01
Meu alarme tocou as seis e quinze da manhã, e como de costume levantei da cama e fui em direção ao banheiro, passando pelo espelho comprido que havia no meu quarto, ele refletia todo o meu corpo e, junto com ele, o sono presente na minha cara. Tomei uma ducha, lavei os fios longos do meu cabelo que estavam incrivelmente armados e os sequei assim que saí do chuveiro. Coloquei um vestido nude e um sapato preto, fiz uma maquiagem básica, numa tentativa de disfarçar o cansaço presente em meu rosto.
Fui até a sala e peguei o jornal que, a essa hora, já estava na porta da frente do meu apartamento. Abri na minha seção preferida aonde falava sobre signos e dava o horóscopo do dia, é, talvez eu seja um pouco fissurada por isso, tudo bem, completamente fissurada.
Fiz café e servi um pouco em uma caneca. Sentei em um banco alto no balcão da minha cozinha e me apoiei na pedra de mármore a minha frente para ler.
"Signo de câncer: você terá facilidade para se comunicar, ainda mais se aposentar da diplomacia ao lidar com clientes e colegas. Seu raciocínio rápido e suas boas ideias ajudarão a se destacar no trabalho. A paquera pode surpreender neste dia, aproveite!"
'Facilidade para se comunicar', do meu ponto de vista, significa que alguém vai falar comigo, já que eu, realmente não levo jeito pra coisa, minha timidez não permite.
'Boas ideias ajudarão a se destacar no trabalho', o que é uma ótima coisa, já que o livro não está fluindo como eu queria.
'A paquera pode surpreender neste dia', essa foi a única frase que ficou meio vazia para mim, paquera?
Deixei o jornal em cima da bancada e virei o café, deixando que o liquido quente descesse pela minha garganta.
Peguei minha mochila e as chaves do carro e fui até o elevador. Quando cheguei ao térreo, antes de sair do elevador, fui forçada a apertar o botão que levava ao oitavo andar, já que tinha esquecido meu celular carregando ao lado da cama e meus óculos que, na verdade, eu não sabia onde estavam, ou seja eu teria que procura.
Depois de abrir três bolsos da mochila que carregava, achei a chave do apartamento e o abri. Fui até meu quarto, peguei o celular e saí em busca de meus óculos de grau. Os achei em cima da mesa de centro da sala, felizmente estavam inteiros.
Fui novamente ao elevador, apertei o botão que levava ao térreo e lembrei que não era para esse andar que tinha que ir, então apertei o botão abaixo, que levava até a garagem.
Dirigi até o prédio onde ficava meu escritório. Tudo bem, eu poderia simplesmente trabalhar em casa, mas eu não consigo me concentrar o bastante.
A frase "a literatura é sempre uma expedição à verdade", de Franz Kafka, estava escrita em preto na parede branca, a luz da janela na superfície contrária iluminava os dizeres. A extensa janela que ocupava uma parede inteira possibilitava o fato de eu não ter que acender a luz, o que era ótimo.
Abri meu computador e localizei o último arquivo aberto, "O Colecionador De Borboletas", meu novo projeto literário. Reli os últimos três parágrafos escritos para retomar a história e continuar de onde havia parado, seguindo a mesma linha de raciocínio.
Havia saído de Miami cerca de quatro anos atrás por um motivo simples: faculdade de letras de Londres. Sendo uma universidade reconhecida mundialmente, muitos escritores conhecidos e, diga-se de passagem, fenomenais, haviam se formado lá, então tentei a chance.
Formada a pouco tempo e apaixonada pela cidade desde que comecei o curso, resolvi procurar um apartamento e um escritório e, assim, tentar a vida de escritora, que não é nada fácil. Ganhar a vida com sua criatividade e inspiração é muito difícil, é preciso reconhecimento, mas se é isso o que eu sei e gosto de fazer, porque não tentar?
O romance clichê que eu estava escrevendo foi praticamente pisoteado e jogado no lixo a algum tempo atrás, quando minha melhor amiga, Clarie, esfregou na minha cara que 'jovens de hoje em dia não gostam dessas baboseiras inúteis e clichês', então eu simplesmente deletei o arquivo e comecei uma nova história, algo mais interessante e inspirador: um homem misterioso que colecionava borboletas.
De qualquer forma, acredito que tudo o que temos é a capacidade de sonhar e fazer, quando juntamos tais capacidades, alguma coisa acontece. Além disso, você não vai saber se não tentar, talvez despenque, mas tem que voar. E eu saí do ninho e pulei de cabeça, agora estou me esforçando para bater as asas.
Estava concentrada no computador a minha frente e nos meus pensamentos quando o toque irritante do meu celular dispara: Clarie.
- O que quer? - atendi, talvez isso tenha soado um pouco grosseiro.
- Nossa Lauren, quanta grosseria, moça! - Clarie exclamou, exalando bom humor, como sempre.
- Desculpa, eu estava escrevendo e... - Iniciei, mas ela interrompeu.
- Tudo bem, eu sei que você é uma mulher séria e que se dedica muito ao seu trabalho, não ligo... - Clar me interrompeu e eu achei melhor deixa-la falar. - Vamos jantar juntas hoje.
- Clarie... - disse, já sabia que ela ia querer me matar pelo que eu ia dizer a seguir. - Não que eu não queria ir, adoro jantar com você, é minha melhor amiga, mas eu tô bastante ocupada com o livro e tal... Liga pra Kim, sei lá...
- Nada disso, você vem, não pode tirar seu tempo todo para esse livro! - é, eu imaginei que ela fosse falar algo do tipo. - Eu não te liguei pra perguntar, liguei pra te informar.
- Tudo bem, eu vou. - Me rendi. Às vezes era mais fácil só concordar com ela. - Qual restaurante?
- O'Neill's pub... Não se atrase, às oito em ponto!
- Está bem, está bem... - concordei e ela desligou...
O O'Neill's é um pub irlandês presente em diversos pontos da capital inglesa. É um ambiente animado com música ao vivo, comida e bebida de qualidade e bons preços parecem ser a fórmula do sucesso do local, que costuma atrair um grande número de clientes, desde que vim para cá, esse foi o restaurante que mais me agradou.
Antes que eu pudesse terminar de ler a última frase escrita, meu celular vibrou em cima da mesa, indicando uma mensagem: Clarie, de novo.
Clarie: Kim vai também, convencer ela é mais fácil que convencer você... Foca nesse livro aí pra não ficar falando sobre ele de noite, não precisa responder a mensagem, beijos!
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