04.
Vox e Krent atravessaram a movimentada avenida 1200 do planeta Beta-18, letreiros luminosos piscavam refletindo nos seus rostos, a todo o momento, eles tinham que desviar de alguém que andava apressado seguindo o fluxo. Essa avenida nunca parava, até porque, era o ponto de acesso para outras nações. Tinha de tudo um pouco nesse planeta.
Os dois agentes caminharam por entre as pequenas barracas do vasto comércio, prestando atenção no que acontecia em torno deles. Sendo assim, em cada passo dado, os seus olhos corriam por todos que estavam ali, tentando identificar o contato que Rebecca falara.
Virando uma esquina, encontraram um velho negro fumando encostado na grade de uma janela, que pertence a um antigo prédio. O lugar estava nas últimas.
O velho deu mais uma tragada no cigarro antes de levantar o olhar na direção deles.
— Kay? — Perguntou Krent, ainda distante do velho, Vox o encarou por inteiro.
Como se analisasse os agentes, ele deu alguns passos na direção deles.
— Vocês são os amigos da Rebecca? — Questionou, jogou o cigarro no chão e pisou em cima, o apagando.
Os agentes concordam com a cabeça.
— Podem vir comigo. — O velho deu as costas para eles e seguiu, entrando na porta do antigo prédio. Krent e Vox se entreolharam, por fim, o seguiram. A antiga construção era toda branca, entretanto, boa parte da tinta estava amarela e a outra parte descascou.
Não havia uma parte que não estava rabiscada, manchada ou destruída.
Os dois agentes seguiram o velho por alguns minutos, subiram uma escada e encontraram um quarto vazio, havia uma janela aberta, não tinha porta. Parecia cenário de um assassinato.
— É melhor que conversamos aqui, senhores. — O velho finalmente falou, Krent concordou com a cabeça e Vox cruzou os braços.
— A Bex já explicou o tipo de informação que nós queremos? — O ex-governante do planeta Alfa-52 perguntou, o velho assentiu.
— Sim, ela contou a situação, realmente é um problema. Vocês já têm o que eu quero para dar a informação? — Cruzou os braços, e olhou em volta. Fazia anos que Rebecca não o pedia ajuda, ainda mais, mandando alguém do lugar dela.
— Temos. — Krent tirou do bolso o pen-drive e mostrou para Kay. Ele sorriu. — Mas primeiro a informação. — O ex-ladrão abaixou a mão, escondendo o pen-drive.
— Certo. Há algumas semanas, alguém procurou Frankie, a líder da gangue Fênix. Ele contratou os seus serviços para esses próximos dias. Aquele foi o primeiro ataque de muitos. — O velho deu de ombros, os agentes entreolharam-se novamente.
— Mais alguma coisa? — Vox perguntou.
— Já que sou conhecido de Rebecca há anos, e devo a ela a vida do meu povo, aquela garota salvou o meu planeta de Ludo, vejo-me na obrigação de falar tudo o que sei. — Ele continuou, respirou fundo, pensando que se não fosse por Rebecca, ele nunca teria os seus netos, que são tudo para ele. — Tem a ver com a O.R, a pessoa que contratou a gangue usava o brasão da organização. Talvez só tenha uma blusa e nem saiba o que é a O.R, mas pode ser que faça parte. E se for, está ligado a Rebecca de alguma forma.
— Ela vai ficar surpresa, mas agradecida por sua ajuda. — Vox pronunciou.
— Obrigado, está aqui o seu pen-drive. — Krent o entregou e o velho assentiu, guardando o objeto no bolso. — Vamos dizer a Bex como nos ajudou hoje.
— É o mínimo que posso fazer. — O velho deu de ombros, os agentes assentiram.
Já fora do prédio, Krent e Vox tiveram um breve diálogo sobre a O.R está envolvida nesse novo problema. Era estranho pensar que uma organização que já salvou tantas pessoas podia estar envolvida em algo dessa magnitude.
Enquanto voltavam para a nave cápsula, Krent sentiu que eles estavam sendo observados. Pensou que pudesse ser algo da sua cabeça, mas essa sensação não passava, e a medida que olhava para trás, tentava seguir o caminho de volta sem se preocupar, foi em vão.
— O que foi? — Vox perguntou, o ex-ladrão parou de andar, se aproximando de uma barraca que vendia bebidas alcoólicas, Vox o seguiu, já estava desconfiado também.
— Acho que tem alguém seguindo a gente, olhe disfarçadamente para a barraca que vende camisetas. — Krent apontou com a cabeça, Vox lentamente virou a cabeça naquela direção. Uma mulher verde de cabelo curto preto os encarava.
— Será que ela está seguindo a gente? — Krent perguntou quando Vox deixou de encarar a mulher.
— Deve estar, não para de nos olhar. É melhor a gente continuar andando, tem muita gente aqui para arriscar troca de tiros ou algo do gênero. Na nave, resolvemos o que fazer. — Vox explicou, Krent concordou com a cabeça ainda relutante. Odiava ser seguido. A sua vontade era de perguntar para aquela mulher o motivo de o encarar tanto.
Os dois seguiram normalmente fingindo estar tudo bem, viraram uma esquina, encontrando um homem parado, encostado na parede de um antiga loja de roupas que não funciona mais. Os dois sentiram que ele não estava ali atoa.
Assim que o homem os viu, virou na direção deles e deu alguns passos para frente. Krent olhou para trás e notou a mulher também virando a esquina, as suas desconfianças estavam certas, eles estavam sendo seguidos e pelo visto, a troca de tiros vai acontecer.
— Algum problema? — Vox questionou, o homem a sua frente sorriu. De uma vez, tirou do seu casaco uma pistola, apontando para os agentes.
— Nós temos um recado para Rebecca. — A mulher apontou uma arma na direção deles, olhando de perto podia notar o rosto de quem não dormia há dias.
— Infelizmente, nós não somos meninos de recado. — Krent tirou duas pistolas do seu cinto, atirando nos que estavam na sua frente, Vox também começou a atirar e seguiram tentando alcançar a nave, mesmo relutante, a mulher acertou um tiro de raspão em Krent.
O ex-ladrão sentiu dor, entretanto, demonstrou força, tirando do bolso um pequeno explosivo, jogando no meio dos atiradores, cada um caiu de um lado.
Vox conseguiu atingir o homem que se afastou quando foi alvejado, rolando no chão. A mulher voltou a tentar acertar os agentes, porém, os dois conseguiram correr e pular na nave cápsula, se ajeitaram nos bancos e ligaram os motores. Krent tentou dar um último tiro e acertou a mulher de uma maneira fatal. Antes que mais um tiro ser dado, os agentes voaram para longe.
☆☆☆
Bex se endireitou na sua cadeira, estava diante dos capitães de equipe e do primeiro-ministro da A.F.G.U.
A sala que estavam era ampla, em cores neutras, as mesas e cadeiras estavam organizadas num grande círculo. Encarou os rostos dos seus colegas, da última vez que esteve diante de tanta gente foi na sua demissão da O.R, Rebecca afastou esses pensamentos, balançando a cabeça.
— Como vocês sabem, capitães, as investigações estão a todo o vapor. — O primeiro-ministro andava pelo meio do círculo, as suas duas mãos estavam para trás. Não era a primeira vez que lidava com essas determinadas situações nos seus longos anos sendo representante de uma grande organização. Parou distante deles. — Eu sei que todas as equipes estão se esforçando para encontrar os culpados, entretanto, nós já temos uma noção de quem pode ser.
Rebecca sabia do que se tratava.
Assim como Hoden, a maioria acreditava que foram as facções lideradas pelos desamparados, porém, não era o que Bex acreditava.
— Pelo histórico, senhor, pensamos que foram as facções. — Amara Dione, capitã estelar há anos, levantou a mão ao falar. Os demais participantes da reunião concordaram, menos Rebecca que tentou não demonstrar a desconfiança. Apenas permaneceu imóvel e não encarou ninguém. Só queria sair o mais rápido daquela sala que parecia diminuir de tamanho cada vez que alguém dizia algo que ela não concordava.
— As equipes estão cuidando das investigações no quadrante z, não vai demorar para essa ameaça ser contida. — Hoden concluiu, os outros concordam.
A primeira pessoa a sair da sala foi Rebecca, sentia que o ar faltava dos seus pulmões, tudo isso a lembrava do trauma que foi a sua demissão da O.R.
Passou pelos corredores apressadamente, o seu objetivo era a porta de acesso ao estacionamento onde estava a sua nave, entretanto, ouviu alguém lhe chamando.
— Rebecca, tome cuidado. — Hoden estava sério, cruzou os braços na altura do peito. — Eu sei que você mandou a sua equipe para o quadrante y, sem querer, ouvi você falando com eles.
— Hoden. — Rebecca voltou a encarar o marciano. — Não tem nada a ver com isso, é algo meu com a minha equipe. Coisas de bem antes de entrar aqui, não se preocupe.
— Vou acreditar, Rebecca, é uma boa capitã. Essa organização inteira acredita no seu potencial, e nós sabemos como erros do passado podem perpetuar até os dias atuais. — Hoden a encarou, ela assentiu.
— Eu sou a prova viva disso, Hoden.
Já do lado de fora, Rebecca respirou fundo.
Nunca deixou de seguir o seu instinto e não seria agora que faria isso.
Voltou para a nave 000789 um pouco mais intrigada do que foi, tudo estava estranho.
Bex sentou na sua cadeira no meio da sala de comando, encarando o painel que ainda apitava com o sinal vermelho. O seu bracelete vibrou, era Zia dizendo que eles voltaram com informações, entretanto, Roy levou um tiro.
Rebecca se levantou da cadeira, descendo o elevador principal apressadamente. Cruzou a entrada da A.F.G.U indo na direção da enfermaria, a recepcionista já foi liberando a sua entrada antes que a capitã derrubasse a porta.
Roy estava sentado na maca entediado, não usava o seu sobretudo de sempre, agora só uma camiseta branca, os seus músculos eram marcados pelo pano fino, o ex-contrabandista esperava que alguém o liberasse para poder sair o mais rápido possível dali, nunca ia admitir, mas tinha medo de tudo relacionado a médicos.
Zia estava no banco a frente olhando as unhas, já não usava a roupa provocativa que usou para seduzir o alvo. Usava a sua camiseta preta de manga longa e a calça azul. Os agentes notaram a capitã os olhando, tentando ver se eles estavam bem.
— Como estão? — Perguntou, adentrou a pequena sala, Zia se levantou do banco.
— Ainda vamos passar o relatório, Bex, mas nós estamos bem. — A garota segurou o ombro da capitã dando um leve sorriso.
Rebecca concordou com a cabeça e levemente soltou o ar. Zia lançou um olhar para Roy, que apenas estava calado, e deixou os dois na sala.
— Não precisava ter vindo aqui, eu já estava indo para a nave, falei para a Zia não te dizer nada porque sabia que ela ia exagerar, mas eu estou bem e... — Roy tentou amenizar a situação para Bex, que apenas o abraçou, não deixando ele terminar de falar. O ex-contrabandista retribuiu passando os braços ao redor da cintura dela, puxando o corpo da mulher ainda mais para si. Rebecca apoiou a cabeça no ombro dele, ouvindo a respiração de Roy.
— Você está bem, é isso que me importa. — Rebecca se afastou um pouco, a fim de encarar os olhos escuros do ex-contrabandista, já Roy, suspirou olhando o rosto de Bex. Os dois sorriram percebendo essa aproximação que, ultimamente, eles parecem nem notar mais.
Entretanto, alguém abriu a porta.
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