3.3 Psicólogo.
Todas as terças feiras após a aula Emily Castilo tinha um encontro marcado com o seu psicólogo, Christian Fox em uma clínica especial no centro da cidade, a mais ou menos um ano.
Tinha sido diagnosticada com transtorno bipolar desde a infância, mas depois que entrou no ensino médio o tempo em que passava rebaixada se tornou o seu maior agouro.
Costumava a dizer para si mesma que estava só passando por uma fase ruim, dizia isso todos os dias quando tomava os seus medicamentos, contudo, muita das vezes necessitava de um grande esforço para traga-los.
Tomando uma respiração profunda como sempre fazia antes de entrar no consultório, a moça adentrou o recinto tornando a observar aquele nostálgico ambiente.
As paredes eram beges e, em uma delas fora trabalhado como uma cerca viva, onde trazia folhas e plantas por toda a sua extensão, com algumas garrafas pets com pequenas flores.
As lâmpadas eram baixas, e refletiam luz por dentro de uma redoma de porcelana branca por dentro, e vermelho alaranjado por fora, sem a parte de baixo cujo completaria o círculo.
Ali também havia duas cadeiras, uma feita totalmente de madeira escura e projetada de forma a se sentar quase se deitando, e a segunda, aonde o psicólogo ia, apenas era acolchoada.
— Como você está hoje Emily? — Christian disse ao recepcioná-la na porta, dando um abraço na moça e trazendo para dentro do consultório.
— Controlada. — Brincou, dando um sorriso fraco no rosto e logo o desmanchando.
— Isso é bom. — Simpático como sempre, fez questão de dar uma leve risada pelo comentário da menina, e logo a direcionou para se sentar. — O que me conta de novo hoje, campeã?
— Não sei ao certo... — por fim comentou, suspirando — minha vida está bagunçada desde domingo, quando eu fui para uma festa que está atormentando todo mundo.
— Imagino, estou sabendo um pouco sobre a história por causa do meu primo, a polícia chamou ele para depor, ele trabalha na empresa que cedeu o salão de festa.
— Eles estão trabalhando rápido por fora.
— Sim, a polícia está fazendo um bom trabalho, mas Emily, o que você pode me dizer sobre... isso?
— Estou com algumas sensações... — ela disse, realmente tentando levantar o que podia e conversar sobre todos os detalhes que conseguia. — Mas de tudo, acho que eu tenho medo... de perder o controle, de acabar enlouquecendo por completo.
— Olha Emily, mesmo que seja difícil nós sempre passaremos por momentos assim, não posso mentir e falar que não haverá, mas você tem pessoas que são importantes para você, e com certeza você é importante para essas pessoas também. Podemos ser independente quanto formos, mas existem coisas que dão sentido a nossa vida, como amigos, realizações pessoais, amor, entretenimento... você tem tudo isso, apenas passa por momentos ruins, você é mais do que isso, você é mais do que as vozes na sua cabeça.
— Obrigada, mas um dos tópicos que você disse está... bem complicado ultimamente — ela deu um sorriso amargurado. — As pessoas que são importantes para mim estão tão abaladas quanto eu com toda essa história, minha melhor amiga está um caco, me sinto inútil por não conseguir fazer nada por ela.
— Eu sei que o que eu vou falar pode parecer estranho, mas porque não vai brincar com ela?
— Quantos anos você acha que eu tenho?
Christian riu.
— Talvez se conseguíssemos manter mais as nossas crianças interiores, a vida fosse mais fácil — e sorriu. — Vou sugerir um exercício para vocês duas fazerem juntas, okay?
— Okay...
— É simples, um jogo de palavras. Uma vai dizer por exemplo "amarelo" e a outra vai dizer por que acha que aquela coisa aleatória combina, ou não combina com você.
— Parece divertido — ela disse irônica.
— Não julgue sem tentar, mas vamos voltar ao foco?
— Tudo bem.
— Sinto que você está um pouco quanto tensa... é só mais uma consulta, não precisa se sentir acuada com isso... estou aqui por você Emily.
— Eu... — ela parecia receosa ao dizer essas próximas palavras. — Você sabe como é a minha família... recebi uma ligação domingo e acabei achando melhor ficar mais um pouco...
— Pode me contar tudo Emily. — Christian colocou suavemente a mão no pulso dela, tentando passar um pouco de conforto para a moça. — Eu prometo que não vou te julgar.
