Capítulo 8
Fim da aula de poções. As masmorras estavam mais sombrias e mal iluminadas por conta da chuva que caia sem piedade, grossa e constante. O céu negro, ora iluminado por raios, mostrava-se impassível. Esse era seu modo de dizer que a tempestade continuaria ali por mais algum tempo.
Os alunos agasalhados saiam da sala com um ar preguiçoso. E quem os podia culpar? Era o tempo perfeito para ficar em suas salas comunais tomando chocolate quente e conversando em frente à lareira, ou ficar em suas camas sendo aquecidos pelo grosso cobertor.
A sala se esvaziou, deixando apenas Draco Malfoy, que aparentemente estava incomodado com algo. Os olhos acidentados do garoto estavam vidrados em seu caldeirão, suas pernas e dedos inquietos. "O momento era esse", pensou. Malfoy estava à espera de Severus Snape, ex professor de poções, seu atual professor de defesa contra as artes das trevas e seu protetor por "escolha".
não tinha esquecido o que Snape havia feito. O fazer ficar no mesmo grupo que aqueles três era ridículo! Ele sabia de sua situação atual. Ele sabia dos riscos que aquilo traria... Talvez ele quisesse que acontecesse. Talvez Severus Snape estivesse realmente sendo um fiel comensal, caso contrário, qual o motivo de ter feito aquilo?
Os pensamentos iam e vinham na mente de Draco. Algo nele havia mudado na noite quem que conversara com o Sr. Weasley: ele havia aceitado totalmente o lado oposto que sempre esteve. Agora ele tinha, de fato, se tornado um "homem de Dumbledore", como disse Potter em uma de suas conversas.
Então era isso. Estar contra você-sabe-quem era desconfiar de seu professor preferido, aquele que sempre o ajudou quando necessário. Era estar andando sobre uma corda, onde qualquer passo errado, significaria sua morte e de sua família... Mas ele não se arrependia.
O ranger da porta anunciava a entrada em alguém. Um homem alto, com vestes negras, expressão neutra, com seus negros cabelos, compridos e oleosos. Ali estava Snape.
- Queria conversar, Draco? - o olhar do garoto sobe em direção ao de Snape. Ele estava exitante, trêmulo, mas ainda sim queria confronta-lo. Ele assente. - Então? Não tenho o dia inteiro.
- Por que fez aquilo? Por que me colocou no mesmo grupo que Potter e os outros?
- Me pareceu muito conveniente para situação atual.
- Conveniente?! Eles poderiam desconfiar!
- Só desconfiariam se vocês não agissem como deveriam. Não que isso me surpreendesse vindo de Potter, mas de você, Draco, eu esperava mais.
O garoto ficou sem reação. Ele sempre levou a opinião do professor em consideração, e aquelas palavras foram como um soco em seu estômago; mas o garoto não se deixou levar. Continuou com seu pensamento e sua desconfiança. Draco sabia o quão inteligente e até onde iria a boa atuação de Snape, então precisava se manter centrado para conseguir as respostas que queria, sem que ele desviasse delas.
- A situação de risco se iniciou no momento em que você fez algo que foge de seus padrões. Todos comentaram sobre sua atitude em me colocar ali.
- As pessoas comentam sobre muitas coisas, Draco. Não perco meu tempo dando atenção a coisas que não me acrescentam em nada. - ele o olha de canto - sugiro que comece a fazer o mesmo. - se fez silêncio.
O loiro precisava de outra tática. Ele precisava confrontar Snape onde suas defesas e manipulação não surgissem efeito, e o questionar diretamente não seria a melhor escolha. Mas o que ele deveria fazer? Como passar pela defesa de um homem que enganou o próprio Lorde das Trevas? "Pense, Draco, pense. Você conhece o jogo dele.", Disse a si mesmo.
- Agora, se me der licença, tenho uma aula para preparar - disse o homem indo em direção à porta - e sugiro que comece a pensar mais nos seus atos antes de tomar alguma atitude. Não seria prudente da sua parte ser impulsivo em um momento onde tudo o que tem está em jogo.
E de fato Snape estava certo. O garoto não poderia se dar ao luxo de se levar pelo calor do momento e agir por impulso. Antes de tomar qualquer decisão a partir de agora, ele precisava pensar bem. O que poderia fazer para que Snape contasse a verdade sobre ele? Veritaserum talvez? Não. Ele não conseguiria a poção com tanta facilidade, e mesmo se conseguisse, o Professor não baixaria a guarda a ponto de beber algo dado pelo garoto ou algum outro aluno depois disso sem desconfiar. Snape era esperto. Isso seria mais complicado do que imaginara... Se ao menos pudesse entrar na mente de Snape como Lorde das Trevas fazia com seus inimigos... - Estava ai a resposta. Amente de Draco havia se iluminado.
Draco saiu da sala rumando a biblioteca; sabia muito bem quem encontraria lá. A corrente fria que passava pelo castelo aquele dia e as aulas que estavam em andamento, resultava em corredores semi vazios. Isso facilitava a passagem rápida do loiro por eles.
Cauteloso, Draco olhos à sua volta verificando se não havia alguém para presenciar as cenas a seguir - evitar problemas e desconfiança de qualquer um era prioridade no momento.
- Preciso falar com vocês. - disse o garoto ao trio - Mas não aqui. Seria muito imprudente de nossa parte nos arriscarmos assim. Amanhã na casa dos gritos após o almoço.
- Precisamos levar alguma coisa? - perguntou Hermione.
- Não, apenas estejam lá no horário que eu falei. - todos assentiram e Malfoy entregou um livro à garota - Achei por acaso em minhas coisa enquanto estudava. Acho que será útil para a de vocês dois na atividade. - e saiu.
Granger ficou olhando confusa para o livro em sua mão, mas o aceitou de bom grado. Quando a noite caiu, Hermione revisava algumas matérias enquanto Harry e Ron falavam com Dino e SImas. A garota pegou o livro que Draco a entregou e logo na primeira página encontrou um bilhete.
"Me encontre antes do almoço amanhã. Estarei te esperando no mesmo lugar."
Seu coração palpitou. Por que estava assim? Droga. Na mente de Hermione veio as lembranças do que aconteceu em segredo na Sala Precisa. Ela sentiu suas bochechas queimarem. Draco havia se confessado, não é? Será que ele queria uma resposta? Ela levou a mão até sua boca. Os dias tinham sido tão corridos ultimamente que ela sequer teve tempo para pensar no ocorrido. O que deveria fazer? Ela gostava dele da mesma maneira?
Hermione olhou para os amigos rindo enquanto falavam com os colegas de casa e soltou um longo suspiro. Ela queria falar com eles sobre, mas como poderia? Como explicaria que poderia estar apaixonada por Draco Malfoy? Só de pensar que apenas algumas semanas atrás ela só precisava se preocupar pelo que sentia por Ron. Ah, Ron... Será que ele ficaria muito magoado? Ele sequer lembrava que chamou por seu nome na enfermaria. Ele ficaria bem, não é? Quando chegasse a hora certa, ela contaria sobre tudo o que estava sentindo - até lá ela já deveria saber distinguir exatamente o que estava sentindo. Inicialmente ela imaginou que nada passava de uma atração física como foi com Viktor. Por Merlin... o que ela deveria fazer?
- O que foi, Mione? Está se sentindo bem? - a garota levou um susto. Estava tão imersa em seus pensamentos, que sequer percebeu a presença do amigo ali.
- Estou sim, Harry. Só um pouco pensativa. - sorriu - Acho melhor já ir para o dormitório e me preparar para dormir. Ainda tem algumas coisas que gostaria de organizar.
- Sabe que se precisar falar sobre algo sabe que pode falar comigo, não sabe?
- Ah, claro que sei, Harry. - sorriu com o comentário do amigo que fez sentir um grande alívio dentro de si - Bom, boa noite.
Harry ficou olhando Hermione subir as escadas para o dormitório feminino enquanto segurava sua pilha de livros habitual. Ele sorriu. Sabia que ela não iria contar nada para ele e principalmente para Ron, pelo menos por hora. "Parece que não vamos nos ver antes do almoço amanhã. Boa sorte, Mione", pensou.
Na manhã daquele sábado o Sol resolveu deixar-se mostrar entre as pequenas frestas das densas nuvens. O calor transmitido pelos poucos raios de Sol revigoravam as energias de Harry. O garoto estava distraído enquanto esperava do lado de fora do castelo pelo amigo. Não consegui parar de pensar nas coisas que havia visto esses dias. A forma com que Draco havia mudado desde que conversaram e ele resolveu aceitar a ajuda do trio; jeito como estava lidando com ele e Ron desde então; a forma com que falou sobre seus sentimento para Hermione... Harry nunca imaginaria que veria Draco Malfoy tendo esse tipo de atitude, ainda mais com eles.
Quem de fato seria Draco Malfoy? Definitivamente não era aquele que se mostrou ser durante todos esses anos de rivalidade. Talvez nem o próprio Malfoy soubesse. Harry queria conhecer o garoto. Conhecer o verdadeiro Draco, aquele que estava por trás da máscara que usara sempre. Não era a primeira vez que Harry se pegava pensando neste assunto, longe disso. Desde o momento que firmaram a aliança entre ele e o trio, ele começou a ter esses pensamentos. Será que Hermione sentiu o mesmo ou algo parecido quando começaram a se aproximar?
- Harry? - ele sentiu a mão sobre seu ombro.
- Oh! Oi Ron. Não te vi chegar.
- Percebi - ele riu - Você está bem? É a cicatriz outra vez?
- Não, só estava distraído pensando sobre a atividade de Snape.
- Em pleno fim de semana pensando sobre coisas da escola? Parceiro, relaxe. Felizmente temos Hermione no grupo - ele fez uma pausa e olhou para o lado - e querendo ou não, Draco é tão nerd quanto ela. - ele começou a andar - vamos ficar bem.
- Você acabou de falar que Draco é inteligente? Espera. Você acabou de chama-lo pelo primeiro nome?! - Harry estava incrédulo.
- Negarei até a morte. - eles riram.
A manhã foi agradável. Os garotos passaram para ver Fred e George, depois passaram para ver alguns artigos de Quadribol, almoçaram, tomaram cerveja amanteigada e por fim, comeram alguns doces da Dedosdemel. Em alguns momentos Ron perguntou sobre Hermione, já que não viram a garota desde a noite passada. Harry se lembrou do bilhete e deduziu que eles deveriam ter almoçado juntos. Apesar de tudo, o moreno ainda estranhava a aproximação dos dois, ainda mais por serem quem eram e passar pelo que passaram. Mas quem era ele para julgar? Harry Potter, o-menino-que-sobreviveu, O Eleito, que de todas as garotas de Hogwarts, estava apaixonado pela irmã caçula de seu melhor amigo. Bom, não era o momento para pensar nisso. Haviam diversas coisas para resolver naquele momento: trabalhos, provas, a tarefa dada à ele por Dumbledore, traçar um plano para não ser descoberto pelos outros e ainda manter uma boa relação com Draco.
Os pensamentos iam se distanciando da cabeça de Harry conforme ia se aproximando da Casa dos Gritos e os dois pontinhos escuros que estavam ali, iam entrando em foco trazendo a imagem de Draco e Hermione.
- Onde esteve? Nós não a vimos nas lojas ou no caldeirão Furado. - disse o ruivo confuso ao ver que Hermione estava junto à Malfoy rindo.
- Passei na biblioteca assim que sai da cama, então acabei não tomando café da manhã no castelo. Passei na Floreios e Borrões e vim direto para cá. - ela olhou para o loiro com um pequeno sorriso - Por sorte Draco já estava aqui quando cheguei.
- hmm...
- Boa tarde para vocês dois também. - disse o loiro.
- Boa tarde, Draco - Harry disse sorrindo.
- Tarde. - Ron disse emburrado - Você parece estar de bom humor hoje.
- Tive uma manhã agradável.
- Acho que deveríamos ir entrando. Não podemos deixar que ninguém nos veja juntos. - disse a garota mudando de assunto - Draco me adiantou algumas coisas, então temos muito o que falar.
Os quatro foram adentrando a velha casa que estava aos pedaços. O trio já estava acostumado com o local e se divertiam com as reações de horror e nojo estampadas na cara do Sonserino. Malfoy era acostumado ao luxo, limpeza e organização. Eles já esperavam por reações desse tipo, mas isso não diminuía a graça da cena.
- Por Merlin, não vou conseguir me concentrar com isso assim. - Draco tirou a varinha de suas vestes - apenas com um simples aceno, o local começara a ficar diferente; o pó e teias espalhados pelo local sumiram. Os móveis começaram a se realocar e algumas coisas que estavam quebradas se consertaram. - Muito melhor. Não sei como aguentam ficar em lugares sujos e desorganizados como esse. Todos os Grifinórios são assim, ou só os mais problemáticos?
- E os Sonserinos? São todos frescos assim, ou só os comensais? - cuspiu Ron.
- Vocês dois parem já! - interviu Hermione - que costume chato de ficarem se provocando! Vamos lembrar do que nos trouxe aqui, ok?
- Alguns hábitos são difíceis de esquecer - Draco deu os ombros.
- Então trate de usá-los apenas em público, Malfoy.
- Hmm... - Harry tentou mudar o foco e evitar uma discussão - Você disse que Draco havia te adiantado umas coisas. O que eram?
- Ah, sim! - Ela pegou alguns livros e se sentou no velho sofá - Bom, enquanto estávamos esperando vocês dois, Draco comentou que é muito comum os comensais serem treinados com legilimens e serem bons em oclumencia, como é o caso de sua tia, Bellatrix Lestrange. Então devido as circunstancias, creio que seria necessário que nós façamos as aulas de oclumencia com Snape. Principalmente você, Harry.
- Estive pensando sobre isso também. Eu realmente não queria fazer isso novamente, mas com tudo que está acontecendo agora, seria a melhor opção. - ele olhou para baixo - Acho que deveríamos informar à Dumbledore antes de tentar falarmos com Snape, não acham?
- Creio que está certo, Potter. Precisamos manter Dumbledore ciente de nossas ações.
- Ron? - Harry olha na direção do ruivo.
- Eu acho isso assustador, sabe? Snape na minha mente.
- Antes Snape que Voldemort, Parceiro. - ele assentiu - Então hoje quando for ver o Professor eu o deixo informado.
Draco olhava a cena no conforto do canto das paredes escuras enquanto deixava escapar um meio sorriso em seus lábios. Estava correndo tudo conforme o planejado. Aquilo era motivo para se alegrar, afinal estava prestes a descobrir a verdade sobre Severus Snape.
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