18.3 Girassóis.
— Tem certeza de que vai ficar tudo bem, Hanna? — Thales disse depois de um certo tempo.
A casa dela não era tão longe assim do campo onde tinham marcado aquela reunião, mesmo assim, a garota resolveu assumir o controle do pedal daquela bicicleta dizendo que como era mais acostumada, deveria aguentar melhor o tempo de pedalada do que ele.
Resultado? Thales sentado na garupa daquele pequeno veículo sob duas rodas, enquanto depois de alguns minutos, ele via ela respirar mais forte por conta do cansaço.
A adrenalina e a tensão iam aumentando dentro de cada um deles, como se porventura fossem explodir a qualquer momento. Vestidos com o azul e o preto do uniforme policial visto ter sido a roupa que adquiriram na delegacia mais cedo, a quem olhasse até poderia confundir com uma variação da polícia montada, a qual vasculhava o perímetro com uma bicicleta.
— Tudo bem, meu senhor! — ela disse — ainda é preciso horas para exaurir todas as minhas energias.
Quando mais cinco minutos se passaram, conseguiram ver o carro de Bruce estacionado ao lado do espaço comunitário que continha naquela praça, e então, desceram.
Não sabia o que ia acontecer, mas independentemente do que fosse, aquela conversa poderia definir o destino daquela noite.
— Obrigado — Thales disse quando saiu da bicicleta, e ela apenas assentiu com a cabeça, mesmo negando a admitir, cansada.
— Não irei interferir as negociações de ambos — ela falou um tanto temerosa, apertando o antebraço esquerdo — mesmo a preço de sangue.
Lua nova.
O espaço estava vazio visto ao caos que se repercutia nos últimos dias, ou melhor, especificamente neste dia. O toque de recolher já acertado antes pelos moradores de Autumnfall estava vigorando no seu mais alto teor e por isso, nem mesmo os estabelecimentos que lucram com a noite, tais como bares e casas de show estavam abertos.
No carro, não havia nada se não lembranças de todos os seus amigos, e de como aquele veículo já tinha servido por diversas vezes para levá-los a escola, festas e até mesmo consultas médicas, excursões, dentre tantos outros eventos. Doía vê-lo vazio daquela forma, apesar disso não podia se prolongar muito naquelas memórias.
Andou até um banco próximo daquele ambiente, e viu Hanna tender para se afastar, sumindo de seu campo de visão próximo a floresta de bordôs.
Essa garota é incrível pensou e logo se sentou, esperando Bruce aparecer de qualquer lado.
E de fato apareceu, carregando consigo duas garrafas de cerveja de vidro bem geladas.
— Hey — o moço de topete disse quando a luz da noite deixou com que ele fosse perceptível no meio a penumbra — pelos velhos tempos? — e jogou uma das garrafas para Thales, que a pegou no ar.
Agora, cada um estava sentado em uma das pontas daquele banco, com os cotovelos apoiados nas pernas bebericando a boca daquela garrafa sem dizer uma única palavra.
Gole após gole, bebida após bebida a latinha foi se findando, seu líquido acabando, e após o seu último gole, Bruce colocou lentamente a garrafa no chão, e então suspirou.
— Como foi ter presenciado os últimos momentos dos nossos amigos? — o garoto de topete disse, observando o seu ex amigo que agora repetia o seu último ato, colocava ao lado do banco aquela garrafa verde de vidro.
— Eu não os matei, Bruce — foi a única coisa que conseguiu dar, responder com a verdade, assim como queria se manter a partir de agora, apenas com fatos.
— Ainda tem coragem de mentir, a essa altura? — o outro falou —então por que caralhos não nos disse que sabia sobre o Ethan?!
— Porque eu tive medo, Bruce! — ele se exaltou — porque eu tenho um coração também, como eu diria uma coisa daquela para Gwen? Ela foi perdendo tudo, não fui capaz de falar naquela ocasião quando a vi, e aparentemente o assassino usou isso contra mim!
— A Emily também foi morta, Thales! Fui eu quem reconheceu o corpo dela, não importa o que você diga, eu não consigo mais confiar em você!
— Me diga uma coisa — o moreno gritou — então onde você estava quando nossos amigos morreram?! — soltou uma risada irônica — no quarto chorando? Brincando de casinha? Isso não faz o seu perfil, Bruce; até onde sei, só sobramos você e eu... e eu não sou o assassino.
Então movido a ódio, Bruce tentou golpear aquele garoto, mas sem sucesso, Thales se esquivou no susto, se levantou daquele banco.
— Você não tem ideia do que eu passei! — o de topete gritou — não tem ideia de quanto eu sofri com tudo isso!
E partiu mais uma vez para cima de Thales, que apenas tentava se esquivar daqueles golpes.
— Eu sei, Bruce! — em um movimento sagaz, o moreno segurou seu amigo e o deu uma joelhada na cara, fazendo ele cair para trás — eu também perdi todos eles!
— Filho da puta — falou passando a língua no corte que acabara de receber no rosto. Bruce retirou do bolso de trás da sua calça uma faca, e empunhou a mesma contra seu amigo.
— Não está vendo?! — Thales comentou ao ver aquilo — é isso que o assassino quer, que nós nos matemos, assim ele não vai precisar acabar com a gente!
— Eu perdi tudo por causa de você! — gritou — como vou poder olhar para o caixão da minha irmã se não vingar a morte dela?!
Blackweel não sabia o que fazer... não queria continuar naquele confronto idiota, mas também não via outra forma para Bruce parar com aquilo. Tirou de seu bolso o canivete que tinha, não podia ir desarmado para uma luta de facas, mal tinha uma noção de auto defesa.
— Por que você anda com uma dessas no bolso? — Bruce riu.
— Para autodefesa Bruce, — fora a resposta que obteve — caralho! Tem um assassino por aí e ninguém quer morrer!
— Só está dizendo isso para tentar me enganar! — atacou o menino.
Ambos se cortaram com essa investida, Bruce acertou de raspão o rosto de Thales quando ele tentou desviar, e o outro tinha acertado levemente seu peito, fazendo um corte no mesmo.
Ardia, sangrava, mas aparentemente não era o suficiente.
— Eu perdi a minha mãe para o Richard! — Thales disse levando a mão no corte que pingava sangue — entenda de uma vez por todas Bruce! — e puxando todo o ar que conseguia — EU NÃO SOU O ASSASSINO!
— Se realmente não é... — essa fora a primeira vez que seu pensamento contra o amigo vacilou, feliz ou infelizmente, mesmo estando decidido a seguir com aquele embate... era realmente certo? — me prove com a sua faca.
Mesmo pela primeira vez hesitante, por mais esta, Bruce segurou firme a sua arma branca, e voltou a atacar o moreno como se aquilo fosse a única coisa que agora, com toda a raiva e tristeza que sentia fosse o que o deixava vivo.
E de certa forma... não era mentira.
***
— Como você acha que isso tudo vai acabar? — Hanna, que estava um pouco distante daquele local sentiu o seu coração gelar quando ouviu aquela voz.
No final sabia que isso aconteceria, não importava onde ou quando, aquele desgraçado funcionava como uma bússola, sempre apontava ela.
Sentiu cada fibra de seus músculos reagirem a uma certa tensão pré instalada, e o sentimento pela constante sobrevivência atacar o seu racional.
Richard estava ali ao seu lado, munido de seu sorriso doentio. Vestia seu terno característico, o cabelo grisalho perfeitamente penteado, mas diferente do que se lembrava...
Pouquíssimas foram as vezes que o tivera visto com olhos vermelhos, talvez da última nem mesmo já tinha assumido o branco que definia a parte de cima de sua cabeça.
— Pensei que demoraria mais para aparecer — Hanna disse levantando os braços em posição de defesa, observando aquele homem que, parecia se alimentar dos sentimentos de medo no qual estava sentindo agora.
— Você sabe que uma peça tem várias cenas, Hanna, eu apenas fiz a minha entrada.
— Não está satisfeito Richard? — ela indagou — essa catástrofe que está acontecendo no tempo, tudo isso é culpa sua!
— Tudo nessa vida tem um preço — o homem disse —, até mesmo para a destruição à pessoas... não... existem seres que lucram com isso.
— Ao preço de sangue? — ela riu irônica — quantos de nós você matou?
