Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 55

Acordo num sobressalto, a respiração pesada como se tivesse acabado de correr.

Uma dor de cabeça descomunal preenche todos os meus sentidos.

Olho ao meu redor. Máquinas que me são familiares ladeiam a cama onde me encontro deitada. Uma delas apita, ocasionalmente, ao ritmo do meu batimento cardíaco. Mesmo sem ver, sei que estou ligada a ela por vários eléctrodos que repousam sobre o meu peito. 

− Qual é a sensação? – inquieto-me ao ouvir uma voz de barítono perguntar. Varro toda a área do quarto com o olhar e encontro um homem de meia idade recostado descontraidamente na pequena poltrona que se encontra junto à porta. Reconheço-o de imediato. É o Dr. César, diretor do centro onde nos encontramos. – De voltares a estar aqui, num quarto onde já estiveste meia dúzia de vezes, mas agora como paciente?

− Desconfortável e desnecessária − respondo asperamente ao estender o meu pulso perfurado que me liga a uma bolsa suspensa sobre a cama. – Eu não estou doente.

− Eu sou médico, lembras-te? Eu sei perfeitamente que não estás doente, – o homem de bata branca levanta-se e começa a avançar na minha direção, − não preciso que mo digas.

− Não percebo... − Levo a mão à minha testa pulsante. A minha cabeça parece prestes a explodir.

− Dói-te, não é? – constata ao chegar perto de mim. – É normal depois do que te injetaram na corrente sanguínea.

− O que...? – Tento levantar-me, mas sinto-me zonza e volto à minha posição inicial.

− Se fosse a ti não fazia movimentos bruscos, só vai intensificar os efeitos secundários do tranquilizante.

− Tranquilizante?!

− Claro. Um tranquilizante um pouco forte demais para o teu organismo. Para o organismo de qualquer ser humano, para ser franco. O que é que pensavas que te tinham dado? – Os seus olhos castanhos-esverdeados caem desconfiados sobre mim. Porque é que algo me diz que este homem sabe muito bem o que motivou o meu receio?

− Onde está a minha mãe? – interrogo numa voz desgastada.

− Quando foste trazida para aqui, ela quis entrar. Foi... digamos que, um pouco insistente demais para o meu gosto. Ela sabe perfeitamente que sou eu quem assume casos como o teu. Não é por seres filha dela que isso vai mudar alguma coisa.

− O que é que lhe fez?

− Porque é que denoto uma certa acusação nessa pergunta? Eu não lhe fiz nada. Só pedi aos guardas que a levassem para fora do centro médico. Com jeitinho, − acrescenta, − não queria que se magoasse. – O seu olhar concentra-se no meu antebraço. Sei o que vê: os hematomas recentes.

− E o Salvador? Onde está ele?

− Está sedado no quarto ao lado. Ele demonstrou ser... demasiado forte, demasiado perigoso. – A imagem do meu namorado a esmurrar um dos guardas que o tentava conter desenha-se de forma clara na minha memória. Não consigo evitar um pequeno sorriso. − Acordará quando eu assim o determinar.

− O que é que nos vai acontecer?

− Eu... Suponho que nada de bom − responde num tom gélido que me faz estremecer. – Vocês passaram um limite que poucos ousaram atravessar e nenhum sobreviveu para contar.

Engulo em seco.

Ele está a falar da minha bisavó e do Sr. Nicolau. Ele sabe que foram assassinados. Mas é mais do que isso, não é? Ele foi o médico responsável por ambos os casos. Foi ele que decretou o óbito. Então, ele não só sabe qual foi a causa da morte, como ainda injetou o soro que os levou a ela.

− Porque é que o fez? Porque é que os matou? – Lágrimas escorregam-me pela face.

− Eu não matei ninguém! − brama de forma defensiva. A cor verde intempestiva dos seus olhos parece ganhar força e sobrepor-se ao tom castanho. – Eu só fiz o que me mandaram.

− E o senhor limitou-se a obedecer cegamente?

− Não tive propriamente escolha... − O castanho volta a misturar-se com o verde do seu olhar. Quase parecem conviver num equilíbrio perfeito.

− Ele ameaçou-o, não foi? – Recordo-me do que o Salvador me disse sobre o seu avô, que ao tentar enfrentar o 1º comandante foi ameaçado de morte.

− Sim, a mim e à minha família − admite cabisbaixo. – Não penses que o faço de ânimo leve. Custa-me, mas custar-me-ia muito mais se os corpos sem vida fossem os dos meus filhos ou o da minha esposa − a voz treme-lhe e eu consigo ver o sofrimento sulcado no seu rosto. – Sou assombrado por eles, todas as noites. Tenho um sono pesado o suficiente para não acordar, mas mais valia que o conseguisse. Que conseguisse retomar a consciência durante os terríveis e intermináveis pesadelos. É a pior parte do dia, quando sou obrigado a enfrentar os demónios que habitam o meu inconsciente. E temo que... − o Dr. César coloca a mão no bolso da bata, – temo que tu sejas a próxima a assombrar-me.

Quando retira a mão do bolso, percebo que segura uma seringa com um líquido vermelho. A cor faz-me lembrar o sangue, apesar de não ser tão vivo e intenso.

− Dr. César, − um pânico crescente cola-se à minha voz, − o senhor pode parar isto. Podemos enfrentá-lo, juntos. Se o senhor admitir para toda a comunidade aquilo que fez e a mando de quem, todos ficarão a saber a verdade. O 1º comandante será afastado do poder e o senhor nunca mais vai ter de fazer mal a ninguém. É médico, o seu dever é ajudar as pessoas, não deveria ser obrigado a fazer estas coisas.

− E como é que achas que os meus filhos me olhariam depois de saberem do que fui capaz de fazer? – questiona encolerizado. – Ver-me-iam como o monstro que sou. Eu não posso deixar que isso aconteça − confessa ao apertar o meu pulso esquerdo contra a cama. O seu corpo debruça-se sobre o meu.

− Engana-se, eles iriam perceber que não teve outra opção. − Permaneço quieta no meu lugar. Não movo um músculo do pescoço para baixo. Não me debato fisicamente para mostrar que confio nele. – Eles vão acabar por compreender que só fez o que fez para os salvar.

− Eu não sou o herói desta história − admite de sobrolho franzido. O castanho brilhante que me fitava intensamente é novamente substituído, quase na totalidade, por um verde hipnotizante. – Mas receio que tu também não sejas. Lamento.

Uma agulha perfura-me uma das veias do meu antebraço estendido e imóvel, de forma ingénua, sobre a cama. O êmbolo é pressionado. Sinto o líquido a embrenhar-se no meu sangue, como se fizesse parte dele. Imagino-o a enrolar-se de forma letal a cada uma das células do meu corpo, proibindo-as de respirar. Sufocando-as até à morte.


Uma gota cai sobre a cana do meu nariz. Mantenho os olhos fechados enquanto a humidade refrescante desliza pela minha face. O movimento lento provoca-me um leve formigueiro no rosto.

Ouço soluços abafados.

Uma respiração quente e pesada adorna-me os lábios, uma respiração que vem de fora para dentro e não de dentro para fora.

− Por favor, Aurora... Volta para mim − suplica alguém com a voz entrecortada. Sinto uma leve pressão sobre os meus lábios fechados. Um beijo, concluo.

As minhas pálpebras afastam-se. Encontro o enorme rosto choroso do Salvador a milímetros do meu.

− Graças a Deus! − exclama. As suas mãos ladeiam-me a cabeça, enquanto a sua boca avança sobre a minha. Mantenho os lábios firmemente fechados. Os seus olhos abrem-se enormemente sobre os meus. – Passa-se alguma coisa de errado?

− Não.

− Não estás desiludida comigo?

− Não.

− Então talvez fiques quando perceberes onde nos encontramos.

O Salvador afasta-se e eu consigo finalmente ver o teto do espaço onde me encontro. É de um tom negro baço... Simples, morto. O pequeno candeeiro suspenso no ar encadeia-me os olhos.

Levanto o meu tronco e deixo-me ficar sentada, com as pernas estendidas sobre o chão frio. A parede à minha frente está revestida, de alto a baixo, com um material translúcido, que permite ver o escuro corredor que se encontra para lá dela.

Olho à minha volta. Tenho a sensação de estar enclausurada num cubo com não mais do que três metros de aresta. As restantes paredes estão pintadas com o mesmo tom enegrecido do teto e chão deste espaço vazio. Um espaço que é ocupado por dois corpos apenas.

Sinto os músculos doloridos, mas não vejo nenhuma cama...

− Porque é que continuas assim? Quieta e calada? Estamos presos, Aurora.

− É uma sala diferente − comento ao analisar pela segunda vez o espaço.

− Uma sala diferente?! É uma prisão, suponho que não tenham tido tempo para a embelezar.

− Podem vir agora. Já estou acordada. Preciso de uma cama.

− De uma cama?! – O Salvador ajoelha-se do meu lado. A mão ergue-se no ar, mas não se chega a encostar ao meu rosto, fecha-se num punho cerrado, ao invés. – O que é que sentes por mim, Aurora?

− És o Salvador. És corajoso, bondoso, introvertido...

− Eu não te pedi para fazeres uma lista daquilo que sabes sobre mim. Sentimentos, Aurora, diz-me que ainda os tens... − a voz decresce e torna-se apenas num murmúrio.

− Ainda os tenho.

− Não fales como ele. Não uses essa voz mecânica que o... que o Nico usava. Não digas uma coisa só porque eu te peço para o dizeres. – Faz uma pausa. Perscruta-me atentamente. − Lembras-te do que aconteceu na reunião semanal?

− Qual delas?

− Aquela que se deu apenas há umas horas atrás.

− Hum... − A minha memória... Algo parece passar-se com a minha memória... Não sei bem o quê. − Foi igual a todas as outras, não foi?

Vejo o Salvador a negar efusivamente com a cabeça. As suas mãos passam pelo seu cabelo castanho. Para trás e para a frente. Para trás e para a frente. Para trás e para a frente. O movimento parece hipnótico.

− Celeste Bacelar, conheces? – pergunta-me. As mãos pousadas sobre a cabeça, que está inclinada para o chão.

− Claro. É a minha bisavó. Ela é muito especial para mim.

− Ela morreu... Está morta − profere com uns enormes olhos azuis carregados de eletricidade. – Não te lembras disso?

− Do quê? – interrogo, sem perceber ao que se refere. Ele perguntou-me se eu conhecia a minha bisavó e eu disse-lhe como ela era importante para mim. Ele disse alguma coisa depois disso? – Talvez ela ainda aqui venha hoje e poderás ver como ela é uma pessoa fantástica.

− Eu... − suspira. – Eu já a conheci. Eu falei-te sobre isso, mas tu não te lembras. Não te lembras, porque isso está relacionado com a sala secreta. Não te lembras da sala secreta, pois não? – Faz uma longa pausa. Eu limito-me a olhar para ele. A voz dele é bonita, quero ouvi-la mais um pouco. Porque é que ele não continua? – Não te lembras de nada... Não achas isso estranho? Somos próximos, não somos? Mas como é que nos aproximámos? O que é que pensaste de mim quando me viste na enfermaria pela primeira vez? Quando é que demos o nosso primeiro beijo? Lembras-te da noite que passámos nos braços um do outro? − Levo as mãos à cabeça. Não sei o que ele está a dizer, mas quero que pare. A dor é insuportável. A voz bonita faz doer. Dói muito! − Conheceste as pessoas da sala secreta, lembras-te delas? Lembras-te do Gabriel? Lembras-te como o salvaste? – A mão dele toca no meu braço dobrado. Acaricia os hematomas que me coloram o antebraço. Uma energia contagiante parece avivar as células pisadas. − Lembras-te como me salvaste a mim? Como me salvas todos os dias de mim mesmo?

− Bravo! Que espetáculo magnifico! – uma voz forte e ribombante invade o nosso espaço. Espreito para trás do Salvador. O 1º comandante observa-nos atentamente através da parede invisível. – Como eu queria que ela pudesse responder a todas essas questões. Bom, talvez não a todas. Não estou lá muito interessado em saber os vossos detalhes íntimos. Não leves a mal rapaz, mas acho que os beijos são sobrevalorizados. – A expressão do Salvador endurece. Os dentes arreganhados, a testa franzida, os olhos semifechados. – Agora, estou muito interessado em saber quem é esse tal de Gabriel.

O Salvador levanta-se num movimento impetuoso e corre na direção da parede que o separa do 1º comandante.

− Como foi capaz de fazer isto à Aurora?

− Fazer o quê? Ela está ótima. – O olhar do 1º comandante fixa-se em mim. Sinto-me um pouco desconfortável e retenho a minha atenção sobre os meus próprios dedos. Estico-os, encolho-os. Estico-os, encolho-os. – Acho que até gosto mais desta nova versão dela.

− Ela não precisa de medicação nenhuma! Não está doente!

− O médico não acha o mesmo.

− Claro que não. Ele está do seu lado, não é?

− Digamos que eu sei escolher os meus aliados. E é por isso que estou aqui. Para te fazer uma proposta.

A minha pele é tao suave, concluo ao afagar a palma da mão.

Um som forte faz-me olhar novamente para os dois homens que conversam entre si. Reparo que a mão do Salvador está fechada em punho sobre a fina parede.

− Não te exaltes, jovem. E não negues à partida algo que desconheces. Ouve-me primeiro. Só amanhã é que vou fazer o comunicado do vosso estado, até lá as coisas podem mudar. Para isso, só preciso que colabores.

− Não vejo como posso estar interessado em alguma espécie de colaboração com o senhor.

− Eu não teria assim tanta certeza. A proposta é simples. Dizes-me onde é essa tal sala secreta, levas-me às pessoas que estão escondidas algures nesta nave, e eu não faço nada contra ti ou contra a tua família. Esqueço que alguma vez me enfrentaste e tu também esqueces tudo o que descobriste de pior sobre mim.

− E o que faria a essas pessoas?

− Escondê-las-ia como é óbvio. Não posso arriscar que alguém as encontre, prefiro que elas estejam sobre minha supervisão. E quando chegarmos ao novo planeta, serão libertadas e poderão viver a vida delas como bem lhes apetecer.

− Desde que fiquem longe...

− Claro. Não creio que seja um tão grande sacrifício assim. Terão a mesma oportunidade do que nós. Poderão recomeçar do zero.

É tão estranho. Ouço-os perfeitamente bem, mas é como se o meu cérebro não conseguisse processar o que estão a dizer.

− E a Aurora? – O Salvador volta-se para mim. – Também está incluída nesse acordo?

− Tens que entender que essa tua namoradinha é demasiado intempestiva. Não me parece tão sensata quanto tu. Achas mesmo que ela conseguiria guardar a história toda só para ela. À primeira oportunidade, denunciar-me-ia. Além do mais, como é que eu explicava o ataque que ela teve durante a reunião semanal?

O punho do Salvador bate com força na parede, que nem estremece com o impacto.

− Ela não teve nenhum ataque − as palavras adquirem um som ríspido.

− Chama-lhe o que quiseres. A verdade é que, para todos os efeitos, a rapariga está louca. Essa é a verdade mais conveniente para mim.

− Eu defendi-a à frente de toda a gente, disse-lhes que ela falava a verdade. Você insinuou que eu estava tão louco quanto ela.

− Sim, mas isso é fácil de resolver. Uma paixão ardente de um jovem tolo pode promover as maiores loucuras. Todos vão facilmente acreditar que só a defendeste porque estavas apaixonado por ela. Desse modo, a doença passava a não ser contagiosa e a Aurora não teria de passar o resto da sua longa vida aqui fechada, isolada da humanidade. Poderia sair para o ar puro e admirar as belas paisagens do nosso novo planeta. Teria é claro de continuar com a medicação que o Dr. César lhe receitou, por causa da sua esquizofrenia.

Um novo embate na parede.

− Nunca mais repita uma coisa dessas! ELA-NÃO-ESTÁ-DOENTE – pronuncia as palavras de uma forma estranha como se não pertencessem à mesma frase. – Se dependesse de mim, eu nunca deixaria a Aurora neste estado, − aponta na minha direção, − nem por um dia sequer. Quanto mais condená-la a esse triste destino infindável.

− Pensa bem, rapaz. Tu podes resolver todos os problemas de uma só vez. É uma oportunidade única! Nem tu, nem a Aurora, nem as pessoas que vocês mantêm escondidas, teriam de ficar presos durante uma eternidade de tempo... Como é que lhe chamaste? Infindável. E se mais ninguém souber do esconderijo dessa tal sala, adivinha qual será o destino das pobres pessoas que a habitam. Isso mesmo! Vejo que já começas a compreender. Coitadinhas, elas morrerão de fome e sede. Só quero evitar mais sofrimento desnecessário. Desfazer todo o mal que causei. Não queres mesmo agarrar esta oportunidade?

Um silêncio preenche o espaço sem móveis. Nenhuma das duas vozes incessantes me chega aos ouvidos. O vazio é agradável. A minha cabeça parece ficar mais leve.

− Vou ensinar-lhe uma coisa. O passado nunca se desfaz. O sofrimento que se inflige nos outros marca-os para todo o sempre. Nada é capaz de o apagar. Eu até me comovo com esta sua preocupação tão repentina. Esta oferta tão generosa, tão... humanitária. Corre até o risco de ir parar ao Céu no juízo final. Mas não, obrigado. Eu não vou cometer o mesmo erro do meu avô. O senhor pode tê-lo convencido com uma simples ameaça, mas eu, definitivamente, não sou o meu avô.

− Não sejas idiota, rapaz. Ela vai continuar a ser medicada mesmo que não aceites a minha proposta. O cenário que te proponho é mil vezes melhor.

− Muito obrigado. A sério! Sinto-me lisonjeado pela consideração. Porém, cresci a acreditar que não posso confiar nas pessoas, que só dependo de mim mesmo. Acho que tenho que lhe agradecer a si por isso. Lamento, não consigo evitar desconfiar quando as coisas me são oferecidas de bandeja. Eu prefiro construir a minha própria saída deste inferno.

− Ainda te vais arrepender dessa decisão.

O 1º comandante desaparece por entre a escuridão do corredor.

− Ele foi buscar a cama? – questiono ao homem que continua de costas para mim e com a mão pousada sobre a parede translúcida.

− Não. – O Salvador dá uma volta de 180º. – Nós não precisamos de nada do que aquele homem tem para nos oferecer. Eu vou tirar-nos daqui, prometo.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro