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Wanessa 🦋🖤
As vezes eu ficava pensando, já passei por tanto nessa vida pra estar aqui hoje, pra dar tudo de melhor pro meu filho. Eu sempre falo dele, sou uma mãe babona e sim, toda minha história sempre foi sobre o meu filho.
Passei por infernos, pelo meu filho, convivi com o diabo, pelo meu filho. Tudo pelo meu filho, para que um dia ele olhe pra mim se orgulhando e até se espelhando na pessoa que eu fui pra ele.
Estávamos assistindo tá dando onda até alguém abrir a porta, como estava fechada, só poderia ser uma pessoa. Olhamos pra trás e o Carlos estava lá, Hugo me olhou e eu olhei pro Carlos que me encarava.
Hugo: O que você tá fazendo aqui? - Falou se levantando.
Carlos: Vim te ver, moleque.- Hugo me olhou e eu sorri fraco pra ele.
Hugo: Mas eu falei pra você bater, pai.- Falou chateado e eu dei pausa no filme, mo bom pra perder, eu achei que o Hugo iria abraçar ele mas ele se sentou novamente.
Carlos: Vamo lanchar naquele lugar que tu gosta, pega tuas coisas lá.- Falou animado.
Hugo: Não quero, hoje é o aniversário da minha mãe e eu quero ficar com ela.
Wanessa: Você já passou o dia comigo, pode ir lá com seu pai.- Ele negou.
Hugo: Não quero.- Eu fiquei calada, respeitando a vontade do meu filho.
Carlos: Quero trocar uma ideia contigo.- Olhou pra mim.
Wanessa: Vai lá pro seu quarto...- Fui falar com o Hugo mas ele me interrompeu.
Hugo: Toda vez que você fica perto da minha mãe você machuca ela, toda vez. Você me prometeu que ia parar mas não parou, eu não quero você perto dela.- Meu filho falou e eu olhei pra ele assustada.
Meu filho tinha nove anos, mas desde que a gente saiu da casa do Carlos ele evoluiu muito. Começou a falar mais, prestar mais atenção nas coisas e acabou que tomou uma postura diferente da que tinha.
Quando eu olhei pro Carlos ele olhava triste pro filho, eu me levantei coçando a cabeça sem saber o que fazer, Carlos me olhou da cabeça aos pés e fez meu corpo arrepiar assim, ele saiu sem falar mais nada e eu me sentei perto do Hugo, que começou a chorar sem falar nada.
Eu estava estática sem saber o que fazer, o Hugo era a única pessoa que o Carlos realmente se importava, que ouvia e que fazia de tudo pra ter por perto, com amor.
Era a única pessoa que o Carlos amava, a única.
Fiquei com meu filho fazendo carinho eu seu rosto e acabei chorando também, mas aquilo se passou. Voltamos a assistir o filme mas eu já tava sem cabeça e o Hugo dormiu no meu colo, então peguei meu celular e tinha mensagem do emocionado que eu gosto também.
Lele: Eu esqueci, ou melhor, não pude dizer cara a cara o quanto você é especial. Queria poder te abraçar, dar um beijo na tua testa e dizer isso olhando no teu olho, mas eu tô ligado o que é. Eu sei que hoje o dia é teu, mas eu tava no fundo do poço hoje e a única coisa que me acalmou foi passar o dia com você. Te amo, Wanessa! E não só como a nega que eu sou afim de ficar junto, mas como amiga e mulher que você é pra mim. Pedi pro Hugo colocar um presente na tuas coisas, tá na bolsa, aproveita teu dia! ❤️
Eu estava sem saber o que responder, mas ajeitei o Hugo e me levantei, fui até a bolsa e procurei, achando uma caixinha e me sentei na cama abrindo, era um cordão de prata com um coração de pingente.
Peguei meu celular mandando foto do meu sorriso e mandei um áudio, falei que ele era importante, que eu também amava ele e que esperava que um dia a gente ficasse juntos, nem que a gente tenha que fugir pra isso, uma hora iria dar certo.
Fiquei por horas olhando aquele colar e chorando, as vezes eu entendia tão bem o propósito da vida e outras, eu não entendia o porquê de tudo ter que ser assim.
Eram três da madrugada quando alguém bateu na porta, fiz careta e olhei no cantinho antes de abrir, era um menino da boca. Olhei pra ele e ele me olhou, a gente ficou se olhando e eu semicerrou os olhos.
— O Carlos tá te chamando na boca.- Toquei no braço dele, vendo ele me encarar feio e eu mostrei o relógio.
Wanessa: São exatas três horas e dois minutos, tenho cara de palhaça? - Falei colocando a mão na cintura e escutei meu celular tocar, fui buscar e era a Brenda.
Brenda: Eu acho que o Carlos descobriu alguma coisa, ele chamou o Lele pra boca.- Falou desesperada.- Eu tô com ele aqui, ele tá nervoso.
Wanessa: Tem um menino da boca aqui também, me chamando pra ir lá.- Brenda gritou e eu respirei fundo.- Manda o Lele fugir, manda ele correr, não sei.
Brenda: Com certeza deve ter alguém do morro olhando a casa dele.
Wanessa: Olha, eu vou lá primeiro. Ele não vai me matar por causa do Hugo.- Eu acho, pelo menos era o que eu tava pensando no momento.- Eu resolvo, relaxa.
Brenda: Você tá maluca? Você sabe que ele não tá nem aí, ele vai te machucar.
Wanessa: Ele não vai por causa do Hugo. Confia em mim, se acontecer alguma coisa comigo só cuida do Hugo e nunca, em hipótese alguma deixe ele entrar no crime, papo reto.
Brenda: Você tá ficando doida, para com isso.- Falou com voz de choro.
Eu desliguei e olhei pro Hugo, beijei seu rosto vendo ele se mexer e deixei a porta fechada, lá fora chovia bastante e eu só subi o morro correndo por pura emoção.
A Carol já tinha perdido a mãe, não ia deixar ela perder o pai, ela não merecia isso. Então eu fui subindo pra boca e quando cheguei, entrei direto na salinha do Carlos e ele tava usando todo tipo de droga em cima da mesa, tomei um baque ao entrar e parei na porta olhando pra ele.
Carlos olhou pra mim e eu senti meu corpo se arrepiar, minhas pernas fraquejando e eu dei um passo pra trás quando ele se levantou, enquanto ele vinha na minha direção, eu andava lentamente pra trás sentindo a chuva cair no meu corpo e ele me seguindo.
Carlos: Apareceu quem faltava.- Senti meu corpo bater no de alguém e virei na hora, Lele me olhou e eu encarei ele assustada.
Wanessa: Sai daqui.- Gritei empurrando ele.- Vai embora daqui, Leonardo.
Carlos: Eu confiava pra caralho em você.- Apontou pro Lele.- E de você, eu nem fico surpresa. Vadia do caralho, da pra qualquer um que ver na frente.
Lele: Não fala assim com ela, pô.- Me tirou da frente dele colocando o corpo na frente, eu segurei sua cintura e comecei a chorar, eu já estava sentindo e sabia o que ia acontecer.
Carlos: Vai tomar no seu cu, filho da puta.- Escutei o barulho da arma e gritei vendo o Lele caindo por cima de mim.
Gritei.
Gritei como se uma parte de mim tivesse sido tirada, como se alguém simplesmente arrancasse algo de mim. Gritei sentindo minha garganta doer e as lágrimas descerem, se misturando junto com a chuva que só aumentava. O Leonardo estava no chão e eu me ajoelhei ao seu lado vendo sangue sair de sua boca, eu toquei no seu rosto como criança e coloquei a mão por cima do seu peito, onde a bala tinha entrado em cheio.
Wanessa: Não faz isso comigo, por favor.- Gritei.- Eu amo você, fica aqui comigo pelo amor de deus, não me deixa aqui...- Eu chorava, eu sentia, eu estava acabada vendo ele mexer apenas os olhos e o sangue descendo.
Brenda: Leonardo.- Escutei o seu grito arranhando a garganta e ela correu pra perto de mim.
Wanessa: Fica comigo, eu te imploro...- Continuei gritando e vendo ele sem movimento algum, gritei com toda minha força caindo no chão e olhei pro Carlos.
Ele me olhava como eu nunca tinha visto, me olhava como se perguntasse o porquê do meu estado, ou porque eu chorava tanto, como se tivesse com inveja por nunca ter recebido importância da mesma forma que eu entreguei ao Lele.
Me levantei cegada pelo ódio, fui em sua direção gritando, xingando ele com todas palavras possíveis, gritei o quão monstro ele era, o babaca, imbecil, que não merecia amor, que iria morrer sozinho.
Wanessa: Você não merece seu filho, você é uma vergonha pra ele, ele nunca deveria ter te conhecido.- Gritei na cara dele.
Vi tudo em câmera lenta, Carlos colocou a arma na minha cabeça, puxou o gatilho e meu ouvido estranhou, senti a dor do tiro, sentir ele me olhando com medo e em câmera lenta, escutei um grito bem do fundo da garganta.
Hugo: Mamãe.- Quando eu caí no chão, vi o Hugo correndo na minha direção e a Brenda sem saber o que fazer e indo segurar ele.
E foi assim, as últimas coisas que eu vi foi meu filho, a pessoa que me deu luz na vida, mas também a última pessoa que eu vi, antes de encontrar a luz. Fechei os olhos sentindo uma sensação estranha, uma dor e uma angústia, naquele segundo, em que tudo parecia ser em câmera lenta, era também como se tudo passasse rapidamente pela minha mente, aqui era meu fim.
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