Capitulo Nove
Todo jovem sonha com o dia da formatura. Pelo menos os da minha sala. Era como se fosse um ritual de passagem para uma nova era. Uma nova chance de fazer tudo diferente. Na verdade a última chance de serem notados antes de começar a vida adulta.
Eu não pensava assim. Na verdade o que eu mais queria era que aquela palhaçada toda acabasse e eu pudesse ir pra casa. Queria logo que aquele ano acabasse e a faculdade se iniciasse. Era o que eu mais queria naquele momento.
Naquele dia, eu estava tão desligado que para mim fazer tudo na mesma rotina de sempre daria o mesmo. Meus pais por outro lado estavam pra lá de animados. Dava para sentir a quilômetros de distância que eles estavam orgulhosos de mim.
Fui pro colégio cedo, para fazermos as fotos e organizar toda a parte da formatura. Encontrei Renan mais tarde e fomos buscar a roupa que havíamos mandado confeccionar. Era algo exclusivo de uma marca importante na cidade. Então acabamos fazendo algumas fotos para deixar no catálogo deles.
_ O que você acha que ele está fazendo agora? - Renan perguntou enquanto trocávamos de roupa.
_ Quem? Pedro?
_ Não, o Pelé. -ele disse sorrindo.
_ Ah sei lá. Faz dias que não nos falamos. Ele deve estar ocupado demais com a namorada e o College dele.
Meu celular tocou. Era uma mensagem de Henrique.
"Quando iria me dizer que sua formatura é hoje?"
_ Quem é? O seu futuro namorado? -Renan sussurrou e eu fiz careta.
_ Você contou que hoje é a nossa formatura? - perguntei já em um tom menos impaciente.
_ Claro que não. Prometi pra você. Apesar de eu achar isso bem idiota.
_ Você sabe que eu não gosto dessas coisas. Eu só vou mesmo porque meus pais fazem tanta questão que se eu fizer o contrário é capaz deles me levarem a força.
_ E o que você vai inventar pro Henrique?
_ Nada. Vou dizer que sim. Hoje é a formatura mas não vou ficar puxando muito assunto. Ele não precisa passar por isso.
_ Fico tentando imaginar com é a sua idade mental. Eu chuto uns 98 anos. Com toda certeza.
_ Talvez seja uns 99. -eu brinquei também e rimos feito dois bobos.
Acabei respondendo a mensagem dizendo que mais tarde passaria em sua casa e explicaria meus motivos. Que não eram convincentes para ninguém.
Assim que saímos da loja de fraque, passamos em uma cafeteria antes de voltarmos para casa. Comprei dois cafés. Um pra mim e outro pra Celeste. Ela havia me ensinado desde pequenininho a ser viciado em café, e as vezes quando não estávamos com aquele ânimo para fazer café eu dava um jeito de pedir da rua ou íamos até uma cafeteria tomar café.
Chegando em casa, meus pais já me esperavam ansiosos. Celeste já estava chorosa, quando entreguei o café já me veio com um abraço forte.
_ Gente, eu só fui no colégio e busquei meu terno. O que aconteceu aqui?
_ Estamos felizes, filho. Você está se tornando um homem. -mamãe disse me puxando para um abraço.
Assim que consegui sair daquela cena familiar, fui para o quarto descansar um pouco até chegar a hora.
Assim que me arrumei, pude ter certeza, olhando para o espelho, que eu estava muito bem vestido.
Aquela roupa social levemente justa havia combinado perfeitamente com meu corpo. Estava tudo bem distribuído e eu cada vez mais me sentia feliz de ter voltado pra musculação.
_ Está tão lindo, filho. -mamãe disse entrando no quarto.
_ Temos mesmo que fazer isso?
_ Você fala como se fôssemos te levar para uma tortura. -ela sorria arrumando minha beca.
_ Só quero que essa noite acabe logo. -sussurrei
_ Um dia vai me agradecer por esse dia, meu amor. Hoje é um dia mais do que especial. Você estará finalizando uma etapa de sua vida. Depois não vai dar pra voltar atrás. Aproveite essa noite como se fosse a última de sua vida.
_ Eu só consigo imaginar o quanto vai ser chato.
_ Você vai se divertir. Se permita. Agora vamos, quanto mais rápido chegamos lá, mais rápido voltamos pra casa, seu chato. -ela disse me fazendo sorrir.
Fui de carro com meus pais. Chegando no famoso Copa Cabana Palace, entramos por lugares diferentes.
Era glamuroso aquele hotel. Todas pessoas mais famosas que já visitaram o Brasil foram hospedadas ali. Era uma tradição as formaturas do meu colégio serem ali.
Todos estavam vestindo seus trajes elegantes e sorriam feitos bobos. Renan parecia estar em êxtase. Nunca havia visto alguém tão feliz como ele aquela noite.
_ Só faltou Pedro pra ficar ainda mais especial. -ele soltou sem ao menos saber se eu me incomodaria.
_ Acho que ele está onde deveria estar. -eu disse soltando um pigarro.
_ Desculpe, amigo. Não sabia que ainda sentia falta dele. -Renan disse tocando meu ombro.
_ Sua vez, Leonel. -disse a inspetora me chamando para pegar o diploma.
Ao subir naquele palco, vi a imensidão de pessoas ali felizes por termos nos tornado pessoas melhores. Me senti emocionado pela primeira vez. Sorri sem graça, mas feliz por estar ali.
No final nem foi tão ruim assim.
Assim que a cerimônia se encerrou, todos foram para uma festa no iate de um dos pais dos alunos. Todos iam passar a noite e pela manhã voltariam para casa. Renan me implorou para ir, mas eu não estava no clima.
Depois de muita insistência da parte dele eu fui. Lá bebi alguns drinks e fiquei olhando o mar por um bom tempo. Talvez ai havia caído a ficha que eu não era mais adolescente. Ninguém ali era mais adolescente. Isso dava para notar na pouca roupa das meninas e dos meninos se pegando na piscina. Éramos jovens doidos por atenção. Éramos pessoas clamando para sermos olhadas, mesmo que por uma noite. Mesmo que por alguns minutos.
Estava debruçado observando o quanto aquela noite estava linda e estrelada quando alguém se aproximou e debruçou ao meu lado.
_ Que noite linda, não é mesmo? -escutei a voz rouca de Tomaz, um dos caras da outra turma que também havia se formado. Ele não era só um cara comum. Era filho de um empresário do ramo de telecomunicações e milhares de supermercados espalhadas no país.
_ Tenho que concordar. -eu respondi meio sem jeito. Ele nunca havia falado diretamente comigo. Certo que estávamos sempre em locais diferentes. Eu era da natação e ele era do tênis. Eu era muito bom em inglês e ele em francês. Estávamos sempre distantes demais pra trocar palavras.
_ Acho que nunca fomos apresentados. Sou Tomaz. -ele disse sorrindo e me estendendo a mão. Está certo que era a primeira vez que olhei em seus olhos esverdeados. Eram um par de olhos hipnotizantes.
_ Léo. -foi o que consegui responder.
_ Sei quem é você.
_ Ah, sabe? -indaguei quase num sussurro.
_ Já vi algumas competições suas. Você foi pra Tailândia ano passado, né?
_ Fui, sim. - eu mal conseguia sair das monossílabas. Não era pra menos. Aquele cabelo loiro preso num coque samurai, aquela cara de quem estava super interessado no que eu tinha pra dizer. Eu estava completamente assustado com tamanha atenção.
_ Você fala pouco, né?
_ É que nunca nos falamos. Sou um pouco tímido quando conheço pessoas. -disse me arrependendo de ter dito. Eu parecia um menino na selva com medo e acoado.
_ O que acha de bebermos alguma coisa? -ele sugeriu sorrindo pra mim.
_ Acho ótimo.
_ Fique aqui. Vou trazer algo. -e ele sumiu na multidão.
Por alguns minutos pensei que ele estava de saco cheio de ter ouvido minhas respostas monossilábicas e resolveu me deixar ali, mas acabou que eu estava errado. Aos exatos trezes minutos depois ele voltou com um balde, um champanhe e duas taças.
_ Champanhe? -perguntei surpreso com sua volta.
_ Vai dizer que não gosta de um bom e especial champanhe? -ele disse puxando a garrafa do balde e começou a abrir. Aquele barulho do estourar me fez vibrar por dentro. Eu estava sendo paquerado pela primeira vez.
Ele me olhava nos olhos como se eu fosse a pessoa mais bonita daquele lugar. Na verdade era assim que eu estava olhando pra ele.
Assim que ele me serviu, erguemos as taças.
_ Aos desencontros. -ele sugeriu.
_ Aos desencontros. -confirmei o brinde devolvendo o flerte.
_ Se eu soubesse que íamos nos dar tão bem, tinha conversado com você há mais tempo.
_ Talvez eu não estivesse pronto pra essa conversa. -admiti sorrindo e dando um gole naquele champanhe maravilhoso.
_ Você já sabe o que vai fazer ano que vem? Já sabe pra qual universidade vai? -ele parecia super interessado em mim. Queria saber tudo sobre o que eu queria fazer.
_ Talvez eu fique pela cidade. O curso de gastronomia daqui é muito bom e talvez seja o melhor do país.
_ Ah bacana, então você goste de cozinhar.
_ Digamos que eu tive uma boa conversa com o fogão. Nós demos muito bem.
_ E você acha que a nossa conversa também é uma boa conversa? Porque não vejo a hora de me dar bem com você. - ele disse e logo ficou vermelho. Talvez eu estivesse muito vermelho também. Era a primeira cantada que eu recebia de um cara. Não sabia onde enfiar a cara.
_ Você me deixou sem ter o que falar. - eu disse rindo com fato dele estar completamente sem jeito também.
_ Cara, é fim de ano, fim do colégio... você é o cara mais gostoso daqui. Você acha mesmo que eu nunca reparei em você? Sempre fui louco pra chegar em você, conversar, mas sempre tive medo. Fora que eu não sabia que se você era solteiro. Vivia colado com o cara do futebol. - ele disse se referindo a Pedro.
_ Éramos apenas amigos. E confesso pra você que isso tudo ainda é muito novo pra mim. Até a alguns meses atrás eu achava que só gostava de mulher, mas as coisas mudaram.
_ Que bom então que as coisas mudaram, porque eu agora tenho alguma chance. -ele continuava me cantando e eu cada vez mais me sentia envergonhado.
_ Não sabia que você era...
_ Gay? -ele sussurrou rindo.
_ Não sabia.
_ Bom, eu acho que depois de ter beijado alguns caras eu acabei acreditando também que eu não fosse totalmente hétero.
Aquela conversa estava indo para níveis que eu desconhecia. Até aquele momento eu só tinha sentimentos, vontades, desejos... nada mais do que isso. Eu era apenas um novo gay, digamos assim. Não tinha nem beijado direito uma pessoa. Pedro era a única lembrança de que eu havia gostado de beijar caras. Mas e se fosse só a boca dele? E se ele fosse o único cara que eu sentisse atração de verdade?
_ Eu só beijei um cara e faz uns bons meses. -admiti minha insegurança.
_ Então quer dizer que serei o segundo, nesta noite?
_ Acha que tem algum lugar menos exposto pra fazermos isso? -perguntei já me tremendo.
_ Ninguém tá nem aí pra gente. Todos estão com os hormônios nas alturas. As meninas só querem saber de perder suas virgindades com caras babacas e meninas babacas querem ficar às escondidas com os nerds. Essa sempre foi a lei. E eu não acho que quero te beijar escondido de ninguém.
_ Bom, eu tô um pouco nervoso... -e não tive como terminar a frase. Ele tocou meus lábios de uma forma tão quente que eu em pude fazer mais nada. Era uma sensação completamente diferente da que eu tive com Pedro. Uma sensação nova e muito boa.
Era como se estivesse fazendo aquilo pela primeira vez novamente.
Aqueles lábios grossos e quentes invadiam minha boca. Sua língua preocupava a minha que ficou tímida por pouco tempo. Eu realmente estava gostando daquilo. Precisava de mais.
_ E aí, foi tão ruim assim? -ele disse soltando seus lábios dos meus.
_ Não. -foi o que eu disse antes de puxá-lo contra meu corpo novamente e dessa vez eu o beijei.
Suas mãos percorriam meu corpo enquanto as minhas estavam intactas na sua cintura.
_ Você é uma delícia. -ele disse sussurrando no meu ouvido.
Eu sorri e continuei a beija-lo. Ele continuava a percorrer meu corpo até que encontrou algo que o fizesse parar. Eu estava completamente excitado e nem havia percebido a ereção até que ele segurou com força. Suspirei fundo e na hora acordei para realidade. Estávamos numa festa com pessoas passando por nós o tempo todo.
_ Acho melhor a gente parar. -sugeri. _ Tem muita gente aqui.
_ Tudo bem. O que acha de continuarmos lá no meu quarto. Todo mundo aqui ganhou uma chave. -ele disse me soltando.
_ Vá na frente, vou pegar mais uma garrafa de champanhe e te encontro. Consegue fazer isso? -eu disse dando-lhe um beijo novamente.
_ Quer que eu espere vestido ou já posso ficar pelado? -ele disse levando minha mão até sua calça para que eu sentisse seu membro também. Por fora eu estava sorrindo, mas por dentro era só o desespero. Eu não estava preparado para aquilo. Nem de longe eu podia fazer aquilo ali.
_ Me espera vestido. - eu ri. _ Pra dar mais emoção.
_ Ok, nadador. Te aguardo no 125. -ele disse me roubando mais um beijo.
Provavelmente aquela noite poderia ser a melhor noite da minha vida, mas eu nunca soube. Assim que ele desapareceu na multidão novamente eu procurei saída o mais rápido possível.
Para a minha sorte ainda não estávamos em alto mar e consegui voltar para o píer. Liguei pra um táxi e fui pra casa. Era o melhor a se fazer naquele momento.
Durante o trajeto de casa eu mal conseguia me concentrar. Só conseguia imaginar a cena de Tomaz nu, na minha frente. Ao mesmo tempo que era completamente excitante, era perturbador. Eu estava assustado e perdido.
Quando o táxi parou em frente de casa me senti aliviado. Consegui respirar normalmente e pude ficar mais tranquilo. Dei o dinheiro ao motorista e desci do carro.
Já estava caminhando para dentro quando fui interrompido.
_ Já voltou da sua festa? - Henrique perguntou me fazendo virar.
_ Não gosto muito de festas. -eu disse sorrindo totalmente sem graça.
_ Claro que não. -ele sorriu também.
_ Posso te mostrar uma coisa? -sugeri aleatoriamente. Ele sorriu, talvez por perceber que eu estava um pouco alto da bebida.
Pedi que ele fechasse os olhos já que eu não os conseguiria tapar. Primeiro que ele era muito mais alto que eu e segundo que eu talvez não estivesse sóbrio o bastante aquela noite.
Segurei sua mão e o guiei para o fundo da minha casa. Para ser mais exato, até o meu balanço.
_ Pode abrir. -eu disse rindo de ver aquele homem grande tapando os olhos com as mãos.
As luzes não estavam acesas por completo, o que deixava somente a lua como nosso refletor natural.
_ Que lugar lindo. - ele dizia atônito.
_ Esse é o meu lugar especial. -disse sentando no balanço. Ele veio em minha direção e se sentou ao meu lado.
_ Então aqui é o seu esconderijo?
_ Eu demorei a achar esse lugar, da pra acreditar? Não vinha aqui muito quando era criança, só depois que cresci. É um ótimo lugar pra pensar - eu concluí.
_ É perfeito! - ele disse maravilhado com a árvore que cercava metade do terreno.
Ficamos uns bons segundos em silêncio e como estava mais animado que o normal, decidi eu mesmo quebrar o silêncio.
_ A noite está linda, né?
_ Sim, está sim. -ele desenhava algo com o pé no chão. Parecia que estava nervoso, o que me fez travar totalmente.
_ Acho melhor eu entrar. Preciso dormir. -falei me levantando.
_ Preciso dormir também. Amanhã ainda tenho prova. E entrego a primeira parte do meu TCC.
_ Boa sorte. -foi o que consegui dizer antes de sair.
_ Léo. -ele me chamou. _ Te pego no domingo para irmos ao aniversário dos meus pais, ok?
Apenas assenti com a cabeça e abri a porta dos fundos para entrar.
_ Boa noite, Henrique.
_ Boa noite, Léo.
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Bom, gente. Esse foi o capítulo de hoje. Espero que gostem. Se gostou deixe uma ⭐️ e comente o que achou. Até a próxima.
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