mais flores para você, Cinderela
Pela primeira vez em anos tomo café da manhã na mesa com as Hays. Não é como se eu tivesse sido convidada gentilmente por alguma das duas, mas acordei tarde por virar a noite estudando para os testes finais e acabei pulando minha refeição para preparar a mesa para Diana e Natália, as duas rainhas de Riverwood. Não, nossa cidade não é uma monarquia, mas aparentemente, para as duas cabeleiras loiras tomando seus respectivos lugares na mesa, essa mansão é um castelo purinho.
Ignorando o olhar feio que recebo, puxo uma cadeira e me sento. Minha barriga ronca com a fome e se não engolir qualquer coisa agora chegarei atrasada na escola. Eu nunca fui proibida, de fato, a comer com elas, mas preferi me restringir ao máximo de contato com elas, por isso minhas refeições ocorrem sempre na minha casa, para evitar carrancas e estresses.
— Para onde saiu ontem a noite que voltou tão tarde? — Diana pergunta, não há um pingo de preocupação, mas curiosidade banha seus olhos em um brilho malicioso.
— Cassandra fez uma festa. E não me chamou — Natália responde por mim.
Ergo as sobrancelhas na sua direção quase externando a pergunta "você está falando sério?"
— Primeiro que eu não sabia, foi surpresa. E segundo, por que eu chamaria você? Festas de aniversário não é para comemorar com quem se gosta?
Não há choque no olhar que Natália me devolve, ela sabe o que eu sinto por ela e não há porquê para ter esse teatrinho quando ninguém está por perto. Mas a loira fica indignada.
— A Dead End tocou uma música inédita para você. I-NÉ-DI-TA. — Ela diz a palavra separando as sílabas e dando ênfase em cada uma. — Eu ainda nem consegui ouvir!
Dou de ombros, pondo uma colher de iogurte com granola na boca.
— O que é Dead End? — Diana pergunta a filha.
— Aquela banda que eu gosto. — A garota tira o olhar da mãe e traz a mim. — Aliás, como conseguiu participar do clipe deles? Desde quando vocês são amigos? — O bombardeio de perguntas não para por ai, de uma hora para outra, o rosto da minha meia-irmã se ilumina de tal forma que tenho até medo. — Você pode falar de mim para eles? — Ela revira os olhos. — É claro que pode, devem andar com você por pena ou por não terem mais o que fazer.
— Eu gravei, não viu os créditos no final do clipe? — respondo sua primeira pergunta. — Não é da sua conta. — Lá se vai a segunda. — E vai sonhando, por que falaria de você para eles?
— Porque você é minha meia-irmã. — Meu olhar diz com uma clareza absurda que aquela desculpa não vai rolar. — Mamãe vai gastar o pouco que restou se não fizer. — Ela parte para outra tentativa então.
Meu olhar é direcionado automaticamente para minha madrasta, mais séria do que nunca. Eu me recuso a ser chantageada por coisas tão bestas e estúpidas quanto essa.
— Se você fizer isso eu juro, Diana, juro como denuncio todas as merdas que fez comigo os últimos três anos.
— Esse problema é seu e de Natália — Essa é toda a minha resposta.
Suspiro aliviada em saber que significa que não terei que lidar com mais essa coisa.
— Uau! Então a banda é importante para você, huh?
Reviro os olhos e não caio na provocação, mesmo que minha língua esteja se contorcendo dentro da boca para respondê-la. É por isso que evito comer aqui. Deixando de lado a embalagem vazia do iogurte, pego algumas frutas dispostas sobre a mesa para devorar.
— Hum, mãe, estava esquecendo. — A garota chama atenção para si outra vez, levantando-se da mesa para buscar alguns papeis na mochila que deixou largada aos pés da porta que separa a sala de jantar da sala de visitas. Ao estender os papéis a sua mãe, explica:
— São as autorizações para o acampamento de verão. Peguei o da Cassandra também. Já preenchi tudo, fala só você assinar.
— Você pegou o meu? — Estranho a generosidade.
Diana lê concentrada a todas as informações, deixando o Ipad que usava para ler as notícias ao seu lado.
— Eu vou poder ir também? — pergunto.
— Se Lia for você vai, não quero mostrar que estou fazendo alguma diferença entre vocês e causar má impressão.
— E se ela voltar atrás?
— Daí você não vai, não vou te dar folga assim e muito menos pagar atoa para ir se divertir por uma semana sozinha.
Natália sorri pelas condições.
— Acho justo.
— É claro que acha — resmungo. — Mas por que quer ir? — Mesmo sabendo que seria pior perguntar, não controlo a curiosidade. — Você odeia mato e mosquito, e é basicamente o que vai encontrar lá.
— Dãh! Aquele lugar é tradição para a equipe de futebol da Deware. Além do mais a Dead End também vai. Óbvio que dá para fazer esse esforço.
— Quer mesmo ir, Lia? — Diana pergunta para filha.
— Sim. Por favor, mamãe!
— Antes de sair não esqueça de pegar o dinheiro na minha carteira. E uma caneta para assinar os papéis.
Natália solta um gritinho escandaloso e abraça a mãe de forma desengonçada, incrementando pulinhos e palmas exageradas a comemoração antes de terminar a refeição com um sorrio enorme no rosto.
Foco em uma palavra dita, papéis. No plural.
Controlando minha euforia, eu me limito em levar o garfo a boca e mastigar bem a comida para conter o sorriso que ameaça se formar o tempo todo.
* * *
Pegando meus livros para a sétima aula, uma das últimas, levo um susto quando ouço um estrondo ao meu lado. Me afasto do armário e fecho um pouco a portinha amarela para ver que foi o responsável pelo barulho, deparando-me com Alec tendo a lateral do seu corpo e sua cabeça apoiada no metal gelado. Seus braços estão para trás e ele claramente esconde algo, tento ver o que é mas o guitarrista é rápido em mover o corpo e esconder.
O garoto me desfere um sorriso bonito, seus olhos têm um brilho infantil e agora, que estamos pertinho um do outro, posso ver com nitidez as pintinhas douradas em meio ao verde. Mordo o lábio controlando os sentimentos que passam a aflorar no meu peito.
Que droga. Estávamos indo bem.
Eu me afasto dele em alguns passos curtos e devolvo um sorriso, apesar de sem graça.
— O que tem ai? — Aponto com o queixo na sua direção, recompondo-me.
— Seu presente de aniversário 2.0.
— Uh, então é mais uma investida em me fazer ficar doente?
— Há-há, engraçadinha. — Ele aperta a ponta do meu nariz com os dedos indicador e médio. E vamos de ser a irmã mais nova do cara que sou afim. — Fique sabendo que quando cheguei em casa fiz uma pesquisa de duas horas sobre flores e alergias e olha só o que eu descobri: —Ele diz todo orgulhoso e pomposo de si. — Existem flores que não provocam alergia mesmo a quem já tem esse problema, acho que tem a ver com o pólen ou coisa assim.
E agora vamos de estar completamente derretida pelo cara que sou afim.
Não acredito que ele realmente teve esse trabalho todo de pesquisar sobre o assunto por mim.
— E ai... Eu trouxe isso para você.
Então ele põe entre nós um pequeno buque com cinco petúnias. E são lindas. O centro é branco e, a borda das pétalas, roxas. Meu sorriso rasga o rosto e pego as flores da mão dele completamente amoriscada.
Amigos. Amigos. Amigos.
Repito, tendo total ciência que não devo me iludir ou criar esperanças de algo a mais. independente disso, fico na ponta dos pés e rodeio o pescoço de Alec com meus braços, mesmo com o medo que ele note os batimentos do meu coração batendo muito mais rápido que o comum.
— Obrigada.
Após presenciar de perto Alec Dickson piscar apenas um de seus olho para mim com um sorriso orgulhoso, posso ter certeza que morreria feliz se um meteoro nos atingisse nesse momento.
— Preciso ir agora. — O guitarrista se afasta um pouco, antes deixando um beijo na minha bochecha. — Prometi ajudar Hanna a vender brownies.
— Ela está vendendo? Não lembro de ter me contado isso.
— É, comentou que estava sem grana para ir ao acampamento enquanto arrumávamos sua festa e Jude sugeriu que ela vendesse esses bolinhos para arrecadar dinheiro, a galera de amarra.
— Fato — concordo com os argumentos.
— Ela meio que me obrigou a vender junto porque disse que sou bonito e influente, então traria uma boa clientela.
Dessa vez, não há como evitar uma gargalhada. Consigo imaginar perfeitamente minha melhor amiga recrutando Alec para ajudá-la.
— Vejo você depois? Preciso ir para aula — digo.
— Ei, Cass, o que acha de sairmos? Como da última vez.
Oh-Ou.
É nessa hora que preciso pensar em mim antes de qualquer coisa. Deus sabe o quanto quero aceitar a proposta tentadora desse cara, mas eu realmente estou tentando superar e seguir em frente e nem em sonho dar uns pegas em Alec ajudará.
— Hm, sim. Podemos sair — respondo. — Mas não quero sei se quero continuar com a outra parte da nossa amizade.
— Ãhm, tudo bem. Aconteceu alguma coisa?
Hesito, pressionando os lábios um no outro. Balanço a cabeça da esquerda para direita, pensando no que posso dizer como justificativa até que eu entendo que não preciso me justificar. Se eu não quiser mais, é isso e acabou.
— Não. Só não estou muito afim — digo apesar de haver mais história por trás.
— Tudo bem. Nos encontramos depois então.
Sorrio e lhe dou as costas, pronta para enfrentar mais uma revisão para as provas. Mas ainda estou tentando controlar e absorver o que aconteceu agora a pouco. Apesar de tudo, tenho um sorriso bobo ao olhar para as flores em minhas mãos.
Hanna acaba me atualizando tarde demais sobre a história dos brownies. Mas fico feliz por nós duas conseguirmos ir. Sei que conto como se ela já tivesse arrecadado o dinheiro, mas estou otimista quanto as vendas e também prometi ajudar.
Descobri que Holly e Gus também estão nessa, e Hanna os recrutou da mesma forma e pelo mesmo motivo que fez com Alec. Bonitos e influentes e não os deixando outra escolha além de aceitar. Os dois também vão para o acampamento, então sei que será difícil me sentir sozinha ou deslocada.
De repente, me vejo animada nível Natália e sua dancinha hoje manhã para o mês de junho chegar logo. Eu só preciso sair viva das próximas duas semanas.
Dá para acreditar que já são as últimas provas do ano letivo? Sinto que tudo está passando rápido demais.
*O capítulo de hoje é mais curtinho mas introduz uma das coisas que tô muuuito ansiosa para acontecer rsrs.
*Desculpa pelo capítulo atraso do capítulo, mas acabei me atrasando um pouco com tudo relacionado ao wattpad.
*Enfim, o que vocês tão achando da história até esse ponto e quais as expectativas de vcs??
Bjos e até quarta!!
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