i. Lei da Inércia
O sol quente e abrasante era uma marca vigorosa daquele mês de julho, na Coreia do Sul. Uma marca que denunciava que o momento mais esperado do ano havia chegado para a garota Aeun: o Acampamento de Verão.
Ainda nesse país existia um colégio, especializado no Ensino Médio, que costumava aproveitar o início das férias do primeiro semestre do ano para proporcionar um momento de descontração entre todos.
Dessa forma, o acampamento consistia em três dias cheios de atividades esportivas, as quais era necessário, aos alunos, a formação de duplas que competiriam entre si.
É claro que o acampamento era só um pequeno período que a escola dava aos alunos para relaxar e interagir, antes das infernais e gigantescas provas preparatórias.
Entretanto, para Aeun, aquele era um momento muito crucial e importante na sua vida. Porque, era quase como uma questão de honra que ela se mantivesse como a vencedora invicta de todo o campeonato do colégio. Como já vinha fazendo até então.
Pois, a determinada garota havia feito questão de ganhar todas as versões anteriores. Em que participou juntamente com seu parceiro de sempre, que era insubstituível nesse quesito.
Afinal, eles formavam uma excelente dupla.
Imbatível. Muitos diriam.
Era como uma fórmula matemática perfeita, já que eles tinham as medidas exatas para se encaixar um no outro. Onde um faltava, o outro substituía.
Aeun não era de se gabar publicamente, mas como a boa competidora que sabia ser, gostava bastante da fama que ambos alimentavam por toda a escola.
Então, naquele primeiro dia de acampamento, enquanto todos separavam os seus materiais, Aeun tinha certeza de que o seu parceiro havia ficado encarregado de fazer a inscrição da dupla. Assim como nos anos anteriores.
E, era justamente por isso que ela tinha total convicção de que seu último ano escolar seria marcado com mais uma medalha de ouro, diretamente para a sua sagrada coleção.
Dessa forma, ela juntou as suas coisas assim que ouviu seu nome ser convocado para dentro do dormitório, onde ela deveria passar as próximas noites.
Os dormitórios eram divididos entre feminino e masculino, assim, todas as meninas dividiam o mesmo dormitório. E os meninos ficavam em outro diferente.
No instante em que Aeun terminou de organizar a sua cama, ouviu de longe uma das garotas comentar a respeito de que iriam pronunciar os nomes das equipes formadas em breve, logo após o almoço.
Essa mesma garota, aproveitando a oportunidade, virou-se olhando para Aeun com um sorriso suspeito. Um pouco antes de alfinetar:
— Aeun, você deve estar bem tranquila quanto a isso, não é? — Aeun não respondeu, por sua vez, somente sorriu. O que por si já era uma resposta suficientemente boa.
Era verdade que com a dupla que ela tinha, a única preocupação que passava por sua cabeça era se havia levado uma quantidade de roupas suficientes.
Por isso, enquanto as outras garotas ao seu redor se apropriaram da deixa para engatar em uma conversa sobre quais seriam as suas duplas daquele ano. Ela parecia completamente indiferente à conversação paralela, pegando, a seguir, o seu querido álbum de recordações do acampamento.
Porque Aeun, acima de tudo, tinha muitas superstições.
Dessa maneira, ela acreditava que algumas coisas, em particular, contribuíram significativamente para os seus seguidos dois anos de vitória no Acampamento de Verão.
E entre essas coisas havia o seu principal amuleto de boa-sorte, que consistia em uma pulseira de couro trançada, com as cores vermelha e azul. Aquela pulseira combinava perfeitamente com a cor de sua dupla.
Afinal, o seu parceiro amava a cor azul. Por isso, todas as vezes que abriam as inscrições do acampamento, ele era o primeiro da fila. Só para ter certeza de que conseguiria reservar as pulseiras de inscrição azuis, para eles dois competirem juntos.
Talvez ele fosse tão supersticioso quanto Aeun, no fim das contas.
Entretanto, apesar de ter muitas teorias, Aeun também acreditava que sua dupla era um importantíssimo amuleto da sorte, o mais importante deles, e por isso eles já haviam ganhado tantas vezes.
Dessa maneira, ela não demorou para admirar a sua pulseira da sorte, que no momento já estava amarrada em seu pulso. Tendo certeza de que, em instantes, teria uma outra pulseira azul para enfeitar o seu antebraço.
Logo então, ela abriu o seu precioso álbum, que ela própria confeccionou detalhadamente, vendo todas as fotos de suas premiações. Como também, as duas medalhas de ouro que ela e a sua dupla já tinham conquistado juntos, coladas nas folhas de sua coleção particular. Sentindo-se nostálgica, quase que de imediato.
Ela poderia facilmente se lembrar de sua primeira vitória, e sobre como todos em sua volta pareciam surpresos com a inesperada equipe azul, que extraordinariamente havia ganhado todas atividades em primeiro lugar.
Passando as folhas de seu álbum, a garota foi inundada por diversos sentimentos felizes. Apenas observando as suas conquistas. O Acampamento de Verão era algo realmente importante para ela, tanto o quanto era para ele, o seu parceiro de equipe. Por isso que os dois se davam tão bem.
Porém, embora estivesse recheado de boas lembranças, no álbum dela ainda havia espaço para mais uma medalha. E Aeun estava pronta a lutar bravamente por ela.
O que não seria tão difícil assim. Afinal, quando estava unida com o seu parceiro, eles pareciam como uma máquina mortífera.
Assim, com o sentimento de vitória exalando por todos os seus poros, um pouco antes de deixar o dormitório, Aeun ainda fez questão de vestir a sua camiseta preferida de acampamento.
Apenas por força do hábito e de suas incontroláveis superstições. Paranoica como só ela, para também para garantir de que nada ruim acontecesse no caminho até o refeitório.
Depois de chegar ao refeitório Aeun pegou sua bandeja e se sentou com sua turma de classe, aproveitando rapidamente para varrer o local com os seus dois olhos bem atentos.
Foi então que ela viu o primeiro sinal de que algo estava errado naquele dia. Porque, simplesmente, a sua dupla não havia comparecido para o almoço.
"Ele nunca fez isso antes — ela raciocinou —, será que ele sequer veio?"
Ela se recordou, instantaneamente, de o ter visto no ônibus em momentos anteriores. E, assim, tentou espantar os seus pensamentos assustados.
"Pensamentos ruins atraem coisas ruins" — ela se convenceu internamente, lembrando-se imediatamente de que uma das características mais importantes para ser uma vencedora, era pensar como uma.
Por isso, até ter acabado por completo seu almoço, Aeun passou a pensar positivamente. E em como ela e a sua dupla iriam vencer aquele acampamento, sem muitos empecilhos, como aconteceu em todos os últimos anos.
O segundo sinal de que algo estava muito, muito errado, não tardou em aparecer.
Aconteceu quando chegou a hora em que os professores juntaram toda a galera, para finalmente dizer os nomes das equipes formuladas. E assim, Aeun, mais uma vez, não viu a sua dupla em canto algum.
Dessa forma, para ela, já se tornava impossível conter o pressentimento de que algo ruim estava prestes a acontecer.
Ou era só a sua desconfiança que estava ultrapassando os limites...
Mas é quase impossível não ver uma pessoa daquela estatura!!
Pois ela sabia que, com certeza, seria capaz de reconhecê-lo a quilômetros de distância. Então, já que é assim, onde diabos ele poderia ter se enfiado?
— Pessoal, gostaria da atenção e do silêncio de todos os presentes — o professor de educação física se pronunciou com seu autofalante. — Antes de dizermos as equipes, quero mais uma vez ressaltar que o mais importante, assim como em todos os outros anos, é que vocês se divirtam e aproveitem ao máximo esses três dias.
Aeun estava extremamente preocupada, e com isso não conseguia pensar em outra coisa, além de seus delírios a respeito do paradeiro de sua dupla.
Entretanto, sua preocupação não iria durar muito, já que logo começou a ouvir os nomes dos alunos de seu ano serem convocados para, sucessivamente, cada um deles receber a cor da pulseira de identificação de sua equipe.
— Minhyuk e Changkyun — começou a chamada, e ela nunca havia ficado tão apreensiva na vida. Mas parecia que, especialmente por estar ansiosa, estavam demorando mais que o normal para anunciar. — Cor laranja.
— Shownu e Hyungwon, equipe de cor verde.
"A qualquer segundo — ela pensou —, eles chamarão por: Aeun e Wonho, Aeun e Wonho, Aeun e Wonho!!!"
Mas, contradizendo as suas expectativas, quando Aeun ouviu o nome de seu requisitado parceiro ser pronunciado, ela não estava incluída.
— Jooheon e Wonho — o professor anunciou, nitidamente surpreendido pela mudança inesperada —, cor azul.
É O QUÊ?!
Uma vez, Newton disse que todo objeto deve permanecer em estado de repouso, quando não existem forças atuando sobre ele, ou então em movimento retilíneo uniforme, quando somente uma única força o impulsiona para sair do lugar.
O famoso e reconhecido físico estava certíssimo ao afirmar sobre a condição de que todo o corpo prefere manter o seu estado inicial, porque Aeun se sentiu exatamente assim, resistente, quando finalmente notou uma força externa para retirá-la do conforto.
Era a inércia sendo quebrada, era o seu mundo sendo abalado com tão simples palavras.
De início, ela pensou primeiro ter ouvido errado, mas logo percebeu o nítido porquê do Wonho estar tão sumido naquela manhã...
O garoto demônio a havia trocado na cara dura e, pior, sem ao menos avisar!
Que ódio!
O ódio é como um veneno azedo que se consome às pressas, no mesmo instante em que se planeja dar o troco na intensidade equivalente para o causador de um sentimento tão ruim.
Em poucos segundos, dessa forma, o Wonho se materializou na frente da garota, do nada. Apenas para recolher a pulseira de sua dupla — QUE NÃO ERA A AEUN —, e depois se retirar na mesma velocidade em que apareceu. Com a cara mais cínica possível.
O desgraçado não havia avisado!! Deveria ter passado todo aquele tempo se escondendo dela de propósito, inclusive.
Ele sequer pensou em lhe dizer!
A cabeça da menina estava cheia de pensamentos sobre a quantidade de indignação que sentia. Num nível que nunca tinha sentido antes, um nível que fazia o seu corpo arder em chamas.
Como Aeun não tinha feito nenhuma inscrição, estava sem dupla para o Acampamento, então provavelmente ela ficaria com a pessoa que sobrou de sua turma.
E só existia uma pessoa que sempre sobrava. Todos os anos. Já que, ele era famigeradamente conhecido como o grande "desastre dos esportes". Em contraponto, ele tinha a fama de ser o galã da paquera.
Sendo, ninguém mais ou ninguém menos que, Kihyunnie-shii!!
Aeun mal escutou quando seu nome foi anunciado junto ao de Kihyun, mas aquilo nem importava mais. Yoo Kihyun que lhe perdoasse, já que a sensação de ódio mortal perdia para a raiva que aumentava mais e mais.
Ela tinha certeza de que, se Wonho ousasse passar perto dela ele perderia todos os fios de cabelo que tinha na cabeça.
De outra forma, ainda mais surpreso que ela só estava o garoto Yoo, que se aproximou da menina cautelosamente, notando sua expressão carregada pela pura ira.
— Espero que essa raiva toda na sua cara não seja para mim, Aeun. — Kihyun disse temeroso e, conhecendo a personalidade temperamental dela, se achegando na garota somente para lhe entregar a pulseira que representava a dupla mais fracassada de sua sala. Cor vermelha.
A dupla de pessoas que não se escolheram, e sim que não foram escolhidas por ninguém.
Aquilo, para muitas pessoas, poderia ser a premissa de uma derrota. Só que, Aeun não deixaria uma traição covarde nessa escala se passar batida assim, tão facilmente.
— Pode ter certeza Kihyun que, se o Wonho ainda não se arrependeu de seus pecados, esses dias ele irá pagar por todos eles.
Kihyun apenas assentiu. Sabendo que Aeun conseguia ser muito agressiva quando queria, então era melhor que ele não ficasse em seu caminho. Afinal, uma das coisas que Kihyun mais amava era presenciar uma treta. Ele queria mesmo era ver o circo pegar fogo.
— Sei de lugares ótimos para se esconder um corpo — ele comentou como quem não quer nada.
— Eu acho que vou precisar saber desses lugares.
Aeun procurava com fogo nos olhos o paradeiro de Wonho e, tinha que concordar, ele estava tendo muita sorte dela não o encontrar. Já que, toda e qualquer forma de conversa pacífica tinha se esvaído, no momento em que ele decidiu traí-la tão descaradamente.
Ele, ainda por cima, teve a coragem de usar a cor azul!!!
A cor que pertencia somente a eles dois.
Se aquilo não era traição, ela não sabia mais o que poderia ser.
— Estou prevendo muitas disputas sanguinárias, finalmente algo emocionante por aqui — Kihyun, mesmo com tom de piada, tinha dito algo muito real.
E ele estava mais do que certo, Aeun faria questão de travar disputas sanguinárias contra aquele traidor maldito que era o Wonho.
— Vamos ver se Wonho consegue sustentar sua valentia quando a competição iniciar. — Ela balbuciou com a maxilar trincada de ódio, imaginando mil e uma formas de jantar o senhor "gostosão" na porrada.
— E que os jogos comecem!! — Kihyun por fim exclamou, amando loucamente o rumo de toda essa história.
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