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Capítulo 8

             Duas semanas depois, ao chegar do seu turno no hospital, Tessa deparou-se com uma carta colocada na sua caixa dos correios. Tinha dito aos Cullen que precisava regressar para Nova Iorque para trabalhar mas claro que não era bem assim; ela regressara sim ao hospital mas a pouquíssimos quilómetros de distância da sua família. Não que alguém tivesse descoberto isso. Só três pessoas precisavam saber: os pais, Carlisle e Esme... E Jacob Black, o seu amigo.

Pousou a carta na pequena mesa que tinha no meio da sala. Sabia exatamente o que era mas deixou-se iludir que podia ser apenas uma carta de Alice, um devaneio que a irmã tenha tido de fazer algo "à moda antiga". Podia ser qualquer outra coisa... menos o que tinha a certeza que era.

Deslizou o papel branco do envelope lacrado, sentindo o perfume a lavanda impregnar-lhe os sentidos. Não pode deixar de sorrir perante o atrevimento da irmã. Alice colocara aquele perfume especificamente para si, já que a lavanda tem propriedades calmantes. Tessa suspirou, agradecendo mentalmente a Alice por ter esse cuidado consigo. A vidente provavelmente vira como ela ficaria com aquilo e decidira mostrar-lhe que entendia, que estava lá para ela, o perfume um gesto atrevido e carinhoso ao mesmo tempo.

O convite para o casamento de Edward era simples mas elegante. Com certeza fora Alice que tratara dos convites e provavelmente estava a tratar de todo o casamento. Bella era uma jovem simples e nada adepta a todas aquelas formalidades, então Tessa não esperava que ela fosse a autora de tal requinte. As letras douradas pareciam mover-se na folha acetinada, como se brincassem com a sua mente, fazendo pouco dela. Os olhos dourados da Cullen eram incapazes de se desviar do único nome que lhe interessava, as pontas dos dedos acariciando o relevo onde as palavras estavam.

Edward Cullen.

Dentro do envelope, havia algo mais. Uma folha de papel escapou-se em direção ao chão, apanhado a meio ar pelo movimento ágil e rápido da vampira. A letra de Edward deixou a boca de Tessa seca, as palavras espalhando-se pelo papel numa enchente de tinta.

Sentou-se pesadamente no sofá, lendo com angústia as palavras do ex-companheiro. Na carta, Edward pedia-lhe novamente desculpa por todo o sofrimento que lhe estava a causar, ciente de que séculos de amor e companheirismo tinham sido deitados fora quando Bella Swan aparecera no seu campo de visão. A vida de Tessa fora completamente virada do avesso, tal como a dos restantes Cullen, se fôssemos ser justos. Edward fora sempre a sua âncora, as horas que passavam a tocar piano, a ler, a viajar o mundo...

"... Serei egoísta por não te querer perder? Por te querer por perto, mesmo sabendo quão doloroso isto é para ti? Temos sido tudo um para o outro estes anos... És a minha melhor amiga, Tess, sempre serás. E eu amo-te, tu sabes disso. Não te quero perder. És demasiado importante para mim para te perder."

As lágrimas escorriam pelo rosto de Tessa. Recordou-se do que dissera a Jacob poucos dias antes: Edward amava-a. Claro que sim. Ele amava-a como Bella amava Jacob... Apenas não era o suficiente.

"... Devo-te tudo. Esta vida imortal, esta chance de amar incondicionalmente, de saber amar... Tu ensinaste-me isso. Devo-te tudo, Tess."

Quando terminou de ler, Tessa permaneceu imóvel, respirando calmamente. Parecia que um peso lhe tinha saído dos ombros. As palavras de Edward ressoavam na sua mente e Tessa soube que cada uma delas era sentida, cada uma delas não fora pensada ou raciocinada, o vampiro apenas despejara tudo o que sentia naquele papel. Ela sentiu-se leve pela primeira vez desde que terminara o seu relacionamento com Edward.

            Tessa queria o que Rosalie e Emmett tinham. O que Jasper e Alice tinham. O que Carlisle e Esme tinham. Queria uma ligação de almas, um amor para a eternidade, olhar para a pessoa ao seu lado e saber que ela nunca a abandonaria. Um companheiro, um amigo, um amor que nunca parasse de crescer.

            Engoliu em seco, chorando mais um pouco.

             Queria que o Edward e Bella tinham.

             O odor a pêlo molhado tirou-a do seu torpor, inebriando-lhe os sentidos e distraindo-a ao ponto das lágrimas secarem quase que de imediato. O som da porta a abrir fê-la dar um salto, mostrando a sua capacidade de continuar a assustar-se. Jacob Black irrompeu pela sua casa adentro, tresandando a raiva e desespero, os olhos esgazeados ao encará-la. Tessa, por sua vez, franziu o sobrolho, mantendo a calma ao dizer:

- Acho que vou tirar a porta da minha casa. Ninguém a usa, entram por aqui adentro sem demoras. - fez uma pausa, observando-o - Ia hoje ver-te, o Carlisle disse-me que em princípio já estavas completamente recuperado... Pelo que vejo, confirmo.

           Jacob ignorou-a e Tessa não pode deixar de o olhar de cima a baixo. A visão do Black sem T-shirt deixava qualquer pessoa desnorteada, o abdómen definido e a pele caramelizada fazendo Tessa pestanejar, usando toda a sua educação e etiqueta para se recompor e não ficar a encará-lo descaradamente. Ele era muito bonito, com as feições típicas de um Quilleute e o corpo definido combinados com os olhos gentis e o sorriso que inevitavelmente lhe aflorava aos lábios quando estava com Tessa.

             O lobisomem apontou para o papel acetinado pousado na mesa à frente dela, onde as letras douradas resplandeciam contra o branco do convite. Quando falou, a voz de Jacob saíra-lhe rouca, como se tivesse gritado sem parar por um bom tempo:

- Eu não posso permitir que isto aconteça.

- Não é uma escolha tua, Jake. - respondeu Tessa, com suavidade.

- Ela não pode fazer isto. - Jacob abanou a cabeça - Ele vai transformá-la! Só estão à espera de casar para isso!

- Foi ela que decidiu isso. Não há nada que possas fazer para mudar isso. - Tessa pôs-se de pé, aproximando-se com cautela do lobisomem enfurecido - Já fizeste tudo o que podias, Jacob. Lembra-te do que te disse: amar por vezes significa deixar ir. - pousou a mão suavemente no seu ombro, vendo-o relaxar ligeiramente ao seu toque - Tens de deixar a Bella ir.

- E-Eu não consigo. Ela está a abdicar da humanidade dela por ele. - Jacob rangeu os dentes, cheio de raiva -  E depois? E se ele deixar de a amar? Ela abdica de tudo por ele e ele depois abandona-a...

- Edward não vai fazer isso.

- Ele já o fez uma vez, não já?

          A Cullen retraiu-se, as palavras atingindo-a em cheio. Ao ver a sua expressão alterar-se, Jacob apercebeu-se do que dissera, arregalando os olhos e abanando a cabeça, gaguejando:

- D-Desculpa, sabes que não queria...

- Está tudo bem. - Tessa mordeu o lábio inferior, desviando os olhos entristecidos dele - Não é a mesma coisa. Edward está apaixonado por ela e... Ele nunca esteve apaixonado por mim. É algo semelhante ao que tu me explicaste do imprinting. - fez uma pausa, gesticulando com as mãos ao falar - Nós escolhemos um parceiro para toda a vida. Quando amamos, é para sempre mas apenas quando é aquela pessoa. A tal, como se costuma dizer. Eu não... Eu não era a companheira do Ed. - a vampira engoliu em seco - É doloroso mas é verdade.

- Ele é o teu? - questionou Jacob, encarando-a.

             Tessa suspirou.

- Não sei... - respondeu, num sussurro.

             Ficaram momentaneamente em silêncio, cada um remoendo os seus próprios sentimentos, imóveis. Jacob respirou fundo, sentindo-se mais calmo ao pé de Tessa. Abanou a cabeça, soltando uma risada sarcástica ao dizer:

- Ela pediu-me para ser o padrinho. A Bella. Diz que sou o melhor amigo dela e que significava muito ter-me lá.

            A Cullen riu, mostrando-lhes a carta que ainda segurava nas mãos.

- O Edward fez o mesmo. Pediu-me para ser madrinha.

- Não sei se isto é cruel da parte deles ou ingénuo.

- Ambas as opções?

            Os dois riram, cúmplices. Jacob olhou para a vampira à sua frente, hesitante. Ela inclinou a cabeça, perguntando:

- O que foi?

- Eu não vou ficar aqui. Nem sei se vou ao casamento, não consigo sequer raciocinar direito. - disse o lobisomem, passando o peso de um lado para o outro enquanto falava - Quero fugir. Quero correr e nunca mais parar.

- Nunca mais? Mas eu sentiria a tua falta. - brincou Tessa, fazendo-o sorrir.

- É por isso que quero que venhas comigo.

            Tessa pestanejou. Pousou o papel que tinha em mãos ao lado do convite, dirigindo-se à sua cozinha para retirar um copo e enchê-lo de água, regressando à sala para lhe entregar. Sem pensar muito no assunto, Jacob bebeu-o de um trago, a sua atenção voltada toda para ela.

- Eu não estou a entender. - disse a vampira, com toda a calma do mundo.

- Gostava de ter companhia. - explicou Jacob, sem acreditar que aquelas palavras estavam a ser dirigidas a uma vampira - Tenho receio de ficar muito tempo em forma de lobo e... Não regressar. Se tiver alguém comigo, talvez isso não aconteça. Terei alguém para me relembrar da minha humanidade... - o lobisomem fez uma careta, soltando uma risada fraca - Estou a pedir a uma vampira para me ajudar com humanidade.

- Um novo e melhorado Jacob, sem preconceito com vampiros. Gosto disso. - retorquiu Tessa, numa provocação divertida - Queres que vá contigo? Quanto tempo? Eu trabalho...

- Algumas semanas. Eu... - Jacob baixou a voz - Eu não quero ficar sozinho enquanto sei o que... O que vai acontecer. Com Bella.

            Ele estendeu-lhe o copo vazio e ela segurou-o, pensativa. Entendia a necessidade de Jacob de fugir. Era a mesma que sentia quando a dor era demasiado insuportável e ela corria para a praia, afogando as suas mágoas no mar. De certa forma, sentia-se honrada por ele estar a pedir isso precisamente a ela mas as suas inseguranças encurralaram-na, deixando-a duvidosa. Não querendo ceder à ansiedade dos seus próprios pensamentos, decidiu encará-lo e questioná-lo, sincera:

- Queres a minha companhia porque realmente gostas de estar comigo ou porque te percebo melhor do que ninguém? Porque partilho a tua dor? É por interesse, para teu próprio benefício ou por amizade? Desculpa mas eu não... Não quero ser a bengala de ninguém. - engoliu em seco, murmurando - Não de novo.

            Jacob encarou-a com uma intensidade inesperada, fazendo o estômago de Tessa contrair-se, confundindo-a. Como surgira, a intensidade evaporara-se, substituída por uma expressão séria ao dizer:

- Sinceramente? Quando vim a correr para aqui, pensei que tu irias entender-me. Que serias a pessoa ideal para desabafar e me acompanhar porque partilhamos a mesma dor. - fez uma pausa, dando um passo na sua direção com determinação - Mas não é o que sinto. Gosto de estar contigo. Gosto da tua companhia, és uma amiga como não há muitas e realmente... Realmente... - rangeu os dentes - Gosto de ti. És boa pessoa, Tess.

          A imortal esboçou um sorriso luminoso, sentindo-se aquecida pelas palavras do rapaz. Era bom sentir-se assim: apreciada, querida, principalmente vindo de alguém que detestava vampiros. A amizade de Jacob tornara-se algo muito importante para ela, um ponto luminoso no meio do nevoeiro que se tornara a sua vida. Estendeu a mão, observando-o apertá-la com hesitação, os olhos escuros questionando-a em silêncio para saber o que aquilo significava. Tessa encolheu os ombros, inocente.

- Vamos correr com os lobos, Jacob Black.

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