Neste momento o meu lamento é como um antigo pesadelo, onde a casa abandonada está se deteriorando, onde não existem risos, onde não encontra-se a luz, onde não existe ar suficiente, onde a dor mente, onde as asas da águia crescem novamente, onde na redoma de vidro rachaduras aumentam continuamente.

As correntes como poeira se desfaz, a leveza penetra na alma e a saudade torna-se uma amiga querida, de mãos dadas com as belas lembranças. Os resquícios do inverno são tomados pelos raios solares selvagens e a neve congelante torna-se aos poucos uma água cristalina demais para conseguir enxergar.

O corpo cansado e abatido não precisa mais correr, os olhos entristecidos não precisam mais chorar. No espelho o reflexo não continua o mesmo, ele haveria mudado, ou as fases difíceis teriam transformado aquele erro de fábrica numa bela pintura?

Ninguém nunca poderia conseguir explicar em palavras as coisas que se expuseram. Das pétalas murchas nasceram lindas flores, e não seria necessário mais correr nem se lamentar.

Nas árvores grandes, nos galhos secos, a relva e a grama molhada pelo orvalho haviam se transfigurado. Nada era como antes. Crescia internamente uma alegria crescente, um desejo proposital de que as amendoeiras já haviam florescido.

Tudo estava sendo regenerado, contemplado por uma nova configuração. No lugar do sofrimento contínuo se ouviam cânticos, e no lugar de uma casa vazia estava uma linda mansão totalmente transformada.

Agora, era o novo tempo. Uma nova estação se iniciava. A chuva do céu trazia consigo aquela nova sensação no peito ansioso. A espera tinha valido a pena. O coração estava totalmente refeito, apesar de cicatrizes ainda estarem presentes no peito.

Mas todo o mal presságio havia acabado. Tudo estava tomando formas de felicidade, formatos de sonhos, e onde a esperança tocava, novas coisas surgiam.

Ali se findava um difícil ciclo. O casulo estava sendo rasgado, e aos poucos a borboleta saia para bailar pelos bosques, tão bela era a liberdade.

Ela voava com graça e beleza, entre as gotículas de chuva, entre os raios de sol, entre um rabisco de um pincel e frases soltas escritas em um papel.

Ali se findava um ciclo para começar uma nova estória. Tudo estava em harmonia, a satisfação e o prazer de saber que a liberdade tão sonhada havia se concretizado.

Não tinha mais nada impedindo ou segurando.

Ali era introduzido uma nova perspectiva, uma nova visão, uma nova vida. Por causa da emocionante poesia que existe entre as contrariedades que a vida faz. Onde a ausência chegou ao fim, o sentimento de pertencimento era muito maior.

A mão tremida não aguentava tanta emoção, os olhos não conseguiam segurar essas novas lágrimas que desciam pela face mudada.

Agora tudo se fez novo.
A ausência um fantasma antigo,
E com o pertencimento um renovo.

Alguns dizem que os homens buscam a felicidade. Eu diria que eles procuram pertencer. E quando encontram, nada mais importa.

Adeus ausência.
Finalmente me encontrei,
Num lugar que eu sei,
Eu pertenço.
E a presença do pertencimento faz com que esses versos cheguem ao fim.

Pertencer,
Permanecer,
Fim.