Cap 8. Revendo um certo passado.
15 de dezembro de 2013, Domingo.
— Está mais frio do que o normal para essa época do ano, não é? — Becky disse feliz, enquanto caminhava ao lado de Jake Martin em uma calçada.
Ainda era outono, mas uma frente fria havia chegado na madrugada desse dia, diminuindo drasticamente a sensação térmica da pacata Autumnfall.
Todavia, Becky não achava tão ruim assim, não desgostava de um tempo mais frio, afinal eram nesses períodos que naturalmente um beijo, um abraço tinha um certo "Q" a mais, um "Q" de quente, pois o calor das pessoas, dos abraços e do amor ficava ainda mais gostoso naquelas situações.
Fazia certo tempo desde que estava naquele lance com Jake e, odiava admitir para si mesma, mas gostava dele, gostava muito dele. Queria fazê-lo esquecer logo de Gina, fazer com que aquele homem no final fosse apenas dela, contudo, sempre que questionado Jake desconversava, sempre que Becky o jogava contra parede ele arranjava uma escapatória e, sempre que tentou fazer uma greve de sexo, ele se entregava tanto a Gina que chegava a doer ver aquilo, então ela acabava cedendo, pois se via perdendo o cara de quem gostava para aquela outra garota.
Por onde se olhava já era possível ver os enfeites natalinos agraciavam as visões de todos aqueles que passavam nas ruas e já era o maior assunto que a escola tinha.
"O que você vai fazer no natal?" Não era difícil ver seus amigos e colegas perguntando uns para os outros. Mas para Becky essa pergunta não era tão animadora assim.
Sua tia tinha acordado com os seus pais de passar o Natal e o ano novo no Texas, onde era a casa de seus avós. Era sempre assim e, embora não desgostasse de passar datas comemorativas com a sua família, sentia falta do clima dos seus amigos, no final era com eles que conseguia manter uma boa conversação.
No primeiro ano todos passaram o natal na casa do Bruce e foi uma verdadeira bagunça, algo para se lembrar, afinal quem esqueceria de Paige Gibson tentando se fazer de plena depois de ser desafiada a correr sem roupa pela rua?
Nem ela, mas estava tão bêbada que jurava de pés juntos nunca ter feito algo assim.
Esse ano eles iam repetir a dose, e sinceramente odiaria perder mais uma rodada do verdade e desafio mais brutal de toda a Thompson High School.
Bom, o que poderia fazer agora era aproveitar o presente, e era isso mesmo que ela queria, mas Jake estava um pouco distante aquele dia, perdido nos seus próprios pensamentos e não largava o seu celular em momento algum.
Isso tudo depois de me convidar para sair Becky pensou enchendo um pouco suas bochechas, mas logo suspirou após desviar de um poste na rua.
— Está tudo bem, Jake? — ela comentou após o tempo em que ele passou sem responder sua última questão.
— Está princesa, é só que... — e pela primeira vez ali, Jake a puxou para perto, englobando a menina nos seus braços — estava resolvendo algumas coisas.
— Você sempre diz isso, mas na verdade estava conversando com a Gina, não é? — virou o rosto.
— Hey — Jake a segurou pelo queixo, levantando-o um pouco até que Becky estivesse novamente olhando nos olhos dele — você tem o sorriso mais lindo do mundo.
— Me elogiar agora não responde a minha pergunta, você é um idiota Jake — retrucou, um pouco ríspida. Queria ser forte, mas sentia sempre em situações como essa lágrimas queimando o fundo de seus olhos.
Mas Jake acabou por rir daquilo, sabia bem que tipo de mulher estava nos seus braços agora e adorava isso, como aquela louca conseguia ser dócil com ele, bom, até que ele realmente a tirasse do sério.
Então sem mais Jake a levantou um pouco mais e tratou de beijar os seus lábios.
Becky era doce, em todos os sentidos da palavra, se deliciava dela como um urso apreciava um bom mel. Ficar com ela era instigante e profundamente divertido, contudo, era Gina que ele realmente amava, se é que podia dizer isso, afinal durante aquele relacionamento já tinha ficado com tantas outras garotas que não conseguia nem ao menos contar.
— Foi bom? — Ele disse orgulhoso, encarando as bochechas coradas daquela garota.
Mas Becky não respondeu, apenas balançou a cabeça em positivo e segurou a dele, roubando mais um beijo.
Odiava isso, sabia que ele era comprometido, mas sinceramente não acreditava que o amor tinha tantas regras assim e que seja, duas, três, ou quem sabe apenas mais uma vez com ele, mas que esta fosse algo gostoso, algo que ficasse para a sua memória para sempre, sem se preocupar com os outros.
Porém, quando o clima realmente estava esquentando, o celular de Jake tocou e ele com um sorriso sem graça foi direto ao atendê-lo.
Desligou a ligação, e logo foi a passar mensagens.
— Desculpa princesa, mas vou precisar ir agora.
— Não ficamos nem meia hora juntos Jake... — Becky disse irritada e frustrada.
— Eu prometo que te compenso depois — sorriu para ela — até amanhã, quem sabe na minha casa okay? Compra umas camisinhas, preciso ir agora.
E saiu rapidamente pela calçada, respondendo a última mensagem que havia recebido.
Estou sozinha em casa, que tal me fazer companhia?
15:45.
Tem certeza que seus pais não vão voltar logo?
15:45.
E sem muito demorar, Gina o respondeu depressa.
Eu te garanto que não.
15:46.
De todas as coisas que fazia e sabia fazer, ficar sozinho com a Gina era a melhor delas. Aquela garota era simplesmente louca, dona de uma diversão e flexibilidade exemplar. Diferente de Becky, Gina adorava fumar durante uma relação.
Você tem um pouco daquilo sobrando?
15:47.
Tenho só os últimos que você trouxe...
15:47.
Ok, vai ser o suficiente.
15:48.
E sorriu contente, guardando o celular. Tinha acabado de descolar um belo divertimento para passar o dia, e se desse sorte, sabia que a cama de Gina tinha um compartimento escondido, despistando seus pais, poderia passar a noite inteira com ela também.
Seria difícil de ir à escola amanhã.
***
Na casa dos Foster reinava principalmente um clima alegre e descontraído, contentes com a data comemorativa mais sublime do ano chegando.
Hoje Riley tinha pegado para visitar a sua amiga e, acabou que chegou bem na hora do trabalho bruto.
Marcos, o pai de Gwen e seu irmão Bruce tinham acabado de chegar de uma fazenda de pinheiros com um exemplar médio para eles enfeitarem esse ano.
Faltava ainda nove dias para a véspera, e dez para o natal em si, mas para os Foster a tradição da data natalina começava cedo e outra, nem sempre era possível conseguir o pinheiro, esse ano diziam que por causa daquela árvore, 2014 viria abençoado, cheio de paz, saúde, prosperidade e principalmente vida, e vida com abundância.
— Isso sim é uma bela árvore — Bruce disse contente, após os esforços conjuntos para todos enfeitar ela.
— Só falta a estrela — Gwen falou com a mesma na mão, apontando para cima.
— Quer que seu velho pai te levante, como fez todos esses anos? — Marcos riu ao falar isso, já segurando a sua filha mais nova.
Nessa época Gwen ainda não tinha feito nada de diferente em seu visual, utilizava uma lente grossa em seus óculos, tanto a fazer seus olhos parecerem maiores e seu cabelo preto era tão grande a chegar em sua bunda.
— Que tal fazermos diferente dessa vez? — A moça indagou com um sorriso, olhando a sua amiga ao lado — deixa a Riley colocar a estrela.
— O que? — a moça disse rindo — não, sério! Nem inventem!
— Verdade, a primeira cagada dela depois do natal é no nosso banheiro mesmo — Carmen proferiu com um sorriso simpático — por que não?
— Já está decidido então — Marcos levantou a moça bem alto como se ela não fosse nada levando-a até a árvore.
Gwen deu a estrela para amiga, que embora constrangida, foi envolvida pelo clima e entrou na alegria daquela família, pondo a tal estrela com cuidado no topo daquela árvore.
— Vocês não têm jeito mesmo, não é? — ela sorriu quando seus pés tocaram o chão mais uma vez, cruzando os braços.
— O que que tem? — Gwen disse divertida — seu presente sempre está embaixo da árvore mesmo.
— Eu tenho dezesseis anos, não sou mais uma criança.
E em um abraço coletivo, todos os Foster englobaram a moça acariciando sua cabeça, o que fez Riley rir.
— Tá, chega — Riley comentou afastando o pessoal — Gwen, vamos lá para cima? Amanhã tem prova, a gente tem de estudar um pouco.
— Estraga prazeres, como você consegue acabar com a paz do nascimento do menino Jesus desse jeito? — a de óculos comentou fazendo certo drama, o que não era ruim em fazer, diga-se de passagem. Talvez por ser a filha mais nova, esse quesito fosse mais bem desenvolvido para ela.
— Ele ainda está na barriga de Maria nesse momento — e puxou a orelha da menina — se derem licença para a gente, precisamos estudar um pouco.
Os outros três Foster apenas olharam as duas com sorrisos no rosto, não impedindo em momento nenhum a conversa, e também não reclamando em momento nenhum do que Riley estava fazendo.
As duas passavam muito tempo juntas, tanto que as vezes os próprios pais de ambas esqueciam que elas não eram irmãs. "Gêmeas de outra mãe", era como atrelavam as duas muita das vezes.
— Eu adoro o natal na sua casa — Riley disse assim que as duas estavam para dentro do quarto da Gwen. Seus pais eram tão ligados a Riley que quando sua filha cresceu, compraram um beliche para comportar as duas.
— É bem animado, realmente — a de óculos riu com a constatação — vocês vão ceiar com a gente esse ano também, não é?
— Claro, melhor do que isso só se o Bruce e a Abby...
— Pois é...
Falar desse assunto era complicado, bem complicado. O namoro deles durou um ano inteiro, ter acabado abruptamente daquela forma foi um choque para as duas famílias, tanto que nenhum deles sabia o que falar a respeito disso, apenas seguiam em frente, era a única coisa que podiam fazer sobre, mas também não podiam acabar com a amizade de décadas entre os Foster e os Stanford.
Mas não era a única coisa que estava ruindo. Todo aquele clima descontraído e feliz que pairava pela casa em dezembro não passava de uma fachada, uma criada pelo espírito de renovo, esperança e principalmente fé, que as coisas mudassem.
O casamento de Carmen e Marcos vinha desfazendo a tempos, definhando como os moinhos de areia no deserto. Aos poucos as diferenças de ambos foram ficando mais amostra, e o amor que havia entre eles desfalecendo aos poucos.
E não vinha de agora, fora justamente por causa disso que resolveram ter filhos, mas com ambos no médio, estavam se sentindo ainda mais ameaçados do que uma vez já foram.
— Bom, vamos deixar essas más vibrações para depois — Riley comentou — sabe, o Patrick se confessou para mim ontem, você acredita?
— O Patrick? — Gwen respondeu quase com um riso — bom, não me admira, tão nova e estar sendo cotada para ser a chefe das líderes de torcida, linda desse jeito...
— Obrigada, amiga — ela suspirou — Mas sinceramente não sei o que eu faço...
— Fala que é gay — Gwen riu — aí nenhum garoto chato vai ficar dando em cima de você.
— Aí... isso só daria mais dor de cabeça — e sorriu descontraída também. — Assim eu poderia acabar dando esperança pra alguma menina sem querer e, não acho que seria legal mentir sobre minha orientação... não sei se seria capaz de ficar com uma garota.
— Sei — Gwen comentou soltando um sorriso diferente, apenas com empatia, sem carisma, ou sem qualquer tipo de amor. Aquilo lhe perfurava como uma flecha, afinal... não era apenas como amiga que queria passar o resto dos seus dias com Riley — isso não faz mesmo o seu feitio...
***
A noite finalmente tinha chegado, mas para Abigail não era alegria ou tristeza, espírito natalino ou qualquer coisa do tipo que definia aquele momento, era ansiedade com um misto forte de pessimismo.
Tinha feito um teste para atriz mirim de uma série que estava colhendo o pessoal para atuar, o teste tinha sido a duas semanas atrás e finalmente eles divulgariam o resultado na sua página oficial.
Estava animada para isso, era realmente a chance que tinha para tentar estrear na televisão, e mesmo tendo se candidatado a uma das personagens que vinha escrito ter um dos menores tempos de tela, se desse o seu melhor ainda sim deveria conseguir, tinha dado tudo de si naquela apresentação.
O teste que fez para o teatro no meio do ano não havia dado em nada, mas nesse estava confiante, pois mesmo tudo dando errado na sua vida — tal como o término com o Bruce e as notas baixas que acabou tirando por não conseguir focar em outra coisa — tinha fé que esse daria alguma coisa.
— É hoje? — Ethan acabou a assustando quando disse aquelas palavras. Só havia um computador na casa, e esse ficava no quarto de Ethan, já que do jeito dele conseguiu economizar um belo dinheiro para comprar. Mas ela não havia percebido quando ele tinha voltado, o garoto a alguns minutos atrás tinha saído para tomar banho.
— Sim — Abigail disse respondendo o seu irmão, sem camisa, que secava seu cabeço na sua toalha — os resultados vão aparecer a qualquer momento.
— Entendi — e então o moço jogou a toalha do lado da cama e ficou ali, descontraído mexendo no celular por cima do edredom — bom, qualquer coisa eu estou aqui.
— Obrigada.
A demora estava literalmente lhe matando. O tempo pré-estipulado era as seis da tarde, mas já havia passado meia hora e nada dos resultados aparecerem na tela, o que a fez levantar as pernas sobre a cadeira, e ficar sentada ali, em posição fetal até que em uma das vezes que atualizou, uma lista com vários nomes começou a aparecer ordenadamente na tela do computador.
Ela deu um grito quando aquilo aconteceu e se levantou depressa, derrubando a cadeira cujo qual estava sentada antes.
Sentindo cada pedaço de seu corpo tremer em ansiedade, ela rolou o mouse diretamente para a personagem que tinha se candidatado, acabando por se entristecer quando no lugar de seu nome, estava Emma Jackson, uma colega do clube de teatro que sinceramente, nem fora vista por ela no dia das audiências.
Aquilo lhe fez chorar compulsivamente pensando mais uma vez no quão inútil era e, que deveria desistir logo do sonho de ser atriz, sendo que até agora, nada do que tinha feito minimamente havia ganhado um destaque, ou alguma coisa além de um simples "parabéns, você conseguiu cumprir o seu papel." Era extremamente desgastante o fato de você tentar, dar o seu sangue e suor naquilo que deseja, para perceber no final que você não é tão bom assim.
Ethan correu para abraçá-la e passou o resto da noite daquele jeito, acariciando a cabeça dela, querendo de alguma forma acabar com sua tristeza. Teve até um momento que saiu do quarto para pegar um pote de sorvete na geladeira, dando uma colherada na boca dela, porém ela apenas sujou um pouco a língua daquela delícia gelada, e não quis mais nada, não queria comer, apenas vomitar.
Mas fato era que aquele dia tinha sido a segunda vez em toda a sua existência que considerava a morte melhor do que a vida, simplesmente não estava aguentando mais tantas coisas darem errado. Não estava aguentando a dor intensa que estava em seu coração, como se tivesse o esmagando pouco a pouco, sem chance de reparos.
Pela aquela noite, deixaria ser mimada pelo irmão mais novo, mas daquele dia em diante... precisaria reencontrar as coisas que lhe davam minimamente prazer na sua vida, antes que sua dor a fizesse enfiar uma estaca em seu peito para finalmente cessar todo aquele agouro.
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