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Capítulo 41

Querido diário, a Diana acaba de retornar da sua viagem com excelentes notícias. Como uma comunicadora exímia que é, foi bem-sucedida na tarefa que o Conselho lhe atribuiu. Na verdade, superou grandemente as expectativas que todos tínhamos.

A Diana Castro é a única mulher, para além de mim, que se encontra no Conselho. A sua teimosia consegue exasperar qualquer um, mas ninguém pode negar a arte, o domínio que tem sobre as palavras. Muitas foram as vezes que entrámos as duas em conflitos que pareciam não ter fim. Nenhuma sem querer ceder, ambas com a absoluta convicção de estarmos a defender a melhor ideia, o melhor caminho para todos. Não obstante, a maior parte das vezes quem saía como vencedora era ela. Por isso, não vou dizer que não fiquei satisfeita quando ela embarcou nesta viagem que durou exatamente três meses. Estaria a ser hipócrita. Ainda assim, admito que senti saudades de a ter por perto. Quando não estamos a defender ideias opostas, a Diana pode ser verdadeiramente encantadora. E o sentido de justiça e lealdade que demonstra são qualidades mais do que suficientes para a considerar uma amiga a preservar para o resto da vida. Ainda que não aconselhe a ninguém passar mais do que três horas seguidas com ela.

Graças à Diana, a nossa palavra circulou pelo mundo fora. Reuniões com as pessoas certas, nos momentos certos, podem fazer milagres.

Trouxe com ela uma lista de nomes de pessoas interessadas em juntar-se à nossa causa. Uns que querem apenas ser passageiros, outros que querem contribuir com os seus conhecimentos e capacidades para tornar esse sonho também realidade nos seus próprios países.

Estados Unidos, China, Brasil, Reino Unido, Itália, França, Índia e Austrália querem embarcar connosco rumo a uma nova casa para a espécie humana. Grandes potencias como a Alemanha, a Rússia, o Canadá e o Japão estão tão centrados em si, que veem qualquer proposta que surja doutro país como uma ameaça. Não os posso julgar, estamos num clima instável, onde as doenças e as guerras predominam. É normal ter receio. Já nos países menos desenvolvidos é impossível entrar, porque se o fizermos nunca mais de lá saímos. Nesses países o risco de contaminação é quase de 90%. As ruas estão cobertas de sangue e de corpos em deterioração. As pessoas matam e morrem por coisas tão básicas como comida ou medicamentos. As crianças andam armadas e lutam para sobreviver lado a lado com os adultos. Outros países como a Argentina, Suécia, Dinamarca, Roménia, Polónia, considerados os países neutros, recusam-se a fazer alianças com outros países e governam-se com os seus próprios recursos. Desses países, já esperávamos receber um "não" como resposta.

Portugal, à pouco mais do que meio século atrás, também já foi um país pequeno, sem grande destaque económico ou social no mundo. Começámos a perder grande parte do nosso litoral com a rápida subida do nível do mar. Estávamos a definhar, a entrar num caminho que nos levaria ao esquecimento, à pobreza, à desgraça, em última instância, à morte. Então o governo português regente, no dia 26 de outubro de 2055, declara guerra à Espanha, numa tentativa de alargar os seus territórios. Uns meses antes, os dois países envolveram-se em negociações infindáveis, que nunca levaram a lado nenhum. A verdade é que Portugal não tinha muito a oferecer à Espanha a não ser um exército mais preparado. E foi esse mesmo exército que durante 28 anos lutou afincadamente, com algumas derrotas e prejuízos pelo meio, mas que no final se mostrou eficaz e conquistou todos os territórios necessários para que a Espanha cedesse e deixasse de existir no mapa como país independente e com nome próprio. No dia 18 de dezembro de 2083, foi assinado o Tratado de União, que estabelecia o alargamento do território Português, passando o país a fazer fronteira com França. Os anos que se seguiram foram de grande instabilidade, a morte e o caos estavam espalhados por todo o país, já para não falar do descontentamento do antigo povo espanhol. No entanto, a recuperação foi extraordinariamente rápida e Portugal soube tirar vantagem de recursos até então inexplorados pela antiga Espanha. Começaram a surgir grandes investigadores, cujos nomes eram aclamados por todo o mundo, e no ano de 2111, quando eu tinha apenas 9 anos, Portugal começou a ser considerado o berço da ciência ultramoderna. Se olharmos para a história do país, não é algo assim de tão surpreendente. Outrora, na época dos descobrimentos, Portugal era um país glorioso e destemido. E a história também nos diz que guerras por territórios já antes foram travadas entre Portugal e Espanha e a união entre os dois países num só, é tudo menos uma novidade. É por isso que, por vezes, penso se tudo isto que aconteceu não pode ser encarado como um retrocesso na história destes dois países que levaram anos a lutar pela sua independência.

Mas enfim... O que está feito, está feito. Há muitas coisas na história do meu país com as quais não concordo, mas também não posso fazer nada para mudar os acontecimentos do passado. O que eu sei é que está nas minhas mãos, nas mãos dos meus companheiros e de todos aqueles que se juntarem à nossa causa construir um futuro com o qual nos orgulhemos.

