d e z e s s e t e
— Boa noite, dona Raquel. Hamish está? – pergunto para a mãe de Hamish assim que ela abre a porta de sua casa.
— Boa noite, querida. Sinto lhe dizer, mas não. – ela diz, calma, mas com um sorriso no rosto.
— Obrigada. – digo. Antes de eu me virar para ir embora, Raquel me passa um endereço e diz que Hamish trabalha nesse local. Reconheço bem onde é. Apenas a agradeço e entro em meu carro, logo perco a casa de vista.
Logo após uma parada, estaciono meu carro em frente a um restaurante. Pelo que eu entendi e segundo Raquel, Hamish trabalha aqui. Fico minutos, quase horas, em frente ao restaurante, bastante frequentado pelos meus pais e por mim, mas devo dizer que nunca vi o rapaz por aqui.
De pouco a pouco, o pessoal que estava no restaurante sai e mais alguns minutos depois, as luzes do local se apaga. Foco meu olhar por todo o lugar, na esperança de encontrar um certo rapaz de cabelos rosa e tal coisa não demora acontecer. Hamish é a penúltima pessoa a sair do local, atrás do mesmo sai um rapaz moreno, alto e sorridente.
Saio logo do carro, abro meu melhor sorriso e, em passos breves, me aproximo deles.
— Oi. – digo. Os dois pares de olhos, que até então estavam focados em outro lugar, me fitam.
— Oi. – Hamish e o rapaz falam em uníssono, porém Hamish parece mais surpreso.
— Já vou nessa, cara. Até mais. – o garoto moreno diz e acena para mim antes de ir embora.
— Oi. – digo novamente sem saber o que dizer e me sinto uma tonta.
— Oi. – Hamish diz, sorrindo.
— Pensei que a gente poderia dar uma volta. – solto, sem rodeios. Hamish me fita, antes de dizer algo.
— Ok. – sua resposta me faz soltar o ar de meus pulmões, no qual eu nem sabia que estava segurando. Só então, vamos em direção ao meu carro. Nós dois entramos, colocamos o cinto de segurança e seguimos para um lugar menos movimentado, não que onde estávamos estivesse movimentado.
Após alguns minutos, chegamos onde eu queria. O lugar é um dos mais altos de Werdhills e dá muito bem para ver praticamente toda a cidade. Fora o banquinho que tem para se sentar e apreciar tudo aquilo.
— Trouxe para você. – digo, tímida, entregando a embalagem da Noora Lanches em sua mão.
— Obrigado. – sua voz ecoa em meus ouvidos. Nos sentamos no banquinho, peguei um hambúrguer e Hamish pegou o outro e assim comemos em silêncio. Vez ou outra, me pagava lhe observando. Seu semblante sério, mas leve, seu cabelo com um caimento perfeito e uma cor bonita, como se ele tivesse retocado o rosa recentemente.
— Não sabia que você trabalhava naquele restaurante. – aponto, depois que nós dois terminamos de comer. — As vezes eu vou lá com meus pais, nunca te vi lá. – encerro.
— Trabalho. – ele me corrigi, colocando o verbo no presente. — E eu sei, já te vi lá várias vezes. – Hamish diz, me deixando surpresa. — Eu trabalho juntamente com o chefe de cozinha, não como garçom. Sei que você pensou nisso. – sinto meu rosto ruborizar, pois, eu realmente pensei nisso. Fico mais surpresa ainda quando percebo que ele trabalha com o chefe de cozinha.
— Daí o seu gosto por cozinhar. – aponto. Hamish assente, calmo. Um silêncio paira sobre nós, me deixando totalmente desconfortável.
O rapaz ao meu lado tem seu olhar fixo nas luzinhas de Werdhills enquanto meu olhar está fixo nele.
— Você já veio aqui? – pergunto para quebrar o gelo.
— Não. – Hamish, responde, quase no automático.
— Já deu. Isso está muito chato. – surto. Minha voz se altera e o garoto me olha confuso. — Não me trate assim, tá legal? Não foi nada de mais. – me embolo com as palavras, mas acabo revirando os olhos.
— Você me beijou, Brianna. Quer que eu haja como? – sua pergunta me pega de surpresa e eu fico quieta. — Me responde.
— Não sei. Esquece, ok?! – me levanto do banco fico se costa para ele, como uma criança birrenta. — Eu só... – não consigo completar a frase e uma pequena lágrima rola pelo meu rosto. — Eu só não consigo parar de pensar nisso. – as palavras saem da minha boca antes mesmo de eu perceber e rapidamente me viro e fico de frente para o rapaz que está me olhando pasmo.
— Brianna. – Hamish diz meu nome com calma. — Eu não deveria ter feito isso. – ele repete a frase que eu disse quando nossos lábios se separaram naquele dia e eu não tenho nenhuma reação. Hamish se levanta do banco e fica na minha frente. Levanto minha cabeça para poder lhe ver melhor, pois estou com uma sapatilha, e, novamente, prendo minha respiração. — Eu não sei o porque daquele beijo, na verdade, eu até sei. Foi tudo na emoção. Você conseguiu um resultado bom no exame aquele dia e só. Não vejo mais motivos para você ter feito aquilo a não ser por emoção. – ele diz, sério.
— Não passa pela sua cabeça que eu possa ter te beijado porque eu simplesmente quis? – questiono e vejo ele dar uma risada nasal.
— Brianna, você me beijou porque você quis? – Hamish pergunta. — Nós somos duas pessoas completamente diferentes, moramos no mesmo planeta, mas nosso mundo parece ser o oposto um do outro. Isso é loucura. – ele coça a cabeça, demonstrando estar nervoso.
— Eu que deveria estar dizendo isso. – digo. Nós dois rimos, por um instante, e então ele fica tenso novamente. — Hamish. – falo seu nome.
— Brianna. – ele faz o mesmo. Fecho meus olhos, esperando alguma coisa acontecer, mas depois de segundos, eu o abro e Hamish está com a cabeça virada para as luzinhas da nossa cidade.
Frustrada por ele não ter me beijado e com raiva por querer tanto que ele me beije, me viro, jogando meu cabelo ruivo todo nele e ouço mais uma risada nasal do mesmo.
— Droga. – digo, bufando de raiva. Entro no carro brava e Hamish faz o mesmo, só que calmo. Durante o caminho de volta para a casa de Hamish, meus dedos batiam no volante do carro a todo segundo e eu sempre recebia o olhar de reprovação do garoto. Assim que paramos em frente a sua casa, as luzes do local já estão apagadas e só então eu olho no relógio do celular, que marca 00:09 da madrugada. — Sua mãe deve estar dormindo. – digo, respirando calma.
— Sim. – sua resposta é curta. — Obrigado pela carona. – agradece antes de abrir a porta do carro e sair do carro, seguindo para a porta da casa.
— Por nada. – digo, mesmo ele não podendo escutar. Dou partida no carro e sigo para a minha casa. Espero que meus pais estejam dormindo. A viagem parecia estar mais longa do que o normal, mas não me agito. Depois que entro no condomínio e já me encontro em frente a minha casa, abro o portão om o controle e estaciono meu carro.
Entro em casa pela porta da garagem, subo direto para meu quarto, entro, fecho a porta e me jogo na cama e não vejo mais nada.
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— Chegou bem tarde ontem a noite, não é mesmo? – meu pai pergunta, quase afirmando, na mesa na hora do café da manhã.
— Sim. – digo, apenas.
— E posso saber onde você estava? – dessa vez, é mamãe quem dá a voz.
— Estava andando na rua. – respondo.
— Andando onde? – mamãe insiste.
— Andando por aí. – reviro meus olhos e encaro meu avô, que já estava me olhando.
— Você deveria me responder direito, mocinha. Eu sou sua mãe, garota estúpida, mereço respeito. – dona Patricia dá um soco na mesa e me olha vermelha de raiva, me pegando totalmente de surpresa.
— Meu amor, se acalme. – papai diz. Percebo que ele dá uma olhada para vovô e mamãe logo percebe. Dou uma risada, sem graça, chamando a atenção de todos na mesa.
— Uai, mamãe. – digo com deboche. — Vai fingir que não me trata sempre assim só porque o vovô está aqui? Vai fingir que é a melhor mãe do mundo agora? – questiono e vejo a mesma ficar vermelha novamente. — Você sempre me disse coisas horríveis, me chamou de coisas que eu nunca achei que uma mãe chamaria uma filha. Você me despreza, me humilha, me oprime e eu sempre fico quieta.
— Cala a boca. – ela diz. — Vamos voltar a comer. – dona Patricia sorri nervosa.
— Vocês não merecem respeito nenhum, isso sim. Vocês me tratam super mal, decidem com quem eu posso andar, o que eu posso vestir, com quem devo me relacionar. Você não me dão amor. – desabafo.
— Amor? Você tem tudo o que alguém poderia querer. Você tem um carro perfeito, celular última geração, roupas e calçados mais caros que um aluguel de qualquer casa por ai. QUEM PRECISA DE AMOR QUANDO SE TEM DINHEIRO? – meu pai se altera e grita a última parte.
— Eu preciso de amor. – digo, com lágrimas nos olhos. — Na verdade, todos precisam. Por isso que vocês são tão... assim... Não tem e nunca tiveram amor um pelo outro, amor pelos pais nem nada do tipo. Vocês me dão desgosto. – me levanto da mesa e encaro todos na mesa.
— Não se esqueça de que nós que pagamos suas contas e tudo o que você tem. – mamãe diz.
— É disso que eu estou falando. Nem tudo gira em torno de dinheiro. – fico indignada. — Meu Deus, eu não aguento mais. Vocês não poderiam simplesmente demonstrar amor por mim? Me chamar de filha ao invés de me chamar de palavras rudes? Porque vocês não me abraçam? Não podiam ser igual a mãe do Hamish que... – paro de falar quando percebo que citei o nome do rapaz.
— Como assim "mãe do Hamish"? – minha mãe ergue suas sobrancelhas ruivas. — Você conhece a família daquele garoto? – questiona. Eu respiro bem fundo, antes de dizer qualquer coisa.
— Sim. – digo baixo.
— Eu já não te disse que não queria você andando com aquele garoto esquisito? – sua voz sai áspera.
— Eu não vejo problema algum da minha neta andar com "aquele garoto". – vovô diz, pela primeira vez nesta manhã. — Ele parece ser um bom rapaz. – fala bem calmo, observando meus pais.
— Não se intrometa. – papai grita e eu pisco fortemente.
— Não ouse gritar comigo, Robert. Cadê a educação que eu lhe dei? Não criei filho para se tornar um mal amado e muito menos se casar com uma mulher que não sabe nem como cuidar de um filho. Eu sou o seu pai e eu sim mereço respeito. – vovô se altera um pouco ao dizer tudo isso e de canto de olho, vejo minha mãe um pouco assustada.
— Você não pode simplesmente vir aqui na minha casa e gritar comigo. – papai se vira para ele.
— Eu não sei se você sabe, mas essa casa é minha e se vocês estão aqui, é de favor. Se vocês tivessem tanto dinheiro como vocês agem que tem, deveriam pelo menos ter um teto para morar em baixo. – fico de boca aberta com a revelação de vovô e minha mãe toma a voz.
— Senhor Robert, não precisamos conversar sobre isso na frente de Brianna. – sua voz agora parece estar tremula, mas ela mantem a postura. — Acho que deu por aqui desse assunto.
— Como quiser. – dessa vez, sou eu quem diz. Me retiro do ambiente e subo direto para meu quarto, me jogando na cama e pensando em tudo que foi dito em uma manhã de domingo.
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Capítulo quentinhoo.
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