Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 49

7384 Palavras

- É imenso... – Sussurro olhando de um lado ao outro, perdida na extensão do mar e nessa visão que nunca tive.

Meus olhos se perdem toda vez que focam no intenso azul do oceano, no quebrar continuo das ondas bem a nossa frente e a calmaria presente mais ao longe. Por um lado, a praia avança para além do que meus olhos podem ver, ao longe encontro também alguns poucos humanos, estejam eles sentados na areia, ou já dentro da água.

Voltando minha atenção ao outro lado, a visão se repete um pouco, com a diferença de que a praia não avança até sumir de vista, afinal após alguma distância enxergo grandes pedras presentes na areia, e pouco após elas tem uma estrutura que arrisco dizer ser de madeira avançando sobre o mar com alguma construção ali, mas está longe demais para que eu consiga identificar. Atrás dessa estrutura, parece haver a base de um monte.

Quando ainda vivia no paraíso, o máximo que via eram as faixas de areia sendo a divisão entre a terra e o vasto oceano, e algumas vezes alguns humanos estavam presentes. Mas nunca, em nenhuma vez, desci a terra para ter uma visão como essa que tenho agora.

Não acredito que já estive tão próxima de tantas coisas, e ao mesmo tempo, tão distante.

- Eu... Nem sei o que dizer... – As palavras fogem sussurradas de minha boca.

- Vamos lá para a água mamãe? – Mel pergunta animada, me tirando de tantos pensamentos e atraindo meu olhar para si.

Gaguejo um pouco e espio Klauss, sem saber o que dizer a Mel visto minha própria surpresa de estarmos aqui. O anjo apenas sorri, e confirma com a cabeça – Claro Mel, vamos agora.

- Você vem também papai? – Ela olha para Klauss com expectativa presente em sua feição jovem.

- Estarei logo atrás de vocês. – Klauss reponde a menina com bastante leveza, e quase como sendo a resposta que esperava a muito tempo, Mel une suas mãos na minha e me puxa para irmos para a água poucos metros à nossa frente, em passos largos causados pela empolgação mútua entre Mel e eu.

Em cada passo reparo em uma série de coisas diferentes, a primeira é que, conforme avançamos, a areia começa a mudar sua textura e resistência. Ela deixa de ser minúsculos grãos envolvendo meus pés, para se tornarem um chão sólido e úmido, além disso, não me passa despercebido que o calor diminui em cada passo.

Uma nova onda rompe e a água avança até nós, e seu frio quase congelante me invade assim que a água cobre meus pés, me arrancando um grito baixinho junto a um pequeno pulo de susto com tamanho frio e por estar tão distante do que eu esperava.

Mel me olha com uma expressão manhosa e tenho a leve impressão de escutar uma risada sendo segurada a muito custo logo atrás de mim – Mamãe, a água tá fria!

- Muito, muito fria Mel! – Resmungo baixinho olhando para baixo, encarando a água transparente baixando em meus pés e retornando lentamente ao mar, deixando para trás seu frio em minha pele molhada, que esfria ainda mais quando uma nova onda de vento me atravessa. Lanço meu olhar sobre o ombro, fitando Klauss que nos assiste com divertimento, e acabo repetindo o mesmo rosto manhoso de Mel – Como a água está tão fria? Olha o calor de hoje!

- É assim mesmo, a água do mar costuma ser bem fria. – Ele avança e passa por nós, quando uma nova onda baixa se aproxima, e já me preparo para mais um abraço frio em minha pele – Isso que a torna tão agradável nos dias quentes como hoje.

A nova onda passa por Klauss, cobrindo seus pés e molhando a barra de sua calça, até chegar em mim e Mel, mas dessa vez, não foi tão assustadoramente frio como na primeira vez. Agora foi agradável, talvez por já conhecer tal sensação.

Olho para Klauss, que desfruta de tal sensação em grande plenitude. Seu semblante é tão leve quanto plumas, não vejo qualquer sinal de tensão em si, o anjo está relaxado.

Avanço devagar, me deixando conhecer aos poucos essas sensações tão diferentes. Avançar na areia enquanto a água retorna rapidamente para o mar, sinto que estou sendo puxada, ao mesmo tempo que parece que não deixo o lugar, a forma como a areia é puxada debaixo de meus pés, são tantas coisas que é difícil não olhar meus pés em cada passo que dou.

Paro ao lado do anjo, prestando mais atenção em como ele está agora. Klauss fita o horizonte em silêncio, enquanto o vento sacode suas roupas e seus cabelos, nada que pareça incomodá-lo, além disso, tenho a impressão de enxergar alguma nostalgia pela forma como ele observa tudo de forma tão demorada.

- Não perguntei ontem de tão cansada que estava... – Começo a falar, reparando como meu corpo inteiro também parece ter o mesmo relaxamento que Klauss aproveita – Você já veio aqui antes, né?

- Não somente vir aqui Mika, passei alguns meses vivendo neste lugar. – Escutar isso atiça minha curiosidade em saber mais, já que poucas vezes Klauss conta sobre seu passado, e fico sem jeito de perguntar mais sobre sua vida antes de me conhecer.

- Você morou aqui papai? – Mel não contém sua curiosidade e agradeço mentalmente por isso, e basta um olhar a ela para entender que nossa pequena está tão interessada em saber quanto eu.

- Foi por pouco tempo, mas sim. Já morei aqui, a muitos anos atrás. – Ele volta seu rosto a nós, levando alguns segundos analisando Mel e eu, e ele não contém seu sorriso suave frente a nossa curiosidade conjunta. – Essa foi a primeira região humana que me instalei, quando ainda era um novato na Legião.

- Como se sente voltando aqui depois de tanto tempo? – Pergunto num sussurro.

- Cheio de lembranças, tudo está voltando e mim como se fosse algo que ocorreu a poucos dias. – Ele pausa alguns segundos, e seu olhar se direciona a estrutura de madeira ao longe, e Klauss está perdido em pensamentos – Pouco mudou aqui, tenho a sensação de adentrar em minhas próprias Revelações e voltado anos no tempo.

- Isso é bom, não é? – Sugiro baixinho.

O anjo não me responde. Ele baixa seu olhar a mim após segundos de silêncio e então a Mel, nos dando um novo sorriso. A ausência de uma resposta instiga ainda mais da minha curiosidade, e tenho a vontade de perguntar mais, apesar de ainda não saber como fazê-lo.

Reflito em tantas coisas, sobre onde Klauss deve ter ficado quando viveu aqui, quando e como conheceu o senhor August e a senhora Giullia, como ele era quando ainda era jovem. Tantas coisas escondidas no grande mistério que Klauss consegue ser algumas vezes, não importa o quanto eu o observe, nenhuma resposta se revela a mim.

É difícil pensar nele como alguém que já tenha sido jovem algum dia, mesmo em seus momentos de maior leveza como agora. A seriedade em seu olhar âmbar e a dureza em seu rosto sempre calmo fazem parecer que um momento de juventude nunca deve ter existido, e caso tenha, é tão distante do agora que é difícil recordar com clareza.

- Acredito que não viemos à praia somente para olhar. – Klauss diz de repente, me tirando de meus diversos pensamentos – O que acha de brincar na água Mel?

- Como a gente faz isso? – Ela pergunta animada.

- Venha, irei te mostrar. – Ambos começam a avançar devagar, e fico parada os observando, sendo inundada pelos intensos sons do mar que parecem tão mais altos agora, capazes de ocultar qualquer coisa que paine filha falam agora. Mas não me passa despercebido que Klauss tem toda sua atenção a nossa pequena, atento a tudo que ela fala e gesticula repleta de animação, e algo bom me invade enquanto olho para os dois. Quando olho para a minha família, me sinto encher de felicidade. – Mika, você vem também?

O chamado de Klauss me desperta e confirmo com a cabeça, correndo até eles sem me importar com o frio da água subindo pelos meus pés, ou pelas gotas espirradas sobre meu corpo em cada passo que dou – É claro que sim. Também quero brincar.

Paro ao lado de ambos, e reparo que a água já está acima dos nossos joelhos, mas é alta o bastante para estar na altura da barriga de Mel, inclusive já não é possível enxergar com muita clareza através da água. Está fria, muito fria, mas não de modo que me incomode ou faça querer deixar o mar o quanto antes.

- Certo, irei explicar o que vamos fazer. – Klauss se abaixa até ficar na mesma altura de Mel, e com um olhar divertido, me convida a fazer o mesmo que ele, e assim faço, experimentando a sensação mista da água fria subindo através do meu corpo e molhando minhas roupas por completo – O que acham de passar por baixo das ondas?

- Por baixo? – Mel pergunta intrigada – Como a gente faz isso?

O anjo ergue sua mão da água, que goteja devagar, até estar a altura do rosto, e posso ver o brilho de sua graça surgindo entre os dedos, seguido por uma corrente de vento que passa por nós. A água recua e baixa um pouco, e logo na frente uma onda vem se formando, um pouco maior do que as que passaram por nós antes – Vejam como eu faço.

A onda começa a se romper, não antes de Klauss afundar sua cabeça embaixo dá água assim que a onda o alcança, enquanto Mel e eu temos nossos corpos erguido e levemente empurrado de volta a margem, e a seguro próxima de mim para que não se afaste muito.

Logo a frente, Klauss emerge novamente, jogando seus cabelos agora molhados para trás, restando somente algumas poucas mechas onduladas caindo sobre sua testa e roçando as sobrancelhas, em uma expressão de diversão agradavelmente genuína. Suas roupas, agora ensopadas, grudam e desenham em torno de seu corpo, e só então me dou conta como minha atenção está fixa nele, em cada um de seus detalhes, como olhar para ele tira meu fôlego e me faz querer admirar ele mais e mais.

Klauss vira seu rosto de um lado ao outro nos procurando, quando por fim nos encontra, e tenho a leve sensação de que ele ficou um pouco espantado de estarmos tão longe dele, e devagar volta até nós – Viram como devem fazer?

- Quando vier uma onda grande, nós afundamos. – Repito o que observei ele fazendo, tentando não me distrair pelas gotas de água que escorrem lentamente pelo seu rosto.

- E prendam a respiração quando mergulharem. – Ele instrui, e confirmo. O anjo ergue novamente sua mão e nos olha de soslaio – Prontas?

Confirmamos com a cabeça, e o anjo repete o feito de antes, tornando a manifestar sua graça. A água torna a abaixar e logo a frente uma nova onda começa a surgir.

Quando a água nos alcançar, observo Mel fechar os olhos e com a mão tampar o nariz, enquanto eu simplesmente afundo como Klauss indicou.

A sensação da onda passando por mim é algo que nunca senti igual, algo que atravessa meu corpo com alguma velocidade e reparo em um leve peso sobre mim, que me empurra para trás devagar, mas não de maneira brusca ou absurda, de modo que meus pés afundam na areia e consigo ficar equilibrada, logo me impulsionando de volta para cima.

