q u a t r o
Acordo com o despertador tocando e com minha cabeça doendo, me levanto da cama indo direto para meu banheiro, tomo um banho, assim que termino me enrolo na toalha, e coloco outra em meus cabelos. Vou até onde meu celular está no chão, o pego e logo retorno para a cama. O observo, ele está com a tela cheia de trincados, o vidro de trás da mesma forma, tento liga-lo mas ele não liga, ótimo, pelo menos não vejo mais as fotos de Rachel, Cameron ou sei lá quem.
— Ainda não está pronta. – minha mãe entra em meu quarto sem bater, pego meu celular, ou o que restou dele, e o coloco de baixo do travesseiro. — Odeio essas sardas nojentas. – dona Patrícia diz me encarando, ela deve saber que herdei dela, não é possível. — Vê se esconde isso, coisa mais ridícula. – ela aperta meu rosto e me olha com nojo. — Cameron está lá em baixo te esperando. – dito isso, ela sai do meu quarto batendo a porta.
— Eu tô cansada disso tudo. – puxo a toalha de meus cabelos, e logo puxo meus cabelos até um grito sair de minha boca. Eu não poderia ser uma garota normal, que namora um cara que pelo menos goste de mim? Eu não poderia andar na escola sem ser encarada por todos? Eu não posso nem se quer usar a roupa que eu quero, eu não posso ter amigas de verdade, pelo simples fato da minha mãe escolher a dedo todos as minhas amigas, só pelo que os pais delas tem no bolso. Eu não posso sair daquela merda de líderes de torcida, porque se isso acontecer, meus pais surtam. Eu não posso nem se quer comer o que eu quiser, meus alimentos são baseados em dietas ridículas que minha mãe me obriga a fazer. Eu nem posso ser eu mesma. Em meio a pensamentos, me arrumo rápido para não deixar Cameron me esperando por muito tempo. Chego a sala e vejo meus pais em uma conversa com Cameron, eles sorriem e conversam alto, estão todos tão entretidos no assunto que nem percebem minha presença. Meus pais consideram Cameron como seu filho, não é novidade saber que eles queriam ter um filho homem para que ele pudesse seguir os passos de meu pai.
— Oi. – termino de descer as escadas e dou um sorriso trêmulo, a conversa é cessada e as risadas também, todos me olham e apenas assentem.
— Vim te buscar. – Cameron beija minha bochecha com seus lábios frios e pega em minha mão.
— Minha filha tem uma baita sorte em ter você como namorado, Cameron. – meu pai diz sorrindo orgulhoso, ele não diria isso se soubesse do que Cameron é capaz, ou diria? Afinal, Cameron é filho do chefe do meu pai. Cameron me da um sorriso e, sem dizer mais nada, me leva até seu carro que está em frente casa. Me sento do lado do passageira e observo o rapaz ao meu lado.
— Vai fazer o que depois das aulas? – ele pergunta com o olhar vidrado na estrada.
— Você ficou com a Rachel ontem. – só consegui pronunciar tais palavras, ainda encarando Cameron.
— Já disse para não se intrometer nisso. – ele diz com calma.
— Você transou com ela. – eu digo, sustentando meu olhar em seu rosto. Cameron para o carro no sinal vermelho e me olha sério.
— Eu sou homem, eu tenho necessidades. – ele começa a dizer em um tom controlado. — Se a minha namorada não quer me dá, eu arrumo outra. – ele termina de dizer com os olhos grudados em mim. Eu encaro Cameron e sua falta de vergonha na cara, a minha vontade era de dizer o quão estupido ele é. — A gente podia sair hoje. – ele propõe, mudando de assunto.
— Hoje não dá. – digo somente, mas sinto o olhar curioso de Cameron sobre mim. — Prometi a minha mãe que a ajudaria com algo hoje. – invento qualquer coisa, mas sei que ele não acreditou, porém segue o caminho em silêncio.
Chegamos ao colégio e tive sorte, só que não, por ter quase todas minhas aulas com Cameron. Não prestamos atenção em nada que o professor dizia, passamos cada segundo atormentando a vida da nerd da sala. Kendra, ela não é estranha, só não sabe se vestir, seu cabelo parace que nunca viu um pente, temos poucas aulas juntas, no máximo três por semana.
Foi uma boa distração ficar jogando bolinhas de papel nela enquanto ela tentava prestar atenção na aula, até o momento em que Cameron a chamou de órfã e ela saiu da sala correndo. Dessa parte eu não sabia. Olhei sem entender para Cameron e ele continua com um sorriso sacana no rosto e eu o empurro.
— Qual foi? – ele pergunta como se não tivesse acabado de acontecer nada. — Onde você vai? – ele puxa minha mão quando me levanto da cadeira ao seu lado. — Senta aí. – ele ordena, agora sério. Me sento ao seu lado e não demora muito até ele começar a zoar outra pessoa. As minhas três últimas aulas não foram na mesma sala que Cameron, mas assim que o sinal bateu, ele veio até mim. — Eu te levo em casa. – ele diz soltando minha mão assim que saímos do portão principal do colégio.
— Não precisa, eu vou andando. – seu olhar que estava a procura de alguém repousa em mim.
— Como assim de a pé? – ele ergue as sobrancelhas.
— Eu vou andando. – repito. Ele me encara por mais alguns segundos antes de entrar em seu carro, dar partida no mesmo e sair cantando pneu.
Dou uma olhada procurando o rapaz de cabelos rosas, apesar de não te-lo visto na escola hoje, pelo fato de não termos as mesmas aulas na segunda, sei que ele veio. O avisto um pouco distante de onde estou, seu olhar se encontra com o meu e ele faz um sinal discreto para que eu vá até ele. Em passos lentos, sentindo a brisa fria bater em meu rosto e em minhas pernas descobertas, sigo em direção ao rapaz. Com minhas mãos no bolso do casaco que estou vestida fico uma pouco mais quentinha, mas não que ajude muito. Me aproximo do rapaz, receosa, mas tento dar um pequeno sorriso.
Ficamos em silêncio, afastados um do outro, esperando todo mundo ir embora, para não correr o risco de alguém nos ver. Dezessete minutos depois, seguimos para sua casa,
— Meu pé está doendo. – resmungo parando e descansando um pouco meu pé por causa do salto. O garoto me olha e para de andar também, ele coloca suas mãos no bolso da calça e continua me olhando.
— Tira eles. – ele aponta para meus pés e eu franzo o nariz.
— Não. – falo um tanto exagerada. — E eu vou descalça? – ele faz uma expressão engraçada e eu sorrio sem perceber, só quando meu cérebro percebe o ato, eu fecho a cara.
— Chegamos. – ouço ele dizer e lhe olho abismada.
— E você fala isso só agora? – ele da de ombros.
— Estava esperando você e esse seu drama aí. – ele dá de ombros e caminha pela pequena calçada que dá na porta de sua casa. Ele abre a porta da pequena casa, comparada com a minha, e entra me esperando logo em seguida. Assim que adentro o local, eu sinto um ar tão reconfortante, um aconchego tão grande que eu nunca senti em outra casa. — Mãe? – ouço ele chamar.
— Achei que iriamos ficar sozinhos. – quando termino de falar, aparece uma mulher no mesmo cômodo que estamos.
— Oi, meu amor. – ela, com certeza, deve ser a mãe dele, e eu sinto uma pontada de inveja por ela ser uma mãe tão amorosa com seu filho, diferente da minha. — E quem é essa bela jovem? – ela pergunta ao seu filho com um sorriso no rosto, mas com seu olhar grudado em mim.
— Essa é a Brianna. – ele me apresenta, somente. Sorrio sem graça e estendo minha mão para cumprimentar a mulher a minha frente, mas ela não liga para minha mão levantada e me abraça. Eu sou pega de surpresa, pois não sou acostumada com abraços ou com algum tipo de afeto, muito menos de pessoas que não conheço, mas não me afasto do abraço, apenas por o acha-lo tão confortável.
— É um prazer te conhecer, Brianna. Eu sou Raquel, mãe desse rapaz aqui. – ela se afasta do abraço e fica ao lado do filho, e eu pensei que ela iria falar o nome dele. — Não se esqueça que o jantar hoje é seu. – ela encara o filho ainda sorrindo. Meu olhar vai para o rapaz de cabelos rosas que assente para sua mão, na maior tranquilidade do mundo.
— Não me esquecerei. – ele confirma seu aceno e sua mãe alarga o sorriso. — Nós vamos estudar lá no quarto. – ele beija o rosto da mãe e começa a subir uma pequena escada e eu o acompanho. Chegando ao seu quarto, me permito observar o local, uma cama de casal, um quarda-roupa embutido na parede e uma porta de lado, suponho ser o banheiro, nada mal, o quarto está bem arrumado. Fico em pé olhando o rapaz pegar alguns livros na estante de certas matérias e os colocar na cama. — Fica a vontade. – ele aponta para seu lado na cama, coloco minha bolsa na mesma e me sento. Observo o rapaz a minha frente e ele está com o olhar vidrado no livro a sua frente, igual quando nos conhecemos. Ele levanta seu olhar e me encara, por alguns instantes, o tempo parece estar em câmera lenta, nossa troca de olhar só acaba quando eu pisco. Me permito retirar meus saltos antes mesmo de começarmos a tal aula.
No começo, confesso, eu não estava entendendo nada, mas depois de alguns minutos tudo ficou tão claro, que cheguei a me perguntar como eu não sabia de nada. Fora a parte das exatas, essa eu não me dou bem.
— Acho que já deu por hoje. – ele diz, me fazendo dar um suspiro de alivio. Três horas de aula foi bem exaustivo. O garoto se levanta da cama, pega seus livros, os levando até a estante para guarda-los.
— É... – começo chamando a atenção do garoto. — Seria estranho se eu...
— Se você não soubesse meu nome. – ele completa, fazendo meu rosto esquentar. — Sim, seria estranho, mas eu não fico tão surpreso. – ele termina de guardar os livros e me olha. — Que tal começarmos de novo? – ele se aproxima e estende a mão em minha direção, alguns segundos depois eu entendo o que ele quis dizer com "começar de novo".
— Oi, eu sou a Brianna Jansen. – digo sorrindo para o garoto de cabelos rosas.
— Olá, eu sou Hamish Culler. – e assim apertamos nossas mãos e eu fico surpresa com o nome dele, mas outra coisa me chama a atenção, ele está com um sorriso lindo nos lábios.
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Aí está mais um capítulo de "Até você chegar". Espero que tenham gostado, deixe seu voto e comentário.
Até sexta-feira 💕
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