14.4 Assim é mais gostoso.
— Tem certeza de que quer fazer isso, Becky? — Thales perguntou para a garota enquanto conduzia o carro para a casa de Ethan, já que estava com ele deveria ao menos ir buscá-lo em casa para levar para a escola, era parte do combinado.
— Sim — a moça falou — sinceramente eu acho que ficar em casa é muito covarde Thales, eu já tive tempo o suficiente para preparar o meu psicológico para a volta às aulas, era algo que eu pensava com frequência na cadeia.
— Se é isso que você quer não vou reclamar, mas ao menos mande mensagem para a sua tia, ela vai ficar preocupada.
— Sabe Thales... — Becky falou um pouco receosa — talvez eu seja deportada para um convento, acho que eu disse uma vez como meus pais são...
— Becky — Thales intimou — aproveite o agora, se eles realmente quiserem te levar para um lugar desses a gente dá um jeito, eles vão ter de respeitar o que você quiser, se for necessário acho que minha mãe não ia ver problemas que você more em casa por um tempo.
— Obrigada — ela sorriu, e Thales logo estacionou o carro na porta da casa dos Stanford e desceram do carro, onde dois adolescentes estavam esperando na porta.
— Você demorou! — Ethan disse levemente irritado olhando para o relógio e também para o amigo — a gente vai se atrasar!
— Não se você cortar a bronca e entrar no carro — Thales respondeu com uma risada irônica e logo cumprimentou o garoto entregando as chaves para ele. — Todo seu, enchi o tanque antes de vir para cá.
— Becky! — Do lado dos garotos, Gwen basicamente se jogou nos braços de sua amiga como uma criança faz ao ver seus pais voltando do trabalho. — Graças a Deus! — sorriu — ao menos uma coisa boa no meio desse caos!
— Você acha que uma grade pode me prender?! — E soltou uma risada malévola — os policiais estavam quase cedendo de tão irritante que eu consegui ser.
— Você não tem jeito — Gwen falou —, mas está tudo bem mesmo?
— Na medida do possível, não precisa se preocupar — Becky prendeu a loira nos seus braços com um belo abraço, e deu um beijo na bochecha dela — bom, o Thales já me atualizou sobre as mortes... vamos nos esforçar para não perder mais ninguém, okay?
— Sim... — Ela deu um sorriso amargurado. — Pela memória dos que se foram, e pela nossa própria segurança.
***
Na escola Becky conseguia sentir claramente os olhares dos alunos para cima dela, e como o clima daquele lugar estava absurdamente denso.
Se sentia parte de um circo dos horrores sendo ela a atração principal. Cochichos, falácias, pessoas passando rapidamente por ela no corredor para não ter contato... isso e muito mais, visto que o desprezo e o nojo jorravam por aqueles alunos como se ela fosse a serpente que ludibriou Eva no paraíso.
Participar das primeiras aulas tinha sido difícil por conta disso. Tinha se preparado mentalmente para o retorno, mas não conseguia deixar de pensar o quão duro estava sendo passar por tudo aquilo cujo estava agora, tinha vontade de enfiar a sua cabeça dentro de um saco de papel marrom, fazer dois furos para os olhos e continuar ali. O olhar por ser algo estranho de se ver com certeza era mais confortável do que aquele olhar maldoso que estavam para com ela.
— Wow... — Becky falou em voz alta para si mesma após o primeiro período acabar, no corredor a caminho de seu armário. Tinha saído poucos minutos mais cedo com permissão da professora para esbarrar na menor quantidade de gente possível e poder guardar o caderno em paz, seria até bom já deixar reservado a mesa na cantina, será que ainda estavam usando a mesa de sempre? — Fica difícil de interagir se naturalmente já pré te julgam como assassina.
Então na sua maior inocência abriu o seu armário, e quando o fez, pôde ver seus livros caindo juntamente com uma tinta vermelha sangue que impregnava os mesmos. Na porta o seu espelhinho que tinha colado ali estava quebrado, e no espaço em cima e embaixo dele, os dois juntos formavam a frase "Becky a puta assassina" no mesmo tom escarlate que agora sujava as suas mãos pelo impulso que teve de segurar os livros para não cair no chão.
— Combina com você! — Jacob falou enquanto soltava uma gargalhada — a assassina de Autumnfall.
— Eu já disse isso uma vez Jacob— intimou irritada colocando os livros de volta —, se eu fosse a assassina você seria o primeiro a morrer, otário! Olha a porra que você fez no meu armário!
