Capítulo 43
A noite havia chegado, mais rápido do que imaginei, ignorei qualquer vontade de dormir e esperei o brilho do sol invadir meu quarto. Fui até a janela levando uma cadeira e fiquei observando os carros passarem e meu pai sair de algum deles. Depois de meia hora, ignorei a provável visita dele e fui tomar banho. No banheiro, encarei meu reflexo no espelho e eu precisava cortar o cabelo urgentemente. Colocar as mechas atrás da orelha estava sendo um incomodo, já estava na altura dos ombros e se passasse disso, seria muito chato quando eu suasse. Sinceramente, eu nunca entendi por que as garotas deixavam o cabelo passar das cinturas ás vezes, mas aguentar isso deve ser fichinha comparado a tudo que elas passam.
Tomei um banho rápido, escovei os dentes e vesti uma roupa mais confortável, calção e camiseta. Ultimamente sempre estive vestindo calça comprida e blusão com capuz, embora eu me considerasse anti social, entendi que me cobrir todo não mudaria o fato das pessoas falarem comigo. Me arrumei e dei mais uma olhada no espelho, talvez Sammy viesse me ver hoje e eu queria estar apresentável. Não que eu estivesse me arrumando pra ela ou tivesse motivos pra isso... Faltava só meu cabelo. Peguei um cadarço do meu tênis, já que eu estava usando chinela, dei um nó e prendi meu cabelo, estava parecendo um surfista, mas tudo bem.
— Ui ui, a princesa quis se arrumar hoje — Marry provocou, quando sai do banheiro — Vai receber alta também?
— Até parece... — Ignorei a ruiva que me seguiu até meu quarto. Eu não iria puxar assunto, ela e minha mãe estavam me escondendo algo. — Não tem previsão para eu sair daqui.
— Hum, entendi — Ela falou sem ânimo — A loirinha vem te visitar hoje?
— Olha, você precisa de alguma coisa? — Perguntei chateado encarando ela e depois me virando para procurar um perfume na minha bolsa. — Se vier só passar tempo, melhor ir embora.
— Eu hein, caiu da cama foi? Que mal humor é esse? — Ela riu e sentou na minha cama me encarando, perdendo o sorriso quando me viu sério — Okay... Sem brincadeiras hoje. Então vou indo, mas gostaria de lembrar que você prometeu a Teresa se despedir dela.
— Ah... Havia me esquecido — Respondi e Marry fez uma careta, como se fosse obvio eu esquecer mesmo — Que horas ela vai? Passo lá daqui a pouco.
— Agora... — Ela falou quase saindo — Só estamos esperando você.
Marry foi embora e enfim pude respirar normalmente. Era muito trabalhoso ignorar alguém, mas creio que me sai bem. Passei pouco perfume para não incomodar a dona Teresa e fui até a entrada do hospital me despedi. Recentemente meu cérebro não quis mais me apagar de vez, parecia que eu nunca tinha sido doente, talvez fosse a realidade e era isso que o médico queria contar a mim e meu pai. Por hora resolvi ignorar isso e sorri como minha mãe me ensinou, para dar uma boa impressão na despedida. Ao chegar na entrada, avistei Teresa que já me esperava com um grande sorriso, lhe dei um abraço e me ofereci para levá-la até o carro.
— Obrigada por me ajudar, querido... — Dona Teresa sorriu, enquanto eu empurra a cadeira de rodas dela — Espero que você melhore logo e venha me visitar.
— Não se preocupe Vovô, assim que eu fizer os exames e o médico permitir, vou correndo pra sua casa — Falei animado, mas me senti triste, pois eu sabia que aquilo era uma promessa jogada ao vento — Qual é seu carro? Onde está Marry?
— Marry precisava resolver algo importante, então ela já foi — Dona Teresa olhou para os dois lados da rua e apontou para um carro vermelho que vinha chegando — É esse carro, minha sobrinha que vai me levar.
