grave o vídeo, Cinderela
— Podemos tentar de novo? Isso não tá dando certo — digo, apontando a câmera que trouxe outra vez para os meninos.
Todos estão com seus instrumentos tocando e cantando toda a música do clipe, até que ela é legal. Enquanto isso, Hanna está no fundo da sala sentada em uma caixa de som enorme observando tudo, dando pitaco sempre que possível.
— Já é a quarta vez fala isso — Dominick reclama, já impaciente.
Acho que todos nós viemos animados e cheios de expectativas, o que está indo por água a baixo porque claramente isso aqui não tá funcionando.
— Bom, é a quarta vez que peço para você não sair do enquadramento.
Ele bufa ao jogar a cabeça para trás, mas volta para o lugar que pedi. Nós tentamos outra vez, mas não dá.
— Tentem relaxar. Tá tudo... Mecânico demais.— Hanna se intromete, continuando no mesmo lugar.
— Podemos esquecer dessa parte e ir logo para as gravações no gramado que você tanto quer fazer? — Jude pergunta, claramente cansado.
Nós fomos com sede demais ao pote. Mas a verdade é que isso é muito mais trabalhoso do que parece, e agora estamos começando a ficar desapontados.
— Claro — respondo sem ânimo —, é melhor ir antes que a luz acabe.
Jude pega suas baquetas, Alec leva a guitarra e Dominick vai de mãos vazias.
— Preciso passar no refeitório antes— Dominick diz, passando na frente e guiando o caminho.
Eu não deixo de filmar um minuto sequer, mas sei que quando editar vou apagar mais da metade dessas cenas desnecessárias.
— Por que? — Alec pergunta, mas não deixa de seguir o amigo.
Não tivemos nossa resposta, mas tudo fica claro quando ele saca um salgadinho da maquina de lanches e uma lata de refrigerante na outra. Eu o olho indignada enquanto ele se senta numa das mesas para comer.
— Você tá falando sério? — o baterista pergunta.
— Eu não almocei! Não aguentava mais ficar sem comer.— Aquela é toda sua justificativa.
Só para provocar, eu o filme enquanto come, mas ele põe a mão na lente da câmera e impede que eu continue, quando Jude começa a batucar na mesa, eu o filmo também. Sei que não deveria, mas levo a câmera a Hanna quando ela começa com uma dancinha escrota ao lado do garoto de cabelos cacheados. Eu gargalho pela cena e no segundo seguinte meu coração quase sai pela boca com o susto que levo, Alec está curvado para frente ao meu lado, com o braço encostando no meu enquanto sua mão se apoia na mesa.
Como me afasto um pouco para poder olhá-lo, acabo levando a filmagem para sua direção também, ao menos meu susto o diverte, fazendo ele abrir um sorriso na minha direção.
Se eu morresse agora, morreria feliz.
O sorriso bobo no meu rosto e as batidas aceleradas vão embora quando o meu momento com Alec é interrompido por Dominick, que sobre na mesa porque começou uma lutinha com Jude, que também se levanta, mas fica em cima os bancos.
— Dominick, desce daí! Se alguém ver você todo mundo aqui tá ferrado.
— Relaxa, Cassie! — No momento que sua atenção vem pra mim, ele desvia para câmera e pisca um dos olhos para ela, erguendo os lábios num meio sorriso.
É tempo o suficiente para Jude desequilibrar o amigo e fazer com que ele derrame quase metade do refrigerante que tinha na latinha enquanto tentava se equilibrar. Alec acaba socando por trás o joelho de Dominick e dessa vez ninguém o livra da queda em cima da mesa, eu acabo caindo na gargalhada junto com todo mundo quando ele se levanta com a calça toda molhada pelo refri derramado antes.
Quando está em pé, pela câmera, eu dou um zoom por alguns segundos no estrago da sua calça de cor marrom — o que deixa ainda mais evidente que está molhando —, antes de subir para sua cara de indignado, o cabelo grande e ondulado está cheio e faz com que caia uma parte pela testa. Agindo mais rápido que todos nós, Dominick pega a latinha e despeja o resto em cima de Alec, que balança os cabelos espalhando os respingos da bebida por todo canto, eu me contraio numa tentativa de não me molhar.
— Vocês são tão amadores— lamenta Jude. Nossa atenção é toda dele enquanto o garoto pega a garrafa plástica cheia de água que Hanna trouxera e usa a parte mais afiada do lacre da latinha de refrigerante, jogada na mesa, para fazer um furo na garrafa.
A primeira pessoa que ele ataca é Hanna, quando dobra a garrafa ao meio até onde pode e espirra água por onde ele mira. Logo depois vai para Alec e Dominick, e eu começo a correr antes que chegue em mim.
— Você é a única ilesa, Cass — ele diz, rindo da minha tentativa falha de me esconder quando viro de costas para proteger o rosto, no entanto, minhas costas estão toda molhada.
Solto um grito quando alguém me agarra por trás, os braços capturam a minha cintura com facilidade por estar curvada e, apesar de abrir os olhos, não consigo saber quem me levanta alguns centímetros do chão e me põe a sua frente até que ouço sua risada.
— Achou que só ia ficar rindo e tirando sarro da cara de todo mundo, Cassie? — Dominick diz no pé do meu ouvido.
Jude atira água em mim e, quando penso em fugir, Dominick volta a me abraça por trás, numa tentativa de me manter no mesmo lugar. Para proteger a câmera do ataque, levanto o braço e filme qualquer ponto.
— Eu juro que mato vocês — grito enquanto desvio o rosto da água.
— Eu te dou a chance — dito isso, Hanna toma a câmera da minha mão e a gravação passa a ser por conta dela.
Com a mão livre é fácil me livrar de Dominick ao dar um beliscão na sua costela, Alec também ajuda ao roubar a garrafa de Jude e virar o restante da água em cima do baterista.
A alguns passos de mim, Dominick começa a andar para trás, sorrindo. Ele sobe na mesa outra vez, e eu reviro os olhos, olhando para a porta vendo se não tem ninguém por perto.
— Dominick, desce daí agora! É sério.
— Sabe qual é o seu problema, Cassie? — ele começa. — É que você não é só chata e tem tendência a agir igual uma mãe, é que você é mandona pra cacete.
Eu o fuzilo com o olhar e bufo em raiva.
Debochando completamente da minha cara, ele levanta o braço sabe Deus para quê, porque antes que pudéssemos ver o que ele faria, seu pulso acaba batendo no suporte da lâmpada, que balança três vezes antes de cair com tudo em cima da mesa.
Dominick não é alto, na verdade, é bem o contrário disso, mas o teto do refeitório é baixo o suficiente para que acidentes assim aconteçam, não que algum aluno irresponsável devesse estar em cima das mesas.
Todos nós nos abaixamos ou tentamos proteger o corpo de alguma maneira quando o barulho e estilhaços de vidro de espalham.
— Nick! — Jude é o primeiro a raciocinar sobre o que poderia ter acontecido com o cantor quanto grita por ele.
Mas Alec é o mais rápido a reagir quando corre na direção do amigo e o ajuda a se levantar, pondo a mão no seu ombro e fazendo uma rápida análise de que está tudo bem.
— Você tá bem? — pergunta.
— Hurum — responde num resmungo.
Ele apoia a mão na mesa e dá um pulo para o chão. Dominick faz uma careta e leva a mão ao rosto ao tirar um pedaço pequeno de vidro da bochecha.
— Ai! — reclama e, outra vez, leva as costas da mão ao rosto para limpá-lo do sangue.
— Xiii, fiquem quietos — Hanna manda, ela tem o indicador sobre os lábios enquanto gesticula com o braço para chamar nossa atenção.
— O que foi? — pergunto, pegando minha câmera ainda ligada da sua mão.
— Tenho certeza que ouvi alguém vindo.
E como uma confirmação instantânea, o barulho de passos e chaves tintilando estão cada vez mais altas. Merda. Como se fôssemos cúmplices de um crime, nós cinco nos entreolhamos e, como se fosse programado, falamos ao mesmo tempo:
— Howard.
— Tá legal, vamos logo dar o fora daqui — Jude diz, pegando o que trouxe e saindo pela porta ao lado de onde pegamos nosso almoço, bem longe da porta que Howard está prestes a entrar.
Nós não perdemos tempos em seguir o garoto alto e franzino de cabelos cacheados.
— Quem está aí? Eu ouvi você, seu delinquente. — reverbera o pior zelador que possa existir em todas as escolas, ou em qualquer lugar, a voz meio tremida pela velhice.
Sou a última a passar pela porta, tenho certeza que ele viu ao menos o meu vulto. Apresso o passo, correndo o mais rápido que consigo, quando chegamos na sala de música eu me apresso em pegar a mochila e voltar a correr com Hanna, que me dá carona para casa.
***
Encaro o papel amarelo nas minhas mãos, não acredito nem por um segundo nisso.
— Fala sério que pegamos detenção num sábado. — Hanna ajeita a mochila no ombro e aperta o passo para me acompanhar.
Acabamos de sair da sala da diretora, estou perdendo minha aula de teatro por isso. Com uma voz totalmente deformada no intuito de imitar a diretora Winnie, minha amiga diz:
— Acham que a escola não tem câmeras? — Ela mexe os ombros e as mãos para gesticular de forma exagerada.
— O pior é que é nesse sábado. Como vamos ficar até tarde na festa e acordar na manhã seguinte? — comento, mais comigo mesmo do que ela.
— Relaxa, vai dar tudo certo. Mas se o outro dia de gravação da Dead End for na escola, pode me deixar de fora.
Dou uma risada e engancho meu braço no dela.
— Tá legaaaal. Mas o próximo será na casa do Jude.
Nós vamos para a aula, depois dela, no clube da comunicação, eu finalmente consigo publicar algo no blog, unindo o meu trabalho daqui com o clube de teatro.
Nós vamos fazer releitura de a megera domada. Um clássico. Eu particularmente amei a ideia e estou louca para mexer no roteiro e ajustar no desenvolvimento dele. O encontro com a equipe do trabalho de história acontece logo depois, e por sorte, conseguimos fazer tudo com êxito, e sem brigas.
A semana passa voando e acabo precisando chegar mais cedo em casa, na sexta Diana precisa que eu faça alguma limpeza para algum evento que ela vai fazer no sábado, e como estarei na escola graças a detenção, eu saio logo depois do almoço para limpar e deixar tudo preparado.
Hanna me recrimina apenas com o olhar quando vê que vou matar aula para atender as necessidades da minha madrasta, mas ela sabe tão bem quanto eu que não é algo que possa simplesmente fugir. Minha melhor amiga é a única que sabe a real situação dentro dos muros daquela mansão.
De noite, eu já estou tão cansada que não tenho nem mesmo mais o ânimo de me arrumar para a tal festa do Chuck. Quase a ponto de ligar para Hanna e avisar que não vou mais, recebo uma mensagem que muda absolutamente tudo.
Alec.D : vc vai a festa hj, né???
***
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