— Eu... — a garota começou a chorar. — Não sei, não sei de nada, mas... t-talvez eu tenha feito algo ruim, algo muito ruim.
***
— Nós... deveríamos mesmo estar fazendo isso? — Ethan comentou parando um pouco a trilha de beijos que fazia sobre o pescoço daquela frágil garota.
— Eu não te deixo excitado? — com as bochechas vermelhas e uma respiração intensa, Gwen disse para ele morrendo de vergonha.
— Se tem uma coisa que você me deixa é excitado, ainda mais depois dessa repaginada — Ethan disse sorrindo, mas logo desfez o mesmo. — A questão não é essa, você sabe disso.
O clube de vôlei tinha encerrado as boas-vindas hoje apenas treinando rolamento e passe, apenas para aquecer os alunos e introduzir o clima para os primeiranistas que vieram dar uma olhada em como era a sua dinâmica de jogo, o clima do treinamento, entre outros.
Na escola havia duas quadras poliesportivas e uma de futebol americano, onde reservadas, guardava o pós aula para treinamento principalmente do time masculino e feminino de vôlei e basquete, a escola tinha uma boa entrada esportiva para universidades e bolsas de estudo pelos times, e bem forte em seus ensinamentos, era um dos pontos fortes da Thompson.
Enfim.
Gwen estava um tanto quanto... triste esse dia. Tinha prometido para si mesma que entraria no clube das líderes de torcida e faria isso o mais rápido possível, mas quando chegou lá, acabou por perder para sua ansiedade e medo, assistindo boa parte do treino das meninas de longe.
Riley até tentou puxá-la, mas como capitã do time não podia ficar ali por muito tempo, necessitava coordenar as meninas para o trabalho, então mesmo a contragosto teve de deixar sua amiga para fazer suas responsabilidades.
Ela era... tão linda quando estava ali fora um dos pensamentos mais corriqueiros de Foster quando observava sua amiga conversar com as meninas, utilizando aquela saiazinha plissada mostarda curta, e aquela blusinha que deixava toda a sua barriga para fora. No uniforme das líderes de torcida, a mancha azul escura das blusas ficava no peito, em forma de um grande coração.
Riley não tinha um piercing só no nariz, mas no umbigo também, deixando-o aquele corpinho esbelto ainda mais chamativo e céus! Como Gwen adorava que sua amiga lhe abrasasse com aquela roupa, quanto mais de sua pele tocava Gwen, mais errada se sentia em contragosto.
Porque gostava de Riley, gostava muito mais do que uma simples amiga.
E era exatamente por isso que tinha ligado para Ethan aquela tarde, perguntando se ele estava disponível depois do treino, o que culminava no agora, os dois sozinhos no depósito da quadra poliesportiva que fora hoje reservada para o time de vôlei da escola.
O lugar era pequeno, porém tinha espaço suficiente para guardar o necessário. Dois cestos de metal de mais ou menos um metro guardava as bolas de vôlei, mais ao canto ia guardado também as traves com a rede que dividia os times, bolas de outros esportes como futebol e futebol americano, materiais de limpeza, alguns instrumentos de ginástica como barras, e alguns tatames de espuma, grandes quadrados de dois por dois que eram usados em algumas aulas de academia.
Estes últimos citados, um em cima do outro formavam uma pilha bem alta e confortável, pilha esta que era utilizada como cama nesse momento pelo casal.
Gwen tinha escolhido uma blusa de abotoar rosa hoje para vir a escola, nesse momento, os botões estavam abertos até o final de seus seios, deixando os mesmos para fora da mesma, mostrando seu sutiã preto.
Já Ethan vestia o seu uniforme do time de vôlei, uniforme este que de certa forma fazia lembrar um pouco as roupas que Riley estava usando mais cedo.
— Ethan... — a menina dizia entre arfadas, esticando os braços para ele, para que ele voltasse a segurá-la. — Eu preciso de você.
Droga... como dá pra falar não depois disso? O garoto pensou suspirando, tornando a beijá-la intensamente.
Como resposta, a loura pôs-se a colocar-se a procurar com uma de suas mãos a barra do short do garoto e, quando o achou invadiu o seu espaço pessoal, indo certeiro a segurá-lo, o que fez Ethan parar por um instante e arfar, antes de continuar beijando-a, mas dessa vez também correu a mão para os seios da moça, o que a fez gemer no mesmo momento.
Gwen era muito responsiva, o garoto não precisava fazer muita coisa para fazê-la se arrepiar inteira e, isso tornava tudo mais gostoso, mais viciante a cada vez que os dois ficavam, e de certa forma ao mesmo tempo que era divertido e instigante, também tinha um peso bem forte para o psicológico daquele rapaz.
Sempre soube os motivos dela, Gwen nunca os escondeu, contudo também nunca tivera dito diretamente a ele que apenas o utilizava como substituto de sua irmã gêmea, e se recusava a aceitar isso, com todas as suas forças.
Ela era uma moça tão doce, tão correta, nunca tinha tido um único motivo para ficar bravo com ela ou algum motivo para reclamar da sua presença. Gwen era esperta, quando Ethan se envolveu em umas enrascadas para passar nas matérias e consequentemente ameaçado a ser expulso do time fora ela que tinha tido a paciência de sentar com ele todos os dias sem falta ensinado para a matéria de forma que até o mais idiota conseguiria tirar notas altas.
Como consequência veio o primeiro beijo e um dia depois de uma aula, a primeira vez dos dois. Seguiram com aquilo desde então, mas ela tinha deixado bem claro, sobre muitas e muitas lágrimas que não queria entrar em um relacionamento, que ele merecia gente melhor, e só fazia isso por motivos egoístas, que não era tão boa assim, só dormia com ele porque não tinha coragem de dizer para quem gostava que amava.
E por mais uma vez, lá estavam eles, juntos sob uma única condição, pegar e não se apenar; condição esta que definitivamente Ethan não conseguia cumprir.
***
Embora Christian tivera recomendado dizer o que ela falou para ele na delegacia, depois da longa sessão com seu psicólogo, Emily conseguiu sentir um pouco de paz no seu coração. Paz esta que sabia não durar muito tempo.
Ainda tinha muitos problemas para resolver, uma hora inteira tinha se passado e ela nem mesmo tinha falado o que sentiu quando viu Hanna a primeira vez, e como sentia estranha desde que "imaginou" tê-la visto sair detrás de um poste, durante a noite da festa.
Seu irmão mais velho tinha ficado a cargo de buscá-la da consulta hoje visto que seu pai estava fora, mas ele não veio, como sempre, esquecera de suas responsabilidades.
Emily então voltou de ônibus mesmo, era o jeito, não queria incomodar Bruce para buscá-la, muito menos estava a fim de subir na garoupa da moto de seu irmão depois dele tê-la esquecido, e nem sequer atendia as suas ligações.
Chegando em casa a primeira coisa que a garota pôde sentir fora um cheiro bem conhecido por si.
Maconha.
Vindo diretamente dos quartos acima, e logo ela suspirou tentando manter a calma, massageando as têmporas no processo.
Difícil era mesmo acreditar que morava em um lugar desses, em um ambiente tão complicado quanto aquele.
Na sala, um menino estava sentado no sofá com fones de ouvidos jogando algum game de tiro em um Playstation portátil, talvez tão alto que nem ao menos ouviu a porta ser aberta.
Bom, não era de tudo ruim, Ryder, seu irmão mais novo tinha apenas 11 anos, era um garoto meio temperamental, mas bem inteligente e um ótimo garoto — no quesito de estudo — em relação a escola. Detinha algumas poucas sardas no rosto, olhos âmbar, e além do mais seu penteado era bem curto e amarronzado.
— Hey! — Emily disse sorrindo, retirando depressa os fones de ouvidos de suas orelhas.
Ryder se assustou, olhando para trás rapidamente, mas quando a viu franziu os cenhos e tratou de pegar seus fones de volta.
— Hey — ele a respondeu colocando os aparelhos auriculares e tornando a atenção no seu jogo. — Como foi lá no psicólogo?
— Bem. — Ela sorriu, bagunçando o cabelo do menino. — Que fofo, se preocupando com a sua irmã.
— Se eu não fizer isso... quem mais vai fazer?
Era por isso que ela o adorava. Ryder podia ser temperamental, explosivo e briguento, mas era um amor de menino para com ela, e só com ela.
— Tem razão — suspirou, pulando as costas do sofá para ficar do lado dele. — Vem cá! — Ela bateu nas pernas algumas vezes, o que fez o menino tomar atenção, mas logo voltar ao que estava fazendo.
— Eu já sou muito grande pra você me colocar no colo.
— Não é não. — E então Emily o segurou, levantando-o com certa facilidade, encaixando-o ali, sentado no meio das pernas dela. — Viu? Encaixa direitinho — Riu.
— Boba — ele disse constrangido, mas se jogou para trás, encaixando-se perfeitamente ali.
— Como foi a escola?
— Não fui hoje.
— Olha Ryder — Ela disse o abraçando —, não vou brigar com você porque essa é a função do pai, mas vá amanhã, está me entendendo?
— Você sabe que eu não gosto de lá.
— Vou parar de deixar você dormir na minha cama quando estiver com pesadelos.
— Isso é maldade! — Ryder disse olhando-a, então com um sorriso, Emily deu de ombros. — Tudo bem, eu vou. — E novamente, voltou a prestar atenção no seu videogame.
Por mais difíceis que as coisas estivessem, podia contar com aquele garotinho. Desde que sua mãe faleceu, Emily se sentiu na responsabilidade de dá-lo todo o amor e carinho que ela não pôde o dar, e isso lhe deu um sentimento materno exponencial, cujo este a ajudava em momentos tristes, pois sabia que independente de tudo, Ryder não olhava as suas fraquezas, não julgava os seus problemas, não fazia nada além de confiar nela, bem mais do que o pai deles.
Ficaram mais alguns minutos assim, ela observava-o sereno jogar o seu jogo, até que o cheiro daquela erva ficou mais forte.
— Já volto — Emily disse içando o menino, tirando ele de seu colo.
Subiu as escadas rapidamente e enquanto subia, o som de acordes de violão se tornava mais alto. Na terceira porta do corredor a menina viu uma luz acesa, o que fez confirmar as suas suspeitas.
— Dom? — ela disse batendo na porta. Os acordes pararam por um momento, e logo, a mesma se abriu, revelando um moço magro de músculos bem definidos, alto, com cabelos grandes apenas vestido de uma cueca samba canção azul escura. Saindo dali, tratou de apoiar o braço no batente da porta ao vê-la. A primeira coisa que o rapaz fez fora sorrir para ela, então soltou todo ar que tinha no pulmão pela boca, saindo uma névoa branca direto para o rosto da moça.
— Veio reclamar disso? — Dominick comentou, vendo a cruzar os braços.
— Você deveria ao menos instalar uma chaminé no seu quarto fumando desse jeito — Emily disse cruzando os braços. — Tem tanta neblina no quarto que a vizinha passou aqui perguntando se a gente tinha incenso.
— Essa foi boa Emy — Ele disse rindo —, mas eu tomei cuidado, olhe — apontou para dentro do quarto — a janela está aberta e mandei o Ryder ficar lá embaixo.
— Você não tem jeito mesmo. — Ela tomou uma longa respiração, sentindo toda aquela fumaça entrando em seu ser.
— Você quer? — Novamente apontando para dentro, ele apontou para o narguilé que estava posto no meio do quarto.
— Sério Dom, você não deveria oferecer essas coisas para os outros — A menina disse, abaixando os olhos.
— Ahm? — Ele riu. — Você não é qualquer uma, gatinha — disse passando o braço pelo pescoço dela. — Vem, vamos conversar um pouco mais no meu escritório, estou tentando produzir uma música nova.
Ela sabia que não deveria aceitar, afinal ele estava usando aquilo para fumar drogas, mas desde que aquele babaca a ofereceu uma vez... tinha de ter o cuidado redobrado para sair na rua e não exalar o cheiro de maconha. Não conseguia resistir.
— São pessoas como você que denigrem a imagem dos músicos — ela disse com um certo sorriso.
— Ah, não me venha dar lição de moral sendo mais nova que eu. — Dom entrou no quarto, e se sentou com as pernas cruzadas ao lado do seu narguilé preto, dando uma boa puxada no ar por uma de suas mangueiras. — Você vem?
E timidamente a menina balançou a cabeça em positivo segurando na maçaneta e foi fechando lentamente a porta daquele quarto.
Precisava relaxar, talvez fosse bom sair dali apenas quando não tivesse mais nenhum dos seus problemas lhe atormentando.
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