A partir deste momento, o conselho agirá como um todo, mas estando, na verdade, fragmentado e disperso pelos países que estão interessados no projeto. A Diana Castro será 1ª comandante na nave que partirá dos Estados Unidos, o Vicente Garcia será 1º comandante na nave de Itália, Bartolomeu Antunes o 1º comandante na Índia, Pablo Fuentes será 1º comandante na nave de França, Tomás Caeiro o da nave do Brasil, Dinis Beltrão o da Austrália, Eric Silva o do Reino Unido, Isaac Morais o da China e Miguel Serrano será o 1º Comandante da nave que partirá, daqui, de Portugal. Eles serão os responsáveis por todos os preparativos necessários para que estes nove países consigam dar uma oportunidade ao seu povo de se restabelecer num planeta saudável, forte e promissor. Se em cada país existirem, pelo menos, 100 pessoas interessadas na proposta da nossa equipa, a humanidade terá grandes chances de sobreviver e prosperar num novo planeta. Quantas mais pessoas, melhor. E a diversidade genética oferecida por países tão distintos, será, sem dúvida, uma enorme mais-valia.

A comunicação entre todos não será um obstáculo, visto que, hoje em dia, as crianças aprendem inglês, a língua universal, desde muito pequenas. Todos somos bilingues, dominando tão bem o inglês como a língua do nosso país de origem.

Neste momento, deves estar-te a perguntar onde fico eu no meio disto tudo? Porque é que não serei 1ª comandante de nenhuma das naves...? A resposta é simples: não me acho uma boa líder. As minhas ações são guiadas, a maior parte das vezes, pelas emoções. Perante conflitos, facilmente, cedo, na procura da paz e da harmonia que tanto prezo. Todos eles têm a racionalidade e o pulso firme que me faltam. Além do mais, o Hélio é, e será sempre, a minha prioridade. Estou a fazer tudo isto também para ganhar tempo de qualidade na companhia dele e sei que se ocupasse um cargo de tamanha responsabilidade não o teria.

Não obstante, não fui a única que fiquei de fora. O Conselho é composto por onze pessoas e serão produzidas apenas nove naves. Assim, António Caetano acabou por não ser nomeado para nenhuma das naves como 1º comandante, o que o deixou ligeiramente aborrecido. No entanto, conhecemo-lo demasiado bem para lhe dar um cargo de tanta responsabilidade. Nem a própria vida sabe gerir! O António é dos homens mais inteligentes que conheço, mas a sua ambição é desmedida e tem fama de dar passos maiores do que as pernas. É um homem que gosta de poder, mas não sabe o que fazer com ele. E isso é demasiado perigoso.

Agora que já está tudo mais encaminhado, vou manter-me um pouco mais afastada nesta etapa da implementação do projeto. Confio inteiramente nos meus colegas de equipa e a minha ajuda será muito pontual. Quero passar estes últimos anos que nos restam no planeta Terra completamente focada no crescimento e desenvolvimento do meu filho, para que este possa ter uma infância feliz, mesmo que num planeta já quase sem alma.

Até à próxima,

Celeste Bacelar

Mais naves?! Mais pessoas?! Eu pensava que eramos os únicos. 250 pessoas numa viagem apenas de ida para um planeta desconhecido.

Quantos mais haverão? Serão eles muito diferentes de nós? Terão partido da Terra na mesma altura? Estarão a fazer exatamente a mesma rota que nós? Terá alguma nave já lá chegado? Tantas e tantas questões sem resposta.

No entanto, não consigo evitar sorrir. Não vamos ter apenas um planeta novo para explorar, vamos ter a oportunidade de conhecer novas pessoas com interesses, histórias e formas de ver a vida diferentes. Cada vez mais, anseio por lá chegar. Um futuro verdadeiramente irresistível e tentador. Um futuro tão melhor do que este presente, onde me vejo asfixiada e condenada a uma sentença que é tudo menos justa. Hoje dei o meu primeiro beijo, mas continuo, aqui, sozinha, no frio silencioso e escuro do meu quarto.

Resignada com a minha realidade, volto a debruçar-me sobre o diário da minha bisavó.


Respiro fundo e abro a porta que se encontra à minha frente. Não temo ter de me deparar com o 1º comandante e, muito menos, com possíveis olhares reprovadores. Por mais estranho que pareça, é com o olhar do Salvador que me preocupo. Mas talvez ainda não tenha chegado.

Não olhes para lá, ordeno a mim própria. No entanto, é mais forte do que eu. Eu preciso de o ver. Preciso de saber como me olha depois de tudo o que aconteceu.

Percorro o olhar pelas pessoas que se encontram de pé ao fundo da sala. São três filas de pessoas claramente exaustas depois de um longo dia de trabalho. O Salvador está posicionado logo na primeira, com o corpo hirto e os olhos frios fixos em mim. Apesar da distância, consigo perceber a mágoa que transborda no azul do seu olhar.

