4. Num insuspeitável bar, pra decência não nos ver
Tínhamos um segredo agora.
Ousávamos.
As armas apontadas e todas as ameaças proferidas não foram capazes de nos parar, mesmo sob forte vigilância Theo também reagiu, ainda que de forma branda, ofereceu-me algo, criou um esquema.
Naquela ruazinha escura daquele bairro duvidoso, no coração do velho mundo onde boêmios, prostitutas e pessoas de pior espécie costumavam encontrar-se para bebericar, queixarem-se da vida e tramar contra pessoas inocentes ou indefesas.
Aquele tornou-se nosso refúgio.
Pelo menos duas vezes por semana escapávamos da nossa recém adquirida farsa, sentávamos em nosso bar, encarávamos com olhares cheios de vontades e segundas intenções. Posturas rígidas, gravatas frouxas e cabelos despenteados.
Vez ou outra Theo me sorria.
Ah, minha alma rasgada e dilacerada. Sim, o sorriso tímido daquele rapaz reconstruía as ruínas do meu interior.
Éramos cúmplices agora.
Excitados, suados e amedrontados.
Perdi a conta de quantas horas ficamos assim, encarando um ao outro e falando sobre assuntos triviais naquela mesa de bar. Esvaziamos algumas garrafas, mas Theo sempre mastigava gengibre antes de partir, dizia ser uma técnica estranha para abafar o hálito embriagado antes de voltar para sua casa.
Voltar para sua casa.
Oh, sim. Ele era o queridinho filho do pastor.
Theo possuía uma vida.
Meus olhos ficavam embaçados sempre que essa realidade desfilava diante de mim toda vez que ele erguia-se da mesa, tenso e apressado, ajustando as roupas e alinhando os cabelos.
Hipócrita.
Desgraçado.
Somente essas palavras surgiam em minha mente confusa, enquanto meus dedos nervosos tamborilavam sobre a mesa envelhecida.
Era necessário esperar um pouco mais, talvez meia hora, antes de poder seguir meu caminho rumo ao silêncio de minha minúscula e solitária casa. Afinal de contas, não poderíamos levantar nenhum tipo de suspeita, não poderíamos ser vistos juntos e nem frequentar os mesmos lugares.
O pastor acreditava que minha doença contaminava o corpo saudável de seu filho querido.
Pensava se Theo, na verdade, não era mais doente do que eu.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro