18.2 Ex amigo.
Às oito horas da noite Bruce recebeu uma ligação de seus pais perguntando se estava tudo bem com ele e pedindo para que voltasse para casa o mais rápido possível, pois algo horrível tinha acontecido com Gwen.
Bruce então apenas respondeu para eles fazerem o que tinha de fazer, chamar a polícia, o serviço funerário ou qualquer coisa desse tipo, e ele iria fazer o que precisava ser feito.
Naquela tarde após ter conversado com o seu "amigo" Bruce foi até a escola novamente na tentativa e esperança falha de encontrar Emily, sem sucesso.
Correu com seu carro por toda Autumnfall e circulou todo o perímetro das praças, tentando encontrar Emily, tentando encontrar sua amada.
Eram tantas coisas que gostaria de dizer para ela, eram tantos sentimentos acumulados dentro de si durante esses anos que se conheciam, eram tantas lembranças boas que faziam seu coração arder em chamas, e seus olhos em lágrimas enquanto procurava aquela garota com todo o seu empenho.
Os últimos dias, os poucos quais ela ficou na sua casa tinha sido muito especial, sentia como se por mais bobo que parecia, fosse recém casado com ela, e sempre estava ali para conversar um pouco, se divertir, sentar à mesa para aproveitar uma boa refeição... e viver, por mais problemas que eles estavam enfrentando, no convívio familiar que tinham criado naquele tempo, viviam bem e alegre, o mundo poderia literalmente acabar do lado de fora daquela casa, não importava, pois o amor reinava entre eles.
Espero que esteja viva, Emy ele pensou, mas devido ao tempo que estava procurando e o fato dela não estar respondendo as suas mensagens... Bruce já sabia que o pior tinha acontecido.
A cidade estava uma loucura, aparentemente a polícia estava com um déficit desgraçado para funcionar aquele dia e que houve um ataque na delegacia, todos os canais de rádio da cidade comentavam sem tardar a mesma coisa, mas ademais, falavam de certos casos que aconteceram na cidade a tarde e o iniciozinho da noite.
Foi aí que ele tomou atenção redobrada ao noticiário.
Logo, uma das estações comentou sobre um caso mais afastado, onde uma moça e dois rapazes foram encontrados mortos e seu coração gelou com aquilo, como se parte dele sentisse uma espécie de dejá vù com a informação. Por sorte — ou azar — já estava próximo daquele ambiente, não precisou de mais de quinze minutos para chegar lá, e viu apenas um carro de polícia com um furgão preto esvaziando o celeiro, levando corpos em um saco preto.
Se aproximando do policial que claramente o queria fazer recuar a qualquer custo, ele explicou que deveria conhecer alguém dali, ouviu no noticiário aquela localidade e se poderia ver os corpos.
Então foi Bruce quem reconheceu os três.
O irmão mais velho, Jacob Handsen e por mais que doesse o seu coração em admitir, não podia negar de quem era o terceiro corpo, a garota que amava, Emily Castilo.
***
Essa cidade já havia dado o que havia de dar, ou era isso que Richard pensava agora, sentado em cima de uma pista de skate observando o seu mais novo troféu, a cabeça do xerife Ivan que achou ser capaz de prendê-lo quando o encontrou vagando na rua, mas havia gastado bastante energia para fazer o que fez.
Fora dos próprios portões do tempo o que podia fazer e como podia fazer eram bem diferentes, mas não era de tudo ruim, afinal sofria menos perseguição quando afastava-se das engrenagens que regiam o mundo.
Sentia seu corpo ruir, o mesmo estilhaçar-se à própria mercê de si mesmo, e isso mostrava o quanto precisava se apressar para cumprir o seu objetivo, e o quanto sua busca incessante mostrava-se por mais uma vez, inútil.
Richard não tinha uma marca como a de Hanna, funcionava de forma diferente e, sinceramente achava bastante rústico o controle e manejo com aquela espécie de... runa, já que para si, não era nada a menos do que intuitivo.
Pesquisava agora o que cria ser importante, afinal nas diversas eras do conhecimento, o saber humano passava-se por mudanças, renovos e muita informação se perdia, porém... no momento atual, encontrar os dados sobre determinada pessoa era bem mais... como dizer, sociais? Afinal, não fazia muito tempo desde que o seu verdadeiro alvo havia pisado nas terras de Autumnfall.
Archer Blackweel era um homem difícil de lidar.
Mas não havia nada novo, suas pesquisas desde que havia chegado não trazia nada mais que já não sabia, então não havia mais motivos para se prolongar.
Era hora de terminar o que havia começado.
Com um sorriso no rosto, Richard trouxe de sua mente um número de telefone que havia pego dos históricos escolares que havia analisado durante a sua falsa presença na Thompson como professor e, tratou de escrever lentamente como uma mensagem o que seu coração estava pedindo.
No final, se fosse para terminar com tudo... precisava ser divertido, deixaria isso claro para as suas presas, o cenário já estava preparado, só faltava buscar o seu prêmio.
"Porque não acabamos logo com isso, Hanna? Não precisa se preocupar, eu vou até você, me aguarde."
A mensagem que a menina recebeu era clara e objetiva, sem rodeios, e embora viesse de um número desconhecido, ela sabia bem de quem era o remetente.
— O que nós vamos fazer? — Thales falou assim que leu aquela mensagem ao lado da moça dos girassóis.
— Esperar — Hanna falou direta, respirando fundo — não adianta fugir agora... com essa verdade que estamos, isso só seria um problema ainda maior se se alastrasse pela Yggdrasil.
— Você disse...? — Thales acabou falando aquelas coisas na tentativa de instigá-la a continuar, e viu Hanna lentamente balançar a cabeça em positivo, após um leve suspiro.
— Existem coisas... mais importantes do que eu e você, meu senhor. Coisas que podem corromper toda a origem, e acabar definitivamente com o que conhecemos, todas as coisas que existem.
— De novo com mais enigmas? — ele disse — me corrija se eu estiver errado Hanna, mas não estamos em uma situação de vida ou morte?
— É como eu disse... se disser antes do tempo, o futuro ainda pode mudar, sinceramente... — disse temerosa — eu nunca cheguei ao dia 17... essa é a única coisa que penso que pode dar certo...
— Tudo bem — Thales respondeu frustrado — olha Hanna, eu passei esses dias todos para descobrir que você tem esse lance de... visões do futuro, esse negócio de além e tal, mas pode ao menos me dizer alguma coisa? Como conheceu o Richard ou o porquê ele é tão obcecado pela gente?
— É uma longa história — a moça começou, mas sinceramente? O que na sua vida não era? — Richard é... uma existência que vai até hoje contra o conhecimento humano, ele é o que é, e na simplicidade dessas palavras ele é isso, tão simples quando uma leitura de uma frase infantil, mas tão complexo a ponto dos mais renomados doutores não conseguir decifrar a sua origem...
— E lá vamos nós para mais uma conversa de malucos — riu irônico com a sua última constatação —, mas voltando ao assunto... de onde vocês se conhecem?
— Nos conhecemos no meu aniversário de dez anos, digamos que por causa da minha origem, quando eu tive a minha primeira menstruação e meu corpo começou a mudar, eu comecei a... viajar, viajar para terras bem longes e também as mais próximas que conseguimos imaginar. O que faz o aqui ser de fato aqui, e não lá, são apenas vis montanhas de tempo incrustadas no assoalho da terra.
— Eu achei uma caixa outro dia — o moço começou — uma caixa que vinha escrito "Hanna B." e tinha uma foto sua nesta cidade, antes mesmo das praças serem terminadas.
— Isso só pode ter sido obra do destino — ela sorriu — de todas as vezes... então essa já foi atípica desde o princípio.
— O que quer dizer com isso, Hanna?
— Meu conceito de tempo não se passa pelos anos, meu senhor. Não são os giros da terra e a linha humana que conta o meu... não, o envelhecimento em si. Nós podemos ser um instante, como também podemos ser apenas... uma eternidade, e é isso que você viu naquela foto, um reflexo da verdadeira linha do tempo.
— A teoria da árvore Yggdrasil... — Thales disse com o olhar longínquo, perdido — a mesma que meu pai acreditava... a mesma em que te vi vinculada por uma foto.
— Com o tempo meu senhor, talvez descubra um pouco mais da sua própria origem também.
— Isso é complicado demais para ficar pensando de uma vez só — ele disse bagunçando seu cabelo cacheado com as duas mãos.
E ela riu, assim como tinha feito no primeiro dia de aula no período que compreendia a senhorita January, lembrando com carinho de um certo passado, ou quem sabe um próximo futuro? Não era uma linha reta que definia o tempo, estava mais para água, sem uma forma aparente, moldada por cima das coisas que toca, no final, sem adquirir uma forma própria.
E falando em tocar, o celular de Hanna logo começou a tocar e vibrar em cima daquela mesa onde nada mais se tinha além daquele telemóvel e uma arma totalmente municiada.
Os policiais tinham confiscado a que a moça havia conseguido outrora com Dom, mas quando ofereceram para eles o vestuário para se trocarem, esqueceram que um ou outro também deixava seus equipamentos naqueles lugares.
Não se orgulhava de roubar, mas aquilo estava ali para lhe ajudar no último confronto.
O número que lhe pedia por comunicação era o de Bruce, e com isso ambos deduziram que era para o rapaz, não para a jovem dos girassóis.
— Alô — Blackweel falou quando tocou aquele celular no ouvido, tentando se manter o mais calmo possível.
— Me diz uma coisa Thales — Bruce o inquiriu. Respirava fortemente, tão forte a ser perceptível do outro lado da ligação — ainda falta alguém nessa cidade que você queira matar?
— Bruce, não vamos começar com isso de novo...
— A Emily está morta Thales, morta — ele falou e, o tom de raiva, parecia se dissolver em choro naquele momento — eu perdi tudo nesses dias, a minha irmã, os meus amigos, a garota que eu amo... me diz, vai atrás dos meus pais agora?
— Alguma coisa que eu disser para você importa agora? Posso jurar pela minha vida que não fiz isso, mas mesmo assim importa para você, Bruce?
— Se isso realmente for verdade, eu quero que venha me encontrar e fale isso na minha cara.
Parou por um instante, pensou e Thales acabou suspirando com aquilo. Fato era que não importava como, aquele seria a única forma de resolver isso, a maneira definitiva que acabaria com as diferenças entre eles.
Por mais que doa tudo o que está acontecendo... talvez assim as coisas poderiam se encaixar de uma vez por todas.
— Onde? — Thales por final disse, tomando nota mental para o que seu... ex amigo diria naquele momento.
— Tem um espaço público perto da floresta de bordôs e carvalho próximo a terceira praça, não tem?
— Onde fica os um dos maiores campos de girassóis da cidade? — sorriu irônico. Por que tinha de ser perto daquela flor? Qual era a necessidade?
— Eu te espero lá Thales, não me faça esperar a noite toda, por honra a amizade que nós já tivemos um dia.
— Okay — o moreno disse, o outro rapaz desligou o telefone.
— Isso me pareceu exatamente o desfecho final de uma finc gay — Hanna comentou tentando descontrair um pouco.
— Obrigado por levar isso com seriedade e compromisso — ele riu de volta — acho que se minha vida fosse contada em um livro agora teria vários comentários me shippando com um dos meus melhores amigos.
— De fato — a moça respondeu se levantando, e após prender a arma na calça preta que usava, deu um pequeno nó na sua blusa social azul, a revelar um pouco a barriga.
— Isso por acaso é look de guerra? — Thales disse a ela.
— A minha preferência seria ao meu próprio uniforme e meu equipamento de combate, mas temo que este terá de servir.
— Uniforme? Armamento? — Ele indagou completamente confuso.
— Mais uma vez... isso é uma longa história meu senhor, temo que nessa linha, não tivemos tempo algum para sermos apresentados como deveríamos ser.
— E eu vou poder te conhecer como deve algum dia?
A garota dos girassóis sorriu para ele, de forma linda, como se atrás daquele sorriso guardasse os mais lindos segredos.
— Espero ansiosa esse dia chegar — a garota dos girassóis o respondeu, de mais puro e sincero coração. O que Blackweel não sabia, é que ele tinha falado algo que ela sempre quis ouvir, por mais infantil que fosse, realmente alegria foi bombeada a sua alma...
— Está combinado então — sorriu empaticamente — agora sobre o Bruce... isso é entre ele e eu Hanna, não seria bom se você se intrometer.
— Estou indo para garantir que ninguém se intrometa e... se o Richard passar por aqui... não quero estar sozinha para caso eu acabe topando frente a frente com ele.
— Entendi. Qual será o nosso batmóvel para irmos até os campos de girassóis? — brincou, tentando por menor que fosse, diminuir o nervosismo que eletrocutava todo seu corpo.
E por mais besta que fosse, a pergunta fez com que ela soltasse uma pequena risada, sincera, linda e enigmática, coisa que divertiu os dois corações.
— A minha bicicleta amarela — ela terminou.
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