- IX -
Já havia passado muito e muito tempo desde o primeiro encontro de Aythila com o poderoso Jamasur. E certa feita ela chegou a encontrá-lo uma segunda vez, velho e cansado nas montanhas do Norte e mesmo assim não pode arrancá-lo de lá ou provar seu poder, mesmo já tendo submetido todos os primevos.
– Qual limite do teu poder, monstro? – ousou perguntar.
– Quem saberá, menina? Talvez somente o Grande Aythir entre os deuses o saiba. Eu mesmo só quero descansar como minha mãe Aldamā. Há muito estou aborrecido desta existência sem propósito e nenhuma das criaturas deste mundo é capaz de me despertar interesse...
– Então morra, monstro!
– Ah! Quiçá já tenha morrido, garota. De algum modo... Mas sim... é verdade... eu esperava por ti esses anos todos. O que me trouxeste? Não digas que não tens nada contigo, pois te havia avisado de que não te perdoaria...
– Eu me lembro bem. No entanto, hoje sou a senhora inconteste desse mundo e de todas suas criaturas e ninguém é capaz de se opor ao meu poder!
O dragão rugiu repetidas vezes como se gargalhasse.
– Excelente, menina! Isso me faz muito feliz, talvez agora eu durma um pouco, como minha mãe... Por mais poderoso que alguém seja, há de requerer uma boa noite de sono algum dia.
– Isso é desprezível! Tu e minha irmã me causais repugnância. Pois saiba que eu Aythila jamais me entregarei a tua preguiça, monstro!
– Preguiça, é? No que me respeita, não sou um deus, mas uma criatura sujeita ao tempo e finito. Não me julgue, filha do Grande Aythir! E também não sejas arrogante e nem leviana, pois o poder de Aythir flui em tudo e tudo flui pelo poder de teu pai. É por essa verdade que seres mortais, por vezes, veem seu poder sobrepor-se ao poder dos deuses. E pela mesma razão, um dia o cetro sairá de tua mão e uma Nova Gesta começará após a tua.
– Isso jamais acontecerá! – enfureceu-se Aythila. – E hoje eu o provarei arrancando teu couro, monstro!
– E que orgulho terás se o conseguires? Ou quão grande não lhe será a humilhação se suceder o contrário? – E os olhos do dragão se acenderam em vermelho vivo, enquanto jatos de vapor escapavam de suas narinas e dos vãos de suas presas cerradas, dando -lhe a real feição da fúria.
Aythila majestosamente se envolveu em um halo vermelho que projetava relâmpagos por todos os lados e disparou uma rajada de seu poder contra o monstro.
O corpo da fera brilhou com a intensidade de mil sóis, uma forja viva, prestes a lançar suas labaredas, incólume a ofensiva da deusa daquela Gesta.
– Vieste a mim com as mãos abanando! É esse o limite de tua força, garota? – Jamasur apenas parecia decepcionado. – Ó Grande Aythir, desafio-te eu, rei entre as criaturas de Aldamā, a me mostrares todo teu poder, pois se não eu mesmo devastarei esse mundo. Saibai vós todos os deuses que eu sou o ser mais poderoso desse mundo. E novamente, garota, digo-te que só venha até mim se tiveres algum poder para me impressionar!
E Aythila quase sem forças depois do embate com Jamasur rumou ao sul por longos e obscuros dias, singrando as Florestas Escuras, perdendo-se repetidas vezes nas névoas de Nuiphdom até que chegou a Gasht e um yemir, julgando-a ser uma deles, conduziu-a ao Reino do Meio, onde cuidaram dela, até que estivesse novamente disposta.
Por esse cuidado, contam os yemir com orgulho, ela os recompensara com o dom do arco da noite, pelos quais foram celebrados por muitas gerações. Aylilākri, assim eram chamados os ferozes guerreiros das Florestas de Gasht que em batalha cobriam o céu com suas flechas negras.
Depois disso, a deusa rumou para o leste na intenção de hospedar-se em Thalindari. E lá chegando, para sua surpresa, desta feita, os maghim não a receberam como sua senhora. Isso muito a desagradou e foi causa de muitas queixas de sua parte.
Por ocasião, foi levada e escoltada aos salões do Arquimago Albion, onde Kanda a Branca, sua irmã mais nova, estava entre os magos para reconduzi-la aos mundos acima conforme determinado por Aquele que tudo sabe.
Quantas contrariedades sofrera desde os dias em que fatidicamente pisara seus pés nesse mundo inferior!
E por ocasião não lhe restava nada senão obedecer, pois o embate com Jamasur a fragilizara e humilhara de maneira que um único maghim agora seria para ela um adversário de valor. E se tivesse de confrontar Kanda, por mais gentil que fosse sua irmã, certamente que seu espírito desceria ao abismo, para onde Aldamā repousava.
Tal fora o prenúncio do ocaso de Aythila e o fim de sua Gesta, assim como havia previsto o dragão.
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