Capítulo 9 - ᘏ Ɓяαηcσ თ - Especial
Na manhã seguinte de um dia ensolarado, Dafne de Gosmel estava completamente recuperada, mas não sabia dizer se isso a deixava contente ou não.
Apolo de Orco recomeçaria suas investidas amorosas assim que percebesse que ela estava bem outra vez. Contudo, sentia-se otimista, pois esperava tentar uma fuga até o final do dia.
Quando ele bateu na porta e entrou no quarto, ela já estava vestida e tinha uma aparência normal e sadia.
— Vejo que já está pronta para recomeçarmos de onde paramos. Disse, enquanto observava ela atentamente.
— A que horas chegaremos ao lugar que você mencionou? perguntou, evitando recomeçar a discussão entre eles.
— Chegaremos a tarde se tudo cooperar e estiverem de acordo com os elementais. Mais algumas horas e estará na casa que será seu lar por um longo período de tempo. Sei que ainda pensa na possibilidade de fugir de mim, filha do fogo, mas devo avisá-la de que está perdendo o seu tempo; achei uma fêmea que me atrai profundamente, que me intriga muito também, e não vou deixá-la escapar. Acho que nos daremos muito bem... assim que me aceitar como seu companheiro, é claro.
Dafne sentiu seu rosto empalidecer e não conseguia achar uma resposta para o comentário que ele havia feito. Sentia vontade de agredi-lo quando falava com ela daquele jeito.
— Você fica adorável quando está irritada! Apolo continuou. — Seus olhos se transformam... Azuis como o mar passando profundamente para alaranjados e que parecem faiscar quando está com raiva. Tem uns olhos muito diferentes, bastante incomuns, mas não vim aqui para falar deles. Vim ver se já está pronta para o desjejum; acho que já percebeu que são mais de nove badaladas, não?
— Bem, aceitaria algumas sementes torradas e mel silvestre.
— Ótimo! Apolo parecia contente com a sugestão. — Vamos para a sala de refeições, então.
O mesmo ser da noite anterior esperava por eles, ao lado da mesa.
— Parece que Pã se deixou levar pelas aparências. Ela disse baixinho, para si mesma. Se lembrando das lendas gregas e dos deuses mitológicos.
Mas Apolo ouviu seu comentário e levantou as sobrancelhas, num gesto de curiosidade.
— Que aparências?
Não tendo como evitar sua pergunta, Dafne teve de lhe dizer que estava certa de que todos dos cinco reinos o considerava uma criatura muito rica e poderosa.
— Essa embarcação... Ela acrescentou. — Me parece ser uma embarcação muito antiga... embora deva admitir que não entendo nada a respeito de barcos feitos por humanos.
— Mas sua amiga feiticeira e sua atual soberana entende, não é? Sabe, estive pensando... quando ela tiver ficado naquela ilha o suficiente para se arrepender do que pretendia fazer comigo, acho que mandarei o Silenos de volta para lá, para que ela possa voltar para seu reino. E só para que saiba essa embarcação é do Silenos e Lácio. Eles são na verdade mercadores que transitam por todos os cinco reinos.
— Vai mesmo? Dafne não conseguia disfarçar sua ansiedade. — Quando?
— Fêmeas... Você só ouviu o que te interessa. Mais uma vez está se preocupando com a situação de sua amiga feiticeira e esquecendo de si mesma. Ainda não percebeu, Dafne, que está num beco sem saída?
— Não pense que posso me esquecer disso. Respondeu, enquanto pegava uma fatia de melão com mel.
— E, mesmo assim, continua pensando na feiticeira?
— E na nossa soberana. Você se esquece de que, neste momento, há duas pessoas envolvidas no caso que estão sofrendo muito? E a princesa também deve estar preocupada...
— Ela com certeza não! Apolo a interrompeu. — Aquela garota só se preocupa consigo mesma. Igual a mãe, eu só passei de um brinquedo em suas mãos para irritar a sua mãe, nada mais que isso!
— Bem, mesmo assim, a rainha Ariadne e sua outra filha estão passando por maus momentos. Tentando explicar o seu desaparecimento e as diversas mortes em volta da floresta negra.
— Estão tendo só o que mereceram! Ele respondeu, com indiferença. — Não posso lhe dizer quando os mandarei de volta à ilha... se é que vou mandá-lo. Talvez decida deixar sua amiga feiticeira em Painita Escarlate até que alguém vá socorrê-la. Claro, se encontrarem...
— Mas isso pode levar meses! Não seja tão cruel!
— Sim, é verdade. Apolo apanhou outra fatia de fruta pão. — Bem, o que eu faria numa situação dessas? Acho que tentaria fazer um sinal de fogo no lugar mais alto da ilha. Aquela ilha drena os poderes místicos de que fica nela, mas com o tempo ela acaba se acostumando. Passei uma boa temporada lá aprimorando meu treinamento. Sim, seria o que de melhor poderia fazer e, se ela tiver um pouco de bom senso, pensará nisso. Começará a treinar os seus poderes...
— No lugar mais alto da ilha? E como ela chegará até lá? Sem poder algum...
— Escalando as montanhas, ora essa.
Dafne deu um suspiro.
— Sabe tão bem quanto eu que é impossível para uma fêmea subir por aquelas encostas íngremes. Toda a montanha é feita de obsidiana negra.
— Você também? E, antes que ela respondesse, continuou falando sem tirar os olhos de seus lábios. — Acho que você não teria dificuldades em fazer isso.
— Não preciso de sua lisonja, Decaído.
— Apolo... Ele disse calmamente. — Quero ouvi-la dizer meu nome, Dafne.
— Não consigo! Disse ela comendo um cacho de uvas vermelhas.
— Bobagem! Vamos, diga. Ou vou te castigar a minha maneira.
— Não deve esperar que eu o chame de outra forma a não ser... de Decaído.
— Quase o disse, não é? Um sorriso iluminou seu rosto. — Com relação aos meus direitos... Sabe que tenho os direitos de uma fêmea, não é, Dafne? Você agora é minha propriedade. São as leis dos cinco reinos. Por que acha que sua soberana me enviava tantas fêmeas?
— A lei da surpresa?
— Exato... Um costume tão velho quanto a criação dos mundos, é o preço que um ser que salva alguém, nesse caso eu salvei os cinco reinos Eras atrás. Pode pedir a quem foi salvo. Isto pode ser qualquer coisa: uma cachorro, alguém da família ou uma espada. Explicou ele a admirando com um brilho renovado em seus olhos escuros.
— É um pedido por algo que nem o salvador e nem o ajudado tem conhecimento até que a pessoa salva retorne ao seus domínios. Falou ela admirada ao descobrir os verdadeiros motivos da rainha Ariadne.
Agora entendia o motivo da soberana querer afastar os dois, o Decaído poderia se tornar um soberano que ameaçaria os planos dela.
— Tipicamente, após uma longa viagem e um retorno inesperado, isso pode terminar sendo um amante na cama ou em outros casos uma criança sendo concebida quando o pai ainda estava distante. Contou ele sorrindo.
Dafne abaixou a cabeça; havia perdido o apetite. Mas achou melhor continuar comendo, ou então ele a obrigaria. Apolo continuou lhe dizendo que o chamasse pelo primeiro nome e, quase chorando de raiva e frustração, Dafne o obedeceu, para evitar complicações. Ele era uma criatura desprezível que conseguia deixá-la irritada e vulnerável.
— Assim é muito melhor. Afinal de contas, quando estiver em meus braços, não vai poder simplesmente me dizer: boa noite, Decaído, não é?
— Não iria lhe dizer boa noite de forma alguma! Principalmente como imagina. Disse ela rangendo seus dentes de raiva.
— Vai fazer como eu mandar. Seus olhos negros brilharam. — Se quiser que me deseje boa noite, será exatamente isso o que fará.
— Já terminei o meu desjejum. Importa-se se eu for para a minha... cabine?
— É claro que não. Estarei lá dentro de alguns instantes. Sorriu em triunfo.
— Na minha cabine? Dafne gaguejou, sentindo a cor fugir de seu rosto. Passando de pálido para vermelho em segundos. — Mas... e está embarcação? Não... não precisa ficar no comando?
— Meus irmãos podem fazer isso muito bem; está tudo em ordem! por enquanto, não acha? Além disso, eu não sou o capitão, mas ela sim. Disse ele apontando para uma linda fêmea de cabelos esverdeados que acenou antes de mergulhar nas profundezas do mar.
— Uma sereia?
— Sirenia, é a verdadeira capitã! Gargalhou ele ao ver o seu embaraço por perceber o obvio.
Quantos seres o apoiavam na verdade?
— Bem... sim... sim. Pensou em se levantar da cadeira, mas achou melhor ficar onde estava. — Acho que vou aceitar mais algumas frutas frescas.
Apolo lhe passou a bandeja e olhou para ela com uma expressão zombeteira.
— Está com medo de minha companhia? Ou com ciúmes da Sirenia. Não fique preocupada o feitiço delas não funciona comigo! Dafne, minha fênix de fogo, vai ter. que se acostumar com ela. A noite passada você escapou, mas não creio que isso vá acontecer de novo. Gargalhou ele se divertindo as custas dela.
A embarcação deslizava vagarosamente sobre as águas; embora nunca tivesse estado em nenhuma delas, Dafne reconhecia várias das ilha por onde passavam. O mapa que seu mestre lhe mostra-la em confidencial se configurava diante de seus olhos. O setor proibido, as terras baixas do povo das águas e da terra. Os reinos aliados que se tornaram amigos afinal.
A manhã estava terminando e Apolo havia passado grande parte do tempo na cabine dele; havia dito a Dafne que ela poderia ficar no salão de refeições ou tomar sol no convés. Às vezes ele saía de sua cabine e conversava em um idioma desconhecido com seus irmãos.
Dafne o observava e tentava imaginar que tipo de criatura ele seria na verdade... Queria saber qual era a sua ocupação dentro dos reinos da água e da terra, como era seus domínios e o que fazia nas badaladas de descanso. Calculava que deveria ter uns trezentos e| trinta ou trezentos e quarenta primaveras, e surpreendia-se com o fato de ele não ter uma fêmea como companheira ainda, pois os machos que conhecia gostavam de se vangloriar dos filhotes que tinham, principalmente dos machos que seriam grandes guerreiros. As fêmeas não tinham tanta importância. Nas famílias mais pobres, nem nas ricas... elas levavam uma vida muito difícil, cuidando de afazeres ditos feitos para as fêmeas, trabalhando nos campos de cultivo ou em hortas, jardins reais ou simplesmente tomando conta de suas moradas. Além do mais, tinham, em média, um filhote por ano quando se acasalavam com um da sua mesma espécie.
Finalmente a embarcação ancorou; Dafne olhou para a praia deserta, onde havia uma carruagem de corcéis Shire estacionado. Certamente Apolo havia mandado uma mensagem para os outros seres que conviviam com ele nessa ilha, avisando que chegaria.
— Chegamos! A voz dele interrompeu seus pensamentos.
Era a terceira vez que ele fazia isso; aproximava-se dela em completo silêncio e sempre acabava lhe dando um susto.
— Por que tem sempre que andar sem fazer o menor ruído? Disse com irritação. — Não vê que me assusta, assim?
— Primeiro eu não costumo andar e sim sobrevoar. Esqueceu que eu possuo asas? E vai assustar-se muito mais se continuar me tratando dessa forma; já lhe disse que quero que fale comigo com respeito!
Dafne engoliu em seco e virou o rosto, mas ele a segurou pelos ombros e fez com que olhasse para ele.
— Deixe-me em paz! Você me fala em respeito, mas que respeito tem tido comigo? Tentou soltar-se, mas ele segurou seus pulsos com força.
— Deixe-me lhe dar um bom conselho, Dafne de Gosmel. Não tente esgotar minha paciência. Estamos quase em meus domínios e você está em minhas mãos, para fazer o que eu quiser. Estou lhe avisando que usarei de castigos físicos se for necessário; talvez não saiba, mas todos os machos dos cinco reinos são incentivados a dominar as suas fêmeas para conseguir sua completa submissão, por isso... cuidado! Só por que a rainha Ariadne fez algumas concessões tornando algumas fêmeas guerreiras, mas só se elas continuassem a ganhar as batalhas. Se as perdem, não tem valor algum. O que acha das leis que sua soberana aprova? Falou ele com desdenho.
Soltou-a e mandou que o seguisse; Dafne obedeceu, mordendo os lábios. Caminhava com o rosto levantado, mas sabia que, na verdade, não passava de uma fêmea prisioneira. E sem esperanças de escapar. Tentou se concentrar para ver se suas chamas poderiam ser ativadas e nenhuma faísca surgiu em seus dedos.
A magia que ele usou bloqueou completamente os seus poderes? Ou seria outra coisa?
Olhou ao redor; não conseguia ao menos evitar o medo que estava sentindo. Que esperanças de escapar ela poderia ter, se o Decaído pretendia mantê-la presa em uma torre? Pois a ilha tinha inúmeras delas espalhadas por toda a sua extensão.
E tudo isso por causa de sua lealdade para com uma amiga! Tudo porque achava que não poderia deixar de ajudar Karina...
— Venha! A voz de Apolo interrompeu suas lamentações. — Ande mais depressa!
Pouco depois estavam dentro da carruagem; ele sentou-se a seu lado, enquanto outro ser repleto de símbolos pelo corpo e escamas dirigia. Com certeza era um Tritão...
— É muito... longe? Seu coração batia desesperadamente e ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas; estava muito tensa e perguntou a distância para quebrar o silêncio em que estavam desde que haviam entrado na carruagem.
— Agora não estamos muito longe; mais meia badalada e estaremos lá. Seguiremos para o sul sempre...
— Não tem medo do que está fazendo? Quero dizer, está me raptando, sequestrando.
— Vocês tiveram medo quando planejaram me sequestrar? Drogar ou seria envenenar?
— Não iríamos fazer mal nenhum a você.
— Naturalmente. Ele sorriu e debochou. — É a diferença que existe entre os sexos que te preocupa aqui; um macho não pode ser violentado? É o que pensa, mas eu te aviso. Que quem tem o poder nas mãos isso pouco importa...
— Você é uma pessoa detestável! Mas há de chegar o dia em que poderei lhe dar o troco!
— Isso nunca acontecerá, minha querida. Mas bem que poderia ser interessante.
— Não tenha tanta certeza disso! O destino pode mudar de uma hora para outra!
— Você nunca me denunciaria, mesmo que escapasse... o que não vai acontecer. Pois iria colocar a sua amiga feiticeira e a soberana dos ventos em evidencia. O que acha que ambas fariam? Ficariam do seu lado ou se protegeriam?
— Não devia estar tão certo disso. Você não pode afirmar o que elas fariam. Não tem o poder de ver o futuro e...
— Saiba que, se tentar, serei obrigado a mantê-la trancada a chave.
Ela estremeceu. Não havia pensado nessa possibilidade. Era óbvio que seria vigiada dia e noite, provavelmente por um ou dois seres da confiança de Apolo; isto é, quando ele mesmo não pudesse tomar conta dela. Mas não havia pensado que ele pudesse deixá-la trancada em algum lugar. Mesmo assim, não podia desanimar; talvez um dia...
— É claro que tentarei fugir.
— Já agiu precipitadamente, não deveria me revelar suas intenções e nem os seus planos. A não ser que no fundo do seu coração deseja permanecer ao meu lado. Por isso, me revelou tais pensamentos, seu desejo real é que eu te impeça! Mas Acho melhor não fazer isso, Dafne de Gosmel. Seria uma pena ter que deixá-la em completo confinamento em uma das minhas torres negras.
— Acho que não compreendi.
— Bem, talvez fique mais claro se lhe contar uma história; é sobre uma adorável fêmea que pertencia ao clã dos Nefilins. Um Alucard a queria para esposa, mas ela foi muito arrogante e disse que ele não servia para ela. A família do moço imediatamente desafiou o clã dos Nefilins para uma batalha mortal... a famosa vingança entre as raças, os humanos a chamavam como mesmo? Ah, sim... Um duelo pela honra ferida!... Era certo que o progenitor e os outros Nefilins da fêmea seriam vencidos e liquidados. Entretanto, o jovem não queria se resignar a ficar sem ela e passou por cima das regras de sua família, continuando a cortejá-la. Ela era extraordinariamente bela...
Apolo parou e ficou observando a fêmea a seu lado por muito tempo. Depois disse-lhe o restante da lenda.
— Antes de terminar a história, quero lhe contar a lenda a respeito da incrível beleza das mulheres do clã Nefilins. Essa lenda diz que a beleza começou a se espalhar pelas fêmeas dessa raça quando Ayron Alucard se casou com uma criatura que parecia uma a sereia que tinha a forma humana, mas habitava no reino das águas. Mas, Voltando ao jovem em questão, ele raptou a fêmea que o havia ofendido de forma tão insolente. Para castigá-la, o rapaz a manteve presa em completo confinamento por duzentos e cinquenta mil primaveras. Quando a soltou, depois de todo esse tempo, ela estava acabada e desmoralizada perante ao seu clã. Eles a consideraram uma traidora. Outros contam que eles foram felizes e que os fatos foram contados dessa maneira para desencorajar as raças de se misturarem. Apolo de Orco finalizou.
— Não acredito que, atualmente, uma fêmea possa ser mantida prisioneira desse jeito. É um absurdo... Dafne comentou, quase tremendo diante de história tão estranha e louca.
— Diz isso porque ainda não viu minhas torres negras.
— Você parece ter muita raiva do clã Nefelins e do clã Alucard. Ela disse, evitando responder ao que Apolo lhe havia dito.
— Esses clãs se odeiam mutuamente; as rivalidades e vinganças existiram por Eras, e ainda existem.
— Por que os Nefelins não tentaram se vingar do que havia acontecido a uma de suas fêmeas?
— E quem disse que não o fizeram? Apolo continuou a lhe contar com certa tristeza em seus olhos. — Eles o fizeram e, por Eras a fio, houve batalhas entre os dois clãs e muito sangue foi derramado. Então, por um grande infortúnio, uma das fêmeas de Alucard que não estava sendo muito bem vigiada foi sequestrada por um dos Nefelins. Ele a manteve sua prisioneira e a torturava continuamente; quando a soltou ela estava desfigurada, eles arrancaram suas presas e seus olhos vermelhos e, foi assim que devolvida para seu clã, cometeu suicídio. Os olhos dele se iluminaram com uma expressão diabólica.
— Desde aquele tempo, uma das maiores ambições de um Alucard é colocar as mãos em uma fêmea do clã Nefilins, mas isso tem sido muito difícil; a maioria do clã deles deixou os cinco reinos Eras atrás e foi viver em outro mundo. Bem, este não é um reino muito interessante para se viver. Muitos ainda dizem que nasceram seres do ódio desses dois clãs, eles seriam a ruína dos mundos ou a sua eterna salvação.
— Bobagens e histórias surreais para assustar os demais clãs. E mesmo assim você prefere ficar aqui. Dafne olhou automaticamente para o lugar por onde a carruagem passava; era um local desolado e quase selvagem, coberto de rochas opacas e negras. A solidão parecia dominar aquelas terras e ela não estranhou que todos temessem as bruxas, os demônios em forma de fêmeas que vagava por locais desertos às quatro luas negras. Essas terras baixas estavam repletas de bruxas, as fêmeas renegadas e banidas dos cinco reinos.
— Sim, eu prefiro morar aqui. O Decaído murmurou, respondendo à sua pergunta.
— Você tem todos os meios que precisaria para viver num lugar mais agradável. Por que não se muda daqui? Eu posso lhe ajudar nisso e...
— Porque foi aqui que meus antepassados sempre moraram. Eu na verdade nasci aqui, nessas terras esquecidas e abandonadas pelos cinco reinos. Mas em Eras atrás não foi assim. Meus antepassados viviam em paz e ajudaram os reinos a prosperar... Uma outra história que talvez eu lhe conte um dia.
Ele se calou por alguns momentos e Dafne teve a impressão de que havia algo de diferente em Apolo; sua expressão havia mudado, e ela sentia que o Decaído não seria capaz de causar dor a nenhuma fêmea do clã dos Nefilins, mesmo se ela caísse em suas mãos. Dafne tinha a impressão de que ele poderia machucar qualquer criatura, mas não uma daquelas que dizia odiar tanto. Achou estranho que lhe ocorresse uma ideia dessas e resolveu perguntar-lhe diretamente.
— O que faria se uma Nefilins que odiasse muito caísse em suas mãos? Quero dizer, teria coragem de torturá-la?
— Claro que a torturaria! Faria com que minha vítima se ajoelhasse a meus pés, implorando piedade...
— Pare! Não conseguiu evitar seu grito de horror. — Não; suporto a ideia de um ser vivo ser tratado de maneira tão bárbara. Por favor, vamos falar de outra coisa. Disse ela sem conseguir respirar direito.
— Não pensei que se sentisse mal com uma coisa dessas. Depois de uma breve pausa, continuou: — Certamente não iria gostar de assistir à decapitação de trezentos e cinco seres do clã dos Nefilins, depois que o próprio Adrian Alucard os prendeu em uma de suas torres, para cortar suas cabeças com sua espada.
— Não! Por favor, não fale disso!
Como Dafne gostaria de acabar com a arrogância dessa criatura!
Era tão orgulhoso das proezas desse clã Alucard que até parecia que pertencia a ele! E parecia odiar tanto os Nefilins... Mas ao mesmo tempo parecia ser ao contrário. Tudo no Decaído era um grande mistério. Devia se calar a respeito de sua origem, pois ela mesma já tinha desconfiança de qual raça ele pertencia. Um Alucard ou um Nefilins... Já estava em péssima situação até agora, imagine-se então se ele soubesse que ela descendia de duas misturas de raças.
3667 Palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro