02.
Bex viu seu confidente Vox passando com sua caixa de ferramentas nas mãos e os óculos na ponta de seu nariz. Ele nem a notou chegando, estava distraído vendo o que a nave precisava para suas próximas missões, mesmo tendo uma equipe de manutenção para todas as naves da A.F.G.U, Vox gostava de ocupar sua mente, ter o que fazer evitava pensar em tudo o que aconteceu em sua vida. Tudo o que ele já viu e que ainda atormenta seu sono.
Bex se abaixou, ficando na altura que ele estava, mexendo em alguns fios.
— Vox? — O chamou, ele se assustou e percebendo quem era começou a rir. — Desculpa o susto.
— Está tudo bem, como foi a reunião? — Deixou a ferramenta de lado, encarando sua amiga.
— Estranha. — Rebecca confessou, ele franziu a testa. — Tenho que conversar com todo mundo, daqui a pouco vai para sala de comando, tá bom? Roy e Krent ainda não chegaram.
— Sua cara não está boa, nossa equipe levou bronca? — Perguntou com preocupação, ela negou com a cabeça sorrindo a fim de tranquilizá-lo.
— É algo bom, amigo. Não se preocupe. — Bex sorriu e segurou o ombro dele, Vox concordou com a cabeça. Às vezes, era preciso um olhar para se entendessem. A garota deixou aquela sala do mesmo jeito que entrou, rápido e fingindo estar tudo bem. Atravessou alguns corredores e ouviu vozes cada vez mais altas, entrou na sala de jogos e viu Zia e Krent brigando. O homem desviava das tentativas da mulher de pegar algo que estava segurando no alto, Zia tentava alcançar pulando, Krent ria da situação.
— O que vocês estão fazendo? — A capitã perguntou, fingindo estar nervosa, eles pararam com essa pequena briga. — Nós já conversamos sobre isso.
— Desculpa, Bex. — Krent cruzou os braços.
— Não vamos fazer de novo. — Zia a encarou, Rebecca tinha que ter um postura mais rígida com eles, embora fossem uma família, ser capitã levava muito esforço e dedicação, uma equipe que não sabe se comportar pode prejudicar o trabalho. Bex sorriu vendo como eles a escutaram, entretanto, voltou a ficar séria.
— Krent, você verificou o painel? — Questionou, seguindo para sala de controle, os outros dois foram atrás.
— Sim, senhora. Tem um alerta vindo do quadrante z, uma base da A.F.G.U foi destruída, acreditam que foram os desamparados .— Krent explicou, os três seguiram pela nave, que se iluminava a cada passo dado.
— Aquela área não é toda equipada para dar assistência a eles? Por que eles destruiriam uma base? — Perguntou Zia, nos últimos meses seu cabelo estava cor-de-rosa, vida nova, cabelo novo.
— Não foram eles, nunca fizeram isso nas bases da O.R em dez anos, a A.F.G.U tem mais recursos, podem ajudar muito. Por que eles fariam isso? Tem alguma coisa errada. — Rebecca adentrou a sala de controle, Zia foi ao seu lugar de costume, ligando os painéis. Krent sentou na cadeira do piloto, e Bex ficou encarando aquele alerta no painel, vermelho e apitando sem parar. Era estranho estar tão calma e minutos depois tudo fugir do controle. Enquanto os dois ex-ladrões configuravam a nave para a nova rota, Roy chegou usando o elevador principal, onde parava diretamente na sala que os três membros da equipe estavam juntos.
— Capitã Hantten — se entreolharam por alguns instantes, Roy não queria transparecer o que acabou de acontecer, de como acabou de reviver um trauma. Bex tentou perceber o que tinha de errado com ele, mas como esse assunto nunca foi abordado por eles, Rebecca não tinha como saber. — Desculpem a demora. — Roy encarou os outros dois, que assentiram em sintonia.
— Está tudo bem, senhor Queen? — Interviu Rebecca, não se moveu, mas queria ter feito isso, sentia que ele estava chateado com algo.
— Está, mas o que aconteceu? Vim o mais rápido que consegui. — Roy encarou sua capitã. No momento que Bex tentou falar algo, Vox apareceu na sala. A equipe estava reunida.
— Já que todos estão aqui, eu posso falar — a mulher sentou em sua cadeira, que ficava no meio da sala de comando, era a maior e nesse lugar podia ver todos da equipe realizando seu trabalho, os quatro integrantes a encaram curiosos. — Nós fomos indicados para o prêmio de melhor equipe no baile desse ano na A.F.G.U. — Esperou a reação deles.
Zia e Krent arregalaram os olhos, Vox franziu a testa e Roy não teve expressão nenhuma.
— Era por isso que foi tão cedo para o escritório? — Zia questionou, Bex assentiu. — Não fazia ideia que podia ser indicado com tão pouco tempo.
— É estranho. Chegamos agora.— Krent afirmou, cruzou os braços na altura do peito.
— Tem certeza disso, Bex? — Vox perguntou, ainda confuso. A capitã concordou com a cabeça novamente.
— Eu sei que é estranho, mas foi o que aconteceu, só vamos seguir o protocolo, pode ser? Temos um alerta para verificar. — Bex se ajeitou em sua cadeira, cada um da equipe seguiu para seus lugares. Tinha um clima tenso entre eles agora.
De canto, a capitã avistou Roy. Estranhou ele não falar nada sobre tal notícia, ultimamente, Queen estava mais recluso. Só falava quando alguém o chamava, isso a preocupava.
Alguns minutos depois, a nave 000789 pousou no planeta Orion-80. O solo era árido, e a vegetação mais seca, no lugar que estavam só podiam ver os galpões da A.F.G.U, todos brancos e os portões cinza. Alguns dos guardas com armas quase do tamanho de seus corpos circulavam em volta das instalações. Bex negou com a cabeça, notando que aquilo era medo que algum dos desamparados os atacassem, entretanto, isso não iria acontecer.
— Atenção, equipe — Parou na frente deles, encarou cada um, ergueu a cabeça. Ela sempre tinha que demonstrar confiança para que eles não se preocupassem. — Por enquanto, nós só vamos perguntar e procurar por informações, sejam discretos em suas perguntas. E qualquer coisa me mandem mensagem, podem ir. — Eles foram se afastando, porém, ela precisava falar com alguém. — Roy?
Ele parou e virou na direção dela, os outros seguiram as ordens, deixando eles sozinhos. Rebecca se aproximou de Roy, ficando em uma distância tão curta que era quase impossível não notar os detalhes do rosto dele. Roy encarou os olhos de sua capitã, sentia que podia respirar novamente enquanto via suas íris.
Por instantes, nada foi dito e quando perceberam o silêncio, sorriram.
— Por que me chamou? — Desta vez, Roy não estava tão sério, havia um brilho em seu olhar que antes não estava ali, bastou ouvir a voz de Rebecca lhe chamando para se sentir melhor.
— Você está bem? Notei que está calado, recluso, fiquei preocupada. — Bex confessou, tímida.
— Estou bem, só cansado, trabalhamos muito nessas últimas semanas. — Ergueu a sobrancelha, gostava de analisar as expressões que Rebecca fazia enquanto conversava com ele. Ela era tão misteriosa.
— Verdade, essas semanas foram difíceis. Sinto muito, o trabalho está longe de acabar — Rebecca respondeu. Ele concordou com a cabeça. — Espero que não tenha se arrependido de ter aceitado meu convite para esse trabalho.
— Me arrepender? Isso nunca. Orgulho-me do que fazemos, porém, não me importava em se redimir diante a sociedade pelos meus erros. — Roy sorriu, quis rir alto se imaginando tentando melhorar o mundo assim como vê Rebecca fazendo. Ela ficou intrigada. Se Roy nunca quis trabalhar para ajudar os que precisavam, por que aceitou fazer parte disso?
— Agora eu estou confusa, Roy, por qual motivo aceitou o trabalho? — Bex franziu a testa, ele riu e segurou os ombros dela, fazendo com que a distância entre eles diminuísse ainda mais.
— Eu queria... — Roy encarou Rebecca, os dois sorriram, nenhum pensava em se afastar. Antes que o homem pudesse explicar, uma voz chamou a atenção dos dois. Era Hoden Kell, estava sozinho e, até mesmo, feliz por ver sua colega de trabalho duas vezes no dia. Roy e Bex se afastaram rápido.
— Rebecca, não sabia que ia te encontrar aqui, me desculpe se estou atrapalhando alguma coisa — Hoden sorriu, não tirou os olhos de Bex, Roy, vendo essa situação, resolveu seguir com a ordem de verificar o lugar, apenas acenou para Bex e depois para Hoden, entretanto, não sorriu como acabara de sorrir para a garota. O ex-contrabandista deixou os dois sozinhos e resistiu a vontade de olhar para trás.
— Olá, Hoden, duas vezes no mesmo dia, esse é o nosso recorde, certo? — Ela riu, ele também. Hoden se aproximou e os dois começaram a andar pelo lugar. Sem pressa, só caminhavam.
— É impressionante, achei que íamos nos ver apenas na cerimônia — Hoden tirou alguns fios de sua testa, encarou Rebecca que só olhava para o caminho em sua frente. — Recebeu o alerta?
— Sim, fiquei assustada. Esse tipo de coisa nunca aconteceu antes, sinto que tem algo de errado. — Bex soltou o ar, ele assentiu.
— Eu sei que veio de ensinamentos diferentes, Rebecca, mas as coisas mudaram. Na época que começou, os desamparados eram todos inocentes e vítimas, entretanto, muitos deles estão em facções agora. Perigosos, cruéis e sanguinários. — Hoden a encarou sério, os dois pararam de andar e Rebecca tentava digerir tudo o que acabou de ouvir.
— Mas, Hoden, desde quando isso aconteceu? — Perguntou, ele mordeu o lábio.
— Já tem um tempo. Não quero te assustar, só quero que fique ciente, você representa uma das maiores organizações do universo, se algo acontecer, pode ser ruim para todos nós. — Hoden sorriu, ela tentou falar algo, mas não conseguiu. Por fim, concordou com a cabeça.
Os dois capitães mais populares da A.F.G.U seguiram juntos por entre os galpões, falando com alguns dos guardas e responsáveis por cada uma das instalações. Entretanto, nada foi de grande proveito. Era um mistério.
☆☆☆
A matéria no jornal intergaláctico mostrava o incidente no quadrante z, o objetivo não era apenas informar, aquela rede de comunicação era financiada pela União das Galáxias, ou seja, impossível não soar como uma grande denúncia aos desamparados.
"O J.U informa.
Nesta madrugada, uma das instalações da A.F.G.U foi completamente destruída por um grupo ainda não identificado, testemunhas disseram que eles eram agressivos, buscavam por algo, entretanto, não encontraram.
Os capitães Hoden Kell e Rebecca Hantten estão nesse momento investigando os últimos acontecimentos, tudo indica que as facções lideradas pelos desamparados estão envolvidos.
Voltamos com mais informações."
As câmeras dos jornalistas focaram nos líderes de equipe que estavam ao lado um do outro enquanto tentavam explicar de maneira mais neutra possível que ainda não tinham suspeitos.
— Nós ainda estamos investigando, é muito cedo apontar suspeitos. — Rebecca se adiantou, fazia dez minutos que tentava se livrar das câmeras, Hoden respondia com mais calma que ela, já estava acostumado com esses procedimentos. Vendo que sua colega estava tensa e irritada, encostou em seu ombro para ela entender que ele poderia falar.
— As investigações começaram, não vai demorar para encontrarmos os culpados — Hoden encarou a jornalista, Bex só assentiu. — Por hora, não podemos responder mais perguntas.
Tudo isso confundia a cabeça de Rebecca, tinha algo errado desde mais cedo. Pelo visto, as coisas demorariam para se acertar.
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