Alcanço a superfície em um rompante, tendo o calor do sol e o frio do vento se misturando em minha pele. Me surpreendo com a sensação que atravessa meu corpo quando estou me erguendo, a forma como levantei em um pulo e fui deixando a água me lembrou muito a sensação de estar prestes a voar, foi algo tão profundo que foi capaz de relaxar meu corpo por completo, e de olhos fechados, havia imaginado ser capaz de voar sem precisar abrir minhas asas, porém essa sensação me abandona quando meus pés tocam o chão novamente.

Passo as mãos pelo rosto, afastando fios de cabelo da minha testa, e sentindo um sabor insuportavelmente salgado em meus lábios.

Olho para Mel, que respira fundo algumas vezes e faz uma careta – A água da praia é salgada. Eca!

- Não aconselho experimentar a água do mar. – Klauss diz brincando, ganhando uma careta da nossa pequena.

- Eca, é muito ruim! – Ela resmunga – Eu só tenho mais certeza que quero ser uma... Uma... Papai, como é o nome do que eu quero ser mesmo?

- Degustadora de doces? – Ele diz.

- Isso, uma degustadora de doces! Se até a água da praia é salgada assim, eu com certeza só quero saber de doces! – Ela diz com alguma convicção na voz.

- Apesar do sabor horrível da água... – Comento e ganho um olhar divertido de Klauss. – Eu gostei disso, acho que quero mais.

- Quer mais água do mar? – Klauss pergunta e Mel salta suas sobrancelhas em um espanto profundo, enquanto eu o respondo apenas com uma careta, apesar de achar intrigante ver um lado dele que gosta de fazer brincadeiras. O anjo não contém seu riso – Estou brincando. O que acharam?

- Gostei dessa brincadeira, é simples mas achei legal. – Assumo sem qualquer dúvida – Só não gostei muito da parte da água salgada.

- Dá água salgada também não gostei nada, eca! – Mel repete a mesma expressão de antes – Mas quero ir de novo.

- Então, vamos mais uma, dessa vez os três juntos? – Ele sugere, Mel e eu trocamos um olhar.

Concordo e me preparo, quando Klauss repete o gesto. O vento passa por nós e ao longe, vejo mais uma onda vindo em nossa direção.

- Quando saírem da água, pulem bem alto. – Klauss nos instrui segundos antes da onda nos alcançar, e antes que eu sequer tenha tempo de dizer qualquer coisa, ele já mergulhou, e acabo fazendo o mesmo.

O impacto dessa onda foi um pouco mais forte que as anteriores, afinal ela já havia rompido quando chegou em nós, mas nada que fosse um absurdo desproporcional. Apenas senti meu corpo sendo empurrado para trás um pouco mais do que antes, e a água me pareceu mais rápida, ainda assim, tive força mais que suficiente para saltar da água, recriando em mim a sensação de estar me lançando aos céus com tanto ou mais vigor que antes, desfrutando de.tal sensação com meus olhos fechados.

Algo diferente me acontece, uma sensação de liberdade tão grande se apossou de mim neste momento que emergi em tal salto, um ruído alto rompeu a água e o ar repentinamente.

- Acho que fui muito melhor que da primeira vez. – Digo repleta de animação, passando as mãos pelo meu cabelo molhado e o lançando para trás e tirando o excesso de água do rosto, tentando ignorar o salgado acentuado em minha boca. Quando torno a abrir meus olhos, Klauss está me observando com algum espanto misturado a admiração em seu olhar âmbar que parece brilhar, e Mel me olha com algum encantamento. – O que foi?

- Mika, suas asas... – Klauss não termina sua frase, mas somente isso foi o bastante para me pegar de surpresa, quando me dou conta do brilho refletido na água ao meu redor.

Baixo meus olhos e encaro a mim mesma rapidamente, minhas mãos e braços, notando o fino brilho que meu corpo emite, tão semelhante a tantos anos atrás e também, tão igual ao de Klauss quando ele manifesta suas asas, quando me dou conta de algo e por fim lanço meu olhar para trás.

Minhas asas, eu as manifestei sem sequer perceber. Estão abertas e reluzem em uma luz branca suave de suas plumagens que parecem incrivelmente macias.

- O que? Eu não percebi quando manifestei elas. – Minha voz sai preocupada e as recolho junto ao corpo me cobrindo quase por inteira, e afundo na água imediatamente de forma que só meus ombros e minha cabeça fiquem a mostra, temendo que alguém próximo possa tê-las visto.

- Ainda podemos vê-las Mika. – Klauss anuncia me olhando com alguma curiosidade, e olhando para trás percebo que o que ele diz é verdade, parte das minhas asas ainda estão fora da água.

Me dou conta do que estou fazendo, e penso em recolher ambas de imediato, quando sou surpreendida por uma onda chamada Mel, que abraça meu pescoço com um sorriso tão radiante quanto ela própria. – Mamãe, suas asas ficaram brancas de novo! Estão tão bonitas e brilham tanto, estão iguaizinhas da primeira vez! Você está descansada Mamãe? Lembro que o papai disse que elas brilhavam em amarelo porquê você estava muito cansada, então se suas asas voltaram a brilhar assim, então você está descansando bem, mamãe continue descansando assim, suas asas ficam bonitas de qualquer cor, mas brancas ficam tão mais bonitas... Eu pensei agora, vou te desenhar com as asas brancas de novo, você e o papai.

Fico sem qualquer reação após tudo que Mel disse, e me perco no sorriso tão sincero da minha filha, que me fazem até mesmo esquecer de dissipar minhas asas novamente.

Procuro por Klauss e alguma ajuda do que fazer agora, e o anjo está de pé, correndo seus olhos pela praia por alguns demorados segundos, indo de uma ponta a outra, antes de finalmente se voltar a mim – Está tudo bem. Não existe ninguém muito próximo de nós, acredito que ninguém a viu, Mika.

- Então, posso levantar de novo? – Pergunto buscando ter alguma certeza de que está tudo bem, e Klauss confirma. Após um suspiro, torno a me levantar e ficar de pé, dissipando minhas asas, que esvanecem no ar como uma névoa branca que lembra vagamente algo emitido por fogo e fagulhas de graça que voam serenas com o vento – Desculpa Klauss, não percebi quando aconteceu.

- Está tudo bem, gosto de saber que não fui somente eu quem fez isso. – Klauss diz vago, mas ainda assim foi claro o bastante para que eu junte os pontos e entenda que em algum momento, ele já fez quase a mesma coisa que eu, senão a mesma, isso se reforça pelo sorriso cúmplice que ele lança a mim.

- Ah, por que guardou suas asas mamãe? – Mel pergunta frustrada e com um biquinho.

- As pessoas à nossa volta podem ver filha, e... Por que os humanos... As pessoas, não podem saber sobre nós. – Explico para ela de uma maneira que talvez seja simples, mas levantam uma dúvida que já tive a muito tempo atrás, e mesmo sabendo da resposta e já tendo ouvido várias vezes, isso torna a voltar em meus pensamentos. Por que os humanos não podem saber sobre nós? – Escute filha, assim que estivermos em outro lugar, eu deixarei minhas asas livres para você poder ver a vontade.

- Você promete? – Ela pergunta cheia de expectativas.

- Sim, eu prometo. – Concordo com um riso divertido, e então volto a Klauss – Quer dizer então que você também já manifestou suas asas sem perceber?

- Já, fiz quase a mesma coisa que você Mika, nessa mesma praia. – Ele explica com um tom divertido. – A única diferença é que, quando fiz, era no meio da noite. Acabei me tornando uma grande fonte de luz sobre a água no meio de uma noite densa, qualquer um poderia me ver de longe. Minha sorte foi que na época não haviam muitas pessoas vivendo nesta região.

- Quando que isso aconteceu que eu perdi? – Minha pergunta sai gargalhada.

- Antes de te conhecer, a muitos anos atrás, quando ainda estava me preparando para ingressar a Legião e vivia por aqui. – Ele explica saltando as sobrancelhas – Posso dizer que já fui um anjo jovem. August foi sincero quando disse que eu dava trabalho a eles.

- Agora que você comentou, eu estava pensando sobre isso, eles disseram que te conhecem de muito tempo atrás. – Pondero.

- Isso é verdade, os conheço a pouco mais de duzentos anos. – Fico surpresa com essa informação. – Fui enviado para cá para que pudesse aprender com um anjo mais experiente.

- Então, quer dizer que August e Giullia...? – Começo, juntando os pontos de quem, ou melhor, o que eles são de verdade.

- Apenas Giullia, August é um humano. – Responde.

- Mas se August é um humano, como ele pode ter vivido tanto? – A pergunta escapa antes que eu pudesse escolher minhas palavras.

- Ele vive com Giullia, e devido a sua graça, ele foi capaz de prolongar sua vida e sobreviver por tanto tempo. – Klauss explica – Por decidir viver no mundo humano com ele, Giullia se tornou uma caída, e nunca pode recuperar a energia de sua graça, que se desgastou com o tempo. Por isso sua aparência tão envelhecida.

- O enfraquecimento das nossas graças faz isso? Nós... Envelhecemos? – Pergunto em um sussurro.

- Muito mais devagar do que os demais seres, mas sim. Se nossa graça se enfraquecer e nunca for restabelecida, nós anjos envelhecemos. – Ele volta seu olhar ao caminho que fizemos até aqui – É ainda mais rápido quando o anjo compartilha sua graça com alguém.

- Compartilhar a graça, a mesma coisa que você e Layla fizeram comigo dias atrás? – O anjo assente – Uau, eu não fazia ideia disso.

- Se bem que, vendo como Giullia está hoje, e todos os anos que ela e August passaram e envelheceram juntos... Arrisco dizer que ela não se arrepende de nada. – Reparo como Klauss parece contente com isso, de uma forma que não tenho certeza se compreendo de verdade.

- Acho que penso a mesma coisa. – Sussurro a mesma coisa, lembrando do antigo quadro que vi na entrada da pousada e com minha cabeça fervilhando em pensamentos.

Não imaginava uma porção de coisas, que Klauss já tenha vivido no mundo humano antes ou que tenha, no mínimo, mais de dois séculos de idade. Nem cogitei que poderia haver um anjo caído entre August e Giulia, ou que a vida de um humano pudesse ser prolongada dessa forma devido a influência da graça de um anjo em si...

Muito menos pensei que nós anjos pudéssemos realmente envelhecer. Lembro-me que no Paraíso, haviam alguns anjos de aparências mais velhas, mas sempre imaginei que essa fosse uma escolha que eles tomaram para si, e desejassem tal aparência. A grande maioria dos anjos possuem aparências jovens... Até mesmo os Arcanjos mantém aparências joviais.

