10 anos atrás - No dia
As palavras sumiram de sua boca em tal facilidade que por um segundo lhe fez pensar que o som havia parado de existir no mundo e que agora tudo era coberto por um silêncio fúnebre e aterrorizante. Sua boca ficou seca, seus olhos arderam, e ele mal pôde ouvir seu próprio grito antes que todos os seus ossos se estilhaçassem como se fossem feitos de cristal, o fazendo sentir os mesmos rasgarem sua pele e carne como lâminas afiadas feitas de um metal carmesim. Seu corpo foi jogado para trás por um impulso invisível, e a explosão de energia púrpura e azulada fez o trabalho de corroer qualquer resquício de ser vivo que poderia ter restado em um raio de quase seis quilômetros. Mesmo assim, a criança imaginou (ou teve) algum relapso de consciência que o fez ver tudo com clareza. Viu seu corpo queimar, desintegrar e virar nada, junto com qualquer planta e animal que pudesse estar por perto. Em consequência, viu também todo o inferno que estaria por vir, por muito mais tempo do que pensou que veria e por muito mais tempo do que desejou que fosse capaz de ver.
A segunda explosão veio, igualmente sem aviso e em violência maior, agora em uma cor fúcsia que fazia os olhos doerem por conta de sua intensidade. O céu explodiu junto, em raios, o zumbido da eletricidade alto e impiedoso, queimando o que havia sobrado para se queimar naquela terra. Logo, o espírito do que havia sido recém-desintegrado sentiu seu eu não mais tangível estremecer quando algo próximo de um furacão começou a se formar em uma agilidade assustadora, destruindo qualquer beleza que o alvorecer daquela manhã de outono poderia oferecer. Prédios precários se partiram ao meio, sendo levados pela ventania de um jeito que faria um observador distante e desinformado pensar que se tratavam de pedaços de isopor e não de indícios do que um dia foram construções sólidas.
O céu estava cor de rosa. Os raios e clarões dentro das nuvens recém formadas não pareciam daquele mundo.
A agonia da não-vida não abalou o morto o suficiente para que conseguisse tirar os olhos do menino no centro do pandemônio.
Os olhos dele queimavam como se fossem feitos de chamas, e gritava em um horror tão profundo que o fazia parecer uma das almas torturadas no inferno.
O pior era que, sim, talvez ele fosse.
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