Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

São José dos Ausentes, 01 de janeiro de 2017

Ana

A viatura policial era imponente e estava estacionada em frente a pousada. Frank não pode conter-se em comentar quanto dinheiro a polícia da região parecia ter. Achamos positivo haver investimento na polícia local.

Uma moça de óculos retangulares de aro escuro se apresentou como Fernanda, junto com uma outra moça de cabelos cacheado e cheios de mechas claras que ficou calada o tempo todo depois de ter se apresentado como Mônica. Elas estavam ali com a perícia para examinar o local. E o crânio era sim, com segurança, humano.

Senti um pequeno abalo pelo corpo. Um crânio humano! Me pareceu, ao mesmo tempo, irreal e improvável, mas não posso negar que senti uma ansiedade estranha. Comecei a fantasiar histórias que pudesse esclarecer aquele objeto. Objeto não é uma boa palavra. Mas o ponto é que a ideia de ligar este crânio a um ser humano que viveu em algum momento, talvez em um passado distante, não me parecia real.
Frank me olhava impaciente esperando que eu decidisse algo ao invés de ficar parada ali olhando o burburinho de olhos arregalados e distantes. Eu conheço Frank. Noto quando seus olhos ficam azuis e imperceptivelmente mais estreitos. Sei que está impaciente. Ninguém percebe, mas eu sei.

Não fomos acompanhar a operação. Frank jamais teria aceitado pois ele aprendeu cedo a não se aproximar de local de acidentes ou investigações. Um bando de curiosos atrapalha e em alemão existe até uma palavra para isto: Gaffer. Não creio haver tradução para isto em português
Resolvemos explorar a região de carro, e deixar a equipe de policiais fazer seu trabalho. Nosso buldogue entrou no carro sorridente sem sequer imaginar que minha concentração estava longe. Meu pensamento estava lá, com a polícia, especulando quem seria o morto.

A história não tinha a ver comigo, exceto pelo fato de eu ter passado a ser uma testemunha, se é que pode-se considerar desta forma. Já me sentia com certo direito de saber de quem era aquele crânio que se colocou no meu caminho.

Evitei falar no assunto. Depois de quatro anos de casada sei o que ele vai receber bem e o que não. Consigo antecipar o que vai dizer. E nem sempre esta antecipação me agrada. É a quantidade destas coisas que não te agradam que decide se um relacionamento perdura ou desmancha, mas eu antecipava muito mais coisas generosas de Frank que estas raras antecipações de crítica. Assim podia suportá-las sem menor esforço.

Abri a janela do carro para sentir o cheiro da terra, sentir o vento no rosto, e tentei aproveitar o passeio. O sol tornava tudo colorido, o campo que eu tanto gosto, ou melhor, acho que é o que mais gosto. Meu campo, verde, plano e pontilhado de pedras.

Quando voltamos à pousada, depois de julgar que ficamos fora o tempo suficiente para não atrapalhar o trabalho dos policiais, uma policial jovem de cabelos castanhos, presos em um rabo de cavalo, me aguardava. Ela estava sentada e parecia bem à vontade na pousada, como se fosse um lugar que ela conhecesse desde sempre. Talvez as pessoas desta região tenham sempre este sentimento quando estão nas redondezas. Me sinto também assim aqui, diferente de Porto Alegre ou outros lugares onde já fui. E isto é realmente o que não me atrai na região.
Reconheci ser a que se apresentara como Fernanda em função dos óculos de grau de aro escuro. Me pediu com cortesia e ar formal que eu deixasse meu endereço, caso precisassem falar comigo de novo. A caneta pareceu estranha na minha mão. Nunca tinha entregado meu endereço a uma policial antes. Logo após ela se foi, entrando na viatura com a tranquilidade de quem entra em seu próprio carro. 

Estávamos nos preparando para retornar a Porto Alegre e à vida normal. O fim do mundo parecia mais estranho para mim agora com seus mortos. Assassinato era algo que eu não havia relacionado ao local, até aquele dia. Mas quem disse que alguém havia sido assassinado? Mas quem morre de maneira natural, em geral, é enterrado, concorda? Era definitivamente algo inesperado.

Frank dirigiu com o cuidado de sempre, seguindo todas as regras, cuidando de mim e dos outros que nos cruzavam na estrada. Frank me dá segurança, estar com ele é como estar em uma banheira de água morna cheia de espuma, com todos os músculos relaxados e sem nenhum problema. Ele fazia a vida parecer absurdamente simples e isto me trazia uma tranquilidade sem preço.

No momento em que o celular voltou a ter sinal liguei para a minha sócia para ver se estava tudo bem com o café, sentindo um pouco de remorso de tê-la deixado sozinha, mesmo que seja o combinado entre nós duas para os feriados. Resolvi não comentar sobre o crânio para contar depois ao vivo e foquei nas conversas sobre o que comprar para a semana e sobre as férias de uma funcionária. Isto me trouxe rapidamente de volta ao mundo. O fim do mundo ficara para trás. E junto com ele o remorso de ter vindo até ali e ter sequer passado na casa dos meus pais. Com cada quilômetro a sensação de peso na consciência diminuía. Minha mãe estranhava cada vez menos também que eu tomasse as minhas próprias decisões e as repreensões e mágoas foram virando resignação. Não havia outra Ana disponível, ficou claro. Foi um processo longo e árduo, mas que nós duas já trilhávamos com mais segurança a cada dia que passava.

Sem aviso, depois de alguns quilômetros deixados para trás perguntei a Frank o que ele achava que aquele esqueleto representava. Ele hesitou, demorou alguns segundos para responder o que não era comum a Frank que, em geral, é direto. Fiquei por alguns segundos em dúvida se avaliava o que responder ou estava concentrado na estrada. E a resposta dele, me espantou ainda mais que o tempo de espera. Com um olhar divertido sugeriu que alguma esposa assassinou algum marido agricultor infiel da região ou algum marido pedófilo. O encarei séria. Não consegui brincar com uma morte que não tinha história.

    ─    E ninguém teria dado queixa de seu desaparecimento? Ninguém sentiu falta dele? − retruquei com uma leve irritação na voz.

   ─ Com certeza ─ disse Frank e acrescentou cínico ─  algumas pessoas devem ter ficado aliviadas e a polícia deve ter procurado no faz de conta, ou como vocês dizem, "para inglês ver", empáticos com a história da mulher pois o cara batia nela.

Quase ri da forma banal com que ele descrevia a história recém inventada, mas que poderia realmente ser verdade. O jornal estava sempre cheio deste tipo de crime, linhas e linhas impressas ou em forma de pixel na internet, notícias que eu ignorava com uma disciplina feroz. Frank estranhou quando veio para o Brasil como estas notícias eram veiculadas com grande frequência e várias com o nome das pessoas publicado, desde que elas não fossem menores de idade. Isto sequer havia me chamado a atenção. Tipo, sempre foi assim?  

─ Como no Brasil não há testes de DNA ou grande experiência forense nas cidades pequenas ─ comentei ─ provavelmente nunca saberemos mesmo a quem pertenceu aquele crânio. 

Lembrei das séries de Netflix que eu gosto de assistir ou dos capitulos da série Forensic Files, que assisti no youtube. Toda a tecnologia que existia estava bem distante de São José dos Ausentes, pensei. A ideia de nunca saber a história por trás daquele morto ficou tamborilando nas minhas têmporas como uma pequena dor de cabeça chata.

O infeliz já estava considerado morto há muito tempo e assim continuaria, disse a mim mesma numa tentativa de me convencer que teria que viver com aquela história sem final.  Me vi velhinha contando aos meus netos uma história inventada que me tirasse o fantasma de um caso não resolvido. Até parece que não notei que a minha idade de ter filhos está quase expirando.  Mas a realidade seria provavelmente nada espetacular, e sim mais um esqueleto para centenas de desaparecidos como sugeriu a policial.

Chegamos em casa cinco horas depois. O calor insuportável de Porto Alegre nos recepcionou com um apetite cruel.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro