Um futuro seguro, foi o que disse
A cerimônia se seguiu da mesma forma, cavaleiros e cavaleiras se apresentando e jurando suas vidas em nome da proteção de Lalisa - da proteção da deusa - mas ainda assim tudo que ela conseguia pensar era na bela aurora boreal daqueles olhos embebidos por confiança. Que Jennie havia mudado não haviam dúvidas, mas Lalisa não esperava que fosse tanto.
Precisou lembrar de velhas lições que teve para ser a reencarnação da deusa perfeita e assim manter a face impassível. Era uma cerimônia deveras importante, ela precisava manter a imagem de soberania de uma deusa, porque era isso que esperavam de dela. Uma soberana. Mais influente e poderosa que o próprio Imperador.
O tempo que antes sempre pareceu lento, agora trouxe o pensamento de que correu mais do que nunca. O último cavaleiro atravessou a porta e se ajoelhou frente à escadaria. Um homem robusto, cabelos longos e olhar afiado. Lalisa diria ser um bárbaro se não o conhecesse e este estivesse sobre seu joelho prestes a lhe jurar sua lealdade.
- Ave Irínia, entrego à ti minha vida em nome de tua proteção - ergueu sua cabeça para olhar devidamente a garota sentada ao trono - Tommas Kim, Cavaleiro de Tigre, ao seu dispor.
- Juras ser minha espada que romperá o inimigo, ser o escudo que impedirá que me ataquem, ser aquele que protegerá minhas costas e defenderá o povo de Palantis com suas unhas e dentes mesmo que já não tenhas mais forças? - Perguntou a morena, observando cautelosamente as ações do homem ali ajoelhado.
- Juro por minha vida e tudo que a ela corresponde que serei o que Palantis precisar que eu seja, mesmo que eu já não tenha mais forças - Tommas respondeu abaixando sua cabeça novamente.
- Que assim seja, Kim, Cavaleiro de Tigre - a voz era indiferente, mas ao fundo Lalisa ponderava se ainda lhe restava tempo para fugir de tudo aquilo. Afinal, tinham nove cavaleiros poderosos, para que precisariam de si?
E então Lalisa deu início ao seu discurso que encerraria aquela cerimônia assustadora que ela mal prestou atenção. Ela disse: - Desolados, porém destemidos, foram os povos que nestas terras viveram, antes mesmo do que pensamos ser nosso passado. Eu, Reencarnação de Irínia, juntamente com os nove cavaleiros sagrados que lhes foram apresentados hoje, irei erradicar um a um dos males que atormentam os moradores de Palantis. Não deixarei que caiam nas sombras do que foram seus antepassados. Aqui teremos um novo início, para um futuro seguro. - Fez uma pausa, plantando em seus olhos coloridos por um turquesa belíssimo a confiança que os convidados queriam ver e receber, então tomou fôlego e prosseguiu - Que a paz tome seu posto neste Império.
Lalisa fez o que pôde para manter seu olhar altivo, mas a gravidade parecia vezes e vezes mais forte, já que em um piscar já se encontrava observando os detalhes em dourado da tapeçaria. A Abadessa lhe arrancaria as orelhas mais tarde, tinha certeza.
Respirou profundamente, vendo os cavaleiros se alinharem logo a frente, cinco de um lado do imenso tapete e quatro do outro. Ao redor, nobres e mais nobres enchiam suas taças e brindavam, músicos iniciavam suas melodias e alguns convidados se puseram a dançar frente a eles. Lalisa não era mais necessária no momento.
Com certo alívio brilhando no peito, a garota desceu calmamente cada degrau, com medo de que sua afobação a levasse para baixo de forma deveras desagradável e dolorosa. Sua cabeça parecia dar voltas e mais voltas ao redor de si mesma, mas por fora, em sua máscara, era a representante da perfeição.
Manteve seu olhar firme na vidraça a frente enquanto passava pelo corredor de cavaleiros. Sob o olhar dos nove Lalisa já não sentia suas pernas, mas sentia o pesar de um grotesco cadeado com correntes por seu pescoço, o qual ela docemente chamou de destino.
A jovem não desejava mais nada que não fossem os braços de sua melhor amiga. Queria dizer a ela o quão assustador era estar lá em cima no trono e o quanto aqueles seres no salão doíam sobre seu peito. Como todos pareciam afiar seus olhares em pensamentos rudes como "Você é uma fraude, uma desgraça".
Estava frente a porta do salão da cerimônia quando foi parada gentilmente por uma mão que ela reconheceu segundos depois pertencer ao Primeiro Sacerdote. Mais que imediatamente jogou seus ombros para trás junto com todos seus pensamentos.
- Estava esplêndida, senhorita Manoban. Estou orgulhoso - disse o homem já de idade, recolhendo sua mão para si e sorrindo terno.
- Agradeço o elogio, Vossa Reverendíssima, Primeiro Sacerdote Cleion, deste continente. Fico imensamente honrada - estava tremendo, porém ainda se curvou em respeito ao homem. Era a segunda vez que se encontrava na presença do Sacerdote, pelo que se recordava, porém se sentia exatamente como na primeira vez: com suor fluindo como um rio por suas mãos, tamanho seu nervosismo. Afinal, ele era nada mais, nada menos que o homem mais importante do clero, com maior autoridade mesmo dentre os outros dois sacerdotes. Para um homem tão pequeno e amável, ele emanava dominância até mesmo por seu sorriso casto.
- O continente de Palantis tem grandes expectativas plantadas em você senhorita, vemos um futuro brilhante em suas mãos. Todos nós - O Sacerdote posicionou a mão em seu ombro, porém esta parecia pesar toneladas, lhe empurrando cada vez mais para baixo e o peso das palavras ecoando por sua mente, estava tonta, mas ainda assim encontrou forças para esboçar um sorriso.
Da mesma maneira como o Primeiro Sacerdote chegou, ele saiu, se unindo ao aglomerado de nobres e os abençoando durante seu caminho.
Lalisa respirou calmamente aliviada, mais uma vez, porém assim que deu menos de vinte passos fora das imensas portas do salão aquele alívio se foi enquanto ouvia chamarem por si.
- Vossa Santidade! Um momento por favor! - A voz masculina ecoou detrás de si e logo a cabeleira morena e longa chegou frente aos seus olhos. Memórias de momentos divertidos em sua infância despontaram por sua mente.
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- Vossa Santidade! Vossa Santidade, espere!
- Duvido me alcançar bobinho! Venha me pegar - A gargalhada alta e contagiante de Lisa tomou o campo. Tom insistia em lhe chamar daquele jeito, então logo ela havia se acostumado, mesmo que não concordasse.
Cinco crianças juntas, brincando em um vasto campo perto da Colina Brilhante - como os mesmos nomearam- que ficava próxima da Catedral. Pequenos seres alheios aos seus futuros, porém muito contentes em estarem dividindo aquele momento juntos, naquele grupinho secretamente fechado, apenas dos cinco.
- Lali! Por aqui! - Gritou Rosalin de sua esquerda, atrás de uma árvore. Assim que Lalisa se direcionou para ela, a ruiva olhou para trás e gritou disparando a correr - Para o outro lado! Para o outro lado! - Mesmo resbalando, Lalisa conseguiu mudar de direção ainda com Tommas atrás de si - Por Phantalemon, larga do meu pé garoto! - Rosa gritou para o garoto correndo atrás de si e este apenas gargalhou alto para o bico de insatisfação nos lábios da ruiva assim que a alcançou.
- Somos só eu e você agora Jennie! Corra por sua vida, sua perebenta - Lalisa gritou alto para que Jennie a ouvisse de onde quer que estivesse escondida, rindo consigo mesma por sua fala.
- Perebenta é você, bebê chorona! - Jennie resmungou alto aparecendo detrás de uma árvore.
As bochechas rosadas e rechonchudas só não tomavam mais atenção do que aqueles olhinhos brilhantes em diversão. Olhos recheados de vida que pareciam dizer que mudariam o mundo um dia. Eram olhos poderosos, olhos dignos de um dragão.
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Uma memória que pareceu lhe tomar uma eternidade, na verdade durou o bastante para que o moreno já estivesse chegando em sua frente.
- Cavaleiro de Tigre, se não me engano - iníciou Lalisa em um tom divertido, mesmo que tudo que desejasse dizer fosse um "Deixe-me em paz! O teatro já acabou!". Manteria o pensamento apenas para si, era um velho amigo seu afinal.
- Está certa - Sorriu misterioso, mesmo sorriso de anos atrás - Mesma memória afiada de sempre, hein! - Brincou o cavaleiro, porém Lalisa esboçou apenas um sorriso de cortesia. - Só quis te cumprimentar devidamente, já que faz anos que não nos encontramos. Acho que desde os dez anos...? - Deixou o tom de dúvida pairar, como se pedisse que Lalisa confirmasse para si.
- Nove. Desde os nove anos. - Lalisa suspirou, deixando sua postura cair somente um pouco pela presença do velho amigo - E sim, faz tempo que não nos vemos, muito tempo aliás. Você e sua irmã estão mudados.
- Bem, o que anos de treino rígido não fazem, certo? - Sorriu ladino e sorriu mais largo ao ouvir o riso soprado baixinho de Lisa. - Uma década que pareceu um milênio, foi agonizante - bufou em descontentamento.
- Imagino... ou não. Acho que não tenho nem idéia de como deve ter sido. - Comentou, recebendo apenas um dar de ombros do outro, junto de um murmúrio que dizia sobre ter se acostumado.
- Foi irritante porém engraçado fingir para um salão de nobres mamadores da Igreja que não somos amigos de infância, mas você parece mais exausta por isso do que eu depois de treinar.
- Acontece. - murmurou, um tema delicado demais para um momento de descontração.
- Bom, estamos caminhando e caminhando, não sei para onde, mas poderíamos ir para a Colina Brilhante, nos encontrar com os outros cavaleiros e conhecer eles melhor, o que acha?
- É... - Lalisa mordiscou seu lábio, considerando as opções que possuía. Estava enlouquecida para voltar ao seu quarto, ainda assim entendia que conhecer devidamente os cavaleiros era importante. Bem, deveres acima de desejos - Certo, vamos lá então - Forçou sua animação. Não queria desapontar seu amigo no final das contas.
E assim eles seguiram, em geral em silêncio, comentando vez ou outra quando achavam algo que merecia ser comentado. O caminho não era longo, mas Lalisa sentia suas pernas tremerem, ponderava se seria por cansaço.
- Aqui estamos - Pararam ao pé da colina, dali já era possível ver as silhuetas dos outros. Jennie devia os ter guiado até ali, era o que pensava Lalisa - Algo a me dizer antes de finalmente nos entrosarmos com os outros? - Questionou divertido.
- É bom te ver de novo Tom - Lalisa sorriu breve, tomando a frente ao seguir caminhando.
- Digo o mesmo Vossa Santidade - o cavaleiro riu baixo dando uma pequena corridinha para alcançar Lalisa, bem a tempo de a ver rolando sua íris para o honorífico costumeiro - Deveria estar acostumada já, hein?
- Cuide dos seus afazeres leão baio - riu contido.
- Tigre-siberiano!
- Mesma coisa - desdenhou Lalisa, ainda contendo o riso pela indignação do outro.
- Eles nem ao menos são parecidos! - defendeu seu animal de armadura.
- Sim, sim. Tanto faz - continuou desdenhando, por fim rindo ao imaginar fumaça saindo das orelhas e narinas do cavaleiro.
Não foi preciso que se aproximassem muito para que fossem notados. Um uníssono os cavaleiros lhe cumprimentaram, com um alto e respeitoso "Nós Cavaleiros cumprimentamos Vossa Santidade", para então relaxarem sua postura em algo um pouco mais desleixado. Ainda que esse desleixado nada parecesse com isso.
- Finalmente chegaram, achei que dormiriamos aqui esperando - Comentou um rapaz que observava agora enquanto os dois se aproximavam.
- Cavaleiro de Raposa, certo? - Questionou Lalisa, mesmo que já soubesse por ter decorado os nomes e títulos de cada cavaleiro a mando da Abadessa.
- Certíssimo, Vossa Santidade - O rapaz se curvou em respeito, ainda que mantivesse um sorriso zombeteiro nos lábios - Mais uma vez, Renard Davis.
- Mais conhecido como o inconveniente - murmurou Tommas, logo atrás.
- Obrigado pelo elogio, consigo ser mais ainda, sabe? - Respondeu Renard, semblante banhado em diversão e o olhar afiado. Digno de uma raposa, foi o que Lalisa pensou consigo mesma.
- Se eu soubesse que era pra esse showzinho eu nem tinha vindo, besteira - resmungou um rapaz apoiado na árvore ao fundo, a morena o reconheceu como Miles Makensen, Cavaleiro de Serpente. Poderia se ouvir de longe como se uma serpente silvasse.
