Capítulo 4 - ᘏ Ƈιηzα თ
Dafne ficou quieta. Sempre pensou que alguma coisa havia sido colocada na bebida, talvez por brincadeira de alguém; provavelmente alguma erva forte que só as bruxas conhecem. E depois das desculpas da rainha, ela teve certeza que a sua intuição mais uma vez estava correta.
— Acho que posso fazer com que o Decaído tome esse vinho. Karina afirmou com uma confiança enorme. — Mas o difícil será tirá-lo do local certo, como você mesma disse. Por isso preciso de sua ajuda; acho que vamos ter da arrastá-lo e jogá-lo dentro do portal que queremos.
— E como vai fazer para conseguir levá-lo até o local do portal que deseja? Não pensou nisso ainda? Os portais estão em regiões diferentes.
— Acho que só há uma maneira: é mandar-lhe uma mensagem dizendo que há muitas coisas que ele precisa saber a respeito da futura soberana Effie. Karina mordeu os lábios na esperança que essa ideia desse certo. — Essa ideia me ocorreu agora, há poucos minutos... Olhou para Dafne em busca de apoio. — Acha que não vai dar certo?
— Esse ser não é nenhum idiota; ele pode suspeitar de alguma coisa.
— E por que haveria de suspeitar?
— Simplesmente porque sabe que tanto a conselheira do reino como a soberana dele são contra a ideia da princesa partir com ele. Seria muito bobo se caísse numa história assim... Eu pelo menos não cairia em algo tão obvio!
— Mesmo acreditando que estarei sozinha o aguardando? Bem, pelo menos, é o que vou dizer a ele. Posso atiçar a sua curiosidade sobre as soberanas de nosso reino. Talvez com algum falso segredo?
— E acha que pode enganá-lo tão facilmente? Se eu estivesse no lugar dele, Karina, teria certeza de que a conselheira feiticeira da rainha tentaria fazer algo contra mim.
—Teria?
— Claro. Além de estar esperando um possível contra-ataque de algum aventureiro ou de um dos assassinos a serviço da rainha.
Karina deu um suspiro, mas logo depois seu rosto se iluminou novamente.
— É a única maneira! Não vou lhe mandar uma mensagem; vou falar com ele pelo espelho negro. Lhe direi diretamente para o ir ao meu encontro na pousada real que fica no mesmo território dos portais que necessitamos e direi que, se não for se encontrar comigo, irá se arrepender pelo resto da vida. Pois tenho algo para lhe revelar do seu interesse.
— Provavelmente vai lhe perguntar do que se trata... E o que vai fazer sobre isso?
— Vou lhe dizer que é terrível demais para se falar pelo espelho mágico!
— Pode ser que até concorde de se encontrar com você, mas acho que iria preferir qualquer outro lugar que não fosse no território da rainha. Algo mais neutro e que traria menos risco para ele.
— Mas vou insistir para que ele venha até a mim, pois posso lhe dar provas do que vou lhe revelar. Vou parecer tão perturbada que ficará curioso para saber o que está acontecendo. Ora, tenho certeza de que conseguirei convencê-lo! Todos tem os seus mistérios e querem os desvendar. Falando nisso, alguns dizem que ele não sabe de sua real origem... Na verdade ninguém sabe o que seja um Decaído. Vou dizer que o reino da Blue Moon sabe disso e muito mais coisas sobre ele.
Dafne ainda tinha dúvidas. O Decaído não lhe parecia o tipo de ser que se arriscaria desse jeito. Mas vai saber até onde um sobrenatural iria para saber a verdade sobre si mesmo. E será que esse boato era realmente real. Que ele não sabia o que era de verdade?
— Como ele é? Perguntou de repente com muita curiosidade.
— Extremamente alto e muito magro. Foi a resposta de Karina. É tão claro que nem parece vive sobre o nosso sol, na verdade parece um ser de outro mundo, talvez seja. E tem um asas angulosas que lembra as aves de rapinas. Tem uma força estranha no jeito de seus olhos são negros e brilhantes. Parecem carregar a própria morte neles... Dafne não pôde deixar de sorrir pois, pela descrição, ele parecia um habitante das profundezas escuras e não um habitante da superfície.
— Tem cabelos muito negros como se fosse o próprio manto da noite sem lua ou estrelas. Karina continuou contando meio cismada. — E veste-se impecavelmente. Sempre com cores escuras, vestes pesadas como se estivesse sempre com frio ou se escondendo de todos. A princesa comentou certa vez em uma das poucas ocasiões que pude conversar com ela sobre o desconhecido Decaído da floresta negra, que é muito rico e mora em uma torre de Obsidiana. — Há inúmeras torres, fortalezas e castelos feitos de cristais; foram construídos para facilitar a defesa nos tempos de guerra. Dafne não sentia inclinada a contar para sua amiga que ela também possuía sangue de uma raça barbara nas veias. — Algumas torres foram reformadas e agora são residências maravilhosas. Bem, pelo menos foi o que ouvi dizer.
Como Dafne contaria que sua mãe na realidade era uma Ondina guerreira e não como as Ondinas do reino da rainha, Necksa. Essas mesmas Ondinas servem e amam sua rainha Elas são antes de tudo seres emocionais, amigáveis para com a vida humana e que gostam de servir à humanidade e claro, gostam de trocar fluídos com eles. Por isso, os tritões vivem em pé de guerra. Por acreditarem que os humanos os pertencem também. Antiga rixa por causa de reprodução...
— É, mas mesmo assim não quero que nossa futura soberana vá para lá! Deve ser como uma prisão. Já imaginou se ela troca fluidos com um Decaído e nasce um fruto deles. Pelos deuses algo desconhecido e...
De repente, os olhos de Karina se encheram de lágrimas e ela começou a soluçar; seus lábios tremiam.
Dafne, que sempre fora uma pessoa muito forte, não conseguia entender a fraqueza dos outros. Jamais procurava alívio nas lágrimas. Tinha certeza de que nenhum ser jamais a faria chorar! E o que tinha de errado ser um fruto sagrado de outras espécies? Ela mesmo era um!
— Você vai me ajudar, não é, Dafne? A voz de Karina tinha um tom muito triste e Dafne balançou a cabeça, concordando. Mesmo assim, não conseguia se libertar da sensação de estar sendo arrastada por um mar de ondas escuras e bravias como a sua mãe um dia fora...
O portal que Karina pretendia usar era na verdade um vortex que somente as magas azuis sabiam usar e por ocasião ela era amiga de uma, Morrigan Velaris, mestra da Corte Noturna numa escola de Magia do reino, que estava prestando serviços a rainha a anos. Antes de aceitar tal proposta, Morrigan quais saber da Karina qual o objetivo dela ao tentar controlar um dos seus vortex. A maluca que infelizmente é a minha amiga disse que só queria pegar o vortex emprestado para dar uma volta pelas ilhas aos arredores de alguns reinos.
— Estarei de volta dentro de quatorze luas e vou precisar de seu vortex.
— Enquanto isso, use-o a vontade e aproveite bastante! Disse a Maga misturando algumas poções sem fazer mais perguntas.
Pelos deuses só tem fêmeas loucas nesse reino?
O vortex estava ancorado dentro de uma garrafa azul marinho feita de cristal bruto e, para espanto de Dafne, o Decaído concordou em se encontrar com Karina na hora e lugar que ela determinou.
— Deve ser um perfeito idiota! Ela disse irritada, mas Karina estava tão entusiasmada com o sucesso da primeira parte do plano que nem se preocupava com isso.
Era só Dafne que ficava cada vez mais intrigada e irritada com as atitudes de todos a sua volta.
A feiticeira Karina estava eufórica, mas Dafne ainda tinha a impressão de que as coisas não iam ser tão fáceis como pareciam e isso a deixava muito ansiosa. Ela sentia que algo bem diferente iria ocorrer, a bruma multicolorida ia aonde elas iam e era tão estranho que uma feiticeira tão experiente como Karina não percebesse a grande energia que as envolvia. E mesmo essa energia sendo quente e bondosa, Dafne sentia arrepios quando ela as envolvia, podia ouvir as risadas de inúmeras criaturas mágicas como se estivesse se divertindo com o andamento de tudo.
Enquanto Karina conversava com Decaído, Dafne estava escondida pela magia da amiga a pouco passos deles. De repente, Karina lhe falou mentalmente, usou a magia da telepia.
— Ele já tomou o vinho. Disse ela, bem baixinho. — Apronte-se para transportá-lo dentro de uns quinze frações de segundo, contando os raios de luzes azul de nossa lua azul.
Karina saiu e Dafne ficou pensativa, sentindo um estranho calafrio lhe percorrer a espinha. Intuía que alguma coisa estava errada e gostaria de ver o rosto daquele ser e sua expressão... Era estranho que uma criatura de inteligência média se deixasse enganar assim tão facilmente. Caminhava de um lado para outro, imaginando mil coisas. Será que ele não estranharia o gosto do vinho? Dafne pegou um copo de néctar feitos pelas fadas cristalinas e começou a tomá-lo lentamente, enquanto observava as diversas
Caixas com alimentos e outras provisões empilhadas num canto escondido pela magia de sua melhor amiga. As caixas e os pacotes seriam deixados na ilha também junto com o prisioneiro solitário. Lembrou-se da última conversa que teve com a amiga, antes de concordar com aquele plano maluco.
— Ele vai contar tudo aos cinco reinos assim que for resgatado por um deles. Esqueceu que a maldita ilha é também rota de aventureiros. Dafne explicou, mas Karina apenas balançou a cabeça.
— Não fará isso, pois é muito orgulhoso. E vou lhe deixar um bilhete dizendo que não procure minha nunca mais a nossa princesa outra vez. Ou coisa pior pode lhe acontecer!
— Está bem, Karina. Vou ajudá-la, mas continuo achando tudo isso, uma grande loucura. Para mim, vamos é nos meter em sérias complicações. E ninguém virá nos ajudar!...
— Já lhe disse... Karina respondeu com impaciência. — Que ele é orgulhoso demais para levar o caso até aos cinco reinos. Pode imaginar um ser como ele admitindo que foi sequestrado por duas fêmeas? Deu uma gargalhada de satisfação. — Não, o Decaído nunca iria admitir uma coisa dessas.
— É, principalmente pelo fato de o último ser. A alguém ele vai recorrer? Estará sozinho!... Dafne observou. — A coisa mais importante para seres dessa espécie é seu orgulho e amor-próprio. Enquanto falava, franziu a testa ao pensar no que o decaído poderia fazer para que as duas pagassem pela humilhação a que o haviam submetido. Pois ao buscarem por mais informações sobre ele, descobriram que ele foi um valente guerreiro que lutou ao lado dos cinco reinos contra a invasão dos humanos em eras passadas. Tanto que recebeu na época altas honrarias e os reis e rainhas tinham um certo receio sobre a sua verdadeira natureza desconhecida.
Agora, enquanto tomava seu néctar dentro da passagem magica feita por sua amiga feiticeira, Dafne desejava ardentemente que sua amiga estivesse certa. Nesse momento, seus pensamentos foram subitamente interrompidos: Karina abriu a porta, ofegante e orgulhosa de seu triunfo.
— Ele tomou o vinho com a poção enfeitiçada todo e já está dormindo profundamente sobre as almofadas do jardim imperial. Vamos logo. Disse Karina, empurrando Dafne pelo caminho e para fora da cobertura mágica.
— Olhe! Você tinha razão, Dafne. O Decaído é mesmo um perfeito idiota!
Dafne olhava em silêncio para o ser; estava com uma das mãos sobre o peito e sua respiração era muito calma. Olhou para a mesa do jardim ricamente enfeitada, repleta de doces, frutas apenas degustados pela realeza e viu o copo vazio, de onde não conseguia tirar os olhos. Finalmente perguntou para a feiticeira.
— Quanto tempo levou para que os outros adormecessem naquela festival mesmo? E quanto as reações estranhas?
— O que importa isso agora? Karina sacudiu os ombros com um ar de indiferença.
— Parece-me que demoraram mais tempo para... E... Não acha isso tudo estranho?
— Quando voltei da cozinha ele já havia tomado o vinho; e eu o estou observando há cerca de cinco frações de segundos, e contando cada raio de nossa lua azul derrama sobe nosso reino. Está tudo certo!
O Decaído se moveu, deu um suspiro profundo e ajeitou-se melhor nas almofadas, caindo num sono muito pesado.
— Então, o que me diz? Karina exclamou quase dando pulos de alegria. — Não lhe disse que seus temores eram infundados? Conseguimos e ponto final!
— Bem, acho que você tem razão.
Dafne continuava olhando fixamente para o ser deitado à sua frente; estava fascinada com o que via. Ele tinha uma expressão quase satânica; as maçãs de seu rosto eram salientes, claras e seus cabelos negros tinham um brilho incomparável, a mesma cor dos cristais de obsidiana lapidados. Usava uma camisa feita de fios de seda negros, que contrastava com o tom de sua pele, o deixando mais branco ainda. Dafne olhou para suas mãos esguias e sentiu um arrepio; eram fortes e com dedos longos o bastante para ser um bom guerreiro e ela sabia que poderiam causar muita dor, se seu dono assim o quisesse. Não havia dúvidas de que era um ser totalmente rude e forjado por duras batalhas, um perfeito representante do povo de sua raça até então desconhecida para ela. Será que todos de sua raça eram assim. Aparecia sobre a pele de seu pescoço estranhos desenhos, ficou curiosa em relação isso.
Qual seria o significado deles?
As duas deram início aos preparativos para a soltura do vortex, velas azuis, os cristais poderosos e os ritos cantados por Karina logo fariam efeito na força cósmica e, pouco depois, a ilha aparecia no horizonte, do outro lado da ponta do vortex, assim que Karina o libertou da garrafa.
Era muito escura e estava encoberta pela neblina da mesma cor, algo que Dafne jamais virá e que emoldurava suas colinas e seus pequenos vales escondidos, repletos de seres e mistérios.
A ilha era apenas parte de uma cadeia de montanhas que se estendiam em direção ao oceano e somente as harpias e aves de rapina eram seus habitantes.
Tais seres pairavam sobre ambos com uma certa curiosidade, mas como não tinham permissão dos deuses para atacar, a não ser em caso de perigo da própria ilha. Apenas os observavam na calada da noite escura.
A vegetação era esparsa, constituída de pequenos arbustos e plantas rasteiras, todas reluzentes e de cor negra... Mas em direção ao interior da ilha podia-se avistar algumas árvores da mesma tonalidade, as folhas das copas de diferentes tamanhos pareciam vidro batendo uma nas outras, trazendo um som até doce e bonito.
O vortex se aproximava por um curso-d'água que levava até a praia de areias negras, onde uma grama rala encobria a areia fina. Havia também várias rochas, que formavam verdadeiros despenhadeiros em direção ao mar. Tudo era tão escuro e sombrio na realidade.
Dafne olhou na direção do Decaído e se perguntou por qual motivo ele iria passar luas e mais luas aqui nessa ilha isolada e sozinho. Nem o seu antepassado conseguiu aguentar a solidão e a energia desse lugar.
Muitos contam que essa ilha foi formada pelas lágrimas de todos os seres sobrenaturais que perderam seus amantes ao longos da Eras e que a ilha se alimenta da tristeza e dor de quem ousa vir até ela.
— Que lugar! Dafne exclamou, olhando para outras duas ilhotas que ficavam próximas da ilha principal. — Não queria que meu pior inimigo passasse uma temporada por aqui!
Karina não respondeu e manobrou o vortex em direção à praia deserta, com a precisão de um experiente ser do mar. Havia
Aprendido a manobrar elementos do ar e pequenos furações, ciclones com Morrigan, e o fazia muito bem. Mesmo sendo uma feiticeira de pouca mais de duzentos anos.
Karina o ancorou sobre a areia negra e fina da praia, enquanto Dafne pensava que dentro de poucos minutos teriam que arrastar aquele ser desconhecido que dormia a poucos passos dela para fora do centro de energia.
—Teremos que voltar outra hora para ver como ele está. Não podemos nos arriscar a que aconteça alguma coisa mais séria para ele aqui nesta ilha deserta. Poderemos tentar dar uma olhada do espelho mágico ou voltar no vortex sem descer até a ilha; assim, ele não nos verá.
— Não vou voltar aqui de jeito nenhum! Karina resmungou com firmeza. — Pouco me importa o que ocorra com ele. Além do mais poderá sobreviver muito bem aqui por sessenta luas ou noventa luas com todas as provisões que trouxemos; não terá problema algum.
— E roupas? Vai precisar de roupas!
— Coloquei algumas peças nas caixas. Além do mais, lavar roupas vai ajudá-lo a passar o tempo! Sem enlouquecer... Sorriu de modo estranho.
2828 Palavras
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