17.3 Acerto de contas.
Emily custou a acordar depois do que aconteceu com ela.
Após a escola tinha seu encontro semanal com o psicólogo, e mesmo sabendo que poderia encontrar o seu pai lá, seu irmão, ou ter uma crise no meio do caminho, como estava com o pacote daquele mês fechado resolveu ir visitar Christian naquela fatídica terça feira.
Tinha pedido para Bruce cuidar de Ryder e falou que não ia demorar naquele dia, nada de rodeios, nada de estender as coisas. Iria para a consulta, se trataria e após isso voltaria para casa do seu amigo, simples e rápido assim, se seu plano não tivesse sido cortado no meio do caminho.
Andando na rua para chegar até o local de sua consulta distraída nos seus pensamentos, Emily se assustou quando ouviu a buzina de um carro bem na sua cola, e após o seu susto, viu um colega de sala — Lucca Gonzales — sair do veículo e munido de toda a sua força, segurar a menina e joga-la dentro do porta malas daquele veículo.
Tinha sido rápido, um exímio talento no que fez e isso a fez bater a cabeça contra a estrutura daquele cubículo de guardar coisas e com o tempo que passou lá dentro a dor do impacto que sentiu na sua cabeça somado a pouca oxigenação a fez ficar lenta, perdendo a consciência.
— Bom trabalho, Lucca — Jacob falou assim que recebeu a "encomenda" daquele rapaz, tirou Emily do fundo do carro e a pôs amarrada em uma pilastra naquele celeiro, mesmo contra protestos da garota, o que fez com que o rapaz do time de futebol americano precisasse utilizar um pouco mais de força para prendê-la ali, e como consequência agora Emily tinha várias partes roxas em seu corpo.
— Não é nada pessoal — Lucca falou sorrindo para ela, que o respondeu cuspindo em sua cara.
Aquilo fez com que Lucca respirasse mais fundo, forte, e tirasse de seu bolso um canivete que sempre guardava consigo, encostando o mesmo no peito daquela garota.
— Eu ainda preciso dela — Jacob interveio, afastando Lucca daquela mulher.
— E depois vai fazer o que, em Jacob?! — Emily gritou, olhando para aquele rapaz com os olhos aflitos, focada em qualquer esperança de conseguir se livrar daquelas amarras, ou sair daquele celeiro com vida.
— Não sei — ele sorriu — provavelmente se te soltar você vai dar queixa na polícia... — riu — o que é mais uma morte para Autumnfall a essa altura do campeonato?
— Você é um monstro, sabia?! — Emily comentou aos berros — vocês dois são monstros! Vão apodrecer no fundo do inferno por isso!
— Hey Jacob? — Lucca disse observando aquela menina — ela precisa mesmo da língua?
— Acabei de pensar em algo interessante... — Jacob — acho que se vendermos os órgãos dela no mercado negro esses seus 50 mil dólares conseguem facilmente triplicar.
— Vocês não vão escapar impunes disso! — mas nada dava certo, se debater não tinha resultado, eles a prenderam muito bem.
Era... assim que sua vida iria acabar? Nas mãos de dois babacas da Scarlet's que fariam qualquer coisa por dinheiro ou por vingança?
Onde havia justiça nisso? Odiava clichês de garotas indefesas e cenas desse tipo em filmes e agora como um roteiro barato seu derradeiro momento tinha se moldado a levar ela uma situação como aquelas.
Poucas coisas, minúsculos detalhes poderiam fazer toda a diferença na sua vida.
E se... não tivesse tentado ir ao psicólogo hoje? E se tivesse ficado com Bruce? E se não tivesse nascido naquela maldita família, e se... seus amigos ainda tivessem vivos?
Tantas questões sem resposta... tanto a jogo, sem nada a ganho. Tantas indagações, tantos arrependimentos que nem mesmo cabiam no seu peito.
Se pudesse escolher, talvez... era melhor nem ter saído da cama dia trinta e um de agosto, e permanecido dormindo nesses 16 dias que se passaram desde então.
Aquilo de fato era a definição de uma catástrofe e, parecia sentir na pele quais eram as reais consequências de viver em uma história onde assassinatos são tão frequentes quanto as folhas de outono que deslizavam no ar rumo ao assoalho de terra contidos em todos os lugares.
— Porra! — Lucca falou observando o seu celular. Já havia alguns minutos desde que tinham decidido esperar, e recebeu uma mensagem de alerta de segurança, o que naquele momento era um péssimo sinal.
— O que foi? — Jacob respondeu após o susto que havia tomado.
— Jacob, o plano era que eu a sequestrasse, não era? — ele disse se levantando — então a minha parte está feita, não quero me envolver mais nessa sua treta.
— Está dando para trás agora?! — o moço gritou inconformado.
— Tem alguém querendo invadir a minha casa! — Lucca gritou de volta, mostrando o celular para ele.
Ali, era possível ver uma câmera de segurança que ficava atrás de sua casa, escondida nas folhagens de uma árvore. Naquele ambiente um homem circundava a casa, tentando achar a melhor forma para pular dentro para invadir a residência.
— Que se dane isso, Lucca! — Jacob — com 50 mil dólares você consegue comprar qualquer coisa que ele roubar... espera, essa porra é o Eric? — conseguiu dizer após focar seus olhos direito no moço que estava naquela residência.
— Nem 50 mil dólares ia conseguir resolver o estrago que esse filha da puta pode causar se entrar no meu quarto — Lucca disse pegando seu casaco e botando-o naquele momento — boa sorte com o seu problema, quero receber o meu pagamento depois, se quiser me dar só metade por causa disso que se foda, mas eu quero o meu dinheiro.
— Okay — Jacob o respondeu, e assim Lucca saiu correndo por aquele celeiro, até sair do recinto.
— Hey Jacob — Emily disse — porque ir a tanto? — a essa altura pelo tempo que estava presa, sua personalidade havia caído drasticamente, e agora enfrentava o seu pior lado para o momento, o lado em que fazia tremer e chorar, irritada com tudo aquilo — não vale a pena... você vai ver, daqui a um mês, quem sabe dois, você vai deitar no travesseiro e sentir um peso enorme no seu corpo.
— Pode até ser que isso aconteça Emily — ele a respondeu se levantando —, mas quer saber? Pelo menos eu vou ter a minha vingança, e vou poder olhar para o passado e saber que fiz algo realmente bom para essa cidade de merda, me livrei de um dos mais podres que há aqui.
— Pondere os sacrifícios... — dizia — quem é você para tirar a vida de alguém? Como vai se sentir com sangue nas mãos.
— Pleno — Jacob sorriu — sabe de uma coisa, Emy? Eu já matei alguém, foi divertido ver a cara de sofrimento que ela fez ao morrer.
— Ela...? — a jovem arregalou os olhos.
— Sim... há pouco tempo eu matei a Emma sabe? Ela estava no meu caminho e, não vi mais utilidade para ela. Sinceramente não me arrependo de nada, bonecas de foda como aquela idiota se tem aos montes nesse mundo, é só encontrar outra.
— Você é um monstro Jacob! — Emily gritou — como você pôde fazer isso com outro ser humano?! Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém!
— Ah, cala a porra da sua boca! — o garoto gritou — ela estava dando crise de histeria também antes de matá-la, foi o melhor jeito que encontrei para que ela ficasse quieta — lentamente ele foi se aproximando dela, fazendo com que seus leves movimentos a calassem por puro medo. — No final você é mais esperta que ela — e riu.
— Fique longe da minha irmã! — Dom gritou quando abriu a porta daquele celeiro.
— Ah! — Jacob — chegou o herói! — e riu com sua própria "piada" — bem vindo Dom... ao lugar da sua morte.
***
— Me diz uma coisa, Thales... — Bruce falou em um misto de tremor de ódio, e lágrimas no rosto — foi divertido matar todas essas pessoas até agora?
Tinha ligado para Hanna pois sabia que ele iria atender, e naquele mais irritante sentimento, se sentia traído por uma das pessoas que mais confiava no mundo.
Maldita hora em que tinha dado um voto de confiança na amizade para com Thales.
A loira tinha morrido com um corte a tesoura enquanto segurava suas vísceras para não cair para fora de sua barriga, sem muito sucesso e Ryder, bom, esse tinha marcas no pescoço e não havia corte aparente no menino, então deveria ter sido estrangulado.
Sentado sobre a cama dela, Bruce olhava estupefato o corpo de Ryder e Gwen naquele chão frio cheio de sangue. Tinha feito de tudo para não tocar a sola de seu all-stars preto naquele líquido escarlate, e tinha feito um bom trabalho com isso.
Necessitava chamar a polícia para investigar e colher provas, levar os corpos, mas antes que fizesse isso, antes mesmo que seus pais chegassem em casa tinha de tirar uma coisa a limpo.
— Não faço ideia do que você está falando — foi a única coisa que Blackweel conseguiu responder devido à pergunta sem lógica do seu amigo.
— NÃO SE FAÇA DE IDIOTA, THALES! — Bruce gritou — EU SEI QUE VOCÊ É O ASSASSINO!
— Pare de defecar pela boca, Bruce — o outro falou — você não faz ideia do que eu passei essa madrugada, não faz ideia de como eu estou me esforçando para seguir em frente e acabar com esse desgraçado, Bruce.
— Se não é você, Thales — riu irônico — me diga, o que você estava fazendo lá naquele armazém onde acharam o corpo do Ethan?
Isso fez o outro se calar.
Como ele sabia? Richard tinha deixado alguma coisa para gravá-lo naquele armazém? Ou seria outra pessoa?
Mas era claro que algo assim tinha de acontecer... porque havia sido tão descuidado a ponto de entrar naquele lugar sem antes conferir os arredores, sem saber se realmente estava sendo testado?
Eric foi aquele que tirou toda a sua atenção, embora pudesse chegar a essa conclusão, ainda sim Thales havia vacilado, isso não era, e nunca seria uma desculpa.
— Eu sabia — Bruce voltou a dizer — deve ser por isso que a Becky tinha dito aquelas coisas estranhas na nossa última reunião, foi isso que Richard tentou me avisar, eu fui um idiota por não ter acreditado no que ele falou.
— Bruce! — Thales gritou — não deixe as coisas que aquele homem disse subir a sua cabeça!
— Onde a Emily está?! — ele gritou — ONDE ELA ESTÁ?!
— Eu não sei, tá legal? — Thales respondeu — se acalme, nós precisamos conversar com calma para conseguir resolver essa situação.
— Eu vou te achar Thales — Bruce falou — e quando achar eu vou acabar com a sua raça, nem que isso me mate, mas você vai ter o que merece.
Sem mais, Bruce desligou o telefone.
— Porra! — Thales gritou assim que a ligação fora finalizada.
— Se acalme, meu senhor! — Hanna falou — precisamos manter a calma nesse momento, ou então.
— Eu sei, tá legal? — ele suspirou olhando para a garota que esfregava as costas dele numa tentativa de acalmá-lo — hey Hanna? Você tem alguma ideia de onde ela esteja? — mas infelizmente ela balançou a cabeça em negativo — você sempre tem alguma ideia... — seus olhos lacrimejaram — como é possível dessa vez não ter nada?
— Hoje é o último dia, meu senhor — disse com um certo peso no coração — e... eu nunca sobrevivi a ele para ter algum dejà vú.
***
— Solte ela agora, Jacob! — Dom falou apontando uma arma para ele.
— Assim não tem graça, Dom — Naquele momento aquele rapaz empunhava uma faca apontada para o pescoço de Emily, que tentava manter-se calada e sem movimentos bruscos para não ser cortada por acidente — jogue a arma para cá, agora!
— Se eu fizer isso você vai matar ela!
— Não se você largar a arma, agora! — Jacob comentou.
— Okay... — e assim ele fez, jogou a mesma no canto, observando bem Jacob e todos os seus movimentos — agora larga ela!
— Dom, você sabe como dois homens resolviam as suas diferenças antigamente? — aquele moço disse altivo, cheio de orgulho.
— Eu faço tudo que você quiser se deixar ela viver — Dom o respondeu a seco, como se cada uma daquelas palavras arranhassem sua garganta para sair.
— Não... você nunca abaixaria seu orgulho para obedecer alguém, foi a sua ganância e sede de vingança que te deu o cargo de líder agente, você só esperaria a primeira oportunidade para me trair e me apunhalar pelas costas — ele riu —, só queria que você viesse aqui meu camarada, para ver os últimos suspiros da sua maldita irmã, e ver tudo que realmente te importa desfalecer na frente de seus olhos.
— Não! — Emily gritou desesperada para escapar, mas no momento que o fez, Jacob passou violentamente a faca pelo pescoço dela dilacerando aquela pele, que abriu como um zíper, jorrando sangue, justamente da cor escarlate.
— NÃO! — Dom gritou ao ver aquela cena, ainda conseguiria fazer alguma coisa se estancasse aquele sangramento, por instinto, correu para pegar a sua arma, e viu Jacob largar a faca para pegar uma pistola que ele havia no bolso.
Não sabia que ele tinha uma arma... não, aquilo provavelmente não era dele, deveria ser de outro membro do clã, mais um traidor aparentemente.
Então Jacob disparou, duas vezes, acertando o braço do homem, mas depois que Dom rolou no chão e conseguiu pegar a sua pistola, deu um tiro perfeito na cabeça de Jacob, fazendo o mesmo cair no chão desfalecido na hora.
Correu segurando o seu braço ferido para encontrar a sua irmã vendo a sufocando com o seu próprio sangue.
— Emily! — ele gritou. Deu um tiro na corda para estourá-la e poder tirar ela dali, segurou o pescoço dela para estancar o sangramento, mas estava forte demais para parar.
Quando teve suas mãos livres, Emily também tentou fazer com que o escarlate parasse de jorrar, mas sua consciência estava indo para longe e por isso, largou o seu pescoço e no último resquício de força que tinha, levantou o dedo do meio para seu irmão, morrendo segundos depois.
Dom caiu no chão chorando, segurando o corpo daquela menina ainda quente em seus braços e constatando que ela não estava mais respirando.
Amaldiçoou o momento em que havia recrutado Jacob para a Scarlet's, amaldiçoou ele próprio por não ter conseguido impedir a sua morte e, amaldiçoou aquele momento que havia optado por entrar naquela gangue.
No final, sentia que era só um adulto inconsequente que se recusou a crescer, sua irmã tinha sido roubada dele, assim como fora anos atrás quando a sua família teve a perda de sua mãe.
E logo, ouviu uma sirene de polícia se aproximando do local. Estranhou, não tinha chamado ninguém, mas antes mesmo que pudesse levantar para tentar sair dali já que era considerado um criminoso por alguns delitos que havia feito em nome da Scarlet's, viu Ivan adentrando aquelas portas.
— O que... — ele começou, mas quando viu os dois corpos no chão logo se calou.
— Líder... — Dom falou ao reconhecer aquele policial. Sentiu um pequeno alívio com aquilo, e a dor de ter perdido sua irmã voltara nos seus braços sob força total.
— Foi você quem os matou, Dominick? — o xerife disse com uma voz firme, forte, voltada a observar a cena daquele crime.
— Eu nunca mataria ela — foi a resposta — mas acabei com o filha da puta que matou a Emily — e apontou para o corpo.
— Entendi — Ivan se aproximou dele, inexpressivo — sabe Dom, eu acho que já está na hora de trocarmos a liderança da Scarlet's — o policial falou — se você não teve capacidade de salvar o sangue do seu sangue, como posso confiar que vai cuidar bem nos negócios do meu clã?
— Senhor... — ele disse em prantos — não tenho nada além da Scarlet's, vou trazer o meu irmão e vou ensinar a ele ser um líder muito melhor do que eu sou, vai ver, será o melhor investimento que já teve.
— Não, Dom — e tirando sua arma do cinto, Ivan atirou na cabeça do rapaz sem ouvir mais nenhuma palavra do que ele tentava dizer — vou eleger um novo representante, talvez começar do zero, você não tem ideia do que a máfia que nos rege faria se soubesse que fui tão benevolente — o oficial terminou, mesmo que aquele homem não pudesse mais ouvir, caído morto no chão, com sua irmã no colo.
Então quase como se o tempo tivesse sido cronometrado, o telefone de Ivan tocou, e ele foi pronto a atender.
— Alô? — disse por fim, saindo daquele lugar.
— Oi — fora Amanda quem estava do outro lado da linha — o resultado do exame de sangue da cena do crime de Ethan acabou de sair.
— Oh — Ivan sorriu — por favor, me dê alguma coisa útil.
— Uma das análises conta com o DNA de Becky Willians...
— A nossa morta — ele comentou frustrado.
— Mas a outra amostra, senhor, conta com o sangue de Eric Hawkins.
— O garoto dos fotógrafos, não é? — indagou.
— Isso mesmo — ela terminou.
— Eu vou pessoalmente prender aquele garoto — Ivan falou entrando no seu carro — quero, por favor, Amanda, avise a polícia que eu quero um carro atrás de Paul e Louis que não deram mais sinais de vida, e uma equipe de limpeza no velho celeiro, acabei de encontrar uma cena horrível de um crime, dois homens mortos por tiros e uma menina com um ferimento de arma branca.
— Certo, pode deixar comigo — Amanda disse, e logo desligou o telefone.
Eu vou te matar, assassino desgraçado fora a única coisa que Ivan conseguia pensar enquanto dava a partida de seu veículo, e quando ele acelerou sobre aquele pôr do sol, pôde ter certeza que de um jeito ou de outro naquela noite, a justiça seria feita, custasse o que custasse.
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