25.
Rebecca se lembrava de uma casa branca no meio de um campo tão verde que parecia um tapete, ela se lembrava de sorrir e ir correndo até o riacho onde pequenos peixes habitavam e gostava de admirar eles nadando livremente pela água enquanto via libélulas sobrevoando o lugar, onde também, borboletas de várias cores batiam suas asas lindamente diante de seus olhos. O som calmo e limpo da água correndo a fazia suspirar toda vez.
Agora, ela via o teto de uma igreja com uma linda pintura de um anjo sobre um belíssimo céu que a fazia se recordar daquela época.
Quando seus sentidos começaram a falhar e seus olhos foram se fechando, aquela mesma sensação de tantos anos voltará com força e, estranhamente, não doía pensar em seu planeta. Na verdade, foi a primeira vez que pensou nele sem remorso. Encarou Niki uma última vez e sentia que a mulher estava realmente feliz em saber que ela já não aguentava mais, Bex assentiu, não sabia o motivo de fazer isso, fechou os olhos novamente, entretanto, o peso de Niki saiu de cima do seu corpo bruscamente.
Ainda meio tonta, pois o ar estava voltando aos poucos para seus pulmões, Rebecca tentou se levantar quando viu seu confidente Vox rolar no chão com sua antiga amiga, Bex tropeçou nos próprios pés e caiu de joelhos no chão, olhou na direção deles ainda puxando o ar e se levantou, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, um dos integrantes da gangue a derrubou no chão novamente. O homem tentou a acertar, porém, Rebecca desviou rolando pelo chão e levantou, tirou sua arma da cintura e disparou um tiro na testa dele.
Sua atenção voltou para Niki e Vox que tentavam sufocar um ao outro. Bex correu na direção deles e a puxou pelo cabelo a tirando de cima de seu amigo rapidamente, Niki tentou chutá-la, mas Bex desviou e a jogou no chão bruscamente. Niki rolou pelos degraus do altar da igreja, Rebecca apontou sua arma para ela, entretanto, o que mais temia aconteceu. Sua mente a pregou uma peça, pois se lembrou das duas trabalhando juntas na antiga O.R e, sem perceber, abaixou a arma.
— Eu sabia... — Niki se virou na direção dela e limpou o sangue da boca. — Você é tão fraca que nem consegue fazer o que quer.
— E você é tão fraca que se destruiu sozinha. Não fui eu que fez isso com você, ou a morte do Jordan, foi você mesma! — Bex gritou, Niki a encarou com ódio.
— Cala a boca, não fala do Jordan! Ele sempre acreditou e confiou em você, e onde ele está agora, Rebecca? — Niki se levantou devagar enquanto cuspia as palavras, Bex engoliu em seco. — Morto! — Gritou novamente.
Rebecca começou a chorar. E Nicole a encarou com desdém. Não acreditava em nenhuma lágrima dela.
Subitamente, mais alguns integrantes da gangue entraram na igreja, onde deliberadamente, distribuíram tiros na direção deles. Bex se jogou no chão e Vox se escondeu atrás da mesa do altar que estava virada.
Nicole caminhou tranquilamente na direção do ex-governante do planeta Alfa-52, ela queria que Rebecca morresse, de fato, mas também queria que ela sofresse e queria causar o sofrimento dela.
Niki se aproximou dele, e antes que ele se virasse percebendo quem estava atrás dele, a mulher passou o braço esquerdo sobre seu pescoço apertando fortemente, e com a outra mão, apontou o cano da arma em sua cabeça, Vox ergueu as mãos, e Niki o levantou do chão lentamente, queria que Rebecca visse o que estava prestes a fazer.
De cima da construção, Zia viu a cena e ficou desesperada. O homem na qual tentava se livrar não pareceu ser nada diante do que podia acontecer, rapidamente, conseguiu atirar em sua perna e o derrubar, fazendo seu corpo cair de onde eles estavam até os bancos da igreja no chão. A garota correu desviando dos corpos já mortos e desceu as escadas rapidamente, viu que Krent terminou de abater outro deles e também se apressou para onde ela queria ir. Os dois se encararam antes de cruzar a igreja, Roy, do outro lado da construção, arregalou os olhos vendo que a mulher tinha feito um da equipe de refém, assim que atirou no homem que se colocou na frente dele para tentar abatê-lo, tratou de tentar se aproximar. O ex-contrabandista temia o que podia acontecer, pois sentia que ainda estava longe de acabar e Niki não desistiria facilmente.
— Nicole, solta ele... — Rebecca a encarou, Niki sorriu. — Seu problema é comigo.
— Rebecca, eu nunca te vi tão assustada, estou gostando da sua expressão... — Nicole engatilhou a arma, Rebecca sentiu seu coração acelerar.
— Me mata, então. Atira em mim, e não nele. Mas não faz mais alguém pagar pelos meus erros. — Rebecca ergueu as mãos, esperando que a mulher fizesse o que ela sugeriu. Nicole gargalhou.
— Ah, Rebecca, ainda tenta ser altruísta? Seu teatro de boa moça e heroína não cola comigo... — Niki deixou de sorrir, sua mente vagou pelas lembranças que tinha com Jordan e, sem perceber, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
— Eu sei o que está sentindo... — Vox falou e Niki franziu as sobrancelhas. — Perdi a minha família há pouco mais de um ano, e todo dia, acordo com a sensação que ainda irei vê-las.
— Eu também sinto isso, acordo achando que Jordan está do meu lado e assim que percebo que não está... — Ela faz uma pausa e tenta engolir o choro. — Sinto como se meu peito fosse explodir.
— Entendo, e não fica mais fácil, certo? Todo dia é difícil do mesmo jeito. — Ele concluiu, ela assentiu e calmamente soltou o seu pescoço, porém, a arma ainda estava apontada para sua cabeça.
— Eu odeio sentir isso. — Confessou, Niki estava mais abatida e por ter abaixado a guarda, Vox se soltou de uma vez dando uma cutuvelada em sua barriga, o ex-governante do planeta Alfa-52 a tomou a arma e deu-lhe uma rasteira.
— Ninguém brinca com a segurança da minha família. — Rebecca se aproximou dela que agora estava no chão e de cabeça baixa, Niki não a encarou, permaneceu imóvel enquanto a via caminhar em sua direção. — Você achou mesmo que ia conseguir?
— Por que você não vai para o inferno? — Nicole sussurrou, porém, Rebecca conseguiu escutar e se abaixou ficando na altura dela, puxou seu rosto a segurando pela bochecha e a encarou.
— Vamos nos encontrar lá. — Sussurrou.
Nicole notou como Rebecca parecia mais convencida do que antes, seu ódio por aquela mulher aumentava ao ver a mesma expressão orgulhosa que ela sempre teve, Nicole não deixaria Rebecca ganhar essa.
Levantou seu corpo e tirou de seu casaco uma pequena adaga, a segurou firmemente, sentia seu coração acelerado. Olhou para Bex de canto, antes de matá-la, ela queria a ver sofrer. E Nicole jurou que a faria sofrer.
Rebecca, que já sentia-se vitoriosa dessa missão, segurou Niki pelo cabelo a levantando dos degraus, a asiática estava sorrindo, Rebecca franziu as sobrancelhas e antes que pudesse fazer qualquer coisa, Nicole acertou um soco tão forte em Rebecca que ela caiu, nesse meio tempo, Vox apontou a arma na direção de Niki, entretanto, ela foi mais rápida e o derrubou no chão com uma rasteira, rapidamente, chutou seu rosto, abaixou na direção de seu corpo e enfiou a adaga em seu abdômen. Vox se contorceu de dor e tentou se levantar, mas a dor era tanta que ele não conseguiu.
Rebecca se levantou limpando o sangue da boca, vendo o que acabara de acontecer e correu na direção dele, porém, uma parte do teto explodiu caindo no meio do caminho. Com a fumaça, se mover ficou difícil e Bex tropeçou algumas vezes tentando encontrar seu amigo, seu coração estava acelerado, sentia medo. Quando os encontrou, Niki a encarou, Rebecca arregalou os olhos, Nicole sorriu diabólica, e com um rápido movimento, cravou sua adaga no peito de Vox.
Rebecca sentiu suas mãos gelarem, mesmo achando que suas pernas podiam falhar a qualquer momento, ela correu até ele, nem estava vendo Nicole, apenas enxergava o estado assustador que Vox estava.
— Amigo, não... — Rebecca sussurrou, as que lágrimas derramava começaram a molhar suas bochechas. Antes que pudesse segurá-lo, sentiu Nicole puxando-a pelo cabelo e a jogando no chão.
— Isso tudo é sua culpa! — A asiática esbravejou.
Entretanto, atrás dela, Zia surgiu e a acertou com um chute nas costas, a força que a garota usou foi tanta que Niki caiu de joelhos, depois, a garota acertou outro chute, desta vez, no rosto dela. Nicole rolou as escadas, parecia que tinha desmaiado. Nisso, Zia se abaixou ficando próximo de Vox, ele sorriu fraco. Bex se levantou rapidamente e também correu na direção deles.
— Vox — Zia balbuciou, o homem segurou a mão dela. — Eu devia estar do seu lado, amigo.
— Você está. — A voz dele saiu tão fraca que Zia engoliu em seco.
Bex encarou a cena com seu coração se despedaçando aos poucos. Ele estava se despedindo de Zia, Rebecca ficou tão triste que não notou Nicole se aproximando dela, apenas escutou o aviso de Zia.
— Bex, cuidado!
Rapidamente, Rebecca se virou, Nicole segurava a mesma adaga que usou contra Vox. Bex desviou, porém, Niki acertou seu braço, um corte profundo quase no ombro, o sangue como manchar ainda mais a blusa que Rebecca usava, ela franziu a testa com a dor. Porém, olhou para seus amigos ali, no chão, com um olhar tão tristonho, Bex sabia que era sua culpa. Nicole tinha razão, essa situação inteira era sua culpa, mas ela ia dar um fim nisso. Rebecca levantou a cabeça, o sangue de seu rosto já estava um pouco seco, alguns fios de seu cabelo grudavam em sua testa, parecia que tinha sido atropelada, Nicole a encarou antes de avançar para cima dela, Bex a acertou com um chute na barriga, Nicole pendeu e tentou enfiar a adaga novamente, porém, Rebecca a empurrou para o chão. Nesse momento, outra parte do teto caiu, dessa vez, no meio delas. A fumaça foi intensa e Bex tossiu.
— Vai atrás dela, Bex! Ela está fugindo! — Zia gritou, em seguida, Krent apareceu correndo e ajudou Zia a levantar Vox do chão.
— Nós vamos sair daqui, Queen está abrindo caminho. Vai, Bex, acaba com ela! — Krent pronunciou, Rebecca olhou uma última vez para eles antes de sair na direção de Niki.
A asiática subiu as escadas, olhou para Rebecca por cima do ombro antes de sumir do campo de visão.
Bex correu na direção de onde Niki tinha saído. Subiu as escadas rapidamente, virou um pequeno corredor e encontrou a porta que tinha acesso ao telhado da igreja. Antes de atravessar a porta, respirou fundo e adentrou. De cima, podia ter uma boa visão da cidade-capital, ironicamente, uma chuva fina e gelada começou molhando os fios rebeldes de seus cabelos que grudavam em sua testa e em suas bochechas.
Rebecca caminhou calmamente pelo telhado até parar quando sentiu Niki atrás dela.
Ela se virou lentamente e encontrou Nicole a encarando, suas roupas já estavam molhadas devido a chuva que aumentava. Seus cabelos grudavam em seu rosto, Nicole não tinha uma expressão. Estava neutra. Sem emoções.
— Isso começou em uma noite como essa... — Niki vagou o olhar pela paisagem, olhou para as nuvens sentindo os pingos gelados da chuva sobre seu rosto. — E pelo visto, vai acabar aqui. — Voltou a encarar Rebecca.
— Não nos faça perder tempo, Nicole, nossos caminhos nos levaram até aqui, vamos acabar com isso. — Rebecca fechou as mãos com força, Nicole ergueu a sobrancelha e correu na direção dela. No primeiro momento, o golpe não lhe acertou, Bex conseguiu desviar e acertou um soco no rosto da asiática assim que ela se virou. Niki se afastou e depois acertou o rosto de Rebecca.
As duas seguraram no colarinho uma da outra, porém, Rebecca deu uma rasteira e derrubou Nicole no chão, segurou seu braço o torcendo e tirou sua arma da cintura apontando na direção de Nicole.
— Atira logo, Rebecca. — Sussurrou, Bex a soltou jogando seu corpo no chão.
— Não queria que tivesse chegado a esse ponto, Nicole. Nós éramos amigas, fazíamos parte da mesma equipe... — Rebecca respirou fundo, Niki esfregou as pontas dos dedos em seus olhos, deu de ombros e, por fim, encarou Rebecca.
— Nossa equipe não existe mais. — Nicole se levantou lentamente, se sentia cansada, e a chuva não parava, o frio aumentava, o céu já estava escuro.
A asiática caminhou até chegar perto de Rebecca, as duas se encaravam novamente, Nicole ficou tão perto que fez o cano da arma que Bex ainda apontava encostar em seu peito.
— Sinto muito. — Rebecca murmurou. Niki sorriu fraco.
Nicole colocou as mãos sobre as mãos de Bex, seu dedo foi no gatilho da arma, a asiática olhou para a mulher a sua frente mais uma vez. Podia se ver nos olhos de Rebecca.
— Anjos que foram expulsos do paraíso tiveram que se transformar em demônios. — Com essas palavras, Niki soltou o gatilho da arma sobre seu peito, o tiro a atravessou, Bex arregalou os olhos e começou a chorar enquanto via a mulher sucumbir lentamente e cair em sua frente.
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