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Capítulo 5

‒ Fui ver o avô, assim que saí do refeitório ‒ conto à minha mãe que me entrança o cabelo. Estamos as duas sentadas na cama dos meus pais. ‒ Ele continua o mesmo de sempre. Organizou uma sessão de cartas no quarto dele e da avó, onde cada pessoa que perde tem que contar um segredo que saiba: seu ou da comunidade.

‒ E o que é que a tua avó achou disso?

‒ Protestou, protestou, mas, no fim, acabou por concordar. Tu sabes como ela é.

‒ Sei. E sei, acima de tudo, como é que o teu avô é. Teimoso. Tal e qual o filho ... ‒ diz levantando-se da cama ao terminar a trança. ‒ Mas se descobrem o que o teu avô anda a tramar, não vai ser bonito.

‒ Não é nada de mais.

‒ Saber os segredos dos outros é sempre algo de mais. Por alguma razão são chamados segredos.

‒ Aurora, meu doce ‒ diz o meu pai ao chegar ao quarto. Sem perder tempo, avança na minha direção e abraça-me. Depois deposita um beijo terno no topo da minha cabeça. ‒ Nem sabem... O meu pai organizou...

‒ Por acaso já sabemos ‒ interrompo-o. ‒ Vieste tarde demais. Tive com o avô antes de vir para aqui.

‒ Sim, já sabemos. Parece que tens a quem sair... ‒ protesta a minha mãe fitando os olhos de âmbar do meu pai, refletidos pelo espelho do quarto.

‒ Mas não me tinhas escolhido para ser o pai dos teus filhos se eu não fosse assim, confessa lá. ‒ O meu pai aproxima-se da minha mãe e envolve-a carinhosamente com os braços. O meu coração aquece com a imagem dos dois juntos, refletida no espelho do quarto.

‒ Pai... ‒ chamo hesitante. Hesitante por não querer estragar o momento afetuoso que vejo diante de mim. E hesitante por não ter a certeza de querer saber a resposta à pergunta que não me sai da cabeça desde o dia de ontem. ‒ Porque é que não me contaste que descobriram que estamos perto de chegar ao novo planeta? Quer dizer... Não é que eu fosse contar a alguém... Se tu me pedisses segredo, eu...

‒ Querida... ‒ o meu pai interrompe-me e senta-se junto a mim na cama. ‒ Tu sabes que eu não posso. Não é que eu tenha posto a minha carreira de físico à tua frente. Eu sei que é isso que estás a pensar, mas... acredita em mim, se fosse algo que eles não fossem contar na reunião semanal, não hesitaria um segundo. Vinha a correr contar-te, porque sei o quão importante isto é para ti. Aliás, para todos nós.

‒ Tudo bem, pai. Por momentos, pensei... pensei que pudessem existir segredos entre nós, o que eu sempre havia pensado impossível antes daquele momento.

‒ Não te preocupes. Tudo o que tens de saber, tu sabes ‒ diz o meu pai acariciando-me o cabelo entrançado.

Por muito que me tentasse tranquilizar, as primeiras palavras da resposta dele não me saem da cabeça: Tu sabes que eu não posso. Isso só significava uma coisa, existem, sim, coisas que ele não me conta. Tudo o que tens de saber, tu sabes. O que é que serão as coisas de que eu não preciso de saber? Neste momento, posso até não precisar de as saber, mas quero sabe-las.

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