— Além de puta é detetive? — ele voltou a rir — quem te garante que fui eu quem fez isso?
— As câmeras de segurança do corredor — Hanna disse blefando e se intrometendo naquela discussão, a escola não tinha esse tipo de defesa, mas seria uma ótima — vamos Becky, até eu, nova nesses átrios já aprendi que não se deve dar importância as falas de Jacob — sem muito, a garota dos girassóis segurou o braço da menina para ir em frente.
— Você também é uma puta, sabia? — Jacob gritou.
— Oi? — Hanna parou no corredor naquele exato momento, se virou e franziu o cenho — perdão, não entendi?!
— Vamos ser sinceros Hanna, você deve ser muito boa transando para fazer o Ross namorar você, então isso quer dizer que você é uma puta, e uma puta das boas.
A garota ficou sem reação, só conseguia abrir a boca com tamanha indignação que sentia e então cerrar os punhos, totalmente irritada com aquilo.
E foi quando Becky não aguentou mais, marchou naquele corredor com passos firmes até chegar em Jacob e dar-lhe um tapa no rosto tão bem dado que ficou as marcas de seus dedos na cara dele, isso, e também a tinta vermelha que estava nas suas mãos.
— Cuzão — ela falou vendo o moço voltar a postura normal e então umedecer os lábios, sorrindo no processo — vai deixar assim barato Hanna?!
— Eu apenas luto para me defender... — a moça dos girassóis comentou — mas se há algo que eu não tolero, este algo configura-se a pessoas do seu tipo, Jacob, posso lhe garantir que não sou uma garota indefesa, se falar mal da minha pessoa novamente, haverá consequências.
— Olá, Hanna — a moça ouviu essa voz atrás dela e por impulso se virou para ver quem era, nada mais nada menos do que Richard, e seu sorriso cínico de sempre — seus insultos nunca perdem a elegância, é tão bom ver você aflorando esse lado mais selvagem — colocou uma mão no ombro dela, se aproximando tanto a falar agora só no seu ouvido —assim é mais gostoso caçar você.
— V-vamos embora daqui — Hanna falou dando meia volta naquele corredor e mais uma vez segurando o braço de Becky, correndo para o banheiro da escola. Queria sair de perto daquele homem o mais rápido possível, afinal Richard era literalmente difícil de matar.
***
— Eu sumo por menos de uma semana e já temos dois casais montados? — Becky disse rindo com seus amigos. Depois de passar no banheiro para limpar as mãos, coisa que não foi tão bem resolvida já que aquela tinta era bem forte, ela e Hanna se encontraram com o pessoal no refeitório onde a estavam esperando e, respondendo a dúvida que tinha, na mesma mesa que sempre usavam, bom, quando outro grupo não chegava primeiro.
Emily tinha faltado de novo e Bruce ainda estava cumprindo seu último dia de suspensão. Nesse momento, estavam a mesa S, Hanna e Ross, Gwen e Ethan, Thales e Becky. Para o ruivo, sentia-se que estava segurando vela, afinal era como se todos ali formassem um par de alguma maneira, mas mesmo assim era o melhor grupo do terceiro ano que havia sobrado ao seu ver, e o que parecia estar mais focado em pegar o assassino de seus amigos.
— Para você ver — Ethan falou dando um beijo na bochecha da sua garota — como o mundo gira, não é mesmo?
— Sinto que meus serviços de cupido foram inúteis por todo esse tempo — e se sentou na cadeira, sentando-se toda largada —, mas fico feliz por vocês, já estavam transando a um tempo, não é?
— Becky! — Gwen falou constrangida, e Ethan teve de virar o rosto para não rir na frente da loira — não era para você dizer essas coisas!
— Ah! — a morena colocou a mão na frente da boca — desculpa, pensei que eles sabiam.
— Eu deveria ter ficado com vocês antes — S falou segurando a barriga pelo seu riso — sério.
— E-eu vou no banheiro — Gwen comentou se levantando e sem mais, saindo dali.
— Gwen — Ethan segurou o braço dela — não precisa fugir, vem aqui, estamos entre amigos — e colocando ela para se sentar, começou a afagar a cabeça da moça carinhosamente.
— Vamos voltar ao assunto, sim? — Thales comentou ríspido, cortando a graça daquela discussão — como vamos fazer daqui em diante?
— Temos basicamente quatro suspeitos — Ross tomou a voz por um momento — e aqueles arquivos que conseguimos só servem para nos deixar mais claro isso.
