Devo dizer que as provas foram um tanto tranquilas, mas isso não quer dizer que eu tenha me saído 100% em todas elas. Eu me esforcei, dei tudo de mim e mais um pouco e só espero que isso tenha sido o suficiente.

      Paro de encarar o armário a minha frente, deixo meu último livro lá e o fecho, indo em direção ao lado exterior do colégio. Durante esse trajeto, posso perceber quanta coisa mudou. Quase ninguém me olha como antes e agradeço mentalmente por isso, tudo parece normal, como era no ensino fundamental, fora a parte de ninguém conversar comigo.

      — Oi. – ouço, mas não me viro, achando não ser comigo. — Bree. – dessa vez, me viro, dando de cara com Kendra.

      — Oi. – digo um tanto surpresa. — Está tudo bem? – pergunto, me lembrando da última vez que nos falamos.

      — Sim. – ela responde, me parecendo sem jeito. — A gente se vê. – diz, já se distanciando de mim. Dou de ombros e continuo o meu caminho até o estacionamento. Quando estou me aproximando do meu carro, noto a presença de Hamish.

      — Oi. – ele diz me encarando com seus olhos semisserrados.

      — Oi. – respondo, me encostando no carro, ao seu lado.

      — Como foram as provas? – ele me pergunta, rompendo o silêncio.

      — Não sei. Os professores irão passar os resultados somente amanhã. – falo. Me viro para o garoto e lhe encaro.

      — Amanhã são as últimas provas. – ressalta o rapaz. — Como você está se sentindo? – pergunta me encarando.

      — Estou de boa. – declaro, somente.

      — Achei que você estaria mais ansiosa, até porque sua liderança nas animadoras de torcida está em jogo. – diz ele, calmo, porém com um ponto de interrogação em seu rosto.

      — Isso nem é tão importante assim. – desabafo.

      — Como assim isso nem é tão importante assim? Hoje mais cedo você estava totalmente pilhada por conta disso. – Hamish questiona.

      — Você quer uma carona? – pergunto, mudando totalmente de assunto. O rapaz assente e eu lhe ofereço um sorriso, logo entrando no carro, juntamente com o mesmo, e saindo do estacionamento do colégio.

      Passamos o pequeno caminho até a casa de Hamish em silêncio, mas não um silêncio desconfortável e sim confortável. Assim que paro meu caro em frente à sua casa, lhe encaro novamente e logo a cena de mais cedo invade a minha mente e então sinto meus lábios formigarem.

      — Está tudo bem? – ouço a sua voz ecoar pelo carro.

      — Sim, claro que sim. – percebo que fiquei lhe encarando por tempo de mais. Levo meu olhar para frente enquanto o garoto abre a porta do carro para sair do mesmo.

      — Não quer entrar? Minha mãe só fica me perguntando sobre você. – revela. Lhe olho surpresa e com um sorriso nos lábios.

      — Outra hora talvez. Até mais, garoto dos cabelos rosa. – me despeço. Hamish sai do carro, fecha a porta e segue para a porta de sua casa enquanto eu dou partida no carro e sigo para a meu caminho.

      Assim que chego na mesma, caminho direto para meu quarto, não ouço barulho de ninguém na casa, provavelmente todos devem ter saído. Me jogo na cama e novamente a cena de mais cedo invade minha mente. Por que Hamish me beijou? Por que ele faria isso?

      Sou despertada dos meus pensamentos quando ouço a porta do meu quarto ser aberta pela minha mãe que nem se quer bateu na mesma.

      — Arrume-se, às 7 horas, Don e sua família irá jantar conosco hoje. – ela diz. Arregalo meus olhos e sinto meu coração se acelerar. — O que foi, garota, viu um fantasma? – me pergunta, mas sem esperar uma resposta, pois ela logo sai do meu quarto.

      Estava tudo muito bom para ser verdade. Com toda certeza, meus pais não sabem que eu e Cameron terminamos e nem que Don o tirou do colégio por minha culpa, quer dizer, parte de tudo é minha culpa.

      Peguei meu celular e fiquei mexendo nele até umas 5 horas, mais ou menos, pensando em algo que eu poderia fazer, mas nada vinha na minha cabeça. Decido tomar um banho demorado. Quando saio do banheiro, pego a primeira roupa que vejo em meu closet, que é um vestidinho verde escuro de alça. Arrumo meu cabelo, passo um blush para dar uma cor em meu rosto, pois estou mais pálida que tudo.

      Olho no relógio e vejo que já são quase 7 horas e meu coração acelera novamente. Calço uma sandália e, ainda com o celular na mão, vou no Whatsapp e procuro o número do Hamish, já que ele me passou em uma de nossas aulas.

      Seu visto por último mostra que ele estava online às 6:10 da tarde. Reviro meus olhos e mesmo assim, decido lhe enviar uma mensagem.

      "Cameron vem jantar aqui em casa hoje, está quase chegando, na verdade. Tô, literalmente, surtando. Seria uma idéia louca querer você aqui?"

      Envio a mensagem, coloco o meu celular em cima da cama, me olho no espelho mais um vez e quando estou quase saindo do quarto, vejo meu avô.

      — Como você está linda, minha neta. – ele diz. — Está pronta? – pergunta.

      — Não, mas vamos lá. – digo com o coração na boca. Descemos nós dois juntos e, graças a Deus, a família Blake ainda não tinha chegado. Da sala eu podia sentir o cheiro delicioso da comida, mas não sentia vontade nenhuma de comer nada, pois algo dentro de mim está se remexendo.

      Vovô se senta no sofá, logo meus pais descem e se juntam a ele. Fico apenas andando de um lado para o outro por causa do nervosismo.

      — Vai acabar fazendo um buraco no chão, Brianna. – mamãe diz. Eu a encaro, mas não paro de andar. Segundos depois, a campanhia toca. Eu ssimplesmente congelo.

      Rose vai até a porta, abre e assim, vejo Cameron e seus pais entrarem. Meus pais vão até eles e os cumprimentam, faço o mesmo com a senhora e o senhor Blake, Cameron apenas me encara.

      — Então vamos para a mesa. – mamãe diz logo de cara e assim, nós seguimos a seguimos para a mesa de jantar. A mesa é de 8 lugares. Papai senta em uma ponta, mamãe ao seu lado direito, eu ao lado esquerdo com vovô ao meu lado, e na outra ponta se encontra Don, com Cheryl ao seu lado direito e Cameron ao seu lado esquerdo.

      Minutos depois que o jantar é servido, a companhia toca.

      — Está esperando mais alguém? – meu pai pergunta para minha mãe e todos os olhares são voltados para ela, apenas o de Cameron está cravado em mim. Rose, que foi ver quem era, logo volta.

      — Dona Patricia, tem um rapaz lá na porta. – ela diz, calma. Meu coração dispara mais uma vez. Não é possível. Vovô me olha sem entender nada e eu lhe envio um sorriso nervoso.

      — E quem é esse rapaz? – meu pai pergunta já ficando sem paciência.

      — Eu não sei, senhor. – Rose responde sem graça. — Eu pedi para que ele entrasse. – ela afirma.

      — Boa noite. – o olhar de todo mundo se volta para o rapaz de cabelos rosa atrás de Rose. Eu simplesmente congelo, pela segunda vez hoje, em meu lugar. O rapaz está com uma calça jeans preta, camiseta branca, um vans e seu cabelo está todo bagunçado.

      — O que você está fazendo aqui? – minha mãe pergunta, se levantando da mesa enquanto os pais de Cameron estão totalmente perdidos. Olho para meu avô e parece que ele já entendeu quase tudo.

      — Eu convidei ele. – vovô diz. — Sente-se. – ele aponta para a cadeira vazia em sua frente e Hamish me encara com um olhar confuso e eu apenas assinto com a cabeça. Hamish se senta ao lado de minha mãe e de Cheryl. Don o cumprinenta e sua esposa faz o mesmo, assim como meu avô enquanto Rose coloca mais um prato na mesa.

      — Porque? – papai pergunta. Vovô lança um olhar para papai e ele fica em silêncio. Mamãe também fica em silêncio, todos nós voltamos a comer, inclusive a família Blake.

      — Obrigada por ter vindo. – sussurro para Hamish, na esperança dele ler meus lábios e assim ele faz. O garoto me lança um sorriso cativante.

      — Você é o novo namorado da Brianna, certo? – o pai de Cameron corta nosso olhar com a pergunta direcionada para Hamish e me faz quase engasgar com a comida.

      — Como assim? A Brianna namora com o Cameron. – meu pai diz, dando um risada totalmente forçada.

      — Não mais, eles terminaram. – Cheryl diz, dessa vez. — Inclusive, queria pedir desculpas pelo que Cameron fez, eu sinto muito. – ela ressalta.

      — O que você está falando? – papai pergunta.

      — Vamos continuar com o jantar, agora não é hora de conversar sobre isso. – vovô ressalta.

      — Do que Cheryl está falando, Brianna? Você está namorando com esse garoto? Você está louca? – mamãe se altera.

      — Patricia, se acalma. – papai diz, com um fio de paciência.

      — Acho melhor eu ir embora. – Hamish diz totalmente sério e já se levanta para sair.

      — Também acho. – mamãe é Cameron diz juntos.

      — Não, fica. – digo pela primeira vez na mesa. Me levanto da mesa e vou até o mesmo, entrelaçando nossos braços. — Você é meu convidado, você fica. – digo, firme e Hamish assente. O senhor e a senhora Blake se levantam e encaram meu pai.

      — Eu não sabia que a Brianna não tinha falado com vocês sobre o ocorrido. – Don diz. — Nós sentimos muito, inclusive, transferi Cameron para o Colégio Militar de Werdhills hoje mesmo. – termina.

      — Mas o que o Cameron pode ter feito? Deve ser apenas algo de adolescentes. – mamãe diz inconformada.

      — Não, Patricia, foi algo bem sério. – Don revela. Nisso, todos se sentam em seus lugares e Cheryl acaba contando para meus pais tudo o que Cameron fez desde sempre. Até a parte de ter ficado com a Rachel, de ter me dado algumas enforcadas, entre outras coisas.

      Durante a revelação, senti o olhar de Hamish sobre mim, ele parecia preocupado comigo. Cameron escutava tudo calado, igual a meus pais. Já vovô segurava a minha mão para me dar uma forcinha.

      Quando Cheryl terminou de falar, ela ressaltou que Cameron estava arrependido do que fez e que foi ele mesmo quem contou tudo para seus pais, inclusive, o jantar foi para nós conversássemos sobre isso.

      — Eu realmente não sabia que a Brianna não tinha contado a vocês, se não, eu teria esperado. Talvez ela não estivesse preparada. – a mãe de Cameron acrescenta.

      — Bobeira, creio que os dois agora podem reatar o namoro novamente. – mamãe diz. Meu olhar vai direto para ela. Ela só pode estar brincando.

      — Eu sei que o que eu fiz foi algo imperdoável, mas eu estou arrependido e eu te peço perdão, Brianna. Me perdoa por tudo mesmo. – Cameron diz, pela primeira na noite. Meu olhar então cai sobre ele

      — Pronto, tudo está resolvido. Vai, filha... – minha mãe aponta para Cameron. — Desculpe ele e tudo vai voltar ao normal. – termina. Hamish ainda está me olhando e vovô também. Meu pai e Don estão sem dizer uma palavra.

      — Você acha que é só vim aqui e me pedir desculpas que tudo vai mudar? Você é ridículo. Desculpa nenhuma vai apagar todas as vezes que você ficou com a minha melhor amiga, ou das vezes que você me agrediu ou até mesmo quando você fez maldade com os outros. – desabafo tudo em cima de Cameron. — Eu não quero ver você nunca mais na minha vida. – termino totalmente nervosa.

      — Brianna, cadê seus modos? – papai me repreende.

      — Minha filha está um pouco alterada, não liguem. – mamãe diz. — Tenho certeza de que amanhã ela irá se acertar com Cameron. – ela dá um sorriso amarelo.

      — Estas muito enganada, mamãe. – digo incrédula.

      — Você tem todo o direito de não perdoar o meu filho. Eu te entendo, Brianna, não vamos te forçar a nada. E vocês deveriam fazer o mesmo. – Don diz, dessa vez, se referindo a meus pais.

      — A filha de vocês passou por maus momentos e vocês não estão nem aí, aparentemente. – Hamish afronta meus pais e eu arregalo os olhos. — Brianna é uma garota incrível e vocês não conseguem reconhecer isso. – ele revira os olhos, calmo.

      — E você acha que é quem, garoto? – mamãe se altera.

      — Ele é o garoto que está me ajudando a passar nas provas finais e a mais coisas do que eu pensei. – digo me levantando da mesa e indo até Hamish. Ele se levanta ao meu lado e me encara. — E eu estou apaixonada por ele. – revelo, vendo o sorriso nos lábios do senhor e da senhora Blake, a cara de pasma dos meu pais, o olhar orgulhos de meu avô e o olhar frio de Cameron. — Com licença. – digo.

      Pego Hamish pela mão e lhe puxo, nos afastando da mesa.

      — Onde você pensa que vai com esse garoto? – ouço minha mãe praticamente gritar, mas não dou moral.

      Quando chegamos até a sala, o clima parece ter se acalmado. Eu e Hamish nos sentamos no sofá e eu respiro aliviada.

      — Achei que você não levaria aquela mensagem a sério. – digo, sorrindo para ele.

      — Que noite, em. – ele diz, cortando o assunto. — Não sabia que você tinha passado por tudo aquilo. – Hamish ressalta. — Me desculpa por ter te julgado. – pede.

      — Está tudo bem. – digo, somente. — Como você entrou no condomínio? – acrescento.

      — Eu disse ao cara da segurança que você tinha me convidado. Ele disse que iria entrar em contato com o seu pai, mas eu disse que ele estava em um jantar com o chefe e que não gostaria de ser incomodado. – Hamish diz com um sorriso nos lábios e eu assinto, sorrindo igual a ele. — Já está tarde, é melhor eu ir. – o rapaz já se levanta, passando sua mão direita nos cabelos e me encarando.

      Me levanto do sofá e o acompanho até a porta, a abro e Hamish passa por mim. Só agora consigo reparar no quão baixa eu estou perto dele, pelo fato de não estar de salto.

      Ele se vira para eu mais uma vez enquanto eu lhe ofereço um sorriso. Então Hamish, o garoto de cabelos rosa, deposita um pequeno beijo em meus lábios, fazendo meu rosto ficar totalmente quente.

      — Obrigada por ter vindo. – digo com seus lábios ainda próximos aos meus. — Até amanhã. – me despeço, me sentindo totalmente boba.

      — Até. – Hamish diz sério.

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créditos p dudaavih, nandinha_urrea e Kamis-e ❤