— De vocês? Crianças inúteis você está querendo dizer? — ele devolveu com o mesmo riso irônico — eu matei apenas um moleque estúpido e uma menina burra para montar o cenário que você vê agora — ele apontou para o lado, onde aqueles dois garotos brigavam agora — mas no final eu não precisaria fazer nada, essa linha já estava condenada a um final ruim antes mesmo de eu pisar meus pés aqui.
— Eu acredito que enquanto existir vida, ainda haverá esperança — Hanna disse — e você, no que acredita?
— Eu?... — Richard manteve o olhar altivo por um instante, observando o tudo, e o nada ao mesmo tempo, perdido em seus próprios pensamentos, até achar uma resposta que fez o seu coração se alegrar, e uma risada se afrouxar dos seus lábios — eu acredito na destruição, Hanna.
— Então não podemos coexistir no mesmo universo — com toda a sua coragem, a moça rapidamente puxou de sua cintura aquela pistola a qual estava consigo e com uma postura séria e mira travada no seu alvo, sem hesitar, atirou contra aquele maldito perseguidor.
***
Os pássaros voaram desesperados com aquele estrondo, alçando voo em plena noite, enegrecendo ainda mais com isso o céu pouco estrelado.
— O que foi isso?! — Bruce disse aos berros, passando o peito da mão no rosto, onde havia um corte devido a luta que estava enfrentando agora.
— Droga — Thales olhou para a floresta — deve ser a Hanna.
— O que? Ela ainda está viva?
— Talvez... não por muito tempo — sentia que não tinha mais tempo, o que faria agora, era tudo ou nada.
Levantou a sua faca contra seu amigo, apontou bem para ele e, então, suspirou, virando a arma branca na mão e agora, segurando a mesma pela lâmina, com o cabo apontado para o jovem de topete.
— Se quer tanto me matar Bruce, tome. Mas me prometa que essa vai ser a última morte.
— O que você está dizendo?! — o quarterback falou alternando o olhar entre os olhos de Thales, e a faca que agora era estendida para ele.
— NÃO TEMOS TEMPO PARA ESSA PORRA, BRUCE! — gritou — eu não entendo, literalmente não entendo, mas sei que de alguma forma a Hanna é capaz de dar um jeito em tudo o que aconteceu, se ela morrer não vai haver mais salvação!
— Não tem como reverter tudo o que já aconteceu, Thales! Nossos amigos não vão voltar dos mortos!
— Então faça o que você tem de fazer — Thales se aproximou e apontou a faca para seu próprio peito. Agora estava próximo a Bruce e a arma branca nunca esteve tão próxima ao seu coração — se você me matar agora, certamente deve contar como suicídio, você não precisa se preocupar em carregar sangue nas suas mãos.
— Thales! — Ele gritou.
— VAMOS LOGO BRUCE! — e o moço apertou um pouco mais o canivete no seu peito, fazendo com que a ponta adentrasse a sua carne, e uma fina linha escarlate saísse dali. — EU SOU O ASSASSINO, NÃO SOU?! ACABE LOGO COM ISSO!
E quando percebeu, Thales tomou um soco na cara tão forte que o fez cair no chão cuspindo sangue e dois dentes. Isso sim era mais eficiente do que o dentista.
— Vamos atrás dela! — Bruce disse suspirou — eu espero que esteja fazendo a coisa certa.
— Puto — Thales comentou passando o peito da mão na boca — o que te fez mudar de ideia?
— Ou você é o assassino, ou é idiota o suficiente para dar a sua vida pelo que acredita, e bom Thales — Bruce estendeu a mão para ele — o segundo faz muito mais o seu perfil.
***
Hanna corria pela floresta desesperadamente, como um bruxo fugindo de um comensal da morte.
Sinceramente aquilo deveria ser proibido, ser tão forte daquele jeito.
Mesmo a queima roupa, nenhum tiro tinha pegado naquele homem e, sem nenhum esforço ele havia lhe dado um tapa tão forte que a arremessou para longe, o que a fez bater a cabeça contra uma árvore e provavelmente romper alguma coisa, pois sentia seu sangue quente escorrer pela sua cabeça.
Atirou mais algumas vezes ao se levantar e, enquanto a moça corria por entre as árvores, ela podia ouvir como se ele falasse no seu cérebro uma maldita canção de amor.
"Hanna, Hanna, give me your answer, do
i'm half crazy all for the love you."
