Capítulo 38
As coisas não haviam ficado muito agradáveis depois do incidente da espada. Draco estava sendo vigiado pelos Carrow, que começavam a acreditar na versão de Bellatrix, onde era uma possibilidade ele ter se aliado com o inimigo, mas o garoto negara até o fim.
O grupo que ousou tentar surrupiar a espada, um artefato pertencente à escola, foi duramente torturado, a ponto de passarem um bom tempo na ala hospitalar desacordados. Uma semana após o plano e eles ainda continuavam por trás das cortinas sendo tratados por Madame Pomfrey, que quase tivera um infarto ao ver cinco alunos naquele estado lamentável. Por mais que tentasse, não concederam seu pedido de os levar ao hospital Saint Mungus, onde teriam uma estrutura melhor para recebe-los; frustrada, seguiu com o tratamento com ajuda de Horácio e Minerva, que seguiam a auxiliando no que era preciso.
Como se não bastasse, a escola parecia ter entrado em colapso, deixando as coisas cada vez mais complicadas e propícias às torturas dos comensais. Os grifinórios estavam revoltados com o que houve, pois os dois irmãos não pouparam detalhes do ocorrido, usando-os como um exemplo. A Sonserina se divertia com tudo aquilo, aproveitando o momento para provocá-los e atacar mais os lufanos, tendo como apoio alguns alunos da Corvinal, que se dividiam entre ambos os lados.
De todo aquele caos o que deixava o Malfoy mais perplexo, era o modo de como alguns grifinórios e lufanos se renderam às trevas. Bom, aquilo era algo esperado da Sonserina e “aceitável” da Corvinal – já que ambas as casas sempre tiveram uma relação próxima –, mas definitivamente não esperava aquilo das outras duas. Não era algo tão comum. Mas tudo isso só mostrava o que momentos de desespero poderiam fazer. Sabia que muitos tinham a família ameaçada e se rendiam para dar sua vida em troca da deles, mas sempre haviam os que realmente acreditava na visão retorcida do Lorde das Trevas.
Era fim de tarde quando sua presença foi solicitada a sala do diretor. Snape havia voltado após três dias de ausência na escola, pois estava prestando outros serviços para Voldemort, o que significava que teria mais informações sobre a situação externa ao castelo. Seu coração batia rápido, pois sabia sobre o feito do trio no Ministério, mas com a saída do homem não pode obter tantas informações, apenas o que ele lhe informara em carta – informações superficiais sobre todos os assuntos, esse em especial.
Com a tentativa de furto a sala de Severus, ele havia reforçado a segurança, mudando e reforçando os feitiços, o que incluía a troca da antiga senha de entrada. A gárgula que guardava a porta o encarava sem se mover, precisava analisar suas intenções e se era mesmo a pessoa quem o diretor estava esperando. Com um pequeno aceno, deu a deixa para que falasse a palavra passe.
- Prince.
Era fascinante a forma que tudo que o rodeava o Diretor continha uma parte de seu passado, algo que o havia marcado de maneira tão profunda, que levava consigo para o resto de sua vida. Assim era com alguns objetos que decoravam sua casa, com as senhas, o que comia. Todas suas memórias felizes ou não eram fortemente reforçadas em sua realidade, passando para sua vida externa de alguma maneira.
Entrando na sala, já pode ver a expressão cansada do homem sentado atrás da mesa central. Os olhos negros estavam adornados com olheiras escuras e sua postura passava o real estado que estava. Com um movimento da varinha conjurou um abaffiato e protego, deixando o local seguro o bastante para sua conversa.
- Há muita coisa para conversar, sugiro que se sente.
- Certo.
Quando se ajeitou devidamente na cadeira, duas xícaras pratas se materializaram. Uma para ele e outra para Snape. Um bule suspenso no ar os serviu com um café quente e aromático, fazendo seus corpos relaxarem. Sem hesitar, o Malfoy pegou sua xícara e começou a bebericar o líquido quente antes mesmo do homem dizer algo.
- Como já deve saber, aqueles três conseguiram entrar no Ministério. Eles atacaram Dolores Umbridge, pegando o que poderia ser uma das horcrux que Potter buscava. Por sorte escaparam ilesos, até onde se sabe, porém Yaxley conseguiu ver onde eles iam quando aparataram. Granger conseguiu o expulsar, o deixando na casa Black e fugindo para algum outro lugar.
Os olhos e ouvidos do garoto se mantinham atentos a Snape, seu corpo estava imóvel, mal respirava ao ter informações sobre os amigos e sua amada. Desde o início sabia que a jornada seria difícil, mas o que complicava cada vez mais era saber que não poderia proteger nenhum deles – pelo menos não de perto. Teria que fazer isso de onde estava, com os recursos que tinha em mãos.
- Na casa, além dos feitiços de proteção, encontraram um elfo doméstico que pertencia aos Black. Ele se recusou a falar qualquer coisa, mesmo sendo submetido às torturas de Bellatrix. Agora estão caçando o trio, e com exceção de Potter, querem eles vivos ou mortos. – bebericou o café. – Agora, depois do desastre que foi a tentativa de pegar a espada de Godric Gryffindor, Bella fez questão de a escondê-la em seu cofre pessoal, onde tem certeza que ninguém ousaria entrar e se entrassem nunca sairiam.
Aquilo o atingiu com força. A espada era sua única esperança de ajudá-los de alguma maneira e havia conseguido deixar a oportunidade escapar entre seus dedos. Era frustrante. Ele afundou na cadeira em busca de algum conforto, mas era algo que estava longe de encontrar. As pessoas que o ajudavam estavam debilitadas há dias, os mais próximos sequer lembravam de si, sua família estava do lado oposto. Tudo que lhe restara era o homem à sua frente, que estava em constante perigo dada sua posição, e a esperança que seu plano B desse certo. Estava arriscando demais em contar a mais uma pessoa a verdade, mas não tinha escolha.
- Parece que há mais coisas acontecendo. – disse, ainda encolhido. – O que fez você se afastar por três dias?
- Primeiramente me informe o que aconteceu nesses três dias em que me afastei.
- Bom, há mais candidatos a comensais do que pode imaginar. – riu em desespero. – Adivinhe? Há grifinórios e lufanos em peso, chegou a superar os corvinos. As torturas estão cada vez mais frequentes e intensas, mas não posso fazer nada além de fingir prazer ao fazer alunos mais novos serem submetidos às torturas de Carrow e alguns alunos que aprovam todo esse pandemônio.
Seus olhos estudavam o garoto e revolta no seu tom de voz, era algo muito notório. Não havia muito a ponderar sobre a situação, pois não havia nada ali que ele não esperasse. As trevas estavam tomando conta da escola, só estava mais rápido do que ele imaginava que seria.
Com mais um aceno de sua varinha, mais café foi servido e enquanto observava o liquido negro caindo, pensava nas possibilidades de ações para seguir dentro dessa situação. Era visível a confusão e o desespero nos olhos de seu aprendiz, mas a aquele ponto ele não poderia fazer nada além de observar como ele acharia seu próprio caminho em meio a toda aquela turbulência.
- O Lorde das Trevas conseguiu achar Gregorovitch. – os olhos do garoto arregalaram. – Fomos fazer uma breve visita a ele, mas o que o Lorde queria, o fabricante de varinhas afirmava que lhe havia sido roubado há anos. Imagino que já sabe o que veio depois de não obter a resposta esperada.
- Ele está morto.
- Obviamente.
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Quando tiveram alta, já foram informados sobre a punição que receberiam o diretor – pois o que receberam não havia sido algo que vinha dele, mas sim dos professores -. Não poderiam dizer que estavam cansados, pois passaram um bom tempo deitados e em um sono constante. Quando saíram do Salão Comunal de sua casa, ficaram surpresos ao encontrar o loiro de braços cruzados os esperando recostado na parede. Não haviam tido notícias do garoto desde que haviam sido pegos, mas souberam pela MediBruxa que o garoto estava sendo vigiado de perto, pois estavam começando a duvidar da posição do garoto após o incidente.
De todos os ali o que mais ficara atônito ao ver a figura sonserina, era Neville, que passou todos os dias desde que recobrara a consciência se culpando pelo fracasso do plano. O looping de pensamentos que iam desde “se eu não tivesse tentado o confrontar aquilo não teria acontecido” as desconfianças de sempre sobre a índole do rapaz. Ele havia se distanciado muito do grupo desde a ala hospitalar, pois via como até mesmo o casal de amigos começara a acreditar em Malfoy após ver como tentou contornar a situação do plano se colocando em risco.
Estava em um empasse. Ao mesmo tempo que acreditava na possibilidade do garoto estar de fato totalmente entre ao lado certo, algo lhe prendia de uma maneira que não poderia explicar. Sua culpa crescia cada dia mais a cada segundo. Ver os curativos sobre a pele de seus amigos e os hematomas expostos era digno de tortura, principalmente por em algum lugar ele estar certo que a culpa de tudo aquilo ser dele. Ele era o errado na história e deveria se desculpar com o Malfoy, contudo, seu orgulho falava mais forte.
Eles seguiram em silêncio pelos corredores com Draco os guiando entre os alunos, que os olhavam sem pensar em desviar os olhares e iniciarem os comentários não tão silenciosos. O loiro não parecia se importar com toda aquela atenção sobre si, apenas continuava andando com aquele ar prepotente, onde vez ou outra tirava os alunos de sua frente com uma aceno de sua varinha.
Num piscar de olhos já estavam seguindo na direção da cabana de Hagrid, lugar que há tempos não iam. Desde que começara essa loucura não tiveram tempo para visitá-lo – na verdade não poderiam fazer tal coisa –, chegaram a pensar que o meio gigante seria expulso dos domínios de Hogwarts quando tudo se deu início. Para felicidade deles isso não aconteceu.
O homem já esperava do lado de fora junto a canino, seu cachorro de caça. Um sorriso surgiu em seus lábios ao ver o grupo de jovens se aproximando, logo abriu sua porta, para que assim conseguissem conversar em paz e sem risco de alguém os escutar. Haviam muitas coisas a serem ditas.
- Vamos, vamos. Não se acanhem. – dizia, alegre.
Os alunos entraram na pequena casa acomodando-se perto da lareira, onde havia água fervendo para um possível chá. O homem os olhava com lágrimas nos olhos, feliz por terem sobrevivido a tantas coisas e estarem bem. Com a manga de seu casaco ele limpou o excesso de água de seus olhos, correndo para terminar de preparar o chá que havia escolhido para celebrar aquele momento.
- Ah, estou tão feliz que estejam bem! O Draco aqui me contou tudo o que houve. Que perigo correram! Que perigo!
Os olhos deles foram de encontro ao o loiro que estava sentando em um branco de madeira, acariciando o cachorro. Era inacreditável que ele havia contado para mais alguém sobre a situação em que se encontrava, ou talvez não tenha contado tudo. Estavam confusos. Aparentemente Luna não se importava com isso, apenas se levantou e foi acariciar Canino enquanto escutava as atualizações sobre a parte externa.
Hagrid não parava de colocar bolinhos de qualidade duvidosa sobre a mesa e encher as canecas grandes para servir seus alunos, estava afoito e logo mais eles sairiam para o que foram enviados. Para facilitar as coisas, já havia deixado um lampião para cada um, mesmo que pudesse usar magia para iluminar o caminho.
- O mundo bruxo está um caos, vocês devem imaginar. Me certifiquei de obter informações sobre a família de cada um, todos estão bem. – sorriu. – Ginny, seus irmãos estão fazendo um programa de rádio atualizando todos sobre o que realmente está acontecendo, se chama Observatório Potter. Fred e George estão o fazendo juntamente a Lino Jordan, é um sucesso entre os apoiadores de Harry. – deu um grande gole do chá aguado. – O Profeta Diário tem omitido muitas coisas, o que não é novidade, eu diria, mas o programa de rádio e a revista de seu pai, Luna, estão suprindo a falta de informações reais entre a sociedade bruxa.
De modo geral estava tudo correndo bem com os próximos a cada um dos ali presentes - isso de acordo com as informações dadas por Hagrid -, aquilo deixava o coração deles mais leve. Assim que terminaram de tomar o chá, saíram rumando a floresta proibida, onde teriam que fazer uma vigia noturna procurando intrusos. Eles se dividiram em grupos de dois, sendo eles: Luna e Ginny, Dino e Simas, Draco e Neville, e Hagrid seguia sozinho na frente os guiando.
As árvores altas deixavam a floresta ainda mais sombria que o normal, Malfoy se lembrava bem de como havia sido sua primeira experiência no local, em seu primeiro ano de Hogwarts. Não estava de todo seguro ali, mas comparado com a primeira vez, ele estava muito mais tranquilo e conseguia seguir tranquilamente, procurando algo ou alguém que não deveria estar ali.