Volto a minha atenção para o lugar onde me costumo sentar, sem conseguir suportar ver o Salvador em tal estado, e começo a avançar nessa direção. É demasiado para mim. Nunca antes algo me doeu tanto como isto. A descomunal distância entre o meu lugar nesta sala e o dele, só me faz relembrar o quanto estamos destinados a ficar longe um do outro. A mensagem é clara, nós é que nos fizemos de tolos durante todo este tempo. Brincámos com o fogo e saímos, os dois, queimados.

− O que se passa com o Sal?! – Sussurra a Analu assim que me sento do seu lado. – Passei por ele há pouco e olhou-me como se me quisesse dilacerar. Acaso está chateado comigo? Julgo que não fiz nada de errado, mas...

− O problema do Salvador não és tu − respondo cabisbaixa num tom ainda mais reduzido que o dela. – Sou eu.

− Fizeste algo que o desagradou?

− O problema não foi o que eu fiz, mas antes o que deixei de fazer.

− O que...

− Eu prefiro não falar disso agora – interrompo-a. Sei que quer ajudar, mas o silêncio, por agora, continua a parecer-me o melhor dos remédios. Mexer numa ferida que foi aberta há tão pouco tempo só vai fazer com que a dor aumente. É preciso dar-lhe tempo para cicatrizar. Se o tempo não o conseguir fazer, nada mais o conseguirá.

− Boa noite a todos − cumprimenta o 1º comandante pouco depois de chegar à sala. – Que magnífica semana tivemos nós! Sem qualquer incidente ou contratempo.

Os seus olhos amargos fixam-se num ponto ao fundo da sala. Não preciso de me voltar para saber que é o Salvador o alvo da sua atenção. Ainda não esqueceu o pesaroso episódio de agressão. E apesar de tanto o Leandro como o Salvador terem sido castigados, é óbvio que no seu íntimo deposita, injustamente, toda a culpa do ocorrido no Salvador.

− Aliás, − profere enfaticamente ao lançar o olhar de novo por toda a sala, não o prendendo em nenhum lugar em particular, − tudo correu como antecipávamos. Acredito que não vos saia da cabeça a imagem do esbelto e enorme planeta por que passámos hoje. Como já devem ter calculado, o planeta que vimos não é ainda aquele por que tanto aguardamos. Ainda assim, trata-se de uma importante prova de que o nosso planeta está bastante próximo. Através de cálculos exaustivos elaborados pelos nossos notáveis físicos, posso informar-vos que estaremos a cerca de vinte dias da nossa nova casa.

O ambiente à minha volta muda drasticamente. O silêncio pesado e desprovido de alma é substituído por alegres e animadas vozes que se misturam no ar, sem que nenhuma se destaque ou diferencie das restantes. Nenhuma palavra consegue chegar intacta até aos meus ouvidos. Sons indiscerníveis recebem apenas o meu silêncio como resposta.

Não estou eufórica como a maioria dos presentes, nem o poderia estar. A informação não me apanha completamente desprevenida. Poderia não saber quanto tempo exato demoraríamos a lá chegar, mas a estimativa que fiz não ficou muito longe. Ainda assim, ter um número mais definitivo em mente conforta-me.

− Isso mesmo − declara o 1º comandante com um tom de voz cortante. – Sei que ficaram entusiasmados, mas não nos podemos esquecer que ainda não chegamos lá. É necessário foco, determinação e ordem! – O tom ameaçador que emprega tem o poder de aniquilar por completo todos os sussurros que percorriam entusiasticamente a sala. − Muito trabalho ainda vos espera aqui, nesta, que ainda é a nossa casa. Mas sei que posso confiar em todos vocês. De certo, todos continuarão o bom trabalho que têm feito até aqui. Esta semana foi mais um exemplo do vosso comprometimento com a comunidade. Estou muito contente com o trabalho desenvolvido por todos vocês nesta semana que passou. Verificaram-se muitos avanços, pequenos ou grandes, em todas as áreas de trabalho...

Vinte. Vinte. Vinte.

O número ecoa pela minha mente.

À minha frente o 1º Comandante continua com a mesma pose confiante e autoritária e a sua boca vai articulando palavras que o meu cérebro se recusa a processar. São as mesmas histórias de sempre, a semana muda, mas o discurso pouco ou nada se altera.

Vinte. Vinte. Vinte.

Agora sei que só faltam vinte dias para a minha liberdade e para a liberdade de todos aqueles que entraram nesta nave como clandestinos à procura de uma vida melhor. Um novo planeta tão grande como o planeta Terra é exatamente do que precisamos para construir a vida que queremos e não aquela que decidiram escolher para nós.

Vinte. Vinte. Vinte.

Vinte dias. Tão pouco comparativamente com o tempo que já vivi nesta nave. Não obstante, o número queima-me as entranhas. Serão vinte longos e pesarosos dias.

Vinte. Vinte. Vinte.

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