- O que acham de caminharmos na beira do mar? – O anjo sugere olhando para mim e Mel.

- Não vamos mais brincar na água, papai? – Mel pergunta com algum receio na voz.

- Nós vamos sim filha, e bastante. – Ele sorri serenamente – Faz muito tempo que não venho, quero relembrar como as coisas são por aqui. Quem sabe até não encontramos um lugar que venda sorvetes.

- Sorvetes?! – Mel pergunta alegre, já aceitando a ideia de Klauss.

- Você sabe como ser convincente, e só pra você saber, eu demoro escolhendo sorvetes. – Digo e ele solta um riso nasal, conforme vamos deixando a água, quando algo me vem em mente – Ei Klauss, depois você nos conta algumas histórias de quando você era mais novo?

Ele me observa de uma forma curiosa. Seu olhar vai de mim a Mel, e ele por fim concorda – Claro, mais tarde contarei algumas histórias.

Uma empolgação surge em mim, por poder conhecer um pouco mais do passado deste anjo que, em muitas partes e momentos, ainda me é desconhecido.

*****

Passamos boa parte da manhã caminhando na beira do mar, aproveitando o agradável abraço das rasas ondas em nossos pés. Momento ou outro Mel corria para a água e saltava sobre as ondas, o mais alto que podia, com uma diversão que somente ela compreendia por completo.

Após a caminhada que, apesar de se estender mais do que eu esperava, foi muito agradável, passeamos por um pequeno centro mais movimentado, onde havia um pouco de tudo, desde uma grande praça repleta de árvores mais ao centro e muitos estabelecimentos ao redor, que atraíram meu olhar por diversas vezes.

Pelas calçadas vi restaurantes e lanchonetes movimentadas, e o que mais me encantou foi a ampla sorveteria, com tantos sabores e formas diferentes, sequer sei quanto tempo fiquei parada olhando para cada uma das opções.

Klauss se surpreendeu com o tempo que levei para fazer minha escolha, eram tantos que pareciam tão saborosos, alguns reconheci por também venderem na cidade, outros não lembro se já havia visto. Além dos sorvetes que haviam em potes e embalagens geladas, haviam outros atrás de uma redoma de vidro, onde percebi que as pessoas faziam suas escolhas, e um funcionário jovem prontamente as montava em bolas coloridas dentro de potes de plástico redondos fundos ou em cascas, cobrindo com caldas ou com alguns vários granulados diferentes.

Nunca havia visto aquilo, e acabei hipnotizada assistindo a maneira como o rapaz montava os variados sorvetes, com uma destreza e velocidade que me impressionaram. Isso até mesmo me distraiu da tarefa de escolher um entre os vários sabores disponíveis, que por sinal, queria experimentar todos que haviam ali.

Após uma longa escolha, escolhemos nossos sorvetes e seguimos em nosso passeio, e fiquei surpresa em ver tantas outras lojas como a que vi perto da pousada, ainda mais amarrotadas que as de antes, cheias de coisas entre brinquedos e roupas que cada vez mais me parecem perfeitas para a praia.

Não nego que gostei bastante de algumas roupas ali, em particular de alguns vestidos que atraíram meu olhar. Acabei escolhendo alguns para mim e também para Mel, alguns panos bem leves de cores únicas, e também dois chapéus de uma renda mole e leve, e saí da loja com mais sacolas do que esperava.

Vi também algumas lojas pequenas, que me lembraram muito o terceiro distrito e seus incontáveis artesanatos espalhados em barracas de todos os tamanhos, e me encontrei curiosa com a diferença das coisas que haviam nessas lojas. Apesar de também serem feitas em madeira, todas representavam algo relacionado a esta praia.

Haviam esculturas de barcos em diferentes tamanhos, entalhes em madeira que representavam aves ou árvores, objetos que me pareceram estantes, e também esculturas.

Algo diferente foi a grande presença de muitas bijuterias, colares, brincos, pulseiras, tantas coisas diferentes expostos em plataformas esquisitas. Algumas sendo brilhantes e muito reluzentes, lembrando algum tipo de metal, outras eram foscas e muito coloridas, me lembrando dos artesanatos que vi em outras lojas.

Mas certamente o que mais me chamou a atenção foi uma loja em particular, onde havia um homem com aspecto jovem, gordinho e com uma barba muito grande, tendo os braços repletos de incontáveis desenhos coloridos, que tornavam difícil a tarefa de encontrar a real cor de sua pele. Ao lado dele, havia uma mulher também jovem, de longos cabelos escuros ondulados, com a mesma quantidade de desenhos em um dos braços e cobrindo uma de suas pernas nuas.

Nessa loja, haviam várias placas com alguns diferentes desenhos a mostra, enfeitando as paredes haviam fotos de outros desenhos, alguns marcando a pele de algumas pessoas. Além disso, o homem estava fazendo um desses desenhos atrás do pescoço de uma outra mulher, a qual não vi o rosto.

Me distraí olhando para os desenhos, encantada com os traços e intrigada com o fato de pessoas terem alguns desses desenhos marcando seus corpos. Lembro-me de que já vi isso antes, várias pessoas com desenhos na pele, mas nunca entendi bem o motivo disso, e na verdade, minha imaginação havia me levado a imaginar como seria ter algum destes desenhos em mim. Até mesmo agora fico pensando como seria ter alguns, ainda mais quando Klauss me explicou que aqueles desenhos em particular eram temporários, diferente de outros que são permanentes.

