Final - parte 1
A lua se escondia em meio as nuvens densas e escuras, formando uma madrugada ainda mais sombria e fúnebre que todas as anteriores a essa. Não era apenas o céu que tornava aquela sensação mais intensa, mas todo o conjunto. Os esparramados nos chão gélido entre destroços da estrutura da construção antiga que era Hogwarts, o solo umedecido por fluidos corporais de tantos que estavam ali presente lutando com tanto afinco. Suor, sangue e lágrimas de pessoas boas que não mereciam estar passando por tal situação. Uns mortos e outros tão perto disso.
O cheiro da morte pairava no ar como uma brisa fria de inverno, acariciando a superfície da pele suavemente, deixando a sensação da lâmina afiada da foice roçando ali, fazendo seu coração quase parar. Talvez aquilo fosse o aviso que a safra de vidas do local já havia sido colhida, ou, pelo menos, boa parte dela. Ele sabia que ainda faltavam algumas em meio aos que sobreviveram a primeira remeça, logo a segunda começaria com tanto fervor quanto a anterior. O ceifeiro deveria estar feliz pela colheita que havia sido designado para aqueles dois dias.
O estalo dos galhos secos se partindo ao serem pisados era desesperados, deixando mais real o cenário pavoroso. Um gosto amargo crescia em sua boca conforme se aproximava de Hogwarts, sua fachada em ruínas, destruída por horas de batalha incessante; o local vazio preenchido apenas pelo ar denso que permanecera ali após a luta, impregnado pelo o que ela deixara para trás: morte e destruição. A mente do garoto estava um grande vazio, as lágrimas ainda manchavam seu rosto alvo, mantendo a vermelhidão em contraste com todo o resto, contudo, não era apenas aquele vermelho que o manchava, mas o sangue de Snape também se fazia presente, marcando suas vestes e suas mãos. Diferente da marca de lágrimas em seu rosto, o sangue não sumiria, nem mesmo após a coloração rubra desaparecer depois de lavada, pois as marcas estavam em sua alma.
Um longo e pesado suspiro saiu de seus lábios, transformando-se em fumaça branca ao tocar o ar gélido da madrugada, e aos poucos desapareceu misturando-se com as trevas que o rodeava.
“Vocês lutaram valorosamente.” – disse a voz aguda do bruxo das trevas, arrepiando cada pelo de seu corpo. – “Lorde Voldemort sabe reconhecer bravura, mas se continuarem assim, resistindo a mim desta maneira, todos cairão mortos, um a um. Não gostaria que isso acontecesse, não, afinal, cada gota de sangue mágico derramado é uma perda terrível, um grande desperdício. Ordenei que minhas forças se retirassem para dar-lhes tempo. Lorde Voldemort é misericordioso. Uma hora, esse é o tempo que lhes dou. Cuidem de seus feridos. Deem um final digno para seus mortos. Uma hora.”
O corpo de Draco estremeceu por completo ao final do anuncio. A voz do bruxo parecia ainda mais sombria quando não o via falando, pronunciando cada palavra pela boca de aparência ofídica. Seus olhos vacilaram ao vasculhar o ambiente a seu redor compreendendo o motivo do vazio na parte externa do castelo: possivelmente entraram no momento em que os comensais recuaram sem prévio aviso, talvez chegando à conclusão que estavam com medo.
Sua mente ainda atordoada buscava traçar algum tipo de plano. Não poderia entrar no local estando visível, ainda mais levando em conta que todos os comensais haviam recuado e eles sabiam que ele era um dos homens de Voldemort – bom, quase um -, aquilo seria um pedido de morte certa. No estado em que estava não conseguiria fazer muita coisa, principalmente conjurar um feitiço desilusório por um tempo considerável, o estado de exaustão mental que estava não permitiria. Precisava descansar, era necessário recuperar forças para conseguir fazer qualquer coisa. Seu corpo desmoronou aos pés de uma grande árvore quase sem vida ao chegar a esta conclusão, recostou-se solo macio pelo gramado, a terra fofa e no tronco escuro. Seus olhos se fecharam e seu pensamento viajou longe, encontrando com Harry, imaginando quais eram as memórias que Snape havia colocado naquelas lágrimas que o dera.
O ambiente escuro escondia a face desgostosa de Granger, com a cabeça a mil enquanto tentava se manter concentrada unicamente em Severus, que estava com a cabeça sobre seu colo enquanto terminava de ministrar alguns feitiços de cura, atuando juntamente com a essência de Ditamno e sempre verificando seu pulso, tendo a certeza de sua vida.
Ela se recusara a pronunciar qualquer palavra que fosse desde que lera a carta, não conseguiria nem se quisesse, sua garganta estava apertada e doía como o inferno. As palavras não haviam sido digeridas, por seu cérebro ou por seu coração, mas ambos doíam. Como ela não percebeu, como não se lembrou em algum momento? Mesmo com Ron e Harry em seu encalço, alertando como dois malditos bons amigos e ela não se lembrava. Estava tão frustrada, magoada consigo mesma agora sabendo como tudo aquilo havia se desenrolado.
A Mansão...
A pressão invisível que mantinha sua garganta fechada lhe socara no estômago. As lembranças com a nova visão dos fatos lhe atingiram em cheio, deixando uma angustia amarga percorrer todo se paladar. Ela poderia vomitar ali mesmo ao se lembrar das palavras que cuspiu para Draco, quando ele apenas estava a ajudando, ajudando a todos. Certo, aquilo era uma grande merda. Enquanto ele colocava sua vida em risco ela o julgava e sequer estava perto de se lembrar das coisas.
O quanto você sofreu desde aquele dia? O quanto aguentou por nós... todos nós.
E então um balde de água fria caiu em sua cabeça, precisou se controlar para o ruivo não notar a mudança em sua respiração. Seus dedos crisparam na lateral da calça jeans que vestia. A lembrança lhe invadiu, aquela que algumas pessoas apenas sabiam e que só tomou ciência na noite em que foi obliviada. A voz de Draco tão longe, a sensação quente dos lençóis e de estar em seus braços, a sonolência que já beirava a inconsciência, o vazio e o frio de não tê-lo mais ao seu lado.
“Volto para te buscar, eu prometo.”
Ela era uma grande idiota.
Desde o começo ele esteve lutando contra seus próprios demônios, lutando para se desvincular de seus preconceitos e pré-coneitos que desde que nasceu lhe nfoi ensinado e se agarrou a um ideal para lutar – algo maior que tudo o que poderiam vivenciar. Todo esse tempo ele sofreu em silêncio e ela não conseguiu se lembrar de um maldito momento em que passaram juntos. Nem mesmo o motivo de nunca ter tirado o medalhão, nunca se questiono9u quem o dera.
- Você está bem? Ah, oi Ronald.
A voz mansa e Luna acariciou o ar, o deixando mais leve, a liberando da própria tortura que era permanecer presa a seus pensamentos.
- Luna! – o Weasley soou exasperado. – O que está fazendo aqui? Onde estão os outros?
- Estava indo ajudar-los com alguns dos corpos quando vi Draco deitado sob uma árvore. Por um momento tive a certeza de que estivesse morto, mas estava apenas descansando um pouco, recuperando as forças. Fiquei bem assustada. – ambos a observavam em choque. – Ele me disse que estavam aqui com o Professor Snape, disse para ver se precisavam de ajuda com algo.
- E-ele está bem? – a garganta de Hermione estava seca como o deserto. Se o Malfoy tirou tempo para recuperar forças, significava que as coisas estavam além do que ela poderia imaginar.
- Você se lembrou, não foi? – um sorriso leve e sincero lhe foi direcionado, deixando Granger envergonhada.
- Você sabia?
Sim, ela sabia.
- Draco cuidou pessoalmente de Luna e o velho Olivaras quando estava estavam como reféns na Mansão Malfoy. – o olhar sério foi para a garota, o azul parecia mais escuro e duro. – Foi ele quem deu a iniciativa de reunir a AD e deu toda a cobertura possível, pelo menos em quanto estava aqui. Gui e Luna me contaram quando estávamos no chalé de conchas.
Não tinha reação certa para aquilo, não sabia exatamente o que estava sentindo diante das informações. Uma onda de raiva se iniciou, esquentando cada uma de suas veias, fazendo seu sangue borbulhar.
- Por que não me contou antes!?
- E você iria acreditar!? – silêncio. Ela não conseguia encarar Roanld, não depois da sala precisa e tudo que deixou subentendido nesses últimos meses. A vergonha transpareceu em seu rosto pintando sua pele com um vermelho nada sutil. Ele percebeu. – Escute, Mione, o feitiço estava muito mais forte em você do que em mim e Harry, aquela doninha idiota fez o melhor que pôde para lhe manter segura e deu certo! Então faça o favor de não se culpar por não conseguir lembrar, porque ele não a culpa, tenho certeza. Draco é um bruxo poderoso e fez o certo.
O olhos de Hermione se encheram de lágrimas, transbordando tudo que não havia colocado para fora antes, o que estava entalado em seu interior.
- Você não entende... você se lembrou antes, Harry também, mas eu fui incapaz. Como não pude me lembrar dele, Ron? Disse coisas horríveis para ele... eu...
- Achamos que o feitiço foi mais forte em você do que nos outros. – a voz de Luna sobressaia novamente em meio ao caos. – E talvez seu inconsciente também tenha tentado lhe proteger.
- Do que está falando? – a feição de Granger mostrava com clareza a incompreensão, ainda mais do que suas palavras.
- Nossa cabeça possuem mecanismos de defesa e agem de maneira defensiva contra traumas ou qualquer coisa considerada uma ameaça. Veja bem, talvez seu subconsciente entendeu que o sentimento que tinha, as lembranças que estavam reprimidas no lugar mais profundo de sua mente fosse uma grande ameaça, que a fariam sofrer, a machucariam.
O ar lhe escapou, ela não se lembrava como respirar. Sua cabeça tombou para trás, batendo na parede de madeira enquanto as lágrimas involuntariamente escorriam por seu rosto. Ela não falou nada, apenas sentiu o toque calmo e gentil de Luna em seu ombro. Dumbledore havia revelado algo há muito tempo e ela se esquecera por completo, talvez ele havia apagado a memória ou até mesmo Draco.
Droga. Droga. Droga. Droga.
- Não se preocupe, vai ficar tudo bem.
Esse era o problema, não iria.
Diante da situação, mesmo ainda estando cansado e sonolento, Draco tomou coragem para se levantar e seguir para onde quer que devesse ir. O grande problema é que não fazia ideia de onde deveria ir primeiro, não a aquela altura, onde tudo parecia tão bagunçado em sua mente quanto realmente estava.
O vento soprou e com ele a lembrança do sorriso suave de Narcisa, acendendo tudo que estava no escuro em sua mente. Era um fato que ele não sabia quando ou se a veria novamente, talvez teria a oportunidade somente em outro plano. A ideia fez arrepiar cada pelo de seu corpo, não contaria de vê-la novamente após a morte, não, definitivamente não. Dado o tempo que havia passado desde o anuncio de Voldemort, ele sabia que teria um tempo até Harry ir para o bruxo, ele sabia que iria.
O caminho até a floresta proibia foi tranquilo e sem interrupções, Voldemort havia lhe avisado que em algum momento esperaria o garoto ali junto a seus homens e terminaria com aquela palhaçada. Ele apenas concordou, sendo totalmente condizente com o que o Lorde gostaria, sempre mantendo-se em seu papel.
Os passos estalados em meio a imensidão silenciosa anunciavam sua chegada, Voldemort podia sentir sua presença - talvez pelo cheiro, ele não saberia responder -, deixando uma sorriso visível ao vê-lo aparecer entre os troncos das árvores que rodeavam a área. O local escolhido pelo bruxo era, de fato, estratégico. Apesar de ser de fácil acesso, havia uma área aberta, sem árvores, deixando o céu visível, o que possibilitava a vigia de cima.
Os olhos de Draco faziam uma breve varredura na área, visualizando cada comensal presente, visualizando a figura assustada de Hagrid, o meio gigante, que se encontrava preso como um refém, caso Harry tentasse alguma gracinha e não se entregasse a morte como o Lorde havia planejado desde o início.
Narcisa lhe lançava um sorriso acolhedor, do tipo que lhe deixava com o coração quente e mais tranquilo. Sua mãe sempre teve esse poder. Lucius apenas o observava com um brilho de algo em seu olhar, talvez fosse culpa pela hesitação, mas não era algo que estava disposto a descobrir, gostaria de pensar que ele se arrependia de cada merda que ele havia feito até chegar naquele momento.
Há muito ele se pegava repetindo para si mesmo que o pai era daquela maneira pelo simples motivo de não saber o real valor da lealdade – uma verdadeira -, bons ideais, bravura, e, como disse Arthur para ele, altruísmo. Era um mantra que criara para não se deixar cegar pelo sentimento ruim que nutria pelo pai biológico.
- Veio se juntar a nós, Draco? – perguntou o ofídico, estendendo seus braços para um abraço. – É bom ver a família reunida.
Os lábios de Narcisa de curvaram em um sorriso forçado, claramente incomodada com o tom venenoso do homem. Eram voltadas para Lucius, ele percebeu, o olhar cor rubi deixava isso claro a qualquer um que olhasse, talvez fosse dai que vinha aquele brilho no olhar de seu pai. A risada de Bellatrix ecoou entre as olhas presas nas copas das árvores e Narcisa repreendo de imediato com um olhar mortal, deixando evidente seu zelo por sua família e que ela não pertencia mais a ela.
- Na verdade estava verificando se Potter já havia aceitado sua morte, mas vejo que não.
Os olhares entre os comensais eram tensos, assim como o ar havia ficado assim que Draco pronunciou aquelas palavras. Aquilo havia afetado o humor de Voldemort, era claro, e os bruxos ali temiam que um deles pagaria pelo erro do garoto.
- Harry não virá! – exclamou o meio gigante. – Harry não pode morrer!
A atenção toda se voltou par Hagrid, mas o Malfoy precisava manter-se em sua posição, sempre em sua posição. Com seu olhar típico de desdém, tão intenso que calou qualquer outra objeção que ele poderia fazer, Rúbeo podia sentir o frio cortante por trás daquele olhar.
- E como pode ter tanta certeza? Realmente acha que o menino de ouro vai deixar todos para morrer em seu nome? Que vai conseguir carregar tal culpa consigo e simplesmente fugir? – seu sorriso era cínico. – Posso não conhecer Potter tão bem, mas tenho certeza que ele não deixaria o projeto de família que construiu com a caridade alheia morrer como os pais biológicos. Dado a seu histórico, ele vai adorar bancar o heróis e dar sua mísera vida para salvar cada um que ele criou algum tipo de laço, obtendo também mais fama do que já tem. Tão típico. – o veneno escorria no canto de seus lábios, sim, Voldemort se maravilhava com a cena. – E caso seja um lixo e fizer o total oposto, faço questão de eu mesmo ir busca-lo.
A risada de Voldemort voou em meio a brisa que soprava, tão fina e fria. A satisfação em seu olhar era algo impagável para Draco, especialmente ao fantasia o momento em que toda a farsa ruiria e sua verdadeira face fosse revelada. Ele saborearia cada traço na expressão do Lorde, com toda certeza iria.
- Posso roubar minha mãe por alguns segundos, Milorde?
O queixo do ofídico se ergueu enquanto ele acariciava a varina em mãos, ainda sustentando o sorriso.
- Não se prolongue muito.
- É claro. – reverenciou.
Os olhos de Narcisa acompanharam os de Draco, indicando o caminho para sair de perto de todos eles, algo mais reservado. Lucius pareceu desconfortável, tentando achar alguma resposta em algum dos dois, mas não nenhum sequer reparou no homem. A pequena bola de luz iluminava o caminho a frente de Draco, a floresta ficando cada vez mais densa impedia qualquer passagem de luz no local, exigindo o feitiço.
Por um tempo seguiram em silêncio, nada pesado ou desconfortável, não, apenas um silêncio calmo e mutuo. Quando pararam, o loiro conjurou alguns feitiços de proteção e um abaffiato, certificando que ninguém veria ou ouviria a conversa entre eles.
- Draco, querido, o que houve? – o tom em que pronunciava seu nome era tão suave quanto o toque em seu ombro.
- Só queria ficar um pouco com você, mãe. Senti falta da senhora esses dias...
Um sorriso cheio de emoção preencheu o rosto de Ciça, levando consigo qualquer resquício de preocupação que havia ali anteriormente. Suave e doce, era assim que se lembrava de sua mãe apesar de tudo, aquilo o remetia a suas lembranças de infância, onde ela o pegava no colo e cuidava de seus ferimentos e mágoas e ficava a seu lado até pegar no sono mais profundo, longe da realidade sórdida que ela sempre o protegia. E nesses momentos ele sempre dizia que a amava antes de dormir e ela sorria com um orgulho materno.
Narcisa abraçou o filho com força, mais que o seu habitual, mais do que quando estava com medo de algo. Ele só não queria que fosse daquela maneira, queria ter a certeza de que iria vê-la mais e mais vezes, mas a guerra, todas aquelas circunstancias impediam que aquilo acontecesse.
- Tem certeza que é apenas isso, querido? – um temor tomou seu corpo ao imaginar o que estava por vir. Ela não poderia saber. – Tem algo que queira me contar?
O corpo de Draco gelou ao ouvir aquelas palavras saindo trêmulas e fracas da boca de sua mãe, apesar de manter da doçura. Ele não conseguia pensar de maneira racional, imagine colocar em palavras tudo o que estava acontecendo e o que iria acontecer dali em diante? Contar cada mísera coisa que fez nos últimos meses sem a matá-la de desespero? O medo começou a lhe consumir, deixando seu corpo tenso, uma sensação tão comum nos últimos tempos que se esvaiu no momento em que sentiu as lágrimas molhando suas vestes.
Ela sabe.
- Mamãe?
- Severus... ele deixou uma pista para mim. Demorou um pouco, mas já imaginava... você tem estado tão diferente, querido, e então quando Potter e os outros foram levados para a mansão, a maneira que acolheu a garota com o olhar... estava claro. – ela o apertou mais, como se o fosse perder. – Meu bebê tão crescido, sinto tanto orgulho de você, independente do findar de tudo isso, eu sempre vou me orgulhar de você e do que está fazando. Sinto orgulho de quem se tornou. Você tem sido tão forte até aqui, meu filho, continue traçando seu caminho da maneira certa e não se preocupe comigo ou com seu pai.
O silêncio perdurou alguns minutos enquanto eles se abraçavam e derramavam suas lágrimas, uma a uma. O garoto sentia seu coração mais leve, apesar de toda a circunstância mostrar que não deveria ser assim. De todas as coisas que estavam acontecendo e que lhe machucavam, aquela, a despedida entre ele e sua mãe era a que mais lhe doía. Hermione poderia ser seu sol, mas fora Narcisa que o manteve são durante tanto tempo, por todos aqueles anos. Era ela que esteve ao seu lado desde o começo.
Ela se afastou para poder olhar nos olhos azuis-cinzentos do filho, como os de Lucius, e passou a mão no rosto úmido do filho, enxugando suas lágrimas. Um sorriso suave se formou no rosto dos dois, compartilhando do sentimento cálido e forte que guardavam em si.
- Preciso ir... – disse ele.
- Eu sei. Tome cuidado, Draco.
- Sempre.
O caminho de volta trazia consigo um ar fresco que acariciava os frios loiros de seu cabelos, os movendo conforme a direção de ele ditava. Seus olhos vagavam pelo cenário sombrio da floresta, escutando cada ruído, cada estalo, visualizando as folhas eu caiam sem prévio aviso dos galhos. Ele via tudo em câmera lenta e seus passos calmos estavam livres de qualquer pressa que fosse, pois sabia que hora ou outra o que precisava chegaria a ele.
A imagem do castelo se tornava cada vez mais visível conforme se aproximava da sua linha de partida, perto da cabana do meio gigante. Uma sensação lhe tomou conforme ouvia o estalo forte em sua direção, indicando a presença de alguém que se aproximava com a mesma calma que ele se movia. Sua mão agarrou a varinha em seu bolso, o mantendo em posição de defesa. Não saberia dizer quem poderia ser com os estudantes e os adultos no castelo com parte deles mortos e os comensais rodeando a área de Voldemort e conhecia poucos que seriam bons o suficiente para fazer um feitiço desilusório.
A não ser...
- Potter. – disse olhando pra frente, enxergando apenas a paisagem.
- Finalmente. Achei que iria me atacar antes de chegar a conclusão.
A capa foi tirada, revelando a imagem pálida de Harry a sua frente, segurando uma pedra negra na mão direita. Draco a observou com curiosidade, tinha uma certa nocção do ela poderia ser, mas não tinha essa certeza.
- Venha aqui. – chamou. – Toque-a.
O azul em suas orbes escureceu ao focar na pedra ônix fosca. Engoliu seco e hesitou, seus batimentos aumentaram. Quando finalmente reuniu a coragem necessária, sua mão ainda tremia; seus lábios entreabertos deixavam sair um ar pálido, enquanto tentava controlar sua frequência cardíaca. Uma onda gélida percorreu seu corpo ao tocar na superfície irregular, o ar lhe faltou e seu corpo enrijeceu, sua boca estava seca como o deserto. Haviam quatro espectro a sua frente, todos rodeando Harry com um sorriso amigável. Um deles era conhecido.
- Eles são...?
- Meus pais, Sirius e Remus.
Remus.
Seu corpo não obedecia suas ordens, estava completamente estático com a visão. Não sabia o que dizer ou se deveria dizer algo. Potter o olhou com um brilho cômico no olhar por sua reação, mas continuava olhando fixo e calmo para ele. Sem julgamentos.
- Finalmente alguém nessa família deu certo! – a voz espectral de Sirius soou. – Narcisa fez um bom trabalho, diferente daquele troglodita com que se casou.
- Padfoot! – Lupin advertiu.
- Mas é verdade!
- Isso não significa que... – suspirou. – Apenas ignore-o, Draco.
O garoto assentiu.
- As coisas parecem estar difíceis para você, querido. Obrigada por cuidar de Harry, fico feliz em saber que ele fez bons amigos. – voz doce da ruiva sussurrou contra o vento.
- Não se amedronte pelo o que vem pela frente, pelo o que ouvi tem feito um bom trabalho até agora. – James sorriu, mas ele não conseguiu retribuí-lo.
Sua mente vagou entre as lembranças do dia em que viu as memórias de Snape, ele não conseguia ver o homem como nada além de um grande arrogante, arrogante com alguém com que ele se importava.
Harry colocou a mão em seu ombro, tentando diminuir a tensão, deixa-lo mais calmo. Ele se deu conta no momento em que olhou para o antigo professor de defesa contra as artes das trevas que era a primeira vez que via alguém que se importava morto. Ele lamentava.
- Ted...
- Eu também lamento por isso, mas sei que ele estará em boas mãos com Andy. Ted terá uma boa vida.
Ele se referiu a sua tia Andromeda, mas ainda assim um nó em sua garganta aumentou.
- Se ao menos eu tivesse conseguido...
- Não se culpe por isso, Draco. E mesmo se estivesse lá, não iria conseguir fazer muita coisa. Você está fazendo tudo o que pode, arriscando sua vida e de sua família por ter escolhido a causa.
- Apenas escolhi o certo.
Muitas vezes escolher o caminho correto lhe custa mais do que continuar trilhando o caminho o errado, principalmente quando a visão de certo e errado se distorce em meio a ideais plantados por sua família. – Sirius disse firme, mostrando o quanto entendia a situação e que já esteve em uma posição parecida.
Draco sorriu, pensando que talvez se tivesse conhecido o primo de sua mãe, eles se dariam bem, ou não. Talvez ele não conseguisse esquecer o que ele fizera a Snape, nenhum deles.
- Acho que está na hora de irmos, Harry e Draco precisam conversar. – Lilian disse.
- Draco. – Lupin chamou. – Não se preocupe, nos vemos em breve.
- Sim, em breve.
Enquanto eles se despediam de Potter, Malfoy se afastou, dando certa privacidade para o garoto e sua família. Harry parecia feliz e realmente tinha os olhos da mãe.
A pedra foi lançada no chão e assim que tocou no solo, todos se foram como fumaça. Harry escondeu a pedra entre o solo de maneira que ninguém encontrasse, não havia necessidade alguma de alguém a usar, ele sabia e Harry também.
- Sabe, eu realmente acho que você seria muito melhor se fosse filho de Snape.
O olhar de Potter o fulminou e logo se acalmou ao ver o sorriso no rosto de Draco.
- Estou feliz com o meu, obrigado.
- Você se contenta com muito pouco. – riu novamente.
- Vi as memórias dele. – os lábios se pressionaram. – Ele realmente foi o mais próximo de uma figura paterna que você teve, não é?
- Foi. Ainda é, Potter. Quer mata-lo antes da hora?
- Ah, certo. Desculpe. Ele é. – fez uma pausa. – Você vai mesmo fazer isso? Vai completar a missão por mim?
- Severus está impossibilitado e você... você sabe.
- Sim, eu sei.
- Acho que não tenho escolha, não é?
Eles sorriram com um olhar triste um para o outro.
- Venha, preciso te levar para o abate, Harry-porco.
- Babaca. – Draco poderia jurar que viu os olhos de Potter revirar em trezentos e sessenta graus. – Obrigado.
Não falaram mais nada no caminho. Draco estava com a capa da invisibilidade em sua posse, um presente, talvez. Ambos estavam tensos, mas tentando se acalmar apesar da cabeça baixa de Harry e quase ter caído ao tropeçar em um galho grande. Mesmo em momentos estupidamente tentos ele ainda conseguia fazer coisas como aquelas, deve ter aprendido com Ronald, ele tinha certeza.
Tudo parecia fora do eixo agora, inclusive sua alma, que parecia estar fora do corpo. Conforme se aproximava da visão dos comensais logo a frente, com o fato que estava levando o amigo para a morte, o ar se comprimia mais em seus pulmões, chegando a doer. Ele precisava manter-se em foco, não poderia fazer nada para impedir a morte de Harry, não, não podia.
Maldito velho manipulador. As coisas não precisavam ser desta maneira.
Com um pelo sorriso e as mãos bem fechadas no pulso do garoto, Draco o jogou em direção de Voldemort, para o espanto de todos. O Lorde pareia não acreditar na visão esplendida que era ter Harry Potter tão frágil e indefeso a seus pés. Grande dia. Seus dentes pontiagudos se mostravam conforme o sorriso largo se formava, ele poderia muito bem matar Harry com uma bela mordida no pescoço, pensou Draco, mas ele era civilizado demais para tal ato brutal. Ele não pode conter o riso ao imaginar isso, Voldemort civilizado.
- Como disse, aqui está Potter, Milorde. Não foi tão difícil. – sorriu.
- Ah, Draco, meu menino... – os dedos do bruxo se movimentavam inquietos, um animal louco para atacar sua presa.
Draco saboreou o olhar de Bellatrix para ele, pronto para lançar a maldição da morte; Lucius o olhava com um sorriso a de provação, sorriso esse que ele fez questão de não dar atenção, mas não pode deixar de notar o olhar de Narcisa tão apreensivo. “Está tudo bem”, o loiro tentava lhe dizer através de seu olhar. Mas até que ponto isso seria verdade? Sinceramente ele não sabia.
- O menino que sobrevivei... – disse a voz ofídica.
- HARRY, NÃO! FUJA! – gritou Hagrid. – NÃO, NÃO! O QUE VOCÊ...
- CALADO! – gritou Voldemort.
Draco olhou frívolo para ele, tentando passar a mensagem do Lorde de maneira mais incisiva, com a varinha em sua direção. Harry se levantou e encarou Voldemort de frente, de igual para igual. Mesmo sem varinha, ele sabia o que tinha que fazer e estava se sacrificando para isso, e ele também faria o mesmo.
Apesar do desespero, ele continuou a olhar a cena, engolindo seco tudo o que estava entalado em sua garganta. Harry havia lhe acolhido, assim como Ronald e Hermione, ele havia aceitado seu inimigo em seu ciclo pessoal de bom grado, ele lembrava. Apesar das dificuldades iniciais, eles aprenderam a respeitarem-se e criaram um vínculo de amizade, e aquilo era algo preciso para ambos. Draco sería leal ao grifinório e cumpriria o que havia lhe digo minutos antes, custasse o fosse, pois ele sabia que o amigo faria o mesmo.
Colocando a calada da invisibilidade sobre si, o Malfoy sumiu diante dos olhos dos comensais, esperando apenas o final para que pudesse sair e terminar o que havia começado. Seu corpo ainda tremia enquanto observava a reação de Voldemort para com Harry e vice versa, nenhum recuaria. Ele respirou fundo.
Adeus, Harry.
Adeus, Draco.
- AVADA KEDRAVA!
E tudo não passou de um clarão verde.
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Notas da Autora
Cara, eu sei que demorei e só postei a parte 1, desculpe!!! Mas está tão difícil escrever o final, sério mesmo. Essa semana eu comecei a ter crise de ansiedade no meio da cena da Hermione KKKKKKK - desespero.
Imagino que seja pelo fim, não sei.
O que vocês acharam? Precisei dividir em 2 partes por conta da quantidade excessiva de palavras para um capítulo só, e mesmo assim foram 4k7, e também para postar algo, já fazia 2 ou 3 semanas né...
Estão prontos para o final? (Eu não estou).
P.s: obrigada por compreenderem e não julgarem pela demora, adoro vocês!
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