3.2 Aquiles
— Estou profundamente decepcionada com vocês. — Allana disse ríspida, analisando os dois garotos sentados nas cadeiras à sua frente. — Como se a escola já não tivesse problemas o suficiente agora.
— Foi ele quem começou. — Como crianças, os dois falaram juntos, quase a ponto de começarem a se esmurrar de novo, mas a diretora interveio.
— Não quero saber se um começou, vocês já são adolescentes, ao menos ajam como tal — Suspirou. — Normalmente vocês seriam suspensos por uma atitude dessas, mas a escola já está estressada demais para algo desse tipo... vou deixar vocês responsáveis para limpar a quadra poliesportiva e os banheiros durante essa semana, e vão ter de ajudar na organização da festa de abertura sexta feira.
— Isso é um absurdo senhora Thompson! — Jacob disse grunhindo. — Eu não posso fazer esse tipo de coisa!
— Oh. — Ela disse, encarando-o com um sorriso ladino. — Você não tem mãos, senhor Handsen? Então use-as para algo que preste, e não para a violência. Pode ir agora.
Os garotos se levantaram para sair daquela sala, mas quando iam sair, a diretora novamente tomou a voz na conversa:
— O senhor não, senhor Foster.
— Se fodeu, otário. — Jacob disse o olhando com aquela cara amassada, então logo fechou a porta, com ele para fora.
— Serviço comunitário não é o suficiente para mim? — Bruce comentou enquanto voltava para onde estava sentado anteriormente.
— É difícil ver um aluno com um histórico tão bom aqui na minha sala por esses motivos idiotas. — Allana falou olhando uma pasta onde havia escrito todos os dados acadêmicos dele e as suas últimas visitas a sala da diretoria, quase nulas aliás. — Então serei bem direta já que você é do tipo que entende rápido, quero que você fique de olho em Becky Willians e me relate qualquer atitude suspeita.
Isso o fez rir, ao mesmo passo que seu sangue ferveu a ponto de desejar esmurrar aquela mulher. Cerrou os punhos e se levantou, indo para a porta da sala da diretoria no intuito de sair de lá.
— Eu só preciso limpar o banheiro essa semana, não é?
Allana suspirou, dando-se por derrotada.
— Pergunte a Dolores o que você tem de fazer, ela é a chefe da limpeza por aqui.
— Ok, passar bem. — E sem mais saiu daquele lugar.
***
Depois de lavar o rosto e limpar as marcas de sangue que escorriam de um corte de sua boca, Bruce resolveu ir para o treino dos Tigers para tentar esfriar a cabeça.
Deveria se preocupar mais em cuidar dos seus hematomas, mas naquele instante a dor não lhe incomodava tanto assim, aliás ajudava ele a focar em outras coisas, e deixar de lado o quão miserável estava se sentindo por cair na provocação daquele otário.
— Olá princesas, como foi as férias de vocês? — o treinador, Argo Smith discursava em alto e em bom tom, para todos os jovens ouvirem. Ele era velho, e o mais curioso é que era um ex-militar formado em educação física, logo, um regime puxado e treinos intensos eram a sua especialidade. — Espero que todas vocês tenham beijado os seus príncipes encantados, porque agora vão voltar ao trabalho, vão ter de ralar, e ralar muito até o nosso próximo jogo contra os Wolves do leste.
Argo gostava de disciplina, para ele uma disciplina militar transformaria aqueles jovens surrados e magricelas em jogadores de nível profissional. Fato era que se orgulhava por ter feito o treinamento de base de alguns jogadores que hoje em dia compunham a NFL.
Por essas e por outras, sempre que ia falar com os jovens os deixava em pé, um do lado do outro em postura do exército, e passava frente a eles como um exímio veterano de guerra. Bom, se considerar que o jogo era guerra, e o treino era a preparação, Argo não estava errado com tal postura, só não os fazia treinar por uma trilha de arame farpado porque não conseguiu a autorização da escola.
Jacob não apareceu naquele dia, ao menos Bruce não conseguia encontrá-lo quando observava os arredores, nada daquele idiota superoxigenado por ali hoje, o que de certa forma dava paz ao seu ser.
