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Capítulo 20

– Conseguiste tratar do problema das seringas? – pergunta-me o Salvador assim que me sento no chão frio da sala secreta em frente a ele.

Era a primeira vez, do dia de hoje, que falávamos um com o outro. Quando cheguei à sala secreta ele já se encontrava lá dentro, mas por muito que me apetecesse falar com ele, havia assuntos mais importantes para resolver.

O Gabriel e o Afonso encontravam-se em muito melhor estado hoje.

Numa análise desprovida de instrumentos que os pudessem assustar, pareceu-me que as suas vias respiratórias estavam mais limpas, os seus olhos mais atentos e a febre e tosse tinham desaparecido sem deixar vestígio.

Continuavam com pouca fome, informaram-me as mães deles. Era normal, em mais algumas horas também esse sintoma desapareceria. Aí voltariam a ser os rapazinhos saudáveis e cheios de energia que todos ali dentro conheciam. Menos eu.

A mãe do Gabriel, entre gargalhadas, garantiu-me que o seu filho era o pior dos dois, que a sua energia nunca se esgotava. Pelo menos, quando estava cem por cento saudável.

Fiquei feliz por ver as mães e os respetivos filhos muito mais sorridentes e brincalhões. Toda a sala parecia diferente, todos estavam muito mais faladores e com um sorriso nos lábios. Mesmo a senhora dos olhos negros sem vida, a Ângela como me pedia para tratá-la, parecia ter, hoje, um pouco de luz nos olhos. É normal, o Gabriel é o seu único neto, descobri eu ontem. É uma das poucas estrelas que existe na sua vida longa de sofrimento e miséria, penso tristemente.

– Não houve qualquer problema – garanto ao Salvador. – Durante a hora de almoço, a Maria e a Teresa saíram e eu coloquei as seringas na máquina de esterilização. Vinte minutos depois já estavam todas de novo na respetiva caixa.

– Ainda bem – diz o Salvador.

Só isso? Não vai mesmo contar-me que foi apanhado pela Teresa.

Pensava que éramos uma equipa. No entanto, eu até percebo. Se fosse eu, se calhar também não contava. Afinal de contas, o Salvador errou mais uma vez. Foi novamente apanhado em flagrante.

Não sei o que será pior, admitir isso ou falar da desculpa, no mínimo estranha, que acabou por inventar.

Mas eu não vou deixar passar isto em branco. Quero ver a cara dele quando souber que a Teresa me contou tudo.

– Com que então estás apaixonado por mim?!

Vejo-o remexer-se desconfortavelmente no seu lugar.

Estou mesmo a adorar isto, penso.

– O... o quê? – pergunta passando nervosamente a mão pelo cabelo.

– Pois é. A Teresa contou-me tudo, desta não estavas tu à espera! – disparo sentindo-me vitoriosa. Mas quando me deparo com um Salvador subitamente calmo e sereno, juro que sinto uma vontade enorme de o esganar. Ainda há uns segundos estava a sentir-se desconfortável com o rumo da conversa e agora está novamente completamente impávido e seguro de si. Talvez seja mesmo bom a esconder o que sente. – Afinal não és assim tão melhor do que eu, voltaste a ser apanhado.

– As estatísticas ainda estão do meu lado.

Que raiva! E não é que ele tem razão. Ele errou duas vezes em inúmeras. Já eu...

OK. Mudança de abordagem.

– Como é que te lembraste de dizer à Teresa que estavas apaixonado por mim, e que tinhas invadido a enfermaria para me preparar uma surpresa? Como é que sabias que com essa te escapavas?

– Acontece que eu sou um rapaz muito atento e vejo a forma como a enfermeira Teresa olha completamente embevecida para todos os casais por que passa. É do tipo de mulher que não resiste a uma boa história de amor e a um pouco de romance. E foi exatamente isso que lhe dei.

Confesso que nunca tinha reparado na forma como a minha mentora olha para os casais existentes na nossa comunidade. Mas agora faz sentido toda aquela insistência em saber o que sinto pelo Salvador e na nossa "suposta" relação amorosa. É como se fosse uma forma de ela compensar a ausência de romance na sua própria vida, onde quase só existe espaço para o trabalho.

– Já estou a ver é que não posso confiar na enfermeira Teresa – acrescenta o Salvador com um pequeno sorriso no rosto que me faz estremecer. Ele consegue ser simplesmente perfeito quando sorri assim. – Peço-lhe para não te contar e dá nisto!

– Pois, mas o pior é que a Teresa não se vai esquecer facilmente disto e vai andar atenta a nós os dois. O que pode ser um problema.

– Achas?

– Não, tenho a certeza. Pior ainda. Vai andar-me a perguntar todos os dias sobre ti. Se hoje já foi o que foi... – digo exasperada ao imaginar os meus próximos dias de trabalho.

– O que é que ela te perguntou sobre mim?

– Se eu gostava de ti, se te achava giro... Esse tipo de coisas – admito ruborizando ligeiramente. Porque é que eu trouxe a conversa para este rumo?

– E o que respondeste tu? – pergunta-me, parecendo verdadeiramente interessado.

Porque quererá ele saber? Bom, acho que se fosse eu no lugar dele também iria querer saber. O ser humano não resiste. Ficamos sempre curiosos quando se trata de saber o que os outros acham de nós.

– Tentei mudar de assunto, mas sei que ela não ficou satisfeita por ter ficado a saber tão pouco. Criaste um monstro, que sou eu quem vai ter de aturar. – O Salvador ri-se às gargalhadas e eu junto-me a ele. – Acreditas que ela me disse... – acrescento com uma voz entrecortada pelos risos, – que eu te devia dar uma hipótese?

É tão bom rir. Rir com prazer. Apenas rir, sem pensar em mais nada nem em ninguém. Esquecer todos os problemas nem que seja apenas por uns segundos.

Quando volto à realidade e dou de caras com um Salvador a rir às gargalhadas, penso que deste momento não quero fugir. Não o quero esquecer. Quero guardá-lo cuidadosamente na minha memória e revivê-lo vezes e vezes sem conta. Quero ter uma prova de que um Salvador divertido e feliz também existe. Quero voltar a ver esta imagem na minha mente e relembrar-me que fui eu que o deixei assim.



– Posso saber onde tens andado? – pergunta-me a Analu assim que chego à mesa do refeitório onde ela já se encontra sentada.

– Por aí, nada de especial – respondo pousando o tabuleiro com o meu jantar na mesa e sentando-me.

– Pois não me parece. – Como assim? O que é que ela sabe? – Deve ser muito especial, para andares tão desaparecida nestes últimos três dias. Agora só te vejo a partir do jantar. Eu conheço-te, Aurora. Andas a ocupar o teu tempo com alguma coisa importante. Só não sei o quê.

– Eu confesso... – começo, tentando procurar mentalmente uma desculpa que convença a Analu de vez, para que deixe de me fazer perguntas. Uma ajuda do Salvador agora dava-me jeito. Não, eu não posso estar sempre a precisar dele. Tenho que fazer isto sozinha. – Eu... encontrei um livro há 3 dias perto do centro de saúde... – Quantos mais detalhes acrescentar, mais credível será a história. – Não resisti... eu sei que deve ser de alguém, mas eu vou devolver, assim que o acabar de ler. É com a leitura desse livro que tenho estado ocupada, quero aproveitar todos os minutos que tenho livres para o ler, para poder depois devolvê-lo.

– Só podia! Tu e a mania dos livros. Acho que nunca vou perceber o que vês tu neles.

Acreditou! Eu sabia que ia resultar.

O único problema é que esta desculpa não serve para muitos mais dias.

Se eu continuar desaparecida deste jeito, a Analu vai começar a suspeitar e daí até descobrir tudo é só uns passinhos.

Tenho que começar a fazer visitas mais curtas à sala secreta.

Não queria nada, as visitas que faço já me parecem tão pequenas. Mas não o são.

Nestes últimos dias, tenho saído da enfermaria e ido direta para a sala secreta. As 2 horas que tenho entre o trabalho e a hora do jantar tenho passado lá. Já para não falar que tenho ido almoçar mais tarde, acabando por não encontrar a Analu há hora de almoço.

Contudo, tenho a dizer que as horas que tenho passado na sala secreta têm sido as melhores do meu dia. Estou a adorar conhecer aquelas pessoas. São tantas as aventuras e peripécias por que muitos têm passado. Quem diria que numa pequena sala, tantas coisas pudessem acontecer. Mas, de todos, quem eu mais gosto de ouvir é a Ângela. Fala-me do que se lembra do planeta Terra, e, por vezes, quase parece que estou a ouvir novamente a minha bisavó a descrevê-la. A beleza de um céu azul, uns campos verdejantes e húmidos pela chuva, que não é mais do que água que cai do céu. Queria tanto ver essas coisas um dia. Quem sabe? Tenho esperança de encontrar isso, e muito mais, no novo planeta.

– Eu não te contei nada, mas nesta última semana o meu mentor lançou-me um desafio – conta-me a Analu extremamente entusiasmada.

– Que desafio te lançou? – pergunto, fingindo-me curiosa. A verdade é que o Salvador acabou de entrar no refeitório e não consigo descolar os olhos dele. Move-se com movimentos firmes e calmos, mas eu sei que este não é um ambiente que o deixe confortável. Só existe um ambiente que o deixa assim, e ninguém da comunidade, além de mim e do Salvador, conhece esse local.

Combinámos que eu sairia sempre primeiro do que o Salvador da sala secreta, para ninguém desconfiar da nossa súbita aproximação. Para a comunidade, eu e ele quase nem nos falamos, e isso tem que continuar assim. É mais seguro.

– Pediu-me que tentasse criar uma nova espécie de planta, sem qualquer ajuda. Uma espécie só minha. Demorei dias, mas finalmente, hoje, consegui. Nem queria acreditar! Realizei tantos testes e cálculos para chegar a uma fórmula final... Foi extremamente cansativo, fazer este trabalho todo sem uma equipa, como podes imaginar. Mas foi tão mágico quando vi os químicos a reagir automaticamente ao substrato da planta.

– Eu e a Ruiva é que reagimos quimicamente quando tocamos um no outro – diz o Matias ao colocar a mão sobre a minha ao sentar-se ao meu lado.

Nada. Não sinto nada com o seu toque. Já o mesmo não se pode dizer...

Retiro rapidamente a mão da mesa e olho para o outro lado do refeitório. Os meus olhos encontram de imediato os do Salvador. Há quanto tempo estará ele a olhar? Terá ele visto o Matias a tocar-me? Sinto-me culpada, mas não existe razão para isso.

Volto a fixar-me no prato que tenho à frente.

Estás a dar nas vistas, Aurora, recrimino-me.

– Sempre a fugir, sempre a fugir! – reclama o Matias. Pelo canto do olho, vejo-o a levar à boca a primeira colherada. – Ainda hás, um dia, de correr atrás de mim.

Vai sonhando, penso. Mas não respondo nada, não vale o esforço.

– O meu mentor elogiou-me imenso – continuou a Analu, ignorando a intromissão do Matias. – Disse que me esperava um futuro profissional brilhante. Eu até acho que a minha planta ainda vai ser bastante utilizada em futuros medicamentos. Tem propriedades medicinais prometedoras. É claro que ainda temos de fazer bastantes testes primeiro, só depois podemos contactar o laboratório de saúde e ver o que eles acham.

– Parabéns, Analu – digo verdadeiramente feliz por ela. – Tenho a certeza que um dia ainda irei receitar um medicamento que contenha essa tua planta.

– Seria mesmo fantástico, não era? – comenta a Analu com um brilho de orgulho no olhar.

– Fantástico era o 1º comandante, – diz o Leandro ao sentar-se junto à Analu, – amanhã, na reunião semanal, anunciar a obrigatoriedade de todos na comunidade participarem nas sessões de jogo que existem no quarto do avô daqui da Aurora. Isso, sim, seria fantástico. Assim, poderia ficar a saber os segredos de toda a gente. Mas para isso era preciso que ele soubesse primeiro que essas sessões existem...

– Não te atrevas! – ameaço, assustada com a ideia. Se o Leandro contar tudo, o meu avô pode ficar em muito maus lençóis. Eu sabia que isto mais cedo ou mais tarde poderia acontecer.

– Calma, miúda. Eu não vou arriscar o 1º comandante suspender estas sessões. Gosto demasiado delas. Vou a todas a que posso, mas tens que pedir ao teu avô se consegue arranjar mais um baralho de cartas, são muitos os interessados em jogar, e detesto quando lá chego e já não há espaço para mais ninguém. Ou isso, ou ele começar a fazer as sessões todos os dias da semana.

– Temos pena Leandro, vais ter de arranjar outro passatempo qualquer, porque o meu avô vai continuar a realizar duas sessões por semana com um baralho apenas.

– Agora que penso nisso, nunca vos vi a vocês as duas lá a jogar. Têm medo de perder, é? – pergunta o Leandro com um tom de desafio na voz.

– Eu não tenho medo de nada – informa a Analu ao pousar a colher dentro do prato de comida, agora, completamente vazio. – Conta comigo para uma partida desse tal jogo.

– E tu Aurora? – pergunta o Leandro com um sorriso de escárnio nos lábios. Ele acha mesmo que, por ter convencido tão facilmente a minha amiga, me vai convencer a mim?

– Não vale a pena – responde o Matias por mim. – Já no outro dia a tentei convencer e nada. Talvez seja melhor assim, se eu ficasse a saber todos os seus mistérios, perderia metade da piada.

Vejo o Matias e o Leandro a sorrirem cumplicemente, por isso decido, mais uma vez, não dizer nada. Às vezes, o silêncio é a melhor resposta. Todavia, fico a pensar se terá ele razão. Será que quando descobrimos tudo acerca de uma pessoa, perdemos o interesse nela? Será que perderei eu, algum dia, o interesse em conhecer melhor o Salvador? Não, eu não sei tudo sobre os meus pais, nem sobre os meus avós, nem sobre a Analu, nem sobre a Teresa... há sempre qualquer coisa nova todos os dias para descobrir, só temos de querer procurar.



Amanhã é dia de reunião semanal, já nem me lembrava. Quando o Leandro o disse nem processei o significado disso, estava mais preocupada em defender o segredo do meu avô.

Como conseguirei eu adormecer agora?

Amanhã vou estar frente-a-frente com o 1º Comandante pela primeira vez desde que descobri o que ele foi capaz de fazer.

Não sei como vou reagir. Nada bem, suponho.

Talvez fosse melhor faltar. Será que alguém daria pela minha ausência? A Analu daria, por isso faltar não é opção. Criaria demasiadas suspeitas.

Não vale a pena estar a preocupar-me com isto. O Salvador consegue disfarçar, então eu também devo conseguir. Só vou ter de olhar para a cara do 1º Comandante e esquecer-me do monstro que ele é.

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