n o v e
— Mãe. – a chamo pela décima vez, mas ela finge que não é com ela. — A senhora não pode fazer isso. – digo. Nesse momento, a mulher de vestido preto, colado e que vai até o joelho me olha, ela passa sua mão em seu cabelo, o trazendo todo para o seu lado direito. — Mãe... – tento dizer algo para fazê-la mudar de idéia, mas não acho nada.
— Eu não sei se você não me ouviu aquele dia ou o quê. – ela começa a falar, olhando dentro dos meus olhos, tentando me deixar intimidada e posso dizer que ela está conseguindo. — Se você não escutou, vou repetir. – ela vai uma pausa, totalmente dramática, coloca a mão em sua cabeça, parecendo pensar. — Eu não quero saber de você andando com aquele garoto do cabelo esquisito. Caso contrário, irei sumir com você. – ela repete palavra por palavra do que ela disse no dia em que desferiu um tapa em meu rosto.
— Eu já disse, eu não estava andando com ele, eu não tenho nada com ele. – digo. Ainda sentada na cama, com uma almofada em baixo de meu pé, eu observo a mulher a minha frente dar um sorriso sarcástico.
— E porque ele pegou você no colo e te levou para a enfermaria? – minha mãe ergue suas sobrancelhas ruivas. Porque ninguém mais me ajudou; digo mentalmente. — Você quer que eu realmente acredite que ela fez aquilo por que ele é um bom garoto? – ela me pergunta, mas eu sei que não é para eu responder, apesar de querer. — Certo! Vou falar para a Rose subir aqui e arrumar suas malas. – dona Patricia nem se quer espera uma resposta minha e já saí do meu quarto. Não demora muito até Rose chegar ao meu quarto e começar a arrumar minha mala sem dizer nada, mamãe deve tê-la dito para não conversar comigo. Observo ela colocando cada peça de roupa minha na mala sem eu poder fazer nada para impedi-la.
— Está pronta? – ouço a voz de meu pai na porta do quarto e me viro na cadeira, logo após ter tomado banho e me vestido.
— Sim. – digo somente. Ele vem até mim, me ajuda a levantar da cadeira e nós descemos para o andar de baixo com muito custo, ele volta em meu quarto, pega minhas malas e, assim que chega na sala, me olha.
— Mude essa cara, ninguém merece. – minha mãe fala alto o suficiente para sua voz ecoar por toda a enorme sala. — Vamos? – assinto. Limpo uma lágrima que desce por minha bochecha e seguro um soluço.
Agora, o toque da campainha soa em meus ouvidos e não demora muito até Rose ir abrir a porta de nossa casa.
— Está esperando alguém? – mamãe pergunta para papai, que nega com a cabeça. Ficamos os três parados na sala, eu apoiada ao meu pai e mamãe a nossa frente. — Quem é, Rose? – mamãe pergunta para a moça que aparece na sala sem a companhia de alguém.
— Surpresa. – abro um sorriso enorme ao ouvir a voz do homem que entra na sala, de braços abertos e com um sorriso igual ao meu.
— Vovô. – digo surpresa.
— Onde está a minha neta preferida? – ele pergunta, vindo até mim. Olho de relance para papai e ele está com um olhar espantado e mamãe não muito diferente, sorrio de suas caras. Vovô me abraça forte e me levanta do chão, me rodando no ar. — Como você cresceu. – ele diz assim que me coloca no chão e me observa de cima em baixo.
— Pai. – meu pai diz, sem esconder a surpresa e frustração em sua voz. Meu avô abraça meu pai rapidamente e se vira para minha mãe.
— Patricia. – ele a cumprimenta e minha mãe da um sorriso sem graça. — Vocês vão viajar? – vovô pergunta ao notar as duas malas perto de nós.
— Meus pais estão me mandando para um colégio interno a mais de 1.000 km daqui. – digo rápido. Os três pares de olhos que estão na sala me olham abismados.
— Colégio interno? – meu avô olha para meu pai, mas a risada da minha mãe chama sua atenção.
— Ela está brincando. – dona Patricia se pronuncia e eu a olho com os meus olhos arregalados. — Como você é engraçada, filha. – ela me envia um sorriso. Olhando para meu vô, percebo que ele não acreditou nisso, e que, com certeza, vai dar uma branco em meus pais.
— O que houve com seu pé? – o senhor a minha frente observa meu pé esquerdo sem encostar no chão e pergunta.
— Eu caí e o torci. – lhe envio um pequeno sorriso. Vovô Roberto, é um homem de 60 anos, mas quem pensa que ele é um velho feio se engana, ele parece ser irmão do meu pai. Ele saí da sala e volta minutos depois com três malas enorme, minha mãe nem tenta disfarçar o quanto está incomodada, já meu pai, está mais tranquilo. Vovô e Rose levaram suas malas para um dos quatro quartos de visitas da casa, ele irá ficar um mês com a gente e eu devo dizer que simplesmente amei.
Ele me ajudou a subir para meu quarto e a levar as minhas malas até lá. Ele me coloca sentada na cama e se senta também ao meu lado, seu olhar claro está sobre mim e sei que ele quer saber de algo. Não demora muito até sua pergunta ser feita.
— Por que os loucos dos seus pais queriam te mandar para tão longe? – ele pergunta com bastante calma.
— Eu desobeci uma ordem da minha mãe. – dou de ombros, tentando não entrar muito no assunto.
— E a minha neta pode me dizer que ordem era essa para ter uma punição tão severa? – encaro os olhos de meu avô e ele me passa uma certa tranquilidade. Eu respiro fundo e começo a falar tudo. Sim! Tudo. Desde o dia em que a diretora me chamou em sua sala. Vovô me escuta sereno, sem me interromper e quando eu digo sobre hoje mais cedo no jogo, ele revira os olhos e isso me permite gargalhar, um senhor de 60 anos revirando os olhos feito um adolescente é hilário. — Eu entendo que você não quer que sua mãe saiba dessas suas aulas escondidas, desse tal garoto, mas uma hora ela vai descobrir. Eu fico triste por saber que suas notas estão baixas, mas fico mais triste ainda por saber que sua mãe fez o que fez com você. – ele lamenta. — É melhor você descansar. – vovô declara e deposita um beijo em minha testa e saí do quarto, desligando a luz e a única luz iluminando o grande quarto é o abajur.
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Sinto o olhar de todos cravados em mim, escuto alguns burburinhos também. Ninguém, absolutamente ninguém, se preocupa em disfarçar por estar falando de mim.
Respiro fundo parando em frente ao meu armário e assim que eu o abro, Rachel aparece ao meu lado.
— Amigaaa!! – ela exclama com animação. — Como você está? Fiquei tão preocupada com você. – ela me lança um olhar de dó.
— Oi, Rachel. Se estivesse tão preocupada assim, teria ido lá em casa me visitar. – digo seca. Ela bufa e revira os olhos, mas não liga para minha falta de respeito pois já está acostumada com isso. Mas se ela realmente estava preocupada comigo, ela teria ido me ver ou ligado lá em casa, ou algo do tipo. Passei o final de semana inteiro com meu avô, eu simplesmente amo sua companhia, ele me enche de mimos, carinho e demonstra se importar comigo, diferente de meus pais, mas eu tenho tudo que alguém pode querer, carro, moro em uma mansão, tenho o namorado que é capitão do time basquete, não posso reclamar.
Fecho meu armário sob o olhar de Rachel e ela me encara sem entender.
— Cadê sua bolsa? – ela me pergunta com suas sobrancelhas cor de mel, em contraste com seus olhos, arqueadas. Eu simplesmente não devo satisfações para Rachel, mas quando faço questão de responder sua pergunta, ela olha para algo atrás de mim e faz uma cara estranha. — Era só o que me faltava. – Rachel murmura com voz de nojo.
— O que é? – pergunto. Sem me dar respostas, a garota a minha frente aponta para a tal "coisa" atrás de mim e isso me faz virar. Me deparo com uma cena que mexe comigo, admito. Hamish está andando lentamente no corredor de armário do colégio e ao seu lado, está um garota. Ela é bem baixinha, menor que eu e seu corpo, além de magro, é bem bonito. Ela está com um sorriso de orelha a orelha enquanto conversar com o garoto ao seu lado. Fora toda a cena, o que mais me chama a atenção na garota, são seus cabelos azuis.
— Bree? – Rachel me chama. Só agora percebo que meus braços estão cruzados abaixo dos meus seios, meu pé bate freneticamente no chão e eu sinto meu rosto se fechar. Quando estou para me virar, Hamish, que até agora olhava para a garota ao seu lado, direciona seu olhar para mim.
Me viro decidida a sair dali, mas meu corpo tromba com outro corpo, só que bem maior que o meu.
— Oi, gatinha. – Cameron diz.
— Oi. – digo. Ele me puxa pela cintura e toca seus lábios nos meus, eu levanto minhas mãos e coloco eles em seu peito, o empurrando de leve até ele se afastar totalmente.
— Senti tanto sua falta. – ele sorri malicioso para mim. Eu o observo com calma, com uma vontade enorme de socar sua cara, mas logo ele entrelaça nossa mão e me puxa para sairmos dali, no mesmo instante, sinto um impacto contra meu corpo.
— Você podia olhar por onde anda, não é? – me altero sem nem olhar para a criatura que esbarrou em mim.
— Ninguém manda ficar parada no meio do corredor. – a voz feminina retruca. Me viro e dou de cara com Hamish e a tal garota me olhando.
— Me desculpe. – digo, com meu olhar grudado em Hamish, como se o pedido de desculpa fosse direcionado a ele. Desperto do transe quando ouço Rachel, que até agora estava calada, pigarrear alto.
— Será que da para procurarem outro lugar para passar? – a voz de Cameron sobressai e eu lhe enpurro com o cotovelo.
— Olha aqui... – a miniatura de cabelo colorido começa, mas Hamish a olha feio e, assim, pega sua mão e leva a menina embora, sumindo na multidão de alunos no corredor.
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Mais um capítulo aí para vocês.
Até mais 💕
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