— Jacob, Lucca, Eric e... Richard, não é mesmo?
— O Jacob pode deixar comigo — Becky falou com um sorriso malévolo no rosto — depois do que ele fez comigo hoje meio que quero uma vingança, duvido que ele não dê com a língua nos dentes depois da gente ter uma pequena conversinha à dois.
— Becky — Thales proferiu — não me diga que você vai amarrá-lo numa cama e torturá-lo com o seu "poder feminino".
— Não se discute os métodos de uma lady — e riu, piscando de um olho só enquanto colocava o indicador na frente da boca, o que era lindo, mas as marcas vermelhas na mão dela dava um certo medo.
— S-se possível — Hanna falou — eu gostaria de ficar longe do Richard.
— A gente vai focar em investigar o Eric, pode ser? — Ross disse abraçando sua garota.
Gostaria de entender um dia de onde vinha o medo dela por aquele homem, e porque parecia tão forte, tão... instintivo, mas tinha dado a sua palavra que iria proteger ela, então se Hanna não quisesse vê-lo, ele iria com ela para qualquer lugar que quisesse.
— Eu... posso ficar com o Lucca — S comentou. — No final a gente meio que já teve uma relação... talvez eu consiga conversar com ele de igual para igual e descobrir alguma coisa também.
— Então a gente fica com o Richard — Ethan disse — é bom porque temos carro, vai ser mais fácil seguir um adulto desse jeito.
— E eu sobrei — Thales falou com uma risada irônica, olhando para os lados.
— O que está dizendo, meu senhor? — Hanna sorriu — Um bom filme policial sempre há alguém responsável pela inteligência da equipe, alguém que esteja monitorando a gente.
— Eu não sou um hacker, okay? Não esperem que eu vá entrar em câmeras de segurança ou no computador dos outros — franziu o cenho —, mas tudo bem, é sempre bom ter alguém na linha para chamar a polícia se for necessário.
— Decidido então — Becky proferiu com um sorriso — vamos começar nossas investigações amanhã?
— Uhm? — Ross disse — pra que esperar?
— Ah... eu... queria fazer uma coisa antes de arriscar a minha vida — Becky respondeu com um sorriso meio amarelado, passando a mão na nuca.
— Preciso ir à delegacia hoje — Ethan falou — então mesmo que eu quisesse, não vai rolar.
— Oi? — Gwen se intrometeu — por que não me disse?
— Recebi a mensagem agora a pouco — e suspirou, tirando seu celular do bolso — esse foi o momento que eu encontrei você, ia dizer no carro quando te deixasse em casa...
— Entendi... — ela respondeu — é por causa das suas irmãs?
— Acho que sim... devem estar querendo conversar em particular.
— Eu também fui chamado — S acrescentou.
— Provavelmente querem o depoimento de quem era mais próximo das últimas vítimas — Hanna deduziu.
— Bom... — Gwen — nesse caso é melhor mesmo deixar para amanhã — suspirou — e seria bom se eu aparecesse em casa também, tenho de ver como o Bruce e a Emy estão.
— Oi? — Thales falou — ela está na sua casa?
— Ela não disse? — Gwen indagou tirando seu celular do bolso e abrindo suas mensagens — Aqui.
"Desculpa o incômodo, Gwen, vou passar um tempo na sua casa, estou mandando essa mensagem para você não estranhar quando me vir aqui."
— Estranho — Becky falou.
— Muito estranho — Ross terminou.
— Bom, nesse caso eu vou dar uma passada no clube antes de ir para a casa para avisar as coisas ao meu treinador — S disse se levantando — acho que o treinador vai entender, mas ainda assim é bom ir lá e dizer.
— Perfeito — Thales começou —, então espero todos dispostos amanhã, vou dar um jeito de manter uma ligação com todos os grupos.
— Agora a gente pega esse assassino — Becky disse, esperançosa.
***
Assim como S supôs, não precisou falar muita coisa para o treinador entender o seu lado e ainda acrescentou que era bom se esforçar, mas que era melhor passar primeiro no psicólogo antes de se entregar em um treino. Já tinha visto alguns alunos se entregando ao esporte como forma de superar dores e tinha presenciado a queda deles anos depois, não queria correr esse risco de novo e pediu a compreensão do garoto.