- Pois bem, pois bem! Vamos lá, não escolhemos isso, mas somos todos colegas aqui, vamos manter a ordem, não é entre nós que devemos lutar! - Lalisa aumenta seu tom de voz, chamando a atenção de todos. - Se aproximem, vamos.
Assim que funcionavam as coisas, Lalisa deveria dar as direções do que fazer mesmo que não quisesse.
Lado a lado, cada cavaleiro em um traje diferente, pareciam oceanos de força e confiança e jeito único. Um cavaleiro grande como um tronco de um carvalho centenário, braços e pernas incrivelmente bem construído, pareciam imensas rochas; uma cavaleira com uma máscara em formato de cabeça de coelho que lhe cobria desde acima do lábio até sua nuca. Parecia magra mas sabia que era a mais ágil dos nove; à sua esquerda estava um grande cavaleiro usando uma cabeça de urso como capuz, ouvira dizer que era poderoso e de uma ofensiva destrutiva, ainda que chamasse mais atenção por sua defesa poderosa;
Via em alguns suas marcas de cavaleiros aparente. Marcas que lhes identificaram como tais. Marcas que ao nascerem decidiram os destinos de cada um ali. Bem como aquele broto que possuía em seu pulso, que vez ou outra jurava sentir mexer.
Puxou de um longo suspiro e seguiu.
- Teremos muitos desafios à frente. Conhecer os reinos, ajudar os necessitados, principalmente nos preparar para a Guerra dos Grandes. Será difícil, mas juntos podemos fazer ser real - Lalisa parou um momento, observando os olhos dos cavaleiros. Via chamas de cavaleiros prontos para uma batalha sangrenta, e isso a amedrontou. Uma batalha sangrenta se aproximava - Vamos proteger este Continente, custe o que custar - se sentiu tremer sob suas próprias palavras. Era uma hipócrita.
Então bem diante de si estava a Cavaleira de Dragão, dos olhos de aurora boreal. Agora ela podia olhar com mais atenção que na cerimônia. Os longos cabelos pretos como a noite. A estatura robusta demais para uma garota de meros dezoito anos, mas ideal para uma cavaleira que treina desde os seis anos de idade. Não sabia como trata-la agora. Como a amiga que brincava consigo pelos campos do Templo ou como a cavaleira sagrada que daria a vida em um campo de batalha para lhe proteger e proteger o Império?
- Vossa Santidade, se me permite dizer, eu gostaria de lhe perguntar algo - um cavaleiro de face séria deu um passo à frente, Cavaleiro de Lince que só não era maior que Tommas, porém certamente possuía muita força e esperteza. Ouvira certa vez que era muito hábil com suas duas espadas gêmeas, espadas exóticas. Esperava não ter que vê-lo em ação. Então apenas acenou com a cabeça, pronta para ouvi-lo - Gostaria de saber, para onde iremos nos direcionar a partir de agora? - Notou a Cavaleira de Corvo, arqueira poderosa, acenar em concordância ao lado.
E assim lhe veio o baque.
Não a ensinaram nada disso. Aonde ir depois da cerimônia? Para que direção seguir? Qual a rota e final dela? Não sabia nada disso, pior ainda era que não sabia como iria guiar nove cavalheiros por caminhos que nunca sequer viu, já que nunca deixava as redondezas do Templo.
Estava assustada então tudo o que disse foi: - Eu deveria perguntar à Abadessa ou ao Primeiro Sacerdote talvez eu- notou os olhares confusos em sua direção, podia ver as perguntas estampadas em seus rostos, até mesmo de Tommas. - Deveríamos iniciar nossa jornada em Karin, eu suponho - sua voz foi perdendo volume ao que terminada de dizer. Porém para seu alívio, todos aceitaram sua resposta, ou resolveram apenas deixar por isso.
Não sabia se fez a escolha errada mas algo era certo, lendas esquecidas trazem seu rumo para a atualidade, com a finalidade de mudar tudo, e logo Lalisa saberia disso de primeira mão.
Continua...
Estou curiosa para saber suas teorias sksksksksk
Sintam-se livres para imaginar o que vem por aí
Espero que tenham gostado do cap
Os primeiros caps vão ser meio monótonos e focados nos sentimentos da Lisa, mas logo começa a aventura, prometo sksjsjsjs
Bjs bjs
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