Como se já não bastasse de referências nesta louca agonia temporal.
Aparentemente tinha descoberto a frase que estava procurando, e não contente em repetir aquilo uma vez sobre o brilho fraco do luar, Hanna ouvira sua voz cantar várias vezes, sem parar.
Ao menos o desgraçado é afinado pensava, sem nunca olhar para trás.
Conseguia ver o final daquela pequena floresta depois de muito correr, e próximo ao seu fim, um belo campo com lindos girassóis.
Sua vida sempre fora regida por essas flores, não importava para por onde iria ou quanto tempo passasse, mas os girassóis sempre foram o seu motivo de vida indiferente das eras, era a única coisa que realmente marcava o tempo.
Mas antes mesmo que conseguisse chegar naquele campo, sentiu uma dor excruciante que a fez paralisar na mais pura agonia. Lentamente olhou para baixo segurando um grito na garganta, e viu sua barriga perfurada por uma mão que a atravessava.
Sua visão se enturveceu com dificuldades de focar e acreditar naquilo, mas estava lá, como uma estaca que lhe perfurava totalmente ensanguentada.
— É rude não responder a confissão dos outros, sabia? — sua arma caiu no chão, e olhando para trás com extrema dificuldade, viu Richard sorrindo para ela, como sempre fazia — ah Hanna, poderíamos ter conquistado os mundos juntos.
— Vai pro inferno — a moça falou com a voz trêmula, o que fizera Richard suspirar, içando-a com seu braço enfincado na menina, então a arremessou para longe, em meio aquele campo de girassóis.
— Então morra sobre as flores que você mais ama, Hanna — Richard suspirou frustrado, mas quando se virou...
Bruce o pegou em uma investida forte, derrubando aquele homem que ficara sem entender o que fazer.
— HANNA! — Thales gritou quando conseguiu vê-la sobre as flores, mas havia uma prioridade a ser cumprida, precisava acabar com Richard, ou ele acabaria com eles primeiro, correu a pegar a pistola que havia caído no chão.
— Maldito! — Richard gritou e com um único golpe, enfiou sua mão dentro de Bruce pelas costas, arrancando o seu coração.
— NÃO! — Thales gritou, sem mais nem menos deu um tiro na cabeça daquele ser que tentava se livrar do corpo desfalecido em cima de si, o que o fez cair na hora, com um furo no meio da testa.
Suas lágrimas foram impossíveis de impedir, correu para cima de Bruce e o tirou do corpo de Richard para ver se ainda havia algo a se fazer, mas quando o virou Bruce já estava morto... porém deveria ter sido o único a morrer com um sorriso no rosto, crendo que no final, tinha feito o certo, e mesmo com o coração despedaçado não só física, quanto sentimentalmente, confiara nas pessoas certas, morrendo com a certeza viva de que seu melhor amigo não era o assassino.
Quarterbeck até o fim, não é? Bruce Thales pensou secando as suas lágrimas descanse em paz, amigo.
E após mais duas balas de precaução, Thales largou a arma e correu, correu por aquele campo de girassóis florido, seguindo a trilha de flores caídas e sangue que havia naquele lindo ambiente.
O sol já estava nascendo, lentamente as flores começavam a se virar para louvar o astro celeste no qual era responsável pela sua nutrição.
Era sempre assim, sempre voltadas a luz, de costas a escuridão.
— Hanna! — ele falou colocando a moça em seus braços, chorando.
— Não... vejo mais... — a garota disse com a voz lenta, com uma das suas mãos segurando o enorme corte que havia na barriga. Mas com a outra, igualmente ensanguentada Hanna levou ao rosto de Thales, deslizando as pontas dos dedos sobre o rosto daquele rapaz — ah... — ela disse — Meu senhor, está quente... é tão bom...
— Eu estou aqui, Hanna, nós conseguimos — chorava, compulsivamente — conseguimos acabar com ele, conseguimos sobreviver até o dia 17.
— Eu temo que... — tossindo, sangue foi cuspido da sua boca, o que fez o outro jovem se desesperar ainda mais — não... só... atrasamos a catástrofe.
— Não diga mais nada, okay? — falou aflito — nós vamos dar um jeito nos seus ferimentos, você vai ficar bem, eu juro Hanna, a gente vai conseguir.
Mas ela balançou sutilmente a cabeça em negativo, e no meio daquilo, Thales segurou a mão dela e chorou, chorou como quando perdeu a sua mãe, como se estivesse perdendo não apenas uma amiga, mas um importante membro da sua família.
— Ah... — ela comentou — eu tive uma vida boa — e forçou um sorriso no seu rosto — pude me divertir com amigos... pude me apaixonar de verdade, rir, e chorar com eles.
— Hana! — Thales gritou — por favor Hanna... você é a única que sobrou.
— Eu fui uma boa amiga? — chorava — meu senhor... eu fui uma boa menina?
— Você não foi uma boa amiga Hanna; você foi a melhor! — tentou levantá-la, mas ela urrou de dor, o que o fez recuar por um instante.
Sorriu com as palavras dele, sentindo arder em bens o seu coração.
— Ainda há um jeito... — e com isso, ela deslizou seu braço com extrema dificuldade, até encontrar o antebraço de Thales — ainda... há esperança.
À sangue, ela fez uma linha naquele lugar, uma na qual preenchia quase até o seu cotovelo, terminava no pulso e, prolongando-se um pouco mais no nas extremidades, deixou como se fosse duas bolinhas naquele espaço, além de mais uma, no meio.
De uma forma um tanto quanto torta, era o mesmo símbolo que ela tinha em seu braço. Instantaneamente, como se fosse magia, aquele que havia nela começou a sumir, e queimando-o em seu antebraço esquerdo, aquela marca se tornou exatamente como era a de Hanna.
Palavras passavam diretamente em frente aos seus olhos formando frases, marcando a ferro novos neurônios, com um conhecimento que ele jamais pensaria ter. Seu corpo todo parecia diferente, contudo, ainda igual, afinal... sentia a morte englobando-os dois, louca para tirar aquela moça de seus braços.
— Volte para aquele trinta e um de agosto... — a moça disse — salve a todos.
Então era isso que aquela runa em seu braço o tornava... um viajante no tempo...
— Você tem certeza de que eu posso? — ele comentou em prantos, as dúvidas eram muito fortes em seu peito.
E por mais uma vez, ela colocou a mão em seu rosto, dando o que talvez fosse o seu último sorriso.
— Se for você, meu Senhor, com certeza vai conseguir resolver isso, eu... não quero morrer — chorou, chorou a ponto do seu corte sangrar ainda mais, e suas lágrimas lavarem ainda mais o seu rosto — meu senhor, eu não quero morrer.
— Você não vai... — Thales apertou a mão dela... ao menos ficaria ali para o seu derradeiro momento — eu prometo.
— Obrigada, mas temo que essa promessa não será possível cumprir — ela falou, tentando manter aquele triste sorriso no rosto — meu senhor... posso lhe fazer um último pedido?
— O que você quiser flor — sorriu — o que você quiser.
Então com o que restava de suas forças, Hanna levantou-se e falou algo em seu ouvido, o que aumentou as lágrimas do garoto, e a trouxe para um apertado abraço.
Com aquele último ato, Hanna morreu naquele campo florido, partindo desse mundo banhada pelo sol.
Thales a deitou no chão com carinho e, com o mais puro de seus sentimentos, arrancou um dos girassóis ao seu lado e colocou por cima dela e mesmo que algumas pétalas laranjas se sujassem de escarlate, a fez segurar a flor com ambas as mãos.
Assim como Bruce... Hanna morreu sorrindo.
Se esse era o destino que o aguardava, se a morte era a única opção, ele se negaria a aceitar esse maldito futuro com todas as suas forças.
Ninguém merecia morrer.
Fechando os olhos, Thales deu vazão a uma pequena frase que se perpetuava em seu cérebro agora como o conhecimento novo, mas tão velho que adquiriu juntamente com a runa em seu braço e internamente pôs se a recitá-la:
"Mova-se pela canção do céu
Que se encarne as engrenagens do tempo
Para liberar esse pobre réu."
E com isso, tocou a sua runa no círculo próximo ao pulso, e deslizou o dedo até o mais distante. Imbuído a um flashback virtuoso e deveras realístico de tudo o que havia passado...
Pela primeira vez... Thales voltou no tempo.
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