— Perdão a demora tia — Ela falou tirando o cinto e saindo, a voz dela parecia familiar, mas eu conseguia ver seu rosto, pois o cabelo havia coberto — Esperou muito tem...
A mulher parou de falar quando me avistou, assim como também ficou pálida e eu senti um aperto no peito. Minhas pernas estavam pesadas, eu queria voltar para o hospital, estava longe de mais, porém eu precisava. Meu ar estava acabando e senti como estivesse tudo girando, uma dor forte invadiu minha cabeça e meu coração doía ainda mais, quando ela se aproximava me encarando dos pés a cabeça. Aquela mulher, não acredito que era ela, não poderia ser a mesma, mas embora eu quisesse acreditar nisso, era ela mesmo, pois parecia que ela me conhecia também. Uma lágrima caiu do seu olho, mas ela parou na frente de dona Teresa e fingiu que eu não estava ali.
— Precisamos ir tia, o sol está muito quente, veja só, até meus olhos estão lacrimejando — Ela mentiu tentando sorrir e dona Teresa apenas acenou com a cabeça — Obrigada por trazê-la, como se chama, querido?
— Não lembra o nome do seu primo? Esse é o Ricardo! — Dona Teresa falou chateada — Perdão querido, é por que faz tempo que ela não lhe ver.
— Ricardo? Tia, você está com a memoria pior que antes... — A mulher falou surpresa e incrédula pelo o que estava acontecendo — Ricardo tinha o cabelo curto, preto e ondulado. Embora sejam realmente parecidos, esse garoto está longe de ser ele. Aliás, ele não estava internado?
— O-olha... — Gaguejei e com muito esforço consegui me mexer — De-Desculpa. Preciso ir...
Marry esclareceria as coisas a Teresa, eu não poderia fazer isso e muito menos na frente daquela mulher. A reação que tive não foi nada boa e se ela se aproximasse mais um pouco de mim, eu morreria no mesmo instante. Continuei andando, mas senti um peso maior percorrendo meu corpo, faltava tão pouco para chegar no hospital, segurei minha perna e tentei empurra-la uma a uma. Eu estava esquecendo de como andar, minha visão estava ficando embaçada, não aguentei mais o peso e cai de joelhos.
— Richard! — Um grito veio das minhas costas, tentei virar o pescoço e avistei a mulher correndo até mim. Ela sabia meu nome... Tentei pedir para não se aproximar, porém meu corpo pendeu e deitei sem fala, meu coração estava batendo tão rápido que doía, a cada passo dela, minha respiração ameaçava parar — Alguém ajude por favor!
— Vá... Embora... — Pedi quando ela me segurou em seus braços, chorando desesperada — Você... Quem é... Você?
— Richard! — Outra pessoa gritou mas não pude ver quem era ou mesmo reconhecer a voz — O que você fez com ele?
— Eu não fiz nada... — A mulher falou nervosa — Quando ele me viu, ficou assim.
— Mamãe! Senhor Raul! — A pessoa gritou, era uma garota, parece que me conhecia — Espere moça, onde vai?
A mulher me soltou quando ouviu a garota chamar as pessoas. Eu só queria que minha visão estivesse bem, para ver tudo que estava acontecendo. Infelizmente, não demorou muito tempo para minha audição ficar ruim também, alguém me pegou nos braços e me levou para dentro do hospital, várias pessoas estavam a minha volta, mas eu só via sombras. Novamente me ligaram no aparelho de respiração, entubado, eu senti meu corpo perdendo as forças, meu coração ficando lento e quase não sentia mais as batidas. A luz de sempre invadiu todo o lugar, mas dessa vez foi diferente, algumas memorias vinham em minha mente, dizem que quando estamos morrendo, a vida passa diante dos nossos olhos. Creio que minha vez chegou...
Mulherzinha, tinha que aparecer logo agora? Richard estava quase bem...
É gente, o coração do nossos bebezinho não aguentou. Vamos enviar forças a ele.
Votem, comentem e até o próximo capítulo ❤
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