O grifinório a seu lado seguia calado desde o momento que havia saído de sua Sala Comunal, o que era algo normal desde que acordara. Em momento algum conseguiu olhar o loiro nos olhos, como se estivesse fugindo de algo. Ambos seguiram assim durante o trajeto que estavam traçando, deixando que os únicos sons que soasse entre eles fossem os da floresta.
Galhos se partindo, uivos, cantar de pássaros noturnos, o trotar dos centauros e unicórnios, o balançar das poucas folhas das árvores sob o vento frio cortante que soprava.
O céu noturno estava muito bonito, mesmo com a aproximação do inverno e todos os efeitos da dominação das trevas sobre o lugar. Neville estava perdido em seus devaneios de tal maneira, que sequer percebera o momento em que Malfoy parou a caminhada e ficou ali a sua frente sem se mexer, batendo contra o garoto. Seus olhos subiram em encontro ao garoto, e ali tiveram o primeiro contato visual, deixando Longbottom desconfortável. Ele não conseguia encarar ninguém depois de tudo o que acontecera por sua causa, ainda mais Draco, que estava tentando fazer algo para ajudá-los. Ele tinha a confiança de Hagrid, teve a de Dumbledore, havia uma grande probabilidade dele estar sendo sincero e realmente ter mudado, mas os motivos, para ele, não eram tão claros. “Tenho tanto a perder quanto vocês”, pensava na frase que o garoto lhe dirigiu duas vezes.
- Me desculpe. – disse, quase inaudível.
Aquele ponto a paciência de Malfoy com o grifinório estava se esvaindo com facilidade, preferia quando ele era petulante e enfrentava, condizia mais com a pessoa que havia se tornado ao longo dos anos em Hogwarts. Seus olhos voltaram para o chão e seu corpo se encolhera no lugar, aquele foi o motivo para que ele chegasse ao seu limite. Aguentara coisa demais para ver aquele garoto assustado como um gatinho medroso. Draco empunhou sua varinha e apontou em sua direção.
- Vamos Longbottom, pegue sua varinha. – disse, ríspido. – Agora!
Com um passo para trás e com as mãos ainda hesitantes, pegou a varinha que carregava em seu bolso, a erguendo o suficiente para apontar na direção do sonserino. Seu olhar estava oscilando, não sabia o que era aquilo de repente, mas ele não parecia estar brincando, sua expressão estava impassível. Seu corpo ficou em guarda.
Malfoy deu um passo para frente, como um reflexo, Neville deu um para trás. Sua irritação crescia ainda mais, pois se fosse a algumas semanas atrás, ele não teria hesitado em lançar um estupefaça em sua direção, talvez até mesmo um crucio.
- O que há de errado, Longbottom!? Olhe para mim! – ordenou. – Lute comigo!
- N-não.
- Não é como se tivesse escolha, Longbottom. – um sorriso beirando o sadismo surgiu em seus lábios.
Com um movimento silencioso de sua varinha, o garoto à sua frente voou de encontro com o grande tronco atrás de si. Um grunhido de dor saiu entre seus dente costelas ainda doíam após as horas de tortura que tivera. Quando estava pensando em reagir, Malfoy já estava com o braço contra seu pescoço e a varinha apontada para sua cabeça, era seu fim. Neville começou a reagir como podia naquela situação, movimentando a varinha com dificuldade e conjurando o feitiço como podia.
- L-levicorpus.
Como um solavanco, uma força invisível puxou Malfoy pelo pé o suspendendo no ar, o deixando longe o suficiente de Neville para que ele pudesse ficar tranquilo. Os olhos do garoto pareciam assustados, assim como sua respiração desregulada indicava. Estava ali, atônito olhando para o bruxo que o atacara sem motivo aparente, e quando seus olhos se encontraram novamente, uma risada cortara aquela tensão, deixando Longbottom mais confuso. Draco estava rindo, uma risada natural, como se realmente estivesse se divertindo com a situação que se encontrava. Por um descuido, deixou sua concentração esvair, quebrando o feitiço, o que fez o corpo de Malfoy ir contra o chão sem aviso prévio.
Ele correu até o loiro, tentando o ajudar, mas o mesmo o impediu, se levantando sem ajuda alguma. Sua expressão estava mais suave depois do ocorrido, o que não fazia sentido algum pra ele.
- É assim que deve continuar, Longbottom. – disse, tirando a sujeira de suas vestes. – Não fique se culpando ou qualquer merda que esteja fazendo na sua mente conturbada, isso só vai piorar a situação. Já disse, não precisa gostar de mim, pode falar o que quiser e me enfrentar quando tiver vontade, desde que trabalhemos em harmonia nos momentos certos.
⊹⊹⊹⊹⊹
O trio estava em meio a uma discussão causada inicialmente pela ousadia desnecessária de Potter ao pronunciar o nome do Lorde das Trevas, já de longe temia a figura ofídica. Ron se sentia deveras incomodado com aquilo, tinha o nome como algum tipo de chave de conjuro localizador, onde quem o pronunciasse, seria achado pelos comensais enviados pelo bruxo. Todos deveriam temer seu nome, temer pronunciá-lo. Mas não parou por aí, a comida cada vez mais escassa no acampamento deixava todos alterados, em especial o Weasley, que não aguentava mais sobreviver de alguns cogumelos, plantas e algumas raras vezes onde pegavam comida em casas abandonadas em pequenos povoados que estiveram sob ataque dos comensais.
A barraca, ainda que ampla, era pequena para os três quando estavam sob efeito da fome, preocupação e dos efeitos que a horcrux trazia. Quando conseguiram escapar de Yaxley, foram parar no local onde havia acontecido o campeonato de Quadribol, quando estavam no quarto ano, o mesmo que havia sido atacado por comensais. Desde então ficavam vagando como andarilhos, em busca de comida e sinais de novas horcrux, ou, pelo menos, como conseguir destruir a que tinham consigo.
Estavam chegando no clímax da discussão quando Potter escutou um barulho vindo da parte externa da barraca, então mandou que calassem as bocas. Os três correram para espiar o que estava acontecendo do lado de fora, pois mesmo que quisesse, ninguém poderia encontrá-los ali, não com todos os feitiços que Granger lançara sobre o espaço que estavam, impossibilitando que qualquer um os vissem ou os ouvissem.
A surpresa veio ao verem os que estavam do lado de fora. Eram duendes e os acompanhando, estava um homem de estatura média barrigudo e um jovem que os três conheciam tão bem, pois era amigo e colega de casa. Os olhares que o trio trocava entre si mostrava preocupação e curiosidade que ali habitavam. Queriam ir eles mesmo ao encontro deles e saber o que estava acontecendo, mas resolveram assistir aquilo de onde estavam.
- Tome aqui, Grampo, Gornope. – disse o homem, entregando para os dois um salmão recém tirado do rio.
- Obrigado. – disseram, uníssonos.
- Há quanto tempo estão fugindo? – perguntou a voz suave, que para Harry, era vagamente conhecida.
- Sete semanas, talvez seis... não me recordo. Acabei encontrando Gornope nos primeiros dias e então juntamos forças. É bom ter companhia em momentos como esse. – Fez uma pausa ao colocar os pratos no chão. - E o que te fez fugir, Ted?
Era isso. Ted Tonks, pai de Ninfadora. A partir do momento em que reconheceu o homem, ficou mais atento as coisas que ele falaria, talvez houvesse algo sobre seus conhecidos entre elas.
- Eles estavam vindo me prender. – disse com naturalidade. – Veja bem, me recusei a fazer a lista de registro dos nascidos trouxas para o ministério, então quando soube que estavam se aproximando, concluí que era melhor sumir. Imagino que minha esposa esteja bem, sangue-puro, sabe? Encontrei Dino, o quê, alguns dias?
- Isso. – confirmou a voz grave do grifinório.
- Nascido trouxa?
- Não tenho certeza. – respondeu. – Meu pai abandonou minha mãe quando eu era pequeno. Não tenho prova alguma de que ele era bruxo.
- E como veio parar aqui? Deveria estar em Hogwarts, suponho.
- Ah, isso... – disse, com pesar. – Eu estava. Imagino que tenha ouvido a história sobre a tentativa de furto da espada da sala de Severus Snape.
- Seria eles um dos motivos da minha fuga. – disse Grampo.
- Eu estava ajudando no plano. – engoliu seco. – Simas, Neville, Luna e Ginny também. Fomos imprudentes e acabamos sendo pegos por Snape, os irmãos Carrow e Malfoy.
- O comensal? – perguntou o outro homem.
- Suponho que sim, mas seria o filho e não o pai. Draco Malfoy.
Por um minuto se fez silêncio, mas logo foi rompido pela risada cansada.
- Qual o motivo da graça? – perguntou Dino.
- A espada. Vocês arriscaram suas vidas por uma réplica.
- A espada de Gryffindor, falsa?
- Oh, sim. Depois do acontecido, Snape não sentiu que ela estava segura em Hogwarts, então a mandou para Gringots. – respondeu Dirk.
- É uma imitação, muito boa por sinal. A espada original foi forjada a anos por minha raça, aquela é apenas uma boa réplica feita por bruxos. Seja lá onde estiver a espada de Godric Gryffindor, não está nos cofres de Gringots, posso garantir.
- Mas o que aconteceu com Ginny e os outros? Imagino que a família Weasley não precise de mais um filho aleijado.
- Passamos um bom tempo na ala hospitalar depois da “lição” que os Carrow tentou passar. Logo que acordamos fomos designados a um castigo dado por Snape, onde fomos para floresta proibida com Hagrid.
- Ah! Pelo que sei, devem ter se divertidk bastante com ele, não? Sorte a de vocês, pois conhecendo Snape, talvez não estariam vivos.
-Divertindo?? Não... estávamos sob constante observação de Malfoy. – ficaram em silêncio. – Depois disso, os Carrow acharam divertido me punir de mais alguma maneira, já que Amico não ia muito com minha cara. Foi aí que se iniciou minha perseguição sobre a questão do sangue. Por sorte, Malfoy baixou a guarda e saí por uma passagem secreta que levava para Dedosdemel.
O trio tremeu ao ouvir os relatos do garoto sobre o que estava acontecendo, ainda mais ao ouvir o nome de Malfoy. No exato momento em que o nome foi pronunciado eles se olharam sem saber o motivo, mas algo ali estava errado.
- A espada... Ginny... Malfoy…
- Eu sei! – disse Hermione.
Tremendo, Hermione pegou sua bolsinha de contas buscando o retrato de Figneus, o quadro de um dos diretores de Hogwarts que ficava na sala de Snape. Sua mente estava um caos, mas sabia que se alguém houvesse trocado a espada na sala de Dumbledore, Figneus poderia ter visto, pois estava pendurado bem ao lado da redoma.
- Figneus? Figneus Nigellus?
Sem resposta.
- Figneus Nigellius! Ah... Professor Black, poderia nos ajudar? Por favor?
- “Por favor” sempre ajuda.
No momento em que a imagem do homem deslizara para a tela, Hermione conjurou um feitiço que deixava a visão do quatro toda preta, impedindo que ele visse quem eram os que o chamavam.
- Como ousa!? Quem... o que você...?
- Lamento muito, mas é algo extremamente necessário, Professor Black!
Não fora uma conversa muito extensa, mas foi o suficiente para descobrir um ponto extremamente útil para conseguir destruir a horcrux. Hermione andava em círculos enquanto pensava em como Dumbledore havia conseguido acabar com o anel com a espada, pois num contexto geral aquilo não fazia sentido. Já estava ficando tonta quando hou um estalo em sua mente.
- Harry! A espada!
- Sim?
- Ela foi fabricada por duendes, não entende? Ela só absorve o que a fortalece! No segundo ano você a usou para matar o Basilisco!
- Se ela absorve o que a fortalece... O veneno!
- Exatamente! – disse afoita. – Talvez seja essa a razão de ter deixado a espada para você no testamento..
- Pois eu ainda precisaria, para destruir o medalhão…
- ... mas percebeu que ficaria longe dela, e então fez uma cópia e a colocou na redoma.
- Mas onde deixou a verdadeira?
- Hogsmead? Casa dos gritos?
- Não em Hogwarts... – pensou. – O que acha Ron? Ron?
Procurou o amigo desnorteado, pensado que havia saído da barraca. O ruivo se levantou da beliche com cara de poucos amigos e andou em direção aos dois. Apesar da raiva eminente que estava crescendo mais e mais em si, ainda estava confuso pelo efeito do nome de Malfoy neles e preocupado com sua irmã e família.
- Lembraram de mim, foi?
- Quê?
Ron bufou sem paciência.
- Podem continuar sozinhos. Não quero estragar o prazer de vocês.
- Qual é o problema? – Harry já estava sem paciência também.
- Problema? Ah, nenhum... pelo menos não que você reconheça.
- Vai ficar enrolando ou vai desembuchar logo?
- Desembuchar? É, vou fazer isso mesmo! - disse hostil, diferente do normal.
A chuva começou a cair pesada lá fora. O barulho era quase ensurdecedor se não fosse pela histeria dentro da barraca. Os gritos de Ron e Harry eram capazes de barrar qualquer outro som que não fosse da troca de farpas entre os dois. Hermione estava desesperada, tentando manter a situação sob controle, mas era em vão, eles não pareciam estar em si. O choro começara a brotar em seus olhos, sua visão estava turva quando, praticamente, se jogara com Ron, tentando tomar o medalhão para si.
- Me dê o medalhão! – disse entre as lágrimas. – Vamos, Ron, me dê! Você não quer falar essas coisas, é efeito da horcrux, passou muito tempo com ela!
Quando ele jogou o objeto em suas mãos imaginou que tudo aquilo acabaria, mas estava errada. A horcrux foi como um potencializador para a raiva encubada do ruivo, apenas havia o ajudado a colocar tudo aquilo para fora. Harry e ele continuaram sua discussão a todo vapor, e para seu desespero, Harry falou a coisa mais imprudente que poderia ter dito.
- Então, por que ainda está aqui? – Harry interpelou Ron.
- Não faço ideia!
- Então vá para sua casa, se está tão incomodado.
- É, vou fazer isso mesmo! – fez menção a ir para saída. – Você não viu o que falaram sobre minha irmã? Mas você não liga, não é? Não. O grande Harry Potter já passou por coisa pior. Floresta Proibida, aranhas gigantes, basiliscos... Se não se importa com o que acontece com Ginny, a garota que até meses atrás dizia estar apaixonado. Eu me importo!
- Ron... – Harry começou.
- “Não precisam de mais um filho aleijado”, vocês ouviram!?
- Ouvi, eu…
- Mas não se preocupou com o significado disso!
- Ron! – gritou Hermione. – Não acho que signifique que ela esteja machucada, pense, Gui tem as marcas de lobo, George perdeu uma orelha, e você, supostamente com sarampintose!
- E você tem certeza, não é? – disse raivoso. – É fácil para os dois falar, não precisam se preocupar com a família de vocês, com seus pais.
- Meus pais estão mortos, Ron! – berrou.
- E os meus estão indo pelo mesmo caminho! – cuspiu.
- Que se foda! Então vai, saía daqui! – disse já não raciocinando. – Vai atrás de seus pais vivos, fique sob a saia de sua mãe e se alimente como um porco!
Estavam a um movimento de começarem a se atacar. Hermione não sabia mais o que fazer naquelas circunstâncias, apenas pegou a varinha conjurando um feitiço de proteção entre os dois, deixando ela e Harry sob sua proteção. Harry sentiu algo que só sentira alguma vezes na vida, um ódio avassalador que chegava a queimar seu peito.
- Deixe a horcrux.
O moreno olhou para mão de Hermione que já segurava o objeto e voltou seu olhar para o ruivo que ainda estava parado olhando para a amiga a seu lado. Seus olhos azuis queimavam só de sentir o olhar de Potter sobre si.
- Quê vai fazer? – disse, direcionando a pergunta a Hermione. – Vai ficar com ele ou ir comigo?
- Eu... – sua voz quase não saia. – Vou.. vou ficar, sim. Entenda, não posso deixá-lo, Ron. Prometemos ajudá-lo e…
- Entendi. Escolhe ele. – e se virou, saindo da barraca.
Hermione tentou correr, mas foi barrada pela barreira que ela mesma havia conjurado. Assim que conseguiu se libertar, saiu correndo desesperada pela chuva. Não conseguia enxergar um palmo à sua frente, mas ainda passou mais de meia-hora buscando por algum sinal do Weasley. Os pingos grossos caiam sobre sua pele, causando uma dor que não se comparava com o que se passava em seu coração. Com a horcrux em mãos e acariciando o medalhão que carregara em seu pescoço, ela buscava conforto sentada na lama, onde se pusera a chorar.
- E-ele f-foi embora! Desaparatou! – disse ao avistar Harry.
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Notas da autora
Oi pessoal! Como começaram 2021?
Apesar de passar 1 semana sem postar, aí está o capítulo quentinho. Espero que tenham gostado. - eu particularmente fiquei triste.
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