hora do show, Cinderela
Carrego nas mãos a pilha de roupas recém-saídas da máquina nos braços, os fones estão nos meus ouvidos tocando alguma música Indie.
Jogo a cabeça de um lado para o outro numa dança enquanto subo cada degrau daquela enorme escada central para o andar de cima, pegando o caminho para o quarto da megera.
Urgh.
Eu me irrito só de pensar em Diana. Minha madrasta é o pior que já aconteceu em toda a minha vida, apesar dos meus 16 anos não serem décadas de experiências. Tudo o que eu faço por ela e a megera mirim da sua filha, Natália Hays, é pela poupança que meu pai deixou para mim.
O plano é: quando eu fizer meu aniversário de dezoito anos, daqui a um ano e quatro meses, em maio, prestes a receber a minha carta de aceitação em Cambridge, bem longe de Riverwood, eu pego a herança de que terei acesso e nunca mais olho na cara de nenhum Hays.
Meu telefone toca no bolso traseiro do meu short e eu amaldiçoou os pedaços de pano nas minhas mãos. Num malabarismo de alto nível, eu pego o aparelho vendo o número de Hanna tocar, ponho o celular preso entre meu onbro e orelha.
— Oi. — digo com um pouco de sufoco.
— Não importa o que a megera mor ou mirim falem, nós vamos ao show da Dead End.
— A banda ruinzinha do Alec Dickson? Por favor, eu aguentaria horas de música ruim para ver ele tocando guitarra. — finalmente entro no quarto.
— Aham, e do Jude Archer e Dominick Culler. E por um acaso você já ouviu algum som deles? — ela pergunta, jogando dois assuntos de uma só vez, como de praxe acontecer nas nossas conversas.
— Eca, Dominick, é sério que ele se gaba por aí por cantar tanta baboseira? E não totalmente, já ouvi partes de quando você escuta ou alguém murmurando pela escola. — me sento na cama depois de deixar as roupas sobre a mesma.
— Sim, ele se gaba. Mas a banda realmente é boa, não tem um estilo específico, mas pende bastante para o rock pop, se parasse de coisa você até gostaria.
— Bom, que seja, vou pelo Alec de qualquer forma. A que horas é?
— Oito. Na Donna's. Passo na sua casa.
Antes que a ligação chegue ao fim, Diana aparece no quarto com cara feia.
— É assim que você trabalha? Eu preciso mesmo lembrar que... — ela começa falando, mas meu cérebro desliga e nenhuma daquelas palavras entram na minha cabeça.
— Tá legal, Han. Vejo você mais tarde. — finalizo a chamada, revirando os olhos e me pondo de pé. — Não me ameace, Diana. Você sabe que posso denunciar o quase trabalho escravo que você me submete. — digo, dando passos a frente, cansada dessa mulher.
— E você sabe que antes de ir presa eu posso gastar tudo o que é seu e tchau, tchau Inglaterra. Aceite, estamos presas uma a outra, querida. — eu bufo com raiva.
Ela entra no closet atrás de alguma parafernália e eu começo a dobrar suas roupas para guardá-las, faço o mesmo com as coisas de Natália e, por fim, as minhas. Depois eu esfrego o chão da mansão Hays, lavo os pratos, limpo os banheiros e faço o jantar. Só então vou para os fundos da casa, onde há uma ala para funcionários que serve como uma casa para mim.
Há dois compartimentos significativos, um a minha sala e cozinha, o outro meu quarto e banheiro. Era o mínimo que poderiam fazer. Os móveis são bem meia boca porque eram os restos que Diana e Natália não queriam mais e jogavam no lixo, mas não há nada melhor do que essa pequena cabana como minha casa.
É o meu refúgio.
Já atrasada, tomo um banho e saio enrolada na toalha azul para começar a caça as roupas entre as estantes do guarda-roupa. Não há nada muito novo, porque depois que meu pai se foi tudo o que eu tenho por mês para me manter até agora são duzentos dólares, não por bondade, óbvio, mas porque Diana é obrigada a me dar pela justiça, por meu pai ter deixado claro no testamento que queria que antes de atingir os dezoito, eu recebesse uma mesada com tal quantia.
Eu passo os cabides de um lado para o outro atrás de algo mas nada me agrada.
— Urgh! Por que eu tenho isso? — pergunto a mim mesma depois de olhar um casaquinho com lantejoulas verdes.
Minhas mãos finalmente param num vestido azul. Ele é frouxo e eu prendo ele com um cinto marrom. Está fazendo frio nessa noite de inverno, então visto um casaquinho beje por cima. Oito e meia estou pronta, e oito e quarenta Hanna chega.
— Aonde você pensa que vai? — ouço Natália atrás de mim quando estou prestes a passar pela porta.
— Donna's.
— Minha mãe te deu permissão?
— Desde quando ela dá? — não sei porque ainda me dou o trabalho de responder.
Tendo o silêncio como deixa, eu saio de casa. Antes mesmo de estar ao seu lado, ouço o grito da minha amiga:
— Vamos logo, Cass!
Eu subo na moto dela, acho que foi a maior economia que ela já fez, aquela Harley é a vida de Hanna.
— Com sorte, você pega Alec Dickson hoje. Você está uma gata, seria muita má sorte dele. — Han dá partida.
Em minutos estamos no bar-lanchonete, há várias pessoas circulando por aqui, o pequeno palco tem uma bateria, vários cabos e caixas de som. Logo a frente tem um espaço vazio para as pessoas que querem ficar próximas e, mais para os fundos, antes do balcão do bar e dos bancos nele, algumas mesas espalhadas.
— Isso aqui tá mais cheio que o normal. — comento.
— Só você não gosta da Dead End. Eles fizeram a maior propaganda dessa apresentação, parece que os shows aqui vão ser fixos.
— Dead End não é nem nome de banda. — jogo os braços de forma exasperada.
— Para de implicar vai. Dá uma chance.
Sendo um dos únicos bares que vende bebidas para menores como se não se importasse que isso seja ilegal ou não, sorte a nossa, Hanna pega uma long neck para mim e outra para ela. Ambas nos sentamos nós bancos do bar, eu apoio meu braço no balcão ao me virar na direção do palco, esperando para ver Alec no show.
Quando acontece, abro um sorriso e meu coração dá um pulo bobo. Ele tem um grande sorriso no rosto, daqueles que são tão largos que a gente se pergunta como ele o mantém por tanto tempo sem sentir dor. Seu braço está levantado enquanto cumprimenta sua plateia com um aceno.
A pose de rock star devido ao barulho estérico das fãs, as luzes focando nele e a guitarra presa por uma faixa, de quadradinhos brancos e pretos, no seu corpo o deixam gostoso pra caralho.
Meu Deus. Eu não sei dizer o quanto quero esse garoto na minha cama, ou em qualquer outro lugar.
— Ou, amiga! Tem uma babinha aqui. — Hanna leva o polegar ao canto da minha boca e finge limpar algo.
Bato na sua mão a levando para longe, mas arranco uma risada sua.
— Ele tá tão gato essa noite, Han. Isso é tão injusto. — digo a ela, suspirando.
— É mesmo. Na verdade, acho que a Dead End é injusta, quero dizer, eles são talentosos e gostosos, tem fama e ainda conseguem ser gatos pra caramba. — ela constata.
De repente, os gritos histéricos conseguem se superar, ficando ainda mais altos, é quando meu olhar é forçado a desviar da maestria que é Alec Dickson e cair na imperfeição do Dominick.
Ele mantém um sorriso arrogante, meio torto, repuxado mais para o lado direito. Eu reviro os olhos para ele, que exibicionista como é, responde a plateia com um grito, seguido do som da bateria de Jude e logo depois começa com a introdução do show.
Aproveito que Han passou a conversar com uma garota de cabelos cor-de-rosa que se sentou ao seu lado, e tomo como deixa para me aproximar mais do palco. Eu empurro a multidão tentando ganhar espaço, mas no fim as fãs violentas da Dead End me deixam com mais hematomas pela minha pele do que eu consigo criar espaço para chegar a beira do palco. Ao menos ainda consigo estar na metade do caminho, totalmente hipnotizada pela áurea que envolve Alec e seu mundo particular na guitarra.
É quase como se eu pudesse ver um brilho ao seu redor, contornando o cabelo dourado, a pele pouco bronzeada, os braços fortes. Eu nem sei o que eles estão cantando ou falando, é quase como se tivesse inerte a isso, focada só no cara a alguns metros de mim.
Sei que o show acaba porque Alec está dando as costas para o palco, volto meus olhos a Jude, que agradece a nossa presença e diz que semana que vem terá mais. Eu não sei direito sobre essas coisas deles, mas acho que estão indo bem com a banda já que, segundo Hanna, basicamente o maior ponto de encontro dos jovens aqui em Riverwood, reunindo desde estudantes do ensino médio, como nós, a universitários.
— Achei você. — eu me viro quando sinto uma mão pesar no meu ombro. — Hanna disse que estava aqui. — Holly me abraça apertado, eu demoro um pouco para reagir e abraçá-la de volta, mesmo sem toda a intensidade da ruiva, na verdade, sem nem metade daquela emoção toda, mas duvido que algum dia alguém seja páreo para competir com a garota nesses quesitos. — Não sabia que curtia a banda dos garotos.
— E eu não curto. — respondo, mas acho que ela nem ouve o que eu digo porque não para de falar um segundo sequer.
— Mas quem não curte, né? Você quer ir comigo no camarim dos meninos? Meu primo está lá com eles, e ele é tipo, o melhor amigo do Nick Culler e vizinho do Jude, soube que quando eles vão ensaiar na garagem dele meu primo está presente na maioria das vezes. Eles estão todos juntos no camarim a essa hora, eu disse que chamaria Dustin quando fosse a hora de ir embora mais por uma desculpa de poder pisar perto dos garotos e, bom, estou chamando você para ir comigo porque não quero aparecer lá sozinha e nós também somos amigas e são pouco mais de meia-noite, pode não ser tão tarde pra uma sexta feira mas meus pais têm toque...
— Holly! — grito, tendo a minha voz se sobressaindo sobre a sua e os burburinhos próximos a nós. — Se você calar a boca eu juro ir com você até o fim do mundo se quiser. — digo, enlouquecendo com tanta informação vindo da sua voz levemente irritante.
— Então vamos! — a ruiva bate palminhas exageradas e pula pelo menos umas quatro vezes no lugar antes de agarrar meu pulso e me puxar em direção a um corredor escuro da Donna's.
Eu nem vejo por onde estou indo, mas como tudo de ruim acontece comigo, eu trombo com alguém enquanto Holly continua a me puxar, o que me leva a ter uma queda, na verdade, quase queda. Antes que possa me estabanar no chão da forma mais desengonçada possível, alguém consegue me equilibrar, soltando-me da eufórica ruiva que parece nem ter notado o acidente.
De qualquer maneira, não ter ido de cara ao chão não diminui o ritmo acelerado do meu coração, que está quase para pular pela boca.
— Uau, Cassie! Sempre soube que tinha uma quedinha por mim mas não imaginei ser do tipo que se joga nos caras. — minha respiração ainda estava ofegante pelo susto e ainda tentava controlar as batidas do meu coração quando notei que era Dominick o cara a estar centímetros de distância de mim, com um sorriso torto, malicioso e arrogante nos lábios.
Como nunca em qualquer situação da minha vida, não consigo controlar a cara de nojo e o revirar de olhos.
— Sai da minha frente, Dominck.
Ele ergue as mãos na altura dos ombros como se estivesse se rendendo a algo.
— É assim que trata o cara que acabou de salvar sua bunda? Literalmente. Não vai agradecer?
Rio não acreditada da cara de pau dele.
— No dia que ousar pensar em fazer algo do tipo, ou me jogar em cima de você, pode começar com o plano de sobrevivência alienígena, porque eles definitivamente estarão vindo para Terra fazer testes em humanos.
— Você é maluca, garota! — ele parece absorver cada palavra dita. — E mal educada, eu esqueço.
Reviro os olhos e dou as costas ao babaca, mas eu me lembro de uma coisa, então volto a virar, quando vejo apenas suas costas na camiseta preta eu grito um "Ei" para chamar sua atenção.
— O quê? — Dominick pergunta ao se virar com os braços abertos.
— Qual o seu problema com garotas decididas e de atitudes, huh? — provoco, sei que a resposta não será boa quando ele volta com o sorriso malicioso estampado no rosto.
— Nenhum, Cassandra! Na verdade, eu adoro elas. — seu sorriso se alarga e eu entendo o sentido da palavra.
Dessa vez, eu volto a ir atrás do camarim e de Holly sem hesitar. Percebo que estou perdida, então quando vejo uma porta decido abri-la, não me importando se seria proibido ou não. Mas nem ao menos tenho essa chance, antes que faça qualquer coisa, ela é aberta.
Subo minha visão e encontro os olhos azuis de Alec Dickson.
Puta merda.
Eu estou de frente para Alec Dickson.
Sinto que estou prestes a desmaiar.
Eu congelo, sem saber o que falar ou fazer. Meu coração pifa e meu cérebro derrete quando ele abre um sorriso na minha direção.
Ai. Meu. Deus.
Alec Dickson está sorrindo pra mim.
***
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