•Capítulo Dois•
Não voltei a olhar para Nicola, não que eu estivesse com tanto medo, mas ele estava deixando bem claro que não queria conversar — um grande problema, já que eu sou bem tagarela — e ele parecia seco, nervoso. Não podia ser apenas por me ter aqui, tinha que ter algum outro motivo mais plausível.
— Você pode me dizer o porquê estou aqui? — perguntei alguns segundos depois, bem na hora que ele se virou para sair.
Ele parou e suspirou pesadamente, claramente sem paciência alguma.
— Você já sabe o porquê.
— Não sei, bem... Eu sei que tem algo a ver com o meu pai, mas não entendo o porquê eu, já que a dívida não é minha.
Nicola se virou para mim, seus olhos incomuns agora tomados por um leve tom azulado, mesclado ali no meio do castanho-esverdeado.
— Você é a nossa garantia de que ele vai nos pagar. — seu maxilar estava cerrado, era evidente que ele estava ficando nervoso com a minha intromissão. — Agora cale a boca, já é ruim demais ter que ser sua babá, não quero que fique tagarelando na minha cabeça.
Continuei ali parada, pasma com a sua explosão repentina.
— Eu não estaria tagarelando se vocês não tivessem me envolvido nisso! — exclamei, minhas mãos tremendo com nervosismo.
Eu era conhecida por ser uma menina muito controlada, mas com Nicola eu estava perdendo toda a minha paciência. Ele era rude, mal educado e lindo, muito lindo, gostoso até. Isso estava me irritando, as sensações estranhas no meu corpo só por estar perto dele, mesmo brigando com ele.
— Foda-se você. — vocíferou, indo para a porta. — Apronte-se para dormir, ou quer que eu a ajude com isso também?
Não o respondi, fiquei ali, parada no meio do quarto. Ele saiu do quarto, batendo a porta atrás dele e murmurando palavrões. Franzi o nariz com a quantidade interminável de palavras feias que saíram da sua boca em tão pouco período de tempo. Soltei uma risada incrédula quando não ouvi mais nenhum xingamento, olhando ao meu redor para o quarto bem arrumado.
Só então me lembrei de uma coisa. “O que vestiria?”, ele não me deu tempo de sequer pegar algumas peças de roupa.
Deixei os meus livros cuidadosamente sobre a cama e saí do quarto. Entrei na cozinha e encontrei Nicola lá, fiquei maravilhada com toda aquela cabeleira loira — agora solta — ao redor dos seus ombros, cheios e com ondas suaves. Apertei as minhas mãos em punhos fechados, elas estavam coçando para tocá-lo, sentir a textura, enfiar o rosto em toda aquela cabeleira dourada e inspirar o seu cheiro...
Balancei a cabeça, a atenção de Nicola agora estava voltada para mim, uma sombrancelha loira questionadora levantada. Respirei fundo, me recuperando do mico que acabara de pagar — se é que pagara.
Nicola
Segurei a vontade de rir enquanto observava a garota parada na entrada da cozinha. Seus cabelos escuros era uma massa ao redor do seu rosto delicado, descendo até o quadril. Tinha que admitir, essa garota tem uma beleza real, não é como essas mulheres que se esforçam tanto para ter o mínimo de beleza. Não, Verônica é bela, linda, gostosa, tudo o que puder imaginar, essa menina é. Mas o que ela tem de bela ela tem de desastrada e — escandalosa.
Mal abri a boca hoje mais cedo e ela começou a chorar e implorar pela vida, pelo jeito, tinha herdado isso do pai.
Teria bons dias com ela, — se a minha humilde casa continuasse intacta, com um ser desastrado desse morando ‘sob’ o mesmo chão que eu — mas evitaria o máximo ficar por perto.
Ser a “babá” de Verônica também incluía ter que abstinar o sexo da minha vida — por alguns dias pelo menos, só até o velho aparecer. Ou... Poderia aproveitar a sua companhia, de uma forma bem... Interessante. A menos que saísse durante a madrugada para transar, o que era mais plausível para um homem como eu, que não vivia sem sexo.
Verônica é uma bela garota, cabelos longos e escuros, boca bem acentuada, seios — pelo que percebi — de tamanho médio, pernas finas, corpo esguio e cintura fina, e pequenos e lindos pés. Sim, seus pés eram lindos, magros e pequeninos, cheios de dedinhos pequenos e rosados — que consegui ver porquê ela estava usando uma sandália.
Não passou despercebido o modo que ela me olhou agora, ou como me olhou mais cedo. Ela estava praticamente babando ali, como uma estátua.
— Quer alguma coisa? — perguntei, ela piscou várias vezes, os olhos escuros arregalados.
— Ah...uh...ee..
Não consegui segurar a risada dessa vez, estava começando a gostar — da idiotice alheia — dessa pequena.
— Uh, ee? — imitei em uma pergunta, cuspindo sarcasmo.
Seu rosto mudou de confuso para irritado em menos de um segundo, suas sombrancelhas se juntaram e ela fez um biquinho — um biquinho meu deus! — e a única coisa que eu podia pensar era o quanto ela ‘é’ fofa.
Verônica ergueu o queixo, cruzando os braços como uma menina pirracenta.
— Eu não tenho roupas. — ela virou o rosto para o lado, batendo o pé.
Massimiliano fizera um péssimo trabalho mimando essa menina.
— Pois se vire. — voltei a minha atenção para o sanduíche que eu estava preparando, ouvindo ela bufar. Sorri de boca fechada, me segurando para não começar a rir como um louco ali e acabar assustando ela.
A única pessoa que já presenciara uma crise de risos minha fora Simona, e ele ficou assustado, imagina então, uma menina como Verônica?
— Eu não posso vestir roupas sujas! — exclamou.
Revirei os olhos, pegando o sanduíche de pão de forma e queijo, e dei uma grande mordida.
— Então as lave. — respondi de boca cheia, indo para a sala.
É claro que ela me seguiu, no pouco tempo que estamos juntos no mesmo ambiente, ela já mudara de quieta para extremamente chata.
Talvez fosse esse o motivo de Massimiliano ter desaparecido.
— Mas... mas...
Me virei para ela, engolindo o sanduíche no processo, e levantei os braços.
— Olhe no meu guarda-roupas okay? Mas, por favor, saia de perto de mim!
Ela continuou parada ali, a boca ainda aberta depois de eu tê-la interrompido, os olhos escuros brilhando com lágrimas não derramadas.
Porra! Ela tinha que ser tão delicada?
Verônica engoliu em seco e se virou, saindo de perto de mim pisando duro.
Segurei a ponte do nariz, nervoso. Que infernos era essa garota, ela me divertia e tirava a minha paciência!
Já ia atrás dela quando ouvi a porta do quarto bater e logo depois o barulho da mesma sendo trancada.
Suspirei derrotado, me jogando em cima do meu sofá. Pelo menos tinha uma TV na sala.
~
Virei mais uma vez no sofá. Já era madrugada e eu não tinha conseguido pregar os olhos, a pequena esquentadinha já deveria estar dormindo e eu continuava aqui, com essa insônia desgraçada.
Resmunguei irritado, me sentando no sofá. Dei uma olhada na sala ao meu redor, tudo parecia bem calmo e nem era como se tivesse uma pirralha mimada a poucos metros de mim, claro, protegida por quatro paredes e uma porta, — o que não garantia nada a ela.
Estava acostumado a dormir na minha cama, e agora tinha Verônica, uma mulher muito chata, e ela estava deitada nela.
Me levantei e peguei a minha calça social que estava no chão, a vesti e prendi o cinto firmemente no meu quadril. Peguei a minha arma de cima de mesinha de centro e pesquei a minha camisa social do encosto do sofá.
Trancaria Verônica dentro de casa e iria para a boate da famiglia. Tinha que distrair a minha mente e esquecer tudo o que acontecera hoje, mesmo que isso não me permitisse um único minuto de descanso.
Já estava chegando na porta quando ouvi passos vindo para a sala. Me virei e encontrei Verônica parada, ela parecia com sono, seus grandes cabelos escuros estavam uma bagunça em volta do rosto fino, e em seu corpo uma camisa minha, — uma das minhas camisas mais caras, porra!
Me virei completamente para ela, cruzando os braços na frente do peito.
— Mas que por...
— Não termine, por favor. — interrompeu levantando um dedo, como se fosse a porra da minha mãe.
— Garota insolente! Eu deveria acorrentá-la no meu porão!
Ela levantou uma sombrancelha, seus olhos arregalados. Ela olhou ao redor, seus lindos lábios pressionados segurando o riso.
— Mas já não estamos no porão?
Dei alguns passos até ela, nervoso, mas parei a menos de um metro de distância. A minha vontade era agarrá-la pelo pescoço e apertar até ela não poder falar mais.
— Não se dirija a minha casa com esse tom.
Ela riu.
— Estamos entocados, como furões.
Segurei seu braço, a puxando para mim nervoso. Mas eu não pensei que sentir seu corpo pressionando o meu seria tão... Arrebatador.
Meu pau sacudiu dentro da calça, aquela sensação familiar do sangue do meu cérebro sendo drenado completamente, indo para o meu pau. O que essa menina estava fazendo?
— Você é ridícula. — vocíferei em seu rosto, olhando em seus olhos castanhos. E não, ela não era ridícula, estava longe disso. Mas eu não podia aumentar seu “ego” com elogios.
Seus olhos brilharam por um momento, me encarando de volta, mas ela não disse nada. Mesmo assim, o brilho em seus olhos era inconfundível, ela queria chorar.
A soltei de repente, me afastando dela e fui para a porta. A abri e antes que eu saísse, Verônica disse atrás de mim.
— Me traga meus anticoncepcionais. — ela não estava pedindo, mas sim “ordenando”.
Olhei para ela sobre o ombro, meu cenho franzido.
— Você não vai precisar disso.
Ela cruzou os braços com teimosia.
— Eu quero os meus anticoncepcionais. — ela bufou. — E sim, eu vou precisar.
Me virei para ela, me encostando no arco da porta e sorri com ironia.
— Você acha? Ninguém vai chegar perto de você até o seu querido pai aparecer.
Ela ficou séria ao ouvir a mensão de seu pai.
— Eu não vou entrar em abstinência sexual porquê um bando de criminosos me sequestrou. — Verônica desviou do assunto de seu pai. — E se ninguém vai chegar perto de mim nesse período que irei passar aqui, terei que me contentar com você.
Meu pau pulsou na minha calça quando a ouvi. Ela estava insinuando que iria me usar até o pai dela aparecer, “para não entrar em abstinência?”. Sorri com sarcasmo, me desencostando da porta.
— Você acha mesmo que eu vou transar com você? — perguntei, claramente lançando um desafio.
Ela sorriu docemente.
— Você vai.
Bufei.
— Continue achando isso. — me virei para sair, tinha que esvaziar toda essa porra em alguém.
— Está duvidando? — perguntou quando comecei a fechar a porta.
Olhei para ela, sorrindo.
— Estou.
Verônica deu de ombros e riu levemente.
— Veremos então, baby.
Revirei os olhos e saí dali, ainda rindo do quanto ela era autoconfiante ao achar que eu me entregaria de bandeja a ela, ainda mais quando estava tão cheia de si. Eu mostrarei a ela quem é que está a frente nesse jogo.
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