d e z o i t o
Eu não deveria ter feito isso. Essa frase ecoava pela minha cabeça a todo momento. Foram apenas segundos, mas eu ainda podia sentir os lábios dela nos meus.
— E esse sorriso aí? – me assusto quando ouço uma voz masculina ao meu lado. — Se acalma, cara. – olho para o meu lado esquerdo e vejo Handall.
— Do que você tá falando? – pergunto, tentando me recompor. Passo a mão em meus rosto, tentando desmanchar qualquer vestígio desse tal sorriso que meu irmão disse ter visto.
— Você não me engana, Mish. Sou seu irmão mais velho e te conheço desde sempre. – Handall dá uma risada e eu fecho a cara, como sempre. Se tem uma coisa que eu devo admitir é que ele me conhece melhor do que eu mesmo, mas desta vez não vai rolar. — Posso apostar que tem uma ruiva de um metro e meio de altura envolvida. – Handall joga logo de cara, fazendo meu coração congelar.
— A, para irmão. Você já foi melhor nisso. – digo na maior naturalidade que consigo e então Handall ergue sua sobrancelha esquerda e me encara.
— Oi, meus amores. Estavam falando sobre o que? – minha mãe aparece na porta da cozinha e nos pergunta.
— Nada. – digo, mas Handall diz algo mais alto que eu.
— Sabe aquela ruiva, mãe? – ele pergunta para a nossa mãe e ela concorda.
— O que tem a Brianna? – mamãe questiona.
— Digamos que o seu caçula está apaixonado por ela. – Handall olha para mim e lança uma piscadela enquanto fala.
— O que? – eu e minha mãe perguntamos ao mesmo tempo, logo após ouvir o que Handall tinha dito.
— Sabe, Brianna se parece com uma amiga minha da época do colegial. – mamãe diz pensativa. — Na verdade, elas se parecem muito. Patt tinha cabelos ruivos iguais ao de Brianna, ela só era um pouco mais alta que ela, mas fora isso... – dona Raquel diz, mais pensativa que antes, me despertando uma certa curiosidade, pois ela nunca tinha nos falado dessa tal amiga.
— Mas o que houve com essa amiga? – ouso perguntar e minha mãe me olha nos olhos.
— Bom, vamos dizer que ela mudou. Quando a gente tinha uns 17 anos, ela começou a sair com um rapaz que tinha um pouco mais de condição que nós. Ela sempre me dava desculpas para não sair mais comigo e ela sempre estava com ele. – minha mãe respira fundo. — As atitudes dela mudaram, ela começou a agir totalmente diferente com nossos amigos incomuns, inclusive comigo. Até que a gente parou de se falar, quando nos víamos no corredor do colégio, ela nem me olhava mais. Éramos quase desconhecidas, uma para a outra. Eu até tentei conversar com ela depois, mas ela disse que não queria andar pessoas como eu. – no final, minha mãe deu uma risada nasal.
— Poxa, acho que a Brianna tem mais coisas parecidas com essa mulher do que só a aparência. – digo rápido e então minha mãe ergue suas sobrancelhas para mim.
— Como assim, Hamish? – ela me pergunta e eu dou de ombros, observando meu irmão que apenas assuntava.
— Pelo visto, a sua amiga ficou assim por causa do dinheiro. Brianna agia da mesma forma por causa dele. Ela se achava superior, não conversava com pessoas que tem uma classe social diferente da sua, ela era uma patricinha mimada. – digo sem pensar.
— E o que mudou? – Handall se pronuncia pela primeira vez sobre o assunto.
— Como assim? – pergunto sem entender.
— Irmão, você falou tudo no passado, ela agia, achava, não conversava e ela era. O que mudou? – meu irmão dá um sorriso sacana de lado, sabendo que havia me pegado nessa.
— Muita coisa mudou. – sussurro apenas para mim.
— Bom, vamos, vamos. Handall, não se esqueceu que o almoço é por sua conta hoje, não é? – mamãe aponta com um sorriso nos lábios e meu irmão assente, um pouco indisposto, mas ainda sim, sorri para nossa mãe.
Mamãe sai da cozinha e eu vou logo em seguida, mas ao contrario dela, eu subo para o meu quarto, encosto a porta e me sento na cama. Muita coisa mudou.
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A uma distancia considerável, observo Brianna abrir seu armário e lá de dentro tirar um livro. Ela coloca esse livro em sua bolsa e, logo em seguida, fecha o armário e se vira em minha direção. No mesmo momento, seus olhos vem de encontro ao meu e um pequeno sorriso surge em seus lábios, mas logo ele morre, dando lugar a um bico de brava.
— Você acha que ela vai querer alguma coisa com você? – ao ouvir a voz de quem fala, meu corpo fica rígido. Me viro lentamente para a pessoa atrás de mim e vejo um sorriso de lado em sua boca. — Não vai falar nada? – Cameron me empurra pelo ombro. Eu apenas lhe encaro e me viro, saindo devagar de perto dele.
Sigo pelo corredor com calma, quando ouço passos vindo em minha direção.
— Você é um ridículo. – ouço novamente a voz de Cameron. Nessa hora, todos os olhares estão voltados para nós, para mim principalmente. — Vai, fala alguma coisa. – insiste o rapaz. — Tá com medinho? – diz em um tom debochado. Eu, ainda de costas para o mesmo, respiro fundo tentando me segurar para não fazer merda, mas logo meus pés me viram, deixando-me de frente para o rapaz mais ou menos da minha altura, moreno e de olhos negros.
— Você quer que eu diga o que? – pergunto e quando vejo que Cameron vai falar algo, levanto meu dedo indicador, pedindo silêncio. — Foi uma pergunta retórica. – nesse momento, posso ouvir alguns cochichos e o rapaz a minha frente bufa de raiva. — Eu realmente não sei o que há com uma pessoa igual a você que precisa sempre fazer alguma coisa para chamar atenção dos outros. Seus pais não te dão atenção o suficiente, não é? – ergo minhas sobrancelhas e pisco calmamente. — Por isso você tenta ser o centro das atenções aqui. – confirmo. — Respondendo sua pergunta de agora a pouco, se ela quer algo comigo eu não sei, e quem tem que dizer isso é ela, mas agora com você, eu tenho certeza que ela não quer.
— Haha, você se acha o fodão, não é mesmo?! – Cameron dá um sorriso amarelo e continua falando. — É só eu estrelar meus dedos que aquela vadia sarnenta volta comigo. Eu tenho dinheiro, tenho o carro do ano, sou o capitão do time de basquete. – olho ao redor de nós e posso ver o olhar de indignação no rosto de alguns alunos com as palavras ditar por Cameron, inclusive de dois dos amigos/capachos que sempre andam atrás dele. — E você? É só o garoto do cabelo esquisito. – Cameron continua falando.
— Mais alguma coisa? – pergunto, cansado de escutar esse babaca me encher.
— Sim. – assim que Cameron fecha a boca, sinto meu rosto ir para trás com um certa força e logo em seguida sinto um líquido descer pelo meu nariz. Por incrível que pareça, ninguém está gritando ou aplaudindo Cameron como de costume.
Abro meus olhos, que até então estavam fechados, e levo minha mão esquerda até meu nariz, que dói bastante. Só vejo Cameron ir para cima de uma garoto porque ele estava filmando ou algo do tipo, e o pessoal me pergunta se eu estou bem, outros estão tentando chamar a diretora e a confusão está armada.
Deixo todo mundo lá e sigo direto para o banheiro masculino, assim que olho no espelho vejo meu nariz sangrando. Pego um bolo de papel e tento estancar o sangramento, mas não adianta muita coisa.
— Hamish. – Brianna entra no banheiro voada, um pouco ofegante e falando meu nome.
— O que você quer? – pergunto.
— Postaram o vídeo seu e do Cameron, quando eu vi, vim correndo. – ela tenta ver meu nariz, mas eu a impeço.
— Postaram o que? – é a única coisa que consigo dizer.
— O vídeo. – Brianna diz. — Deixa eu ver isso aqui. – ela se aproxima de mim e puxa minha mão para baixo e isso a permite ver meu nariz. — Isso tá feio. – ela faz uma cara horrível e diz.
— Desde quando você entende dessas coisas? – questiono e vejo a mesma me olhar brava.
— Eu não entendo, só não sou cega. – bufa, me fazendo sorrir. — Nossa, se eu soubesse que era só te dar um soco na cara para você sorrir, eu já tinha feito isso algumas vezes. – no mesmo momento, meu sorriso de fecha. — Vamos para a enfermaria. – Brianna diz assim que me entrega um bolo de papel limpo para eu colocar no nariz.
— Eu estou bem. – digo.
— Para de dar uma de durão e vamos logo. – sem me dar tempo para uma discussão, Brianna pega em minha mão,me puxa para fora do banheiro e me acompanha até a enfermaria.
No corredor é possível ouvir apenas o barulho de seu salto 15 ecoando no piso. A moça segue o caminho todo de mãos dadas comigo, creio eu que ela nem percebeu isso, até chegarmos na enfermaria e Brianna praticamente arrombar a porta e o olhar do jovem enfermeiro cair diretamente em nossas mãos.
Brianna solta nossas mãos rapidamente, mas percebo que seu rosto, entre meio as sardas, está com uma coloração rosa.
— Cameron fez um pequeno estrago aí, senhor Culler. – o rapaz diz, me fazendo o encarar sem entender nada. Ele aponta para a maca e eu me sento na mesma. — Todo mundo já viu o vídeo. – ele revela. Isso não deixa confortável, mas não ligo muito. Percebo que a garota de um metro e meio está sentada na cadeira em frente a mesa e ela mexe em seu celular, mas logo seu olhar se levanta e se encontra com o meu e um sorriso singelo surge.
O médico/enfermeiro faz um curativo em meu nariz, dizendo não ser nada de mais, mas sim um corte na parte exterior do mesmo.
Meu olhar é voltado para Brianna que se assusta quando a voz da diretora ecoa pela enfermaria.
— Senhor Culler, diretoria. – a voz diz. Reparo em um rádio em cima da mesa enquanto Brianna ainda o procura, mas logo o encontra e o pega.
— Olha aqui, ele não fez nada. – Brianna diz, me fazendo arregalar os olhos e o médico/enfermeiro ir em sua direção.
— Me dê o rádio, senhorita Jansen. – o médico/enfermeiro diz.
— Não. – ela responde, como uma criança birrenta.
— Não se meta, senhorita Jansen. – a voz da diretora soa novamente e Brianna aperta o botão para dizer mais alguma coisa.
— Devolva o rádio, Brianna. – digo. O olhar de Brianna cai sobre mim e ela fecha a cara, mas entrega o rádio ao jovem rapaz. A garota revira os olhos e se levanta da cadeira, logo saindo do ambiente. Me viro para o rapaz, que me dá um remédio para dor, e agradeço com um aceno de cabeça. Desço da maca e sigo na mesma direção de Brianna.
— Essa mulher é doida. Quem ela acha que é? – a moça pergunta, andando apressadamente na minha frente, enquanto eu tento manter a calma. Rapidamente, Brianna se vira para mim e me observa calmamente, mas logo continua seu caminho. — Oi, Kory. – ela diz, chegando em frente a secretaria. Vejo que ela passa direto e vai em direção a sala, mas a puxo, delicadamente, pela mão.
— Eu entro, você fica. – digo.
— Culler tem razão. – Kory acrescenta.
— Tá. – Brianna responde somente e fica de cara fechada enquanto eu sigo para a sala da diretora.
— Com licença. – digo, abrindo uma fresta da porta.
— Entre. – a diretora diz. Entro em sua sala, me sento na cadeira em sua frente, após ela apontar para a mesma e a encaro. — Quando eu pedi para você ajudar a senhorita Jansen, não imaginaria que vocês dois fossem ficar juntos.
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