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Harry

28 de Fevereiro de 1968

Estava sendo o beijo mais doce daquela noite e talvez dos últimos tempos também. Eu segurava o seu rosto com firmeza, pois não queria que Ally se arrependesse e desistisse daquele beijo delicioso. Para a minha alegria, ela continuou me beijando e eu permaneci beijando ela. Escutei fogos de artifício e nem é quatro de julho.

Aaliyah dá um passo para trás e escuto o som da grade, suas costas se chocam ao metal e continuamos a nos beijar intensamente. Dessa vez, minhas mãos descem e eu seguro a sua cintura agora, puxo-a para mim e nossos corpos se chocam, as suas mãos percorrem meu cabelo e ficamos nesse beijo lento e saboroso por um longo tempo. Infelizmente ela se afasta de mim devido a necessidade de respirar. Deixo nossas testas encostadas e abro meus olhos encarando a mulher. Henderson ainda está com seus olhos fechados, mas respira pela boca. Eu também estou ofegante e ficamos em silêncio por alguns segundos. Havia acabado, ela tinha me beijado e ficaríamos apenas nisso.

No entanto, adoraria levá-la para casa, não, pra casa agora não. Caminhar com ela na praia nesta noite repleta de estrelas soa mais agradável. Soa mais como algo que ela gostaria de fazer.

— Teve seu beijo de carnaval, Styles — se afasta de mim. Ela tira o cachecol de plumas e me entrega. — Agora eu tenho que voltar a trabalhar, tem muitas pessoas lá dentro.

E ela simplesmente vai.

29 de Fevereiro de 1968

O vento entra pela janela do quarto, fazendo meu corpo nu arrepiar, os raios de sol já iluminam aquele pequeno quarto e acho que fiquei mais tempo aqui do que deveria. Do mesmo jeito não consigo me arrepender.

Tive uma excelente noite e agora minhas pernas se encontram enroscadas com a perna de Franklin enquanto ele está deitado com corpo colado ao meu, seu braço está em cima do meu tronco e seu rosto em meu peitoral. O seu cheiro invade meu nariz, um perfume delicioso de homem. A sua pele negra está grudada a minha e não tenho coragem de afastá-lo. Pelo contrário, eu o toco, devagar e sem a pretensão de abordá-lo. Dormimos tarde depois de festejar o carnaval o dia inteiro.

Depois que Aaliyah e eu nos beijamos, encontrei Frank no lado de fora do clube perto da esquina e fumando. Ele concordou de vir até seu apartamento e primeiro ele foi, depois de algum tempo eu saí do clube para que ninguém suspeitasse e agora estou aqui. Nesta manhã de quinta-feira deitado em sua cama depois de ter aproveitado a noite toda com ele.

— Que horas são? — escuto Frankie murmurar.

— Quase nove horas — respondo e o homem pula da cama e me olha apavorado.

Está tarde e eu não costumo passar a noite aqui, mas dessa vez foi inevitável.

— Você tem que ir embora — pede e começa a se vestir. Franzo minha testa confuso. Ir embora?

— Por que?

— Irão ver que você passou a noite aqui e tenho certeza que Senhor Clinton já desconfia de que eu seja gay, Harry — Frank diz e parece apavorado.

Eu me visto e observo que o homem ainda está agitado, arrumando a cama e apagando qualquer vestígio de que estivemos juntos durante essa noite. Vou até ele e seguro a sua mão e o homem continua me encarando com receio. Minha mão livre segura seu rosto.

— Calma — falo olhando para ele nos olhos. — Não precisa ligar para esse Clinton. Ele pode desconfiar e não ter provas e se não tiver provas. Não poderá fazer nada com você.

— Harry, você não entende — suspira e se afasta de mim. — O meu pai é dono desse apartamento e se ele souber o que eu faço... Eu... Eu não tenho onde ficar. Não sei como o meu pai vai reagir quanto a isso. Meu pai é militar, merda. Não deveria ter passado a noite aqui.

Mordo meus lábios, eu entendo pelo o que ele está passando. Sei que temos que ser cautelosos, nunca passei a noite aqui e sempre que apareço aqui para ficar com Frank chego tarde de noite e saio bem antes do sol nascer. Também já vim para cá durante a tarde, mas Chris e Bailey também estavam aqui. Ficamos ouvindo a narração de um jogo de beisebol, mas eu não sou muito fã desse esporte. Prefiro o futebol, mas não o futebol americano que eles basicamente se matam. O futebol que eu gosto é aquele de verdade, homens correndo atrás da bola e marcando gols.

No entanto, o ponto é que essa é a primeira noite que passei com Frank Stuart e ela começou diferente do que eu esperava. Pois, o homem de olhos escuros e brilhantes me encaram assustados e Stuart tem seus motivos. Por ironia, também são as mesmas preocupações que as minhas. Apenas teríamos de ser cautelosos, quer dizer, eu teria de ser cauteloso para sair daqui.

— Frank, vamos dizer que eu estava bêbado e as meninas não me aceitaram em casa. Apenas isso, uh — falo calmo. — Acredito que se explicarmos para Megan e Aaliyah elas nos ajudarão a sustentar essa versão, se acalme.

O homem respira fundo e fica me olhando. Eu sorrio um pouco mais.

— É uma boa ideia — murmura, acaricio sua bochecha. — Desculpa meu drama, H.

— Tudo bem — aproximo meu rosto do dele. — Gosto de saber que consigo te acalmar.

Frank ri, mas franze a testa e isso me deixa confuso. O que foi agora?

— Por falar em Aaliyah, você cantou para ela não foi? — Pergunta. Fico calado. — Você não tirava os olhos dela ontem.

— Ontem foi carnaval — dou de ombros e o homem se afasta de mim. — Hey, não vamos complicar isso. Estamos nos divertindo.

— Estamos nos divertindo, mas eu pensei que poderia aguentar ver você arrastando suas asas para outras pessoas e isso eu não posso aguentar — ele segura minha mão. — Se estamos juntos, estamos juntos. Nós dois, pelo menos enquanto você estiver aqui.

— Frank... — suspiro e não consigo falar mais.

Eu preciso pensar. Digo, ter beijado Aaliyah ontem foi maravilhoso e eu ainda penso no beijo dela, de como ela é doce e de como foi suave. Como o nosso beijo foi sem esforço, apenas aconteceu e foi saboroso. Quer dizer, convencê-la foi difícil, mas quando o beijo aconteceu ele simplesmente aconteceu e eu adorei.

Contudo, eu também gosto desse tempo e das bagunças que faço com Frank, mas como eu sei. Apenas disso, não quero magoá-lo e muito perder os momentos que temos, mas o que ele está me pedindo agora parece muito para mim.

— Entendi, acho melhor você ir agora.

— Franklin, espera.

— Pode ir, Styles — o homem caminha até a porta do apartamento e abre. — Acho que as meninas irão te aceitar agora, menos bêbado.

Ele está rude e fala mais alto para que as paredes o escutem. Franklin Stuart quer um relacionamento sério e eu não sei se estou pronto para isso ainda.

— Obrigada — olho para ele, o homem continua sério. — Obrigada por me receber...

No entanto, o homem apenas fecha a porta com força e solto o ar pela boca. Poderia ser pior, então talvez ainda haja alguma chance.

{•••}

Quando cheguei em casa estava tudo vazio e sabia que as meninas já estavam na lanchonete, deveria ter muita coisa para arrumar.

Pensei em ir para praia nessa manhã, mas pensei também em procurar outro lugar para cantar. Não que seja ruim na lanchonete e clube de Megan, porque lá é excelente. Porém, eu preciso me mover, fazer algo. Compor músicas e ir atrás, porque ninguém vai jogar nenhuma proposta em meu colo simplesmente por jogar.

Por isso, eu entrei no meu Mustang e fui até Saint Augustine, é um bairro de brancos, daqui de Astromélia, as pessoas andam com roupas caras, carros limpos e brilhantes e os prédios estão com tinta fresca. Não é um lugar tão diferente do outro lado da cidade, onde Aaliyah, Frank e Megan estão, mas apenas um pouco, porque a maior parte dos estabelecimentos aqui só tem pessoas brancas e as pessoas negras que aqui andam, não parecem ser bem-vindas. Além disso, esse bairro é pequeno comparado com o resto da cidade, isso porque a maior parte da cidade é formada por pessoas de cor e do mesmo jeito, as pessoas brancas não querem negros nesse bairro, o que é uma loucura, mas é o Estados Unidos.

Ironicamente, é aqui que estou para procurar mais um lugar para cantar, seria melhor se fosse nos dias que não canto no Clube da Megan, é o ideal e o que procuro. Porém, não sei se vou conseguir alguma coisa pois Arnold, o dono do primeiro clube que venho nesta parte da cidade me olha com a testa franzida e seus olhos azuis me encararam sérios. Eu cantei apenas uma música, será que fui tão ruim assim?

— Harry — o loiro diz e se levanta.

— Posso cantar outra música — digo imediatamente. Havia cantando apenas uma música, foi do Fleetwood Mac, mas estava nervoso e posso fazer melhor.

— Não tem necessidade, eu já vi suficiente — diz e mordo meus lábios. — Você toca com alguma banda?

— Sim, no La Luna — digo me referindo a parte da cidade em que venho morando. O homem torce o nariz e olho para o estabelecimento, algumas pessoas me encaram de um jeito nada agradável, devem estar se perguntando o motivo de eu estar lá e não aqui.

No entanto, Arnold está me encarando e esfrega suas mãos na calça. Quão hipócrita seria se ele os aceitasse aqui? Com certeza, ele está pensando nisso.

— Eles não podem ficar aqui, entende?

Obviamente, racista.

— Sim, entendo. Mas eles sabem minha lista de músicas e estou acostumado a trabalhar com eles — digo e o homem coça a testa.

Já comecei a insistir, então não vou atrás. Na verdade, em outra situação eu não me importaria em tocar com outra banda, mas caramba. Não aceitar uma banda porque são negros?

— Minha sobrinha Evangeline irá se casar no sábado, acredito que não haverá problema se vocês tocarem lá — Arnold diz e comprimi meus lábios para não sorrir. Boa. — Um casamento com trezentos e cinquenta pessoas, se a maioria gostar de vocês, talvez eu abra uma exceção para o clube.

— Isso será perfeito.

{•••}

Quando voltei para La Luna, o clube noturno de Megan foi o primeiro lugar que fui e Aaliyah estava conversando com Frank enquanto o homem tocava bateria e ela estava afinando o baixo, era apenas os dois ali e alguns clientes. Vou diretamente até eles e Stuart se levanta, seguro o pulso dele.

— Calma, eu tenho boas notícias — sorrio e o homem me olha bravo. Ele pode engolir os sentimentos dele para me ouvir, ele tem que fazer isso.

Olho para Aaliyah e ela parecia confusa, acho que Frank não contou nada a ela, mas logo a garota vai perceber o que aconteceu e que ter beijado ela me custou boas noites com uma pessoa incrível. Se eu me arrependo? Nem um pouco. Queria beijar a mulher já faz um tempinho e talvez mais uma vez... Ah merda! Que confusão minha cabeça está me colocando, uma merda de indecisão, mas foco. Tenho boas notícias.

— Styles, fala logo — o homem diz impaciente.

— Encontrei um lugar para cantar, quero você e Aaliyah, Chris e Bailey para irem comigo — falo e silêncio. — Eles vão nos pagar o triplo do que uma noite apresentando aqui.

— O triplo?! — Aaliyah diz chocada, mas isso não parece impressionar Frank tanto assim, eu realmente tenho que resolver isso.

— Será em Saint Augustine? — O homem pergunta e aceno com a cabeça. Ele então ri e nega com a cabeça.

— Não vai dar certo.

— Confia em mim — digo olhando nos olhos dele, sinto meu coração acelerar. Por um minuto não me importo se estamos próximos ou se tem pessoas olhando. Ficar nessa situação com Stuart é estressante e eu preciso dele. — Por favor — digo mais baixo.

— Harry — Aaliyah me chama e olho para ela mais rápido do que imaginei. Escuto uma risadinha de Frank e ele se afasta de mim. — Eles sabem que nós vamos estar lá?

Esse 'nós' de Aaliyah não me incluía.

— Sabe, concordaram.

— Concordaram?! — Frankie ri. — Tem alguma pegadinha disso.

— Mas se pagarem o que prometeram vai ser bom — Aaliyah murmura e o homem olha para ela. Será mesmo.

— Sim, vai ser.

— Por mim eu acho uma boa e você Frank? Eu toquei baixo para vocês aquele dia — ela sorri. — E não recebi nada por isso.

— Agora você quer, espertinha — Frank sorri e sorrio também.

Boa. O homem me olha e então diz:

— Vamos tocar.

Continua...

Notas: Oioi meus amores como estão?

O Harry e o Frank ein.. Briguinha de casal ou término permanente?

Me contem o que estão achando e o que acham que pode acontecer nos próximos capítulos.

Espero que tenham gostado. Vejo vocês no próximo capítulo. Anna. Xx

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