Embora que derrubá-lo durante o treino não seria nada mal, podia acusar que estava exercendo sua função e ele estava no caminho...
Bom, não era babaca o suficiente para fazer uma coisa dessas propositalmente, não se juntava com essa gentalha.
Como alguém pode suspeitar da Becky? Era a única coisa que pensava e, ao fazer isso, franzia o cenho, sentindo o corte em sua sobrancelha latejar com o movimento.
— Você está com uma cara péssima. — Lucca estava do seu lado, e parecia não querer deixá-lo em pais, pois existia em seu olhar uma certa felicidade em importuná-lo naquele momento. — Parece que Jacob Handsen passou por aí.
— Tomar no cu, já foi hoje? — Bruce respondeu, tentando ignorar o rapaz.
— O próximo jogo será daqui a dois meses... — Argo continuava falando, passando todas as instruções que os garotos precisavam.
— Desculpa, mas sendo sincero, é até bom termos outro assunto para falar além da, você sabe.
— Então você deveria me agradecer. — Bruce deu um riso de escárnio.
— Agora, quero ver as mariquinhas trabalhando! — Argo gritou — vamos começar com dez quilômetros em volta do gramado, agora!
Os garotos todos chiaram e reclamaram, mas o olhar daquele carrasco era intenso o suficiente para entenderem que se não pudessem cumprir as suas exigências, seriam cortados do time sem mais nem menos.
Tristes e já sentindo o cansaço por vir, os jogadores começaram a correr pelo campo em ritmo constante e crescente, o treinador só aceitaria que eles parassem de uma maneira: se caíssem no chão exaustos ou mortos, o que viesse primeiro.
— Só queria dizer uma coisa, amigão — Lucca comentou quando enfim conseguiu alcançar Bruce. — Eu confio na Becky, ela é burra demais para lidar com um assassinato.
— Quanta honra — Foster lhe respondeu —, obrigado por apoiar desacreditando da minha amiga.
— Imagina — Sorriu —, mas queria te perguntar uma coisa, você foi a festa, não foi?
— Sim, por quê?
— Sendo sincero eu vi quase toda a frota, menos você e a Emily, vocês avançaram em alguma coisa?
— Não tem nada entre a gente... — o de topete disse, um tanto quanto triste e confuso com isso.
— Sabe Bruce, você é uma boa pessoa, mas as vezes deveria ser sei lá, ser mais durão.
— Quando eu sou eu fico com a cara desse jeito — apontou para si mesmo.
— Não é disso que eu estou falando — Riu —, é sobre o dia a dia, as coisas que têm a ver com você. Nunca vi você brigar por si mesmo, já pelos outros...
— Você conhece a história de Aquiles?
— Mais ou menos, por quê?
— De certa forma eu me inspiro muito nele, o herói que treinou lutou e se esforçou para que um dia, não precisasse mais lutar.
— Poético — Lucca disse de forma divertida. — Bom, já que é assim, porque você não luta pela Emily, aí quando estiverem juntos, pode pendurar as chuteiras e aproveitar o que conquistou.
— Você em. — Contudo, as palavras daquele rapaz lhe foram fundas como uma flecha, fazendo-o se lembrar daquela maldita festa, e além de tudo isso... o término para ele.
Depois que se despediu de Hanna, já do lado de fora do salão Emily recebeu uma ligação e, depois dela, a garota sorriu para ele e disse para Bruce ir na frente, os pais dela estavam perto ou coisa assim e que voltaria com eles.
Mas no final, não fazia ideia da hora em que ela foi embora daquela festa.
Não... Bruce pensou arregalando os olhos Emily jamais seria capaz de fazer algo desse tipo... ou seria?
***
— Esse é o seu jeito de animar alguém? — Abigail disse com um sorriso no rosto, após atender a campainha de sua casa.
Estava sozinha hoje, ao menos até seus irmãos chegarem da escola, e seus pais do trabalho. Era a consequência que acabava por acontecer por faltar em um dia de aula, ficar sozinha, ou não, já que depois dos toques da campainha, ela viu alguém que veio especialmente para lhe fazer companhia.
— Qual é? — Owen disse sorrindo. — Acabei ficando preocupado.
O garoto era bastante branco, e de certa forma, bem magro. Tinha um belo sorriso, resultado de anos de aparelho ortodôntico. Seu cabelo era um dos maiores atrativos do garoto, pois utilizava pequenos dreads louros na parte de cima da cabeça, amarrados para trás quase como um coque samurai, que viviam presos na parte detrás de sua cabeça.
Tinha apenas passado em casa antes de aparecer por ali, coisa rápida para pegar o seu Xbox 360 e vir para a casa dela trazendo consigo dois jogos principais, just dance e mortal kombat.
Sabia que ela tinha faltado e sabia que provavelmente estava mal com isso, então pensou em levar um pouco de alegria para ela. Ainda vestia as vestes do time de vôlei da escola, uma blusa regata mostarda com as partes abaixo do braço azul escura, quase preto. Nas costas ia seu número da sorte, o treze, e na frente ao lado do coração o símbolo dos times da Thompson High School, um tigre soltando um poderoso rugido.
— Entra — ela disse sorrindo, fazendo um gesto para o moço adentrar a residência. — A propósito, e o Ethan?
— Ele ficou treinando mais um pouco, eu que saí mais cedo para te ver.
— Obrigada. — Abigail abaixou um pouco a voz para dizer isso, e além do mais, fora direto a olhar seus pés com duas pantufas brancas fofinhas, apenas com algumas linhas pretas servindo para simular a divisão dos dedos de um coelhinho.
A verdade era que nem tinha se dado o trabalho de trocar a roupa hoje, continuava com seu pijama de coelho, cinza, de barriga branca e orelhas grandes, provavelmente baseada no Perna longas. Sentia que não estava bem e a escola apenas seria um evento chato e estressante, logo, achou por bem se resguardar, também não sabia se seria capaz de aguentar algum tipo de boato a cerca dela em relação a assassinar Gina.
Talvez os motivos da escola em ter feito aqueles interrogatórios fossem nobres, mas a ela, apenas sentia que fora uma forma egoísta de fazer as coisas, acusando tudo e todos sem prova concreta e, não podia... correr riscos desnecessários, para seu próprio bem.
— V-você não tem medo? — a moça comentou um tanto receosa, assim que fechou a porta — de que eu p-possa ser a assassina?
— Hm? — O garoto se aproximou da televisão, quase ignorando tudo o que ela tinha dito até agora e tratou de tirar o videogame da caixa para conectar ali. — Nha, você não seria burra o suficiente para largar o corpo, no mínimo enterraria.
— Não sei se interpreto isso como um elogio ou fico com medo — Ela disse segurando um dos seus braços.
— Eu confio em você Abby — O moço disse olhando de soslaio para trás. — Além do mais — Riu —, também acho que não me mataria.
— Sua forma de motivar as pessoas é estranha. — Abigail deu um sorrisinho de lado, mas de certa forma, se sentindo um pouco mais confortável com aquilo tudo.
— Alguns já me disseram isso — Sorriu —, se for considerar pela escola Abby... eu também posso ser o assassino.
O coração da menina gelou naquele momento e seus olhos se arregalaram com aquelas palavras. Era verdade... Owen também tinha sido chamado pela diretoria.
— Mas não esquenta, se fosse eu... — Então o moço se virou para ela, com olhos bem maliciosos, porém, soltou um pequeno riso quando segurou as pontas de sua camisa e a levantou bruscamente.
Embaixo da sua camisa do time, o garoto estava usando uma totalmente preta, mas nessa, ia uma estampa de letras brancas, que terminavam com um emoji de coração.
"Eu gosto de você, vou te matar por último." Era as escritas daquele pedaço de pano.
— Droga, se eu não tivesse rido não tinha estragado a piada — Owen voltou a dizer, um pouco frustrado consigo mesmo.
— Aí Owen. — Por incrível que pareça, essa a fez rir. Ele sabia muito bem o tipo de humor que Abigail tinha, e por isso tinha montado todo aquele teatrinho, para de certa forma, ajudá-la a se sentir melhor. — Babaca — mas continuou a rir.
— Já está pronto — ele disse se virando novamente para a televisão e pegando os controles do videogame para ligá-lo. — Agora é só calibrar o Kinect, vem cá coelhinha, vamos ver quem dança melhor.
— Que audácia me chamar assim! — Abigail soltou uma leve risada com aquilo, enquanto atravessava uma parte daquela sala. — Ainda mais me desafiar para um combate 1x1.
— Só não imito o som de um coelho porque não faço ideia de que barulho ele faz. — Owen riu, dando uma piscadinha para ela.
— Verdade, quem sabe, "Eh... what's up Doc?" — E terminou fazendo uma pequena pose.
Os dois riram com aquilo por alguns segundos e se sentaram no sofá. Abigail com um misto de vergonha e divertimento por ter feito aquilo, já para Owen foi uma risada feliz, totalmente desprovida de maldade, sem nenhum outro intento em seu coração.
— Você está bem mesmo, Abby? — Ele voltou a comentar após a gostosa sessão de riso.
— Melhor com você aqui.
— Abby... — e então, o coração do garoto foi a mil por hora, e sentiu toda a ansiedade do que tinha planejado desde o início eletrocutar o seu corpo. — Na verdade, eu vim com um presente especial para você.
— Além dos jogos? — ela disse com um sorriso, vendo-o balançar a cabeça em positivo. — O que é?
— Uhm, só vai descobrir se fechar os olhos, prometo que não é uma faca.
— Aí idiota. — Mas ela o fez, sentindo seu coração se acelerar, balançando as pernas com o entusiasmo que estava sentindo.
Então, vencendo o seu receio e medo, Owen avançou, fechou os olhos e fez o que ele queria fazer desde quando Abigail namorava Bruce, colocou uma mão nos olhos dela delicadamente e a beijou.
O beijo foi rápido, mas causou um pequeno susto nela, embora fez aquecer o seu coração de uma forma que fazia tempo que não sentia.
Depois disso, extremamente constrangido Owen a soltou, passando o dedo pelos botões do controle na tentativa de se distrair, descontar nas teclas o seu nervosismo.
— G-gostou? — Owen disse, receoso. Sentia seu coração pulsar de tal forma a fazer tudo ao seu redor se transformar no mais caótico barulho de medo e ansiedade.
Mas Abigail tombou a cabeça levemente, deixando seu cabelo descer como uma cascata acastanhada antes de falar alguma coisa.
— Sinceramente Owen? — O sorriso dela era tão lindo, tão marcante, tão puro. Ela era incrível, de várias formas diferentes. — Eu estava esperando você fazer isso a mais de meio ano. Vou te contar uma coisa... eu preferiria que fosse mais lento.
Abigail se levantou do seu lugar e então, lentamente se pôs a sentar no colo daquele rapaz.
A cor branca de Owen já tinha ido embora fazia tempo, agora, o menino não passava de um falso pimentão com cabelos alourados.
Então, ela se pôs a aproximar-se, e lentamente tocou seus lábios, soltando uma explosão de hormônios nos dois corpos.
Com um beijo lento e totalmente excitante, os dois foram alternando um pouco o ritmo, dando passagem para o tempo que melhor satisfazia ambos. O toque na língua, o arrepio gostoso que dava quando tocava no céu da boca um do outro, era instigante, e profundamente viciante.
— Owen, você quer... — Ela abaixou o tom, deixando as suas bochechas corarem com o final daquela frase. — Transar comigo?
— Abby... — ele disse um tanto receoso — e-eu s-sou virgem...
Então ela sorriu travessa para ele, entendendo agora o motivo de sentir tanta hesitação em tocar o seu corpo.
— Eu não vejo problemas quanto a isso — Ela disse com um sorriso benevolente para o garoto. — Também não sou muito experiente, eu garanto que vamos aprender bastante coisa juntos...
Logo, o coração de Owen, novato e temeroso se conectou com o daquela frágil garota, em um ritmo acelerado e único ao mesmo tempo, assim como o ritmo das suas respirações, que pareciam apenas funcionar quando os lábios uns dos outros descolavam para ter uma leve distância, no intuito de contemplar os olhos um do outro.
Porém, a única testemunha do que estava acontecendo naquela sala de casa era o Kinect ligado, que mais tarde, sem os dois perceberem... não foi o melhor exemplo de voyeur que existe.
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