Poslúdio II - Adhamastor
Poucos olhos no mundo seriam experimentados o bastante para entender que aqueles movimentos no céu não eram naturais. Mas o homem de capuz marrom que rumava com seu cajado por aquela noite soturna, logo percebeu que se tratava de um evento raro que mudaria para sempre o fluir das Gestas. Seu rosto permaneceu impassível em meio às sombras, enquanto ele observava aquela peculiar chuva de estrelas cadentes.
Depois de alguns instantes parado, rumou na direção do norte, onde certamente cairiam aquelas pequenas centelhas vindas do páramo.
– Venha logo, Adhamastor! – Chamou, então, com certa impaciência no tom da voz e olhando para trás com gravidade, o que dava conta da urgência da situação.
Uma pequena criatura, de cerca de uma vara de altura, cujo formato do corpo não era muito diferente de uma criança, acelerou seu passo claudicante num movimento que pareceria cômico se viesse de um ser humano. O ser, entretanto, não passava de uma tosca escultura de argila feita por mãos de inábil artistas. E o rosto não passava de uma bola de barro amolgado, em que três orifícios fundos faziam vezes dos olhos e da boca.
Um som gutural escapou de um deles, como se o homúnculo respondesse que estava a caminho.
Nesse momento, se o homem encapuzado segundo o uso de Thalindari, tivesse expressões, dir-se-ia que sorria ao contemplar os vastos Campos de Edhesendil. E que, no fundo de seus olhos escuros, ele estava satisfeito.
Adhamastor, apesar de seus movimentos restritos e artificiais, agiu rapidamente tratando de coletar em um grande cesto de palha trançada que estava em suas costas os fragmentos luminosos de carne que haviam caído do céu, numa sinistra semeadura de sangue.
– Vamos, Adhamastor! – insistiu o maghi, aquele a que chamavam de mago metalúrgico, Isoutur de Thalindari. – Não queremos ser surpreendidos aqui por ninguém!
E se abaixando, ele simplesmente pegou a cabeça impassível de Erastos, seu discípulo, que estava jogada aos seus pés, como mera peça de um brinquedo que se quebrara.
Os olhos do ancião, nesse instante, brilharam em vermelho e o ruído cavernoso de uma gargalhada escapou de sua boca imóvel.
– É... Eu estava mesmo certo. – Foi o que ele disse. – Ele me será útil!
E aquela perturbadora risada do maghi ecoou pelos vales do norte de Izi'avon, como a agourenta invocação de um futuro que viria tingido de sangue e terror.
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