de sentido diferente. Então, Wonho deveria estar completamente ciente de que a sua atitude descarada de trocar a garota Aeun no meio da competição sem nenhum aviso teria uma consequência à altura de seus atos.
Mas, também se ele não estivesse consciente disso, não tinha problema algum. Porque Aeun faria questão de, pessoalmente, lembrá-lo a respeito da famosa e inevitável lei da ação e reação, da pior e mais dolorosa maneira possível.
— O Wonho que me aguarde. — Ela disse, ainda sendo observada de longe pelo "deus grego Kihyunnie", depois de embeber toda a corda em óleo de cozinha.
🌡☀️🌡
Quando o momento da prova finalmente chegou, exatamente como o planejado, e na hora do jogo, o Wonho estava com muita dificuldade para realizar o seu nó com maestria.
Pois, a corda que ele tinha escorregava de suas mãos a todo momento.
Mas claro, se ele houvesse comunicado o ocorrido aos professores, certamente haveria uma pausa para a troca de cordas. E, assim ele não seria afetado pelos planos maléficos e infantis de sua adversária revoltada.
Entretanto, Wonho evidentemente estava mais interessado em outra coisa, que não era aquela mísera prova de nós.
Mas sim, no estranho comportamento da dupla ao seu lado.
Porque, Kihyun e Aeun pareciam extremamente cúmplices um do outro.
Eles trocavam diversos sorrisos bobos e gritos escandalosos, no momento em que o Kihyun tentava fazer algum nó, mas a Aeun o impedia dramaticamente.
Era como uma cena melosa de dorama, do tipo que é vista em Full HD e em câmera lenta, com direito a trilha sonora e tudo. Ou então, pelo menos era assim que o Wonho se sentia como um telespectador de camarote.
— Você nitidamente não sabe fazer um nó decente, KiKi. Me deixe fazer o trabalho sozinha — dizia Aeun, apoiando a sua mão esquerda no peito de sua dupla para afastá-lo da tumultuada corda.
"KiKi? O que é que deu nesses dois? E por que eles parecem tão íntimos assim?" — Wonho matutava inquieto.
— Ah não!!... Sem chances que você vai me impedir de terminar de ganhar essa prova, Aeun. — Kihyun contrapôs sem se afastar, e quase completamente grudado ao corpo minúsculo de Aeun, segurando na pequena mão posta em seu peito, e ignorando toda falácia de sua companheira de equipe. — Largue de ser mandona, tudo bem?
— Eu já disse que sou especialista em fazer ótimos nós? — Mas a garota parecia determinada a excluir a ajuda de Kihyun, e, aparentemente, não se incomodava nem um pouco com todo aquele grude.
— Então deixe que eu aprenda com a senhora "especialista em nós". — Por fim, resolvendo a discussão, Kihyun propôs despretensioso e sugestivo. — Somos ou não somos uma bela dupla?
Após isso, Aeun meio que consentiu a sua ajuda sem mais protestar. Logo então, Kihyun não perdeu a oportunidade de enlaçá-la por trás, ajudando-a segurando na base da corda.
— Agora faz o nó, assim óh. — Kihyun disse, apontando para a corda. Extremamente envolvido no jogo, como nunca antes visto na face da Terra.
Tudo parecia completamente estranho, já que Kihyun nunca havia manifestado interesse algum pelo campeonato nos anos passados.
Porque, os únicos motivos que o fazia comparecer aos Acampamentos de Verão eram as comidas especiais e, claro, as garotas bonitas do colégio também.
Em seguida, Aeun fez o melhor nó que conseguiu, ainda com Kihyun grudado como uma sanguessuga em seu corpo. Ele ainda apoiava o rosto por cima dos ombros da garota, quando ela finalmente disse:
— Tudo bem, agora puxa esse lado da corda e-
Quem os visse de longe diria que eram uma perfeita dupla, até mesmo um casal de namoradinhos, fazendo um ótimo trabalho de equipe.
Mas, a verdade escondida é que eles eram comparsas de um mesmo pecado. E, no mundo, existe maior motivo de união?
Para o Wonho, que admirava aquilo totalmente de longe e de maneira desatualizada, tudo parecia muito incompreensível.
"Que diabos está, verdadeiramente, acontecendo ali? — ele pensou, mais uma vez, tomando parte da vida alheia e esquecendo da sua. — Eles sempre foram tão grudentos assim?"
Dessa forma, Wonho ficou se perguntando se aqueles dois não tinham fugido de algum filme dramático de estilo comédia romântica de muito mau gosto, só para atazanar a sua vida particular.
Todavia, aquilo estava longe de ser a pior parte daquela história melancólica.
Porque, assim que a dupla grudenta concluiu o nó, que eles pareciam tão empenhados em fazer coladinhos um no outro, Aeun estava tão estranha que abraçou o Kihyun pela cintura. Enquanto os dois começaram a comemorar o bom trabalho um do outro exatamente como um casal de namorados de um drama sul-coreano faria.
Assim, a única coisa certa era que alguma coisa muito suspeita estava rolando entre os dois pombinhos.
E foi sabendo disso que o Wonho começou a soluçar do nada.
Uma vez que, ele sentia ódio de que Aeun e Kihyun formassem uma excelente equipe. Sentia raiva da interação deles. E, acima de tudo, sentia ciúmes por não ter sido ele quem pôde abraçá-la em comemoração.
Wonho estava perturbado, incapaz de fazer qualquer outra coisa que não fosse morder os próprios lábios, contendo um sentimento amargo dentro de si. Como alguém que se arrependia por suas atitudes impensadas.
Jooheon, a dupla do Wonho, de outra forma, parecia completamente preocupado com o seu parceiro de time. Da dupla, ele também era o único sinceramente apreensivo com relação à prova de nós.
Enquanto, dos quatro, ele era aquele que se encontrava de escanteio em toda aquela confusão melodramática adolescente.
— E essa corda aí é feita de quê? Gelatina?!! — Jooheon parecia estressado quando falou. — O efeito "Mr Músculo" passou da validade, é? Então, por que você não sai daí, e me deixa fazer todo o trabalho sozinho?
— O qu-quê? — Wonho perguntou, em meio aos seus soluços patéticos, como se somente naquele instante ele ficasse consciente de si.
— Vamos Wonho, o tempo está acabando... — Jooheon fez uma tentativa de puxar a corda, com agressividade, e tomar a liderança de uma vez.
— Não precisa-a, e-eu poss-
Contudo, antes mesmo que o Wonho terminasse a sua fala desajeitada, uma sirene escandalosa apitou. Indicando que o tempo para a realização da prova já havia acabado.
Wonho nem sequer conseguiu fazer um nó naquela maldita corda.
E o pior, agora ele estava com uma baita dor de cotovelos.
Porque, ninguém mais ou ninguém menos, a dupla vencedora da primeira prova havia sido o — como ele diria — insuportável "casal-comédia-romântica".
Mas, se Aeun achava que aquilo significava que ela conseguiria ganhar a competição, então estava muito enganada.
Porque, o Wonho poderia até reconhecer a derrota daquela batalha.
Mas a guerra...
Ah..., a guerra só havia começado.
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