Capítulo 4
Daniel Buarque
E lá estava ela.
Contra todas as possibilidades e imaginações que eu já tive durante todos esses 15 anos da minha vida, quando eu fosse realmente a reencontrar, nenhuma delas havia me preparado para esse nosso reencontro tão breve, belo, eloquente e inesperadamente assustador, em uma entrada improvável do tribunal.
Mas lá estava ela, a minha princesinha de quinze anos atrás. O meu único e verdadeiro amor. Linda, sorridente e mais bela do que todas as vezes em que a imaginei na minha mente. Me perguntei se ela teria mudado o cabelo, ou o seu estilo de roupa, ou emagrecido ou engordado, sem tinha construído uma família ou tido filhos, isso tudo, na tentativa de me preparar para quando eu retornasse a ver. Contudo, nada havia adiantado para o que eu realmente via na minha frente.
A minha Alê estava com um sorriso radiante no rosto, ao brincar com um pequeno garotinho nos braços e mais dois ao seu redor. Eu a reconheceria em qualquer lugar, não importasse quantos anos passassem. Ela ainda havia mantido os seus cabelos do mesmo tom, claros e com algumas mechas loiras. O pequeno em seu braço, parecia ter a mesma cor do seu cabelo e pele. Seriam eles, os seus filhos?
Paro abruptamente, atraindo todo e qualquer tipo de olhar ao chegar com a minha equipe de segurança, assessor e advogado. Inclusive, a de uma certa mulher de cabeleira loira e sorriso estonteante. Ao sentir o seu olhar no meu, eu vi toda sua alegria se desmanchar e dar lugar a uma cara de surpresa, afronta e indignação por me ver ali.
O seu semblante mudou e a sua postura também. Ao ter me reconhecido, imagino que mil e uma perguntas haviam se passado pela sua cabeça; e na minha, também não havia sido diferente. Eu estava em êxtase, eufórico, deslumbrado e perdidamente encantado por ter a reencontrado. Sei que muitas coisas não haviam sido ditas no passado, por causa do meu eu temeroso e cauteloso, para não a envolver em toda merda que a minha vida era. Sei que com a cabeça de hoje, eu não a teria deixado tão no branco, quando a deixei no passado. Contudo, sei que não haveria muita coisa que eu pudesse mudar agora.
Eu estava louco para poder conversar com ela. Tínhamos tantas coisas para serem faladas. Eu havia planejado um jeito de reencontrá-la, quando eu chegasse aqui no Rio Grande do Sul, mas eu não esperava que eu haveria de a encontrar tão rápido. Eu nada tinha em mente naquele momento e como, eu teria uma audiência em breve, sei que não teríamos muito tempo para conversar naqueles pequenos instantes. Contudo, a minha mente não conseguia focar em nada, no qual não fosse ela. Era como se nós dois tivéssemos voltado no tempo e uma bela música de piano fosse tocada ao fundo, como se ela nos conectasse novamente, como se nada tivesse mudado no passado ou agora.
Contudo, essa bolha precisava ser quebrada. E havia sido exatamente, com o Felipe chamando a minha atenção, tentando entender o que é que havia acontecido comigo e porque, eu havia parado tão rapidamente naquele lugar. No entanto, a sua voz não havia sido tão alta, quanto as batidas no meu coração e a vontade enorme, de reencontrar a minha princesinha e ouvir a sua voz; ou, pelo menos um vislumbre, do que um dia eu já tive.
Logo, eu coloquei as minhas pernas para funcionarem automaticamente e usei toda a determinação que eu tinha, para finalmente poder ir até ela. Assim que me prostei na sua frente, eu sentir a minha respiração irregular e tomei ar, antes de poder falar.
Ela estava ainda mais linda, tão de perto. Os anos há fizeram bem. Os seus olhos vagavam entre os meus e vejo o quanto eles ainda continuavam tão hipnotizantes quanto antes. Um brilho meio âmbar havia surgido em um dos cantos de uma de suas írises, mas ele só os tornava ainda mais espetaculares. Que bela mulher eu tinha na minha frente. Ah, princesinha! Como você consegue me cativar avidamente, depois de tanto tempo assim? Eu não deveria me sentir tão abalado e mais perturbado, quanto um dia eu já fui por você. Essas sensações deveriam ter diminuído. Eu não era mais o mesmo.
Assim, após uma avaliação minuciosa de ambas as partes e palavras ditas, sem ser verbalizadas, eu me sinto ainda mais possesso e curioso, para saber que rumo a sua vida havia tomado. Se eu tivesse a mínima chance de a ter a minha princesinha novamente na minha vida, eu iria atrás de conseguir. Eu não havia chegado tão longe na minha carreira, se eu não lutasse bem pelas coisas que eu quero. Logo, a pergunta mais lógica que sai da minha boca é simplesmente essa.
— Essa criança é sua? — Pergunto sem mais delongas e lhe olhando profundamente, tentando descobrir as verdadeiras respostas para tudo o que eu estava me questionando.
Porém, o olhar que ela me lançou, de perturbação e indignação, escondeu tudo aquilo que eu queria descobrir.
— É sério mesmo que a primeira pergunta que você me faz, depois de 15 anos, é se essa criança é minha? Bah tchê! — Ela bufa revirando os olhos e se afastando ainda mais de mim. — Olha Daniel, procura o buraco de onde você se enfiou durante todo esse tempo e de onde eu nunca mais havia te visto e fingi novamente que nem nos conhecemos, está bem? Por que de encosto e mal assombração na minha vida, eu já tenho demais. E se essa criança é minha ou não, não é da sua conta. — Ela diz raivosa e eu me sinto estupidamente chocado com a sua nova personalidade. Pelo visto a minha princesinha não era mais tão doce, quanto eu me lembrava.
— Olha, eu não quis te ofender, está bem? — Sinto o meu controle indo pelos ares e sei que essa havia sido uma péssima pergunta, para se ter feito de imediato. — Me desculpe por ter lhe perguntado isso. Mas foi a primeira coisa que me veio a mente, quanto lhe vir com uma criança nos braços e... — respiro fundo, tentando botar em ordem a minha abordagem. — Eu sinto muito, Alê. Podemos começar de novo? — Eu toco levemente nos seus braços, tentando me reaproximar novamente.
Contudo, o calor que sentir da sua pele, fez reacender toda uma chama que um dia eu achei que havia perdido. Era como se eu tivesse morrido e voltado a vida, ao sentir a temperatura e a macieis da sua pele novamente sobre a minha. Era um reconhecimento nato, de onde havia sido o único lugar, em que eu havia colocado as minhas mãos de forma verdadeira e desejada. Eu nunca pensei que essa chama ainda pudesse estar tão vívida e latente no meu corpo.
Sei que ela também havia sentido o mesmo, pois os seus olhos rapidamente buscaram o meu, ao encontrar a minha mão na sua pele. Ficamos parados nos encarando e deixando aquela pequena conexão nos arrebatar, até uma certa voz nos interromper.
— Está tudo bem por aqui, querida?
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