Capítulo 22
- E se eles não gostarem de mim, tia?
A pergunta inocente de Renesmee ecoou aos ouvidos de Tessa, fazendo-a encarar a sobrinha com um olhar terno. Ao seu lado, Jacob resmungou baixinho, remexendo-se desconfortavelmente no assento. A inglesa soltou uma breve risada ao ver os olhos dele faiscarem de raiva, a proteção de Jacob para com a criança surpreendendo-a sempre. Ambos estavam muito ligados a Renesmee e nenhum podia conceber que alguém pudesse não gostar da menina.
- Eles vão adorar-te. - respondeu, com firmeza, pousando a mão sobre as dela, que puxavam a bainha da saia num gesto nervoso - São boas pessoas, Nessie. Confia em mim.
- Chegamos. - anunciou Bella, parando o carro, os olhos dourados fitando os de Tessa pelo espelho retrovisor.
A mais velha soltou um suspiro, fazendo uma careta na direção de Edward, que encolheu os ombros, esboçando um sorriso fraco. Claro que era ela quem iria dar a cara e enfrentar a situação. Como dissera Alice, a Cullen dos cabelos de bronze tinha um dom natural com as pessoas.
Com um beijo suave na bochecha de Jacob, saiu do carro, sentindo os pés afundarem na neve fofa assim que os pousou no chão.
Sorriu. Adorava neve, o sol a reluzir a superfície branca e cristalina, a casa construída no meio dos Alasca trazendo-lhe boas memórias. Deu alguns passos na direção da mesma, rindo sozinha ao sentir o gelo molhar-lhe as roupas à medida que afundava os tornozelos na neve.
- Tess!
O grito entusiasmado fê-la sorrir na direção da figura loira que surgira à porta. Num piscar de olhos, Tanya Denali rodeou-lhe o pescoço com os braços, apertando-a contra si. Ao seu lado, Kate Denali cruzara os braços, sorrindo brevemente para a prima, menos afetuosa que a irmã mas nem por isso menos feliz por ver a Cullen.
A expressão no rosto de Tanya iluminou-se quando se afastou e a fitou. Tessa sempre fora a sua prima preferida por uma razão simples: era a pessoa mais honesta que Tanya conhecera. Para uma mulher cujo Dom significava saber quando diziam a verdade, ter alguém com quem nunca precisava se preocupar com a possibilidade de mentir transmitia-lhe segurança.
Kate, por outro lado, tivera dificuldade em lidar com a inglesa. Tessa era demasiado afável e caridosa para alguém que aprendera a manter distância do mundo, tanto pela sua personalidade como pelo seu Dom. No entanto, depressa se rendeu aos encantos de Tessa. O respeito pelo tempo dela fora crucial e o Dom da Cullen sendo tão ou mais perigoso que a eletricidade no corpo de Kate deixando a Denali mais confortável com a sua presença.
Um casal juntou-se-lhes, o sorriso de Tessa aumentando ao abraçar o homem. Eleazar afagou-lhe os cabelos, sentindo a gratidão eterna que ela sempre lhe dirigia. Fora Eleazar que a ajudara a controlar o seu Dom da melhor forma. As suas emoções eram intensas demais para um Dom tão perigoso e o vampiro ajudara-a, reconhecendo a sua habilidade através do seu próprio Dom e treinando-a, com uma calma e paciência que Tessa apreciava. Quando se afastaram, foi a vez de Carmen abraçar a inglesa com um sorriso contido no rosto, mais tímida que os restantes.
- Está tudo bem? - perguntou Kate, olhando para o carro de onde Tessa viera - Aquele é o Edward? E a Bella?
- Sim. - respondeu Tessa, demoradamente - Viemos porque precisamos da vossa ajuda.
- O que podemos fazer por vocês? - perguntou Tanya de imediato, sempre disposta a ajudar a prima.
- É uma situação delicada... e precisamos que mantenham a mente aberta.
A Cullen lançou a Kate um olhar significativo, que cruzou os braços, fazendo uma careta.
- Vou tentar.
- Conta-nos. - pediu Eleazar, com cautela.
A vampira dos cabelos de bronze assentiu, virando-se na direção do carro e acenando com a mão, chamando por quem a acompanhara. O primeiro a sair foi Edward, a sua expressão firme e cautelosa. Depois, foi a vez de Bella, que se dirigiu a passos largos à porta detrás do carro, o rosto sem mostrar qualquer emoção. Os Denali pareceram surpreendidos ao verem a antiga Swan agora transformada. No entanto, a surpresa aumentou ainda mais quando Jacob saiu do carro, principalmente quando os seus olhos escuros procuraram os de Tessa, questionando-a em silêncio se ela estava bem. A vampira assentiu, sorrindo brevemente para o tranquilizar, fazendo Kate arregalar os olhos.
- Um lobisomem? - questionou a loira, sorrindo com descrença - E jeitoso. Parabéns, prima.
Mas a atmosfera mudou completamente quando Renesmee saiu do carro.
De mão dada com Bella, a criança caminhava lentamente na neve, os olhos iguais aos da sua mãe humana fixos nos desconhecidos. Edward deu-lhe a outra mão, incentivando-a. Jacob permaneceu um pouco atrás, as mãos nos bolsos numa falsa atitude descontraída, o corpo tenso e pronto para se transformar caso houvesse um ataque por parte dos vampiros que não conhecia.
Depois, as palavras de Edward, firmes e cautelosas ao dizer:
- Esta é a Renesmee... a nossa filha.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Bella e Edward soltaram a mão de Renesmee e afastaram-se, para que os outros pudessem vê-la com atenção. Kate soprou como um gato, os braços de Eleazar segurando-a de imediato para a impedir de atacar e Tanya arregalou os olhos, sem conseguir acreditar.
- Uma criança imortal? - questionou, horrorizada - Como puderem? E trazê-la aqui? Isso é um crime!
Uma linha de chamas irrompeu em redor da criança, marcando a posição da filha mais velha de Carlisle. Os olhos dourados de Tessa fitaram com firmeza cada um dos membros do Clã Denali, o fogo usado não como uma ameaça ou um desafio, mas como uma forma de dizer sem palavras que a filha de Edward era sua protegida.
- Renesmee não é uma criança imortal. - a voz da imortal soou firme mas gentil, a mão direita rodando sobre si mesma ao ordenar que o fogo se extinguisse - Podes ver o sangue nas suas bochechas. Fui eu que a ajudei a trazer ao mundo. Estava lá quando nasceu. É filha de Bella e Edward enquanto Bella era humana.
- Não é possível. - disse Kate, debatendo-se nos braços de Eleazar.
- Eu sei. Mas é a verdade. E precisamos da vossa ajuda.
Tessa fez uma pausa, o pesar abatendo-se sobre ela, as chamas apagando-se lentamente à medida que as emoções se desdobravam, mudando.
- A Irina juntou-se aos Volturi. - as irmãs Denali arregalaram os olhos, começando a abanar a cabeça com descrença - Ela viu Renesmee a brincar na neve com Bella e tirou conclusões precipitadas. Tendo em conta a vossa história com crianças imortais, foi a correr contar a Aro. Eu tentei impedi-la... - baixou o rosto, entristecida - Mas não cheguei a tempo. Lamento.
- Por causa dela, estamos em perigo. - disse Bella, olhando para a filha - Eles vêm aí. A Guarda inteira.
- Precisamos de testemunhas que comprovem que Renesmee é nossa filha. - disse Edward, dando um passo em frente- Por favor... vejam por vocês mesmos. Ela não é uma criança imortal.
Os Denali trocaram olhares apreensivos. Eleazar tinha uma expressão séria no rosto, ciente da gravidade da situação. Ele estivera na Guarda dos Volturi e sabia o que isso acarretava. Os Cullen não sobreviveriam se não tivessem oportunidade para explicar o nascimento de Renesmee.
Tanya foi a primeira a dar um passo em frente, os olhos dourados fixos em Tessa, observando-a, procurando pela mentira no rosto mais sincero que conhecia. Por fim, assentiu, desviando a cara para encarar Renesmee, aproximando-se dela com cautela.
- Tanya. - chamou Kate, apreensiva.
- Olá. - cumprimentou a loira, agachando-se junto da criança - O meu nome é Tanya.
Os grandes olhos castanhos de Renesmee fitaram Bella, procurando a sua aprovação. A mais recente Cullen assentiu, incentivando-a, esboçando um sorriso pequeno ao ver a filha encarar Tanya com seriedade.
Gentilmente, a menina estendeu a mão, tocando na bochecha da Denali.
- Oh. - deixou escapar, encantada - Tens um Dom. Um Dom maravilhoso.
- Renesmee é capaz de mostrar imagens e sensações através do toque. - explicou Edward, vendo Kate franzir o sobrolho, preocupada com a irmã - Neste momento, está a mostrar a Tanya as suas memórias desde que nasceu.
- É verdade. - disse Tanya, virando-se para a irmã com espanto - Ela é filha da Bella enquanto ainda era humana. É um milagre.
A tensão desapareceu e um por um os Denali aproximaram-se da criança. Um por um, todos ficaram rendidos a Renesmee, cujo rosto se tornava mais sorridente à medida que se apercebia que os pais estavam orgulhosos dela.
De braços cruzados, a inglesa sentiu Edward aproximar-se dela.
- Eu disse-te que iria correr bem. - sussurrou Tessa, sorridente, dando uma cotovelada ao ex-namorado.
Edward olhou para ela, abanando a cabeça.
- Sim... mas na próxima vez, por favor não incendeies a minha filha, está bem?
- Ei! - exclamou a morena, ultrajada - Eu não pus a Nessie em perigo!
- Fogo em redor de uma criança? A sério?
- Era para ser mais dramático! Funcionou, não funcionou?
O vampiro sorriu.
- Sim. Obrigado, Tess.
***
Bella e Edward conversavam com Eleazar, Kate e Carmen, explicando toda a situação. Enquanto isso, Jacob brincava com Renesmee na neve, construindo silenciosamente um boneco de neve, o sorriso pequeno da menina mostrando o seu contentamento. Sentada no chão do alpendre a apreciar o por do sol no horizonte, Tessa não pode deixar de sorrir, satisfeita com a aceitação dos Denali a uma criança... diferente.
- Sempre gostaste muito de estar aqui.
- Eu gosto da neve. É bela.
Tanya aproximara-se, sentando-se ao seu lado. A Cullen ergueu a sobrancelha, pronta para questionar porque não estava ela a ouvir Bella e Edward como os restantes mas sabia a resposta. A Denali era capaz de sentir a mentira em qualquer criatura e certamente sentira a verdade em Tessa quando ela falara. Leal até aos ossos, não precisara de mais nada para ser convencida a embarcar no que quer que os Cullen estivessem a planear.
Para além disso, parecia curiosa.
- Mudaste. - disse Tanya, os olhos analisando o rosto da prima com atenção - De muitas maneiras.
Tessa assentiu, a expressão tornando-se mais clara ao ver Jacob piscar-lhe o olho, numa tentativa de a fazer descontrair mesmo à distância.
- Cresci. - respondeu, com um sorriso sincero - Quem diria que uma imortal poderia continuar a crescer... eternamente?
- Como o fizeste? - perguntou Tanya, com genuína curiosidade - Eu conheço-te. Sofreste muito com a separação, eu vi a tua dor durante o casamento deles... E agora estás aqui, a dar o corpo às balas pela filha deles, com um amante lobisomem ainda por cima. - fez uma pausa, soltando uma risada - Sempre foste muito firme nas tuas decisões e nunca gostaste de seguir as tradições.
- Ser inimigo dos lobisomens não era uma tradição. Era idiotice. - Tessa encolheu os ombros - Os corações bons estão por toda a parte, em diferentes criaturas, vivas ou mortas como nós. Jacob tem um coração mais bondoso que conheci em alguém tão jovem. Esteve lá para mim quando mais precisei e tem sido o meu apoio. Foi assim que consegui. - disse, sorrindo - Segui em frente.
- E o tempo?
Era a primeira vez que alguém lhe fazia aquela questão em voz alta. Já notara esse receio na sua família: na forma como Esme a incentivava a passar mais momentos com Jacob, no olhar atento de Jasper às suas emoções, na maneira como Rosalie lhe perguntava se gostava mesmo do lobisomem (coisa inconcebível para a loira)... e em Bella. A ex-humana era a mais preocupada. Era fácil ler o seu rosto quando via Tessa e Jacob juntos, os olhos recentemente dourados fitando-os como se se questionasse quanto tempo duraria. Estava preocupada com o seu melhor amigo e Tessa respeitava isso, entendendo os seus receios.
Tessa era imortal. Jacob não era. Os lobisomens viviam muito mais tempo do que os humanos... mas não eternamente.
Nenhum deles falara sobre o assunto e para Tessa nada havia para falar. Jacob sempre fora muito claro o quanto prezava o seu lado humano e a Cullen nunca lhe iria tirar isso. Se ela pudesse ter escolhido, tantos séculos atrás, teria escolhido a humanidade também. Era grata a Carlisle pela oportunidade que ele lhe dera em mantê-la viva depois de querer morrer tão tolamente mas, se assim não fosse, o vampirismo não teria sido a sua escolha.
Talvez fosse por isso que amava Jacob. A vampira que prezava a humanidade tinha agora alguém ao seu lado que a deixava ainda mais viva, como se o seu coração continuasse a bater e o sangue permanecesse a circular livremente pelas suas veias. Ele trazia-lhe essas sensações de volta como Edward nunca fora capaz.
Tessa queria ter tudo com Jacob. Um dia, se houvesse mais dias para eles, iria falar-lhe de casamento. Talvez de filhos. Ela queria isso e sabia que ele também.
Mas o futuro era demasiado incerto para se preocupar com isso. A paixão que sentia era suficiente para a fazer feliz.
- O tempo é um oceano de possibilidades. - foi tudo o que respondeu à prima, sorrindo com afeto.
E levantou-se, indo ao encontro do rapaz que lhe sorria e a chamava.
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