Talvez fosse bom conversar com a senhorita May novamente assim como tivera feito no dia anterior, era uma das psicólogas que estavam atendendo na escola graças a todo aquele estresse, mas sinceramente hoje só queria chegar em casa e dormir, quem sabe estudar uma matéria da escola que se sentia defasado e, olhar umas fotos antigas, de quando era feliz e não sabia, que podia ir para a cafeteria com todos após um bom tempo em seu clube, e eles ririam alegres ou falariam das coisas que aconteceu em seu dia um pouco mais tristes, porém, felizes com a companhia um do outro.
Contudo, de forma alguma podia se dar ao luxo de perder as rédeas dos seus pensamentos, sabia que fazer um acompanhamento psicológico intenso seria bem importante daqui em diante.
Owen ficaria bravo com ele se não conseguisse solucionar o caso dos assassinatos e, ainda tinha aquelas fotos, não é? Será que ele tinha descoberto alguma coisa antes de partir?
Iria aproveitar que estava com a mão na massa e iria fundo nesse assunto também, pela honra dos que já se foram.
Como ainda faltava um tempo até a sua convocação na delegacia S resolveu voltar para casa, e no caminho mandou uma mensagem para Lucca, perguntando se ele estava livre no final de semana e queria fazer alguma coisa, mas o moço não o tinha respondido, então achou por bem mandar mais mensagens ao decorrer do dia.
Queria saber o que fazer para uma boa investigação, mas a verdade é que não fazia ideia de como seguir alguém, afinal por algum motivo, sentia que era bem mais difícil do que parecia.
E se ele não sair de casa no sábado? Pensou vou ter de fazer uma visita?
Dá-se o tempo aos que precisam de tempo. Isso ele pensaria mais tarde, por hora guardaria isso para a noite, se ele não o respondesse.
Chegou em casa e, quando tocou na maçaneta sentiu algo no mínimo... peculiar. A porta estava apenas fechada, mas não trancada.
— Pai? — O garoto gritou quando chegou, mas ainda não estava na hora dele, nem de sua mãe estar em casa devido aos seus serviços, então sem resposta. Seu irmão caçula também estava na escola. Àquela hora não deveria ter ninguém em casa.
Soltou um riso de nervoso imaginando que algum deles tinha saído e deixado a mesma aberta pela pressa, e logo trancou a casa. Era melhor não dar ouvidos para as suas paranoias, só... seria bom se continuasse alerta para qualquer coisa diferente.
E quando menos esperou, sentiu um objeto pontiagudo acertar o lado de sua barriga, fazendo o menino urrar de dor.
Mais uma facada, outra, e ele caiu no chão.
Não sabia de onde vinha, nem mesmo o que havia acontecido, mas se virou para tentar entender e pôde ver nas mãos de alguém um canivete ensanguentado, assim como as mãos de quem segurava.
— Hey S, surpreso em me ver? — riu ao observar os olhos aflitos de sua vítima — vou te contar em, essa visita isso não estava no roteiro.
— F-fique longe de mim! — Salvatore gritou, segurando seu corte e tentando sair dali, se arrastando para frente.
— Você deveria estar no carro aquela noite — novamente soltou uma risada, esfaqueando as costas daquele moço para fazê-lo parar de andar. Tinha sentido algo meio duro, talvez tivesse acertado perfeitamente entre os ossos de sua coluna vertebral, assim como Paige havia lhe ensinado ano anterior — eu estou falando com você — Vociferou —prestar atenção!
— Vai pro inferno — o ruivo disse, sentindo o seu corpo desfalecer. Na hora da última facada além da dor, sentiu um choque forte daquele ponto em diante, e suas pernas... parecia que não sentia mais as suas pernas, nem mais nada que vinha dali para baixo.
— Ah, caralho S! — mais uma vez começou a dizer — você se cagou? Sério? Olha essa porra toda no chão! Você não tem orgulho próprio? Eu tenho mais um encontro hoje, se eu chegar lá fedendo eu te trago a vida para te matar de novo! Você está fodendo a porra do meu roteiro de novo, otário! — e uma, duas, mais três facadas naquele garoto.
— Eles... vão te pegar, eu tenho certeza que vão, e-eu... confio... neles... — estas foram as últimas palavras que S conseguiu dizer antes de seu derradeiro suspiro, e suas pupilas dilatarem com a lareira em brasa de sua casa sendo a visão que ficara eternizada em sua retina como a última coisa que tivera sido vista por ele em vida.
— Sinceramente S — sorriu — duvido, mas sabe de uma coisa? Seu corpo vai ser bem útil para o que vem a seguir, acho que todos vão gostar do meu novo joguinho.
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