Seguimos em nosso passeio até paramos em um restaurante e almoçar, enquanto o sol brilhava em toda sua força e resplendor, e logo então, descansamos em uma parte sombreada na praça, olhando para o mar e as várias pessoas presentes. Mel já estava amuada, e mesmo que meu corpo agora consiga se recuperar bem mais rápido, já não sinta tanto cansaço como antes e nem tanta fome, tudo pela graça que possuo novamente, também quis descansar um pouco.

- Aqui é tão calmo. – Digo após longos momentos de silêncio, fitando as várias pessoas escondidas debaixo de guarda-sóis coloridos no meio da areia da praia. Mesmo com o contínuo som do mar, ou de algumas vozes próximas, não é como quando estamos na cidade – Eu gostei daqui.

- É bom ouvir isso Mika. – Klauss diz com uma voz relaxada. O reparando de canto de olho, encontro o anjo com o rosto erguido ao céu e os olhos fechados, iluminado por pequenas fagulhas de luz que passam por entre as folhas das árvores. Ele tem seu corpo levemente inclinado para trás, com o braço apoiado no banco, e Mel encostada em seu peito, amuada pelo cansaço. – Não me recordava como esta região é agradável.

- Faz muito tempo que não vem aqui, não é? – Ele assente silencioso, com um sorriso discreto presente no canto de sua boca. Mesmo com o calor, não vejo qualquer sinal de suor em sua pele, diferente de mim ou da nossa filha – Então, devemos aproveitar bastante, mas estou curiosa... O que faremos mais tarde?

- Acho que podemos visitar o pier. – Ele diz de forma vaga – Existe algo que desejo fazer lá.

- O pier? – Pergunto pensativa – Se refere a aquela estrutura de madeira enorme, perto de onde chegamos na praia?

- Essa mesma. – Ele torna a me observar, quase como se soubesse qual minha expressão. – Você irá gostar do que iremos fazer.

- Vai me contar o que é? – Indago curiosa, e ele balança a cabeça em negação – Klauss! Por que não?

- Será uma surpresa. – Responde e seu sorriso transforma-se em um riso nasal, no momento que ele vê minha careta. – Vocês duas irão gostar.

- O que tem lá papai? – Mel pergunta o olhando.

- Não somente o que tem lá, mas o que faremos lá. – Ele explica de forma muito vaga, ganhando uma feição confusa como resposta de nossa filha – Você verá quando estivermos lá.

Mel me olha, procurando por uma resposta que não tenho. Ergo os ombros e nós duas voltamos nossos olhares a Klauss, não tendo a mínima ideia do que faremos quando estivermos no pier.

Procuro por respostas nele, qualquer coisa que possa denunciar, e tudo que encontro é um vislumbre divertido e um certo brilho no âmbar de seus olhos.

*****

Não sei quanto tempo ficamos na praça, mas foi o bastante para que Mel e eu nos enchermos de energia novamente e decidirmos voltar para a praia, para brincar mais um pouco.

Mel e eu escolhemos ficar na água, vezes pulando sobre as ondas, outras vezes passando por baixo delas, correndo dentro da água e dando mergulhos. Klauss continuou fazendo o mesmo de antes, vez ou outra usando sua graça para criar ondas maiores, o que pareceu agradar não somente a nós, mas os vários humanos ao redor se divertiam muito com as várias ondas grandes.

Quando finalmente o sol a o contínuo mover das ondas nos cansou outra vez, perguntei a Klauss se poderíamos voltar para a pousada. Mel não gostou a princípio, mas bastou sairmos da água para nossa pequena demonstrar os primeiros sinais de cansaço.

Antes de deixarmos a praia, decidi levar Mel no colo para que pudesse descansar. A pequena encostou seu rosto em meu ombro e assim ficou, vez ou outra achei que ela tivesse adormecido.

Não demoramos muito até a pousada, e foi um alívio estar em um local fresco novamente, e sentia alguma urgência em deitar para descansar, já que meus olhos ameaçavam fechar a qualquer momento, e assim que coloquei os pés dentro do quarto, senti a vontade de me deitar e dormir, mas seria impossível com toda a areia incomodando meu corpo, e imaginei que Mel se sentia igual.

Mel e eu tomamos um banho e colocamos roupas leves para deitar e dormir, Klauss disse que ficaria acordado, e por agradáveis horas descansei. Nunca imaginei que dormir pudesse ser algo tão agradável como foi dessa vez, meu corpo inteiro agradeceu quando finalmente me deitei para descansar.

Não sei que hora são agora, mas Mel ainda está apagada de tanto cansaço, e percebo um pouco de suor escorrendo em seu rosto. O quarto está bem abafado e meu corpo inteiro também está suando, tenho a impressão de que estou grudando.

Sem me erguer, meus olhos vão a Klauss, que também está na cama, lendo um de seus livros que sequer notei que ele havia trago. Sua atenção à leitura mostra que ainda não notou que acordei, já que mal me mexi, e aproveito desse momento apenas para olhar para ele.

Não tenho certeza do motivo disso, mas apenas olhar para ele me faz sorrir, e o mesmo sentimento agradável de várias vezes antes torna a surgir em mim.

Devagar me mexo na cama e cutuco seu braço, fazendo com que sua atenção deixe o livro e venha a mim, e ao mesmo tenho um misto de diferente sensações em mim, gosto de estar sob seu olhar que exala a calma e mistério no profundo âmbar, ao mesmo tempo que me sinto encabulada e repleta de vontade de mergulhar neles para descobrir todo e qualquer pensamento que possa ter.

- Descansou Mika? – Ele rompe o silêncio com uma voz cálida.

- Um pouco... – Respondo rouca pelo sono, me esticando por inteira na cama. – Que horas são?

- Vai dar cinco da tarde, vocês dormiram pouco. – Ele fecha seu livro e o deixa sobre as pernas. – Está com pique o bastante para sair outra vez?

- Depende... – Minha voz sai propositalmente preguiçosa – Nós teremos que andar muito?

- Não exatamente. – Ele esboça um sorriso, que desaparece da mesma forma discreta que surgiu – Será algo diferente.

Sento na cama e reflito curiosa, e acho que somente osso é o bastante para me convencer. Olho para minhas roupas, sendo um dos vestidos de praia que comprou para mim, e então a ele – Posso ir assim mesmo?

- Claro, você está ótima assim Mika. – Ele volta seu olhar a Mel, deixando um carinho em seus cabelos loiros, que se espalharam pela cama – Vamos só acordar a Mel, e podemos ir ao pier.

Me espreguiço por longos segundos para afugentar meu sono e deixo a cama, sentindo a necessidade de lavar o rosto, e assim o faço.

Mel não demora a acordar, e quando a menina finalmente está livre de seu sono, deixamos a pousada sem nos demorarmos. Na saída, encontramos apenas August no balcão, distraído com um caderno antigo repleto de rabiscos e registros a caneta, e o som levemente distorcido de um rádio muito antigo ecoando na recepção.

Da mesma for que antes, fazemos o caminho a pé, o que não me incomoda em nada, já que tudo aqui é muito perto. Na verdade, fazer o caminho assim me permite prestar atenção a detalhes que não notaria caso estivéssemos de carro.

Reparo como o clima está mudado, é o mesmo ambiente, com o ar igualmente leve, mas o calor de antes não é tão presente e a iluminação nas ruas já é outra. Muitos estabelecimentos já parecem se preparar para fechar e algumas pessoas fazem seu caminho de volta da praia.

O caminho ao pier parece ter levado menos tempo do que quando fomos à praia, a impressão que tive é até que foi mais perto, mas não tenho real certeza disso.

A entrada do pier é curiosamente particular, já que existe um grande arco já na calçada, onde algumas lanchonetes tocando música alta ainda estão em funcionamento, com algumas pessoas presentes em algumas mesas, comendo porções ou bebendo algo.

O piso inteiro já em frente a essas lanchonetes já é de uma madeira muito antiga, e a cada passo tenho a impressão de ouvi-la ranger, mas nada que indique que irá se partir debaixo dos meus pés.

Na extensão do píer, encontro alguns bancos dispostos nas beiradas, algumas poucas lâmpadas iluminando o local, e quanto mais nos aproximamos da ponta que se localiza a uma certa distância da faixa de areia, paramos nosso caminhar.

Apoio as mãos na beirada de metal frio e olho primeiro para baixo, onde as ondas se chocam sem parar na estrutura sólida do píer, e então fito o horizonte, lugar onde o sol começa a se pôr em seu intenso dourado que colore o céu, dando lugar a singela noite que inicia de uma forma tão tímida.

Klauss para ao meu lado, erguendo Mel nos braços e olhando para o horizonte – O que achou Mika?

- É tão bonito Klauss. – Confesso aproveitando os sons e a brisa marítima que passa por meu rosto e meus braços nus – Agora entendo porquê você quis nos trazer aqui.

- Não foi somente pelo pôr do sol. Isso foi uma coincidência. – Ergo uma sobrancelha com suas palavras. O anjo volta-se a mim e segura uma de minhas mãos e em seu rosto enxergo como a luz do sol desenha seus traços de uma forma exuberantemente bela, quase como se fosse esculpido por anjos Portadores do Belo – Minha intenção ao trazê-la aqui foi outra.

- Sabe que estou muito curiosa por sua real intenção, não é? – Indago com um sorriso bobo.

Ele volta seus olhos pelo caminho que fizemos até aqui, e assim permanece. – Vamos voar, nós três.

- O que? – Digo surpresa, e fico completamente sem reação quando vejo Klauss abrindo suas asas com tamanha naturalidade sem sequer se ocultar, emanando um profundo brilho branco que exala uma intensa pureza e grande tranquilidade, algo tão sereno quanto a brisa. Já Mel parece maravilhada com tal ideia, e seu semblante se ilumina ao presenciar o par de asas tão próximas de si – Klauss, mas...? As pessoas ao redor, elas...

Vejo como ele sorri, um sorriso calmo e belo, que me tranquiliza no mesmo instante. – Você consegue, não é?

Ele não demonstra estar preocupado com que alguém o veja, sequer parece se importar. Sua atenção está voltada apenas para nós, como se nada mais a nossa volta importasse ou sequer estivesse aqui. Sua calma me contagia e me convida de maneira silenciosa, e antes que perceba, minhas próprias asas são manifestadas e somente as percebo pelo brilho emanado por elas, e tudo que faço e confirmar – Sim, eu consigo.

Com os dedos ele deixa um carinho em minha mão, e posso enxergar muitas coisas em seus olhos, que agora emanam um brilho suave que me permitem lê-los com clareza. Um olhar que mesmo presente em um semblante calmo, demonstra como ele se sente, o quão empolgado está neste momento, algo inocente e repleto de expectativas como nunca vi, e além de tudo, demonstra o quanto está acreditando em mim, quando por fim sua atenção volta para Mel – Se segure bem forte filha.

Ela confirma com a cabeça e envolve seus braços no pescoço do anjo com firmeza, em um abrir de asas repentino, Klauss ascende aos céus em uma onda de vento causada por seu movimento.

Ergo meus olhos acompanhando Klauss, e permaneço parada apenas o vendo se afastar no céu lentamente. Aperto os punhos e fecho meus olhos com força, com o nervosismo latente em meu peito, mas confiante de que também posso fazer isso. Ele confia em mim, sei que sim, seu olhar demonstrou isso, então também devo confiar. Sei que também posso fazer isso.

Minhas asas abrem devagar, e flexionando as pernas me lanço ao alto, num bater de asas forte, meu corpo se impulsiona aos céus mais uma vez,e a sensação tão familiar de não ter o chão embaixo dos pés junto ao vento percorrendo meu corpo me causa algo único. Abro meus olhos novamente, sem conseguir acreditar no que está acontecendo.

Eu estou voando novamente. Finalmente estou voando!

Um largo sorriso surge em meu rosto, que logo se transforma em uma risada alegre que vem do mais profundo que existe em mim, das sensações que meu corpo está experimentando novamente depois de tanto tempo, tantos anos.

Vejo logo a frente que Klauss está pairando no ar, aguardando e olhando para mim com um sorriso satisfeito, e assim que paro a sua frente, não consigo conter minha empolgação – Klauss, isso... Isso é tão incrível! É tão boa, tão boa, que não sei o que dizer... Eu não fazia ideia que seria assim, já nem me lembrava mais, essa sensação, é tão boa... Como eu pude esquecer algo assim?

O anjo solta um riso, e como consigo faço um pequeno giro no ar e pairo a sua frente – Estou vendo como isso te fez bem Mika.

Mel está me olhando com encantamento, olhando para minhas asas e perdida em sua luz, o brilho delas reflete no azul de seus olhos – Mamãe, você está...

- Estou voando outra vez meu anjinho. – Digo ao me aproximar, tocando seu rosto com ambas as mãos com carinho e animação – Vamos poder voar pelo céu outra vez, igual no dia que nos conhecemos.

A menina sequer diz algo, tudo que vejo ela é como está radiante com o que acabou de ouvir.

- Vamos Mika? – Klauss me convida, abraçando Mel com firmeza e, esticando suas asas ao máximo ele as junta próximo ao corpo, que começa a perder altitude sem muita velocidade, algo que claramente está no controle do anjo.

Animada com isso, tento lembrar como fazia a tantos anos atrás, mergulhando pelo céu logo atrás de Klauss. Seu movimento lento me permite alcançá-lo e acompanhar seu ritmo pelo céu, conforme descemos encaro o oceano a nossa frente e abaixo de meus pés a imensidão do céu cada vez mais pintado pelo pôr do sol e os primeiros sinais do crepúsculo.

Cada vez mais nos aproximamos do mar, e faltando muito pouco para atingirmos o mar calmo, realizamos um rasante rápido e até tenho a sensação que respingos da água molham meu rosto.

Ouço risadas de diversão e olhando ao lado, vejo Mel se divertindo, tendo suas mãos esticadas na água e Klauss fazendo o mesmo com seu braço livre. Guiada por essa sensação, toco a ponta dos dedos no mar, causando um rastro na água e levantando respingos frios sem parar que se unem ao calor deste final de tarde.

Agora que percebo, nunca fiz isso, nem mesmo quando ainda vivia no Paraíso. Nunca voei sobre os rios do Paraíso com outros anjos, nunca soube como era essa sensação, essa está sendo minha primeira vez e sequer imaginava que era assim.

O anjo devagar ergue seu corpo e fica de pé, pairando apenas alguns centímetros sobre a água, virando-se para mim. Aproximo dele e ergo meu corpo da mesma forma que ele, e num novo bater de asas que agita toda a água ao nosso redor em uma onda de vento, devagar acendemos ao céu outra vez, com nossos olhares e sorrisos ligados, bem próximos um do outro.

- Mamãe, papai, isso está muito bom! – Mel diz de repente ganhando nossa atenção.

- Está gostando do nosso passeio, filha? – Klauss pergunta com um riso curto.

- Sim, sim, sim! – Ela diz cheia de animação – Sempre pensei em poder voar de novo com a mamãe, e também pensei como seria voar com você papai, mas nunca imaginei em algo assim! É tão... Tão... Tão...

- Eu sei Mel, e como sei. – Digo sorridente, deixando carinhos em seu cabelo.

Ela para de tentar encontrar palavras para descrever algo que ela apenas sente, mas sequer parece entender por completo. É algo que ela não consegue expressar falando, mas sim em uma euforia que não cabe em si.

- Como sabia que eu conseguiria Klauss? – Pergunto em um sussurro.

- Apenas acreditei em você. – Me responde e paramos nosso mover, não muito acima do mar. Ele me olha de forma semelhante, mas agora ele demonstra estar contente e até orgulhoso de mim – Sabia que você conseguiria Mika.

- Obrigada por acreditar em mim... Quando nem eu sabia se podia fazer isso de novo. – Digo sincera, aproximando-me dele e passando meus braços em torno de seu corpo, abraçando tanto a ele como nossa filha.

Ele passa um de seus braços em torno da minha cintura, e assim permanecemos, pairando no ar longe da praia, assistindo ao mais marcante pôr do sol que já tive a oportunidade de presenciar.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro