„Quando a razão é capaz de entender o ocorrido, as feridas no coração já são profundas demais."

Infelizmente eu não tive a sorte de morrer e precisei acordar para vivenciar o terror a minha volta. A escuridão e o frio da madrugada habita o local. Há um silencio ensurdecedor e por um momento penso ter realmente morrido, mas ouço gemidos de dor quase silenciosos.

Com grandes dificuldades, me ponho de pé e tateio a procura de uma luz. Tropeço em um objeto jogado no chão caindo logo em seguida, mas me levanto inquieto com o gemido cada vez mais fraco e por fim acendo a luz.

O que está no meu pé, não é um objeto mas sim meu filho frio e sem vida. Não tenho forças para chorar, mas dentro do meu peito bate algo diferente, não apenas tristeza, mas raiva.

O gemido me tira do transe e agora posso ver de onde ele vem. Minha mulher, jogada no chão, sangra por entre as pernas, gemendo desacordada com as mãos no estômago. Meu recém descoberto filho também não sobreviveu.

Ele sequer teve a chance de conhecer o mundo fora do seu casulo. E talvez ele tenha sido o mais sortudo de todos nós.

Ao lado de Samanta, minha filha está com o pescoço jogado para o trás, quebrado e com marcas roxas de dedos o cercando. Seu pequeno e frágil corpo está todo machucado e sangrando.

Olho aquela cena com o rosto impassivo, sem forças, mas tudo dentro de mim sangra. Corroído pelo ódio, pela dor e vingança.

Através das paredes de vidro da minha torre de cimento, com os punhos serrados, encaro a cidade silenciosa e iluminada com uma nova promessa de vida.

- Eu vou encontrar vocês e matar cada um da pior maneira que possam imaginar. Um...por...um...

Uma única lágrima solitária vaga pela minha face, eliminando o último resquício de humanidade que habitava em mim.

- E ninguém vai me parar...porque eu não tenho mais nada a perder.

O sossego interior, se queres atingi-lo,

Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.

Não há nada que dê um sono mais tranquilo

Que uma vingança